27 de setembro de 2018

Entrevista Exclusiva com o Pastor Linaldo Junior.



A nossa Entrevista hoje é com o Pastor, Professor e Capelão, Linaldo Junior. Ele é Pastor, Capelão, Professor e Escritor. Pastoreia a Igreja Batista Missionária em Dois Irmãos e Peixinhos. No IALTH é Capelão, Professor e Coordenador. É casado com a Pedagoga Waldyelayne Oliveira. É da COBAM (Convenção Batista Missionária), e membro da ORPABAM (Ordem dos Pastores Batistas Missionários).


01) Com a explosão do Movimento Pentecostal, criou-se uma visão popular de que as igrejas históricas “ficaram para trás”, pois no começo, ela não viu com bons olhos as manifestações espirituais. Contudo, alguns anos depois, algumas igrejas históricas passaram por uma renovação espiritual. Como pastor batista, poderia nos explicar como é atualmente o relacionamento dos batistas com a questão dos dons espirituais?


 Em linhas diretivas gerais, os Batistas que aderiram ao conhecido “Movimento de Renovação Espiritual”, que iniciou nos anos 60 do século passado, além de ser continuístas, têm visto a própria questão do uso dos dons espirituais com mais maturidade e elaboração teológica, e buscando assim fazer uma dieta nos exageros de outrora e atuais.

O grande problema é que paralelamente a isso, o cessacionismo tem adentrado com a mesma “força”, por vezes de forma patente, e em outros nichos de forma latente e sutil. E isto pelo fato de que ao invés de se tratar os exageros e ênfases erradas quanto aos dons espirituais, como Paulo faz em I Coríntios 12, 13 e 14, muitos estão a absolutizar os equívocos e extremismos, achando assim que o falso pode tirar o valor do verdadeiro.

Sendo assim, temos Batistas equilibrados, os que apenas “tradicionalmente” acreditam nos dons, mas que na práxis negam isso, e até há aqueles que pertencem a núcleos que na teoria seria a antítese do continuísmo, mas hoje tratam os dons como deveria sempre ser: com naturalidade e, em dependência sincera do Espírito que distribui os dons como quer, como Paulo trabalha amplamente de forma direta e indireta em Efésios, por exemplo.

Isto tudo posto, entendo que nós Batistas Renovados/Carismáticos, precisamos de uma renovação espiritual urgentemente, para que coletivamente não engessemos o que foi espontâneo e sincero, fruto de um avivamento pontual de Deus em nosso contexto eclesial. Na minha denominação, a COBAM (Convenção Batista Missionária), esta tem sido uma preocupação: com bom siso, resgatar uma fé equilibrada sobre isso. Enéas Toginini, Rosivaldo de Araújo, José do Rêgo, e outros nomes expoentes deste movimento, certamente desejavam tal lucidez no início desta santa obra do Espírito.


02) O senhor leciona a disciplina de “Teologia Ministerial”, um assunto que não é tão bem trabalhado em alguns seminários do Brasil.  Muitos acreditam que a teologia ministerial é apenas para aqueles que desejam se tornar pastores. Como o senhor define “Teologia Ministerial” e qual a sua importância para um estudante de teologia?


Infelizmente de forma subjetiva, se acha vulgarmente que esta disciplina, como a do Aconselhamento Bíblico e similares, é estritamente poiêmica, e assim se cria uma romanização na prática evangelical, contrário ao próprio conceito do sacerdócio universal, tão bem trabalhado, por exemplo, por Lutero. Evidentemente que há certos exercícios que cabem apenas ao Pastor Regente. Mas isso precisa ser bem delimitado e trabalhado, como temos feito.

No IALTH, aonde sou Capelão e Docente, temos esta disciplina de forma bem definida, e inclusive aplico tal a partir de uma macro exposição bíblica holística, em uma pedagogia de vanguarda neste sentido. A partir disto, entendemos que, Teologia Ministerial é uma disciplina diretiva e imperativa, que trabalha os aspectos práticos, teológicos e vivenciais do crente em todos os âmbitos de sua vida.

O seu conceito é: para que serve na prática a teologia e as doutrinas bíblicas? Qual a forma correta do exercício pastoral e dos outros ministérios? Como demonstrarei a minha fé através das atitudes? Por isso, em tal trabalho é feito desde assuntos teológicos e até de cunho mais acadêmico, como questões relativizadas nos Seminários em geral, mas extremamente importantes como: vida familiar e social, devocional, além de aspectos como bom senso, sabedoria, ética cristã, etc.

Além de que, trazemos experiências ministeriais diversas e adversas, para compartilharmos tais com os alunos. Outrora eu desprezei esta disciplina (em minha primeira graduação), mas ao ser ordenado ao pastorado, logo discerni a sua importância e graças a Deus, isto tudo contribuiu para que hoje eu seja um fervoroso docente e defensor dela. Em minha Igreja e congregação, e por onde ministro a Palavra, tenho usado amplamente os imperativos da chamada Teologia Ministerial.


03) Há anos exercendo a atividade de Capelão, sabemos que esta é uma tarefa árdua e laboriosa.  Quais são os principais desafios de ser capelão e qual seria uma ferramenta ou característica indispensável que o capelão deve possuir?

É um privilégio ser um Capelão, e no meu caso, exercer tal também pelos diretivos da Capelania Empresarial e Eclesiástica. Agora se exercida de forma sofisticada e coerente, esta função é recheada de uma espécie de “coletiva solidão”. Ou seja, você lida com muitas pessoas, mas ao mesmo tempo você terá que ser solitário, tanto por aspectos como no que diz respeito a se guardar certos sigilos, quanto de que seu labor será não compreendido amplamente e por ser mais nos e dos bastidores, não reconhecido massivamente.

O Capelão é uma figura invisível, embora imprescindível. A Capelania faz trabalhos espetaculares, para que outros venham a ter os seus caminhos facilitados. Ser um conselheiro bíblico, é ser visto por vezes como alguém maravilhoso, mas ter que lidar com distorcidas e míopes “visões” de alguns, que o coloca ao mesmo tempo como intransigente e áspero, afinal, nossa missão e compromisso é exclusivamente com a verdade, e isso pode incomodar a alguns.

Sendo assim, enfatizo as três características iniciais que é indispensável para que o capelão tenha:

1. Ele deve ser muito bem preparado em diversos aspectos (tanto academicamente, como também nas esferas psicológicas e espirituais), para que saiba lidar com muitos desafios, como por exemplo, a tensão entre ser agradável, mas não perder a veracidade. Precisamos ser sinceros, sem cometer “sincericídios”. E é muito fácil ser amado por todos e sugestionar as pessoas nesta direção, mas isso não é ético, pois o Capelão deve cumprir o seu papel com amor, mas sem máscaras e artificialidades;

2. Deve ter muito discernimento espiritual para lidar com as mutações, hibridizações, e diversas e adversas problemáticas de nosso tempo, tendo a Palavra de Deus como a única regra de fé e prática, nesta geração relativista e que nem mesmo conhece o básico das Escrituras.

3. O papel do capelão é sempre atingir o bem maior e seu foco não está nos resultados em si, mas em ter sido o instrumento da vontade de Deus aonde ele trabalha, quer ouçam quer deixem de o ouvir. Neste sentido, o mais importante não são os resultados, mas os frutos e assim não apenas carregarmos a bíblia, mas sermos instrumentos carregados pela Palavra.

É por isso que temos poucos capelães realmente preparados, até pelo fato de que ninguém é capelão com cursos de um dia, e digo isto, visto estarmos a ver uma espécie de “simonia” moderna neste sentido. Existem diversas Capelanias: Empresarial, Hospitalar (geral e avançada), Eclesiástica, Esportiva, Escolar, Infantil, Carcerária, Infantil, Poiêmica, etc. Ou seja, não temos apenas um universo da capelania, mas um multiverso nela e dela.


04) O senhor já afirmou que teve sua Cristologia influenciada por Edgar Young Mullins, principalmente por ele defender Cristo como chave hermenêutica das Escrituras, além de Walter Kaiser Jr, em sua ênfase de entender a revelação de Deus na história como progressiva. Poderia explicar para o leitor o que é tais e porque o senhor acredita no nisso?

Jesus é o todo no tudo. Ele é o Senhor sobre tudo e todos. Ele é o caminho, a verdade, e a vida. Ninguém irá aceitar e entender o propósito das Escrituras, se não creditar que Ele é o verbo que se fez carne e o que revela a Palavra. O “mostra-nos o Pai, e isto nos basta”, ainda tem sido uma indagação do farisaísmo religioso hodierno. Regras hermenêuticas e a exegese bíblica, são fundamentais para se entender os cenários amplos da Bíblia e contextos doutrinários. Jesus, porém, é o que nos explica o propósito e a razão de tudo, inclusive da nossa fé. Edgard Young Mullins, foi uma grande Pastor Batista, que brilhantemente desenvolveu ainda no século 19, isto.

Precisamos também entender e aceitar pela fé, que a revelação de Deus na história se dá progressivamente, como bem trabalha o Walter Kayser Jr, por exemplo. No Antigo testamento, víamos a promessa do Cristo que viria. No Novo testamento, do Cristo que foi encarnado. Agora em nosso tempo, acrescido na fé do Cristo que voltará. E tudo isso pelo fato de que a obra da cruz é o ápice  máximo de tudo, inclusive da revelação bíblica.

Infelizmente, se conhece muito da crucificação (a história, cenário e pano de fundo), e pouco da obra da cruz (seu macro propósito). E por tais razões não se crê mais na justificação pela fé, no extraordinário amor de Deus, e na sua inexorável graça. Ou no máximo se aceita isso, apenas conceitualmente, e não em “espírito e em verdade”. Daí termos tantas poucas mensagens sobre a cruz, arrependimento, regeneração, céu e inferno, etc., por exemplo.


05) Falando sobre a reforma protestante, infelizmente alguns reformados dão uma atenção e espaço exacerbado ao teólogo João Calvino. Há quem diga que ele foi o “maior teólogo de todos os tempos.” Outros, o intitulam como o teólogo do Espírito Santo. Bem sabemos que Calvino contribuiu e influenciou grandemente o seu tempo, mas na sua perspectiva, é justo colocá-lo num patamar tão alto? O que há por trás disso?

Primeiro, esta minha resposta vale também aos que fazem de Armínio ou de qualquer homem de Deus um absoluto. Todo homem é relativo (mentiroso), e só Deus é absolutamente pleno (verdadeiro). Isto enfatizado, eu na verdade tenho muita vontade de rir ao saber que tem quem eleve Calvino, ou qualquer ente não canônico e que não foi assim inspirado por Deus, a um patamar tão elevado.

É uma enorme incoerência dizer que depois do cânon fechado, todos são apenas iluminados pelo Espírito Santo, mas ao mesmo tempo colocar alguém, no mesmo nível dos Apóstolos, por exemplo. Para mim, se isso fosse uma questão realmente a ser tratada, o maior nisto foi o Apóstolo Paulo (em certo sentido). E na frente de Calvino ainda tem: Tiago, Pedro, João, etc. Qualquer coisa a mais que isso, é uma espécie de “romanização do protestantismo” e paganizar os próprios conceitos da Reforma.

Ele também não foi o teólogo do Espírito Santo em hipótese alguma, se nesta afirmativa houver um desejo de colocá-lo “acima da média”, e em um status quo de maior autoridade. Até pelo fato de suas ênfases e trabalho ter sido claramente em outra direção existencial, inclusive nos seus aplicativos doutrinários; além de que quando conhecemos as questões políticas e reais por detrás da própria Reforma, vemos que as questões prioritárias eram outras.

O que está por detrás disso, do eleger homens a tais níveis, são peculiares projeções psíquicas e latentes angustias de sentimentos de culpa e neuroses não resolvidas, que produz este culto a homens. E na verdade, até mesmo os canônicos não devem receber este “amor pueril”, que faz da teologia uma espécie de HQ espiritual, ou de um conto do nível branca de neve e seus sete anões. Dizer que Calvino, Lutero, Armínio, Fulano ou Sicrano, é o “Teólogo do Espírito Santo”, é encarar a realidade como uma obra ficcional, do tipo DC Comics, Marvel, Disney, etc.

06) O senhor compactua com a ideia de que “precisamos de uma nova Reforma Protestante”?

Somente no sentido de que necessitamos de mudanças urgentes e cruciais no atual contexto evangelical. Agora, no que comumente se entende quando se faz afirmativas assim, não compactuo com este tipo de “projeção psíquica latente”. Primeiro, reformar o quê? Segundo, pense bem: será que de forma substanciosa, a reforma protestante realmente chegou no Brasil, em seu “espírito” e ímpeto? Precisamos ir além de uma “Reforma”.

Sou um defensor e proclamador dela, temos que admitir  que a Reforma Protestante foi muito importante, mas não é uma espécie de “segunda vinda do evangelho”. Ela teve suas contribuições, e houve nela a ação soberana de Deus, mas também em tal há limites, extrapolações, questões humanas e políticas nos bastidores, e como qualquer movimento, por mais sincero que seja, teve seu lugar para aquele tempo e contexto.

Hoje, precisamos de algo muito mais amplificado, acentuado, diretivo, imperativo e holístico. O que ocorreu na alta idade média, passou. O que precisamos é primeiramente retornar ao que era a ideia dos próprios reformadores: abraçar ao evangelho. Aliás, aonde ficou o conceito dos próprios reformadores: “Igreja Reformada, sempre se Reformando?”. Ao meu ver, hoje é apenas estética e cosmética as ideações nesta direção. Ser “reformado” é para muitos deixar a barba crescer, cantar só determinados tipos de músicas, ter certas liturgias e carregar as Institutas. Ou seja, é só mudanças de embalagem e alquimias religiosas.

07) Como o senhor descreveria o cenário atual da igreja brasileira? O que podemos melhorar?

Sendo bem sintético, em todos os sentidos, estamos no pior momento da sua historicidade. De coisas mínimas, como se conhecer realmente a Palavra, até sobre as questões mais complexas, como dos múltiplos discernimentos que devemos ter, se percebe o quão retrógrado tem sido a fé dos evangélicos hoje. Aliás, estamos em um momento aonde temos que evangelizar os crentes, e perceber que infelizmente, coisas medievalistas e jurássicas, como formula batismal, predestinação x livre arbítrio, etc., ainda é objeto de embates, brigas, dissensões e celeumas. 

08) Quais são as ferramentas essenciais que o estudante de teologia não pode abrir mão?

Acima de tudo, uma vida devocional sincera e ampla, e um enorme desejo e vigor de estudar e academicamente crescer (com sinceridade e conversão plena). Precisamos também de teólogos que desejem fazer teologia de fato, e ter respostas coerentes para as demandas do nosso tempo, ao invés de, por exemplo, viver com  a mente na idade média, ao invés de entender o que devemos saber e ter, na atual “idade da mídia”, e de diversas e adversas mudanças e nuances. Isto, sem falarmos de questões como as da Mecânica Quântica, ao qual ainda não temos massivamente um diálogo lúcido, e uma apologética autoral para responder como convém, aos “multiversos” de perguntas que vão crescer a cada dia mais nesta e em outras direções.

09) Essa semana, lamentavelmente mais um pastor se suicidou nos Estados Unidos. Isso tem sido constante ao longo dos anos. De que forma nós podemos identificar potenciais suicidas? Como podemos ajuda-los?


Este é um assunto muito longo, e que de fato é emergente e emergencial. Há formas diversas de fazermos trabalhos preventivos e diretivos nesta direção, mas o passo inicial é se entender a seguinte questão: o que fazer mediante a esta infeliz realidade? Como podemos teologicamente e biblicamente sermos uma luz neste assunto?

Ao se identificar um potencial suicida, e quaisquer características de ideação suicida, a ajuda de um profissional adequado tem de ser fornecido a tal. Nossas igrejas precisam trabalhar eticamente e biblicamente esta problemática. Necessitamos de ajudar os nossos jovens, indo nas causas que levam alguém a prática do suicídio (a questão da depressão, inclusive infantil, é grave).

Além de que, informações simples, como o fato de que a maioria dos suicídios ocorrem ou na fase do inicio da juventude, ou entre idosos, já nos revela que, por exemplo, este publico precisa ser tratado e trabalhado objetivamente, e assim nestas faixas etárias, é necessário um intensivo preventivo. Isto também considerando que há uma sutil diferença hoje entre Idade Biológica e Idade Funcional.


10) Quais tipos de “teologias” estão prejudicando o cristianismo aqui no Brasil?

Eu destaco duas: O neo-pentecostalismo e seu cosmético “oposto”, mas maldoso também, do qual chamamos de hiper-calvinismo e até do hiper-arminianismo. São extremos opostos, com embalagens diferentes, mas com as mesmas latências, e motivações.

Temos que entender que, é possível termos conceitos certos, mas não uma bíblica e real fé realmente naquilo que se proclama. Além de que, heresias como aquelas que fatalizam tudo, mostrando por exemplo, que se alguém pecou foi pelo fato de Deus ter ordenado isso, mostra a utilização de pressupostos teológicos, para transferir as próprias culpas e responsabilidades para o próprio Deus, o que gera mais culpa e neurose ainda mais nos indivíduos.

Me lembro, que ouvi de um professor em sala de aula que todo arminiano não é salvo! "Oxe... Como assim'', pensei eu! O pior é que o que está por detrás deste “arianismo teológico”, é gravíssimo. No final, estamos vendo o resultado: um cristianismo sem Cristo, evangélicos sem evangelho, protestantes que se calam no que realmente é sério e patente e crentes que carregam a Bíblia, mas que não conhecem de fato quem é Deus.

21 de setembro de 2018

Isaías 14 revela algo sobre a queda de Satanás?








Por J. Carl Laney


Na semana passada eu estava ensinando em um texto que fez menção de Satanás quando uma mão se levantou. As perguntas são úteis para esclarecer questões relacionadas à discussão imediata. A questão foi, na verdade, mais um comentário sugerindo que o pecado de Satanás e a queda do céu é explicado em Isaías 14. O tempo era muito curto para responder, então eu terminei e concluí em oração. Mas aqui está o que eu teria dito se tivesse tempo permitido:
A pergunta: “Este texto ensina alguma coisa sobre a queda de Satanás” é levantada por causa da tradução da versão do King James Version do helel em hebraico como “Lúcifer” em Isaías 14:12. E é claro que todos sabem que Lúcifer não é outro senão Satanás!
Na verdade, o termo lúcifer (“portador de luz”) é uma tradução latina muito boa do termo hebraico helel . Infelizmente, enquanto esse termo foi aplicado por Isaías ao “rei da Babilônia”, muitos seguiram os primeiros pais da igreja (Tertuliano, Orígenes e Hipólito) ao fazer dessa palavra latina um título para Satanás. A noção de que “Lúcifer” é um nome próprio para Satanás foi popularizado na literatura inglesa pelo Paraíso Perdido de Milton , onde Satanás é referido como o “grande Lúcifer”.
Argumenta-se que a semelhança entre o pecado do tirano (rei da Babilônia) e o pecado de Satanás (Is 14: 12-14; 1Tm 3: 6) sugeriria a identificação dos dois. E desde que o tirano caiu (Isaías 14: 14-15) e Satanás caiu (Gênesis 3: 14-15; 2 Pedro 2: 4; Judas 6; Apocalipse 12: 4), eles devem ser um e o mesmo .
Embora esta interpretação tenha sido popularizada pelas notas em várias Bíblias, existem argumentos convincentes contra essa visão:
  1. O contexto histórico de Isaías 14 diz respeito à derrubada de um rei arrogante (um “homem” v. 16) - o tirano assírio Senaqueribe. Nada mais está implícito no contexto.
  2. Enquanto o tirano de Isaías 14 foi julgado e não abala mais os reinos ou ameaça a terra (v. 16), Satanás, "o deus deste mundo" (2Co 4: 4), está vivo e bem (Ef 2: 2; 2 Co 2:11, 11:14; 1 Pe 5: 8).
  3. Existem passagens das Escrituras adequadas para substanciar o orgulho de Satanás e a sua queda sem usar esta passagem para prover uma base bíblica para essa doutrina (Gên. 3: 14-15; 2Pe 2: 4; Judas 6; 1Tm 3: 6; Jn. 8:44; Apocalipse 12: 4).
  4. A “queda do céu” mencionada por Cristo em Lucas 10:18 é o seu comentário divino sobre o que acabara de acontecer quando os discípulos expulsaram demônios em Seu nome. Esta vitória dos discípulos anuncia o banimento final de Satanás do céu (Apocalipse 12: 7-9).
  5. O que está descrito em Isaías 14: 4-21 ainda não ocorreu na história de decadência e julgamento moral de Satanás. Enquanto ele foi derrotado na cruz (Jo 12:31, 16:11; Col. 2: 13-15), seu banimento do céu (Apocalipse 12: 7-9), prisão (Apoc. 20: 1-13 ) e julgamento final (Apoc. 20:20) ainda são futuros.
  6. Isaías 14:20 não está em harmonia com o fato de que Satanás será unido com seu povo no lago de fogo (Ap 20:10, 15).
Isaías 14: 14-21 diz respeito ao destino de um rei histórico e não há nada que sugira que a passagem ensine algo sobre Satanás. O termo “ lúcifer ” é um termo em latim que migrou para o nosso vocabulário bíblico e teológico em inglês. Eu tenho uma caixa de fósforos que peguei enquanto viajava pela Europa. O rótulo diz: "lucifers" [portadores de luz ou fósforos], um bom e preciso uso do termo.
O perverso tirano de Isaías 14: 14-21 é provavelmente Senaqueribe (705-686 aC) que foi rei da Assíria quando Babilônia foi completamente derrubada e destruída em 689 aC Senaqueribe na verdade descreve a destruição da cidade em termos semelhantes aos encontrados em Isaías 14:23 e 21: 9. E ele morreu uma morte humilhante, como registrado em Isaías 37: 37-38.
Você ainda pode se perguntar por que um rei assírio pode ser referido como "rei da Babilônia" (14: 1). Erlandsson salienta que os reis assírios Tiglate-Pileser, Sargão e Senaqueribe receberam o título honorário de "rei da Babilônia". Isso aconteceu no festival babilônico do Ano Novo, quando o governante agarrou a mão de Marduk e foi declarado: rei da Babilônia ”( O Peso da Babilônia: Um Estudo de Isaías 13: 2-14: 23 , CWK Gleerup Lund, 1970, pp. 160-66).

Sobre o J. Carl Laney

J. Carl Laney leciona Literatura Bíblica no Seminário Ocidental e é instrutor do Programa de Estudo de Israel da Western. Carl é autor de inúmeros livros, incluindo mais recentemente, “Discipulado: Treinamento do Mestre Discípulo” (2018).

Tradução: Everton Edvaldo

Texto em Inglês: https://www.westernseminary.edu/transformedblog/2014/11/17/does-isaiah-14-reveal-anything-about-satans-fall/

17 de setembro de 2018

Kierkegaard: um missionário cristão para os cristãos.



Por Larry Russi

Um artigo na edição de agosto / setembro de 2016 da Philosophy Now pergunta: “Kierkegaard ainda é relevante hoje em dia?” [1] O autor Mark A. Tietjen, leciona na Stony Brook School em Nova York e é autor de Kierkegaard, Comunicação, e Virtude: autoria como edificação, faz um argumento sólido de que Kierkegaard é de fato relevante hoje.

Neste volume atual, Tietjen começa o capítulo um da seguinte maneira: “Meu objetivo é convencer os cristãos, pois fiquei convencido de que Soren Kierkegaard é uma voz que deve ser procurada e ouvida para a edificação da igreja” (p. 25). O objetivo de Kierkegaard era reintroduzir o cristianismo na cristandade, daí o título do livro, Um missionário cristão para os cristãos.

Tietjen escreve de maneira convincente sobre se um cristão deve desconfiar da filosofia em geral e de Kierkegaard em particular. Ele põe de lado todos os medos que alguém possa ter sobre filosofia citando primeiro sua utilidade de cristãos notáveis ​​como Clemente e Agostinho. Tietjen escreve: “… Clemente e Agostinho podem ter visto a filosofia não como uma ameaça, mas como uma busca válida” (p. 34).

Ele alivia quaisquer receios ou suspeitas sobre Kierkegaard que alguém possa ter revelando sua fé em Deus e teologia. Tietjen registra o seguinte:

Se alguém vasculha o trabalho de Kierkegaard por tempo suficiente, particularmente sua própria volumosa coleção de periódicos, as preocupações sobre a fé cristã de Kierkegaard se dissipam rapidamente ... não há razão para pensar que suas crenças cristãs pessoais estavam fora dos parâmetros da ortodoxia clássica luterana reformada. pelo menos pode-se ter certeza de que as intenções de Kierkegaard são elas mesmas consistentes com a fé cristã (p. 36).

Sem essas explicações, pode-se descontinuar a leitura do trabalho de Tietjen e deixar escapar uma crítica clara e acadêmica dos escritos de Kierkegaard.

Tietjen aborda de maneira mais habilidosa e detalhada os escritos de Kierkegaard sobre os temas nos capítulos intitulados “Jesus Cristo”, “O Ser Humano”, “Testemunho Cristão” e “A Vida do Amor Cristão”.

No capítulo intitulado Jesus Cristo, Tietjen escreve: "Jesus não veio para ser admirado, mas para obter seguidores, para ser imitado ... um cristão se esforça para ser como Jesus, enquanto um admirador não." (P. 73)

E ele nos lembra das muitas pessoas que Kierkegaard aludiu ao fato de Jesus se aproximar e dar o convite para vir até ele - os solitários, pobres, fisicamente doentes e deficientes, aqueles que experimentam sofrimento emocional, os maltratados, os suicidas e desesperados, aqueles em dor relacional e, claro, o pecador (pp. 79-80).

Alguns leitores podem se surpreender ao saber que muitos acadêmicos de Kierkegaard acham muito questionável e contestam a ideia de que Kierkegaard é o pai do existencialismo. Tietjen observa: “O existencialismo, embora seja difícil de decifrar, parece operar com uma série de suposições básicas que Kierkegaard explicitamente rejeita” (p. 39).

Tietjen nos diz: “Uma dessas suposições é a máxima verbalizada por Jean-Paul Sartre, 'a existência precede a essência'”. Ele continua dizendo que essa visão afirma que a vida e a identidade de uma pessoa são determinadas por esse indivíduo e não por algo fora dessa pessoa, mas por suas escolhas livres. Kierkegaard rejeita isso ao afirmar que os seres humanos são portadores da imagem de Deus (p.39).

Outro equívoco é que Kierkegaard escreveu a expressão “salto de fé”. Tietjen refuta fortemente essa afirmação:

É interessante notar… que a expressão “salto da fé” nunca ocorre na obra publicada de Kierkegaard. Além disso, como afirma Mariele Nientied, “os termos 'fé' e 'salto' raramente aparecem nos mesmos contextos, nem variantes dessas palavras (pp. 43-44).

Para quem sabe pouco ou nada sobre os escritos de Kierkegaard, esta é uma ótima introdução aos pensamentos básicos de Kierkegaard. Para aqueles que estão familiarizados com seus escritos, eles ficarão agradecidos por essa atualização.



Mark A. Tietjen, Kierkegaard: Um missionário cristão para os cristãos (Downers Grove, IL:Acadêmico IVP, 2016), 169 páginas, ISBN 9780830840977.

Sobre o autor : Larry Russi , Mestre em Ministério Urbano (Gordon-Conwell Theological Seminary), é o pastor sênior em Glendale Christian Lighthouse Church em Everett, Massachusetts. Ordenado com as Igrejas Cristãs Evangélicas Americanas (AECC), Russi está no ministério há mais de 40 anos. Facebook

Tradução: Everton Edvaldo

Fonte: http://pneumareview.com/mark-tietjen-kierkegaard-a-christian-missionary-to-christians/

10 de setembro de 2018

Hermenêutica nos Movimentos da Fé Moderna e Clássica


Por Paul L. King


Se queremos viver nossas vidas de acordo com a Bíblia, o modo como nos aproximamos das Escrituras é bem significativo. Que diferenças de interpretação podemos ver entre o movimento contemporâneo da Palavra da Fé e o movimento Clássico da Fé?

Este capítulo é do livro de Paul L. King, Only Believe: Examinando as Origens e Desenvolvimento de Teologias Clássicas e Contemporâneas da Palavra de Fé .

Muitas, talvez até a maioria das controvérsias sobre a teologia e a prática da fé contemporânea, envolveram a interpretação de várias passagens das Escrituras. Por exemplo, em relação ao “evangelho da curae da prosperidade”, Fee afirma: “Os problemas básicos aqui são hermenêuticos, isto é, envolvem questões sobre como se interpreta as Escrituras. Mesmo o leigo, que pode não conhecer a palavra “hermenêutica” e que não é especialmente treinado para interpretar a Bíblia, sente que é aí que está o verdadeiro problema. A coisa mais angustiante sobre o uso das Escrituras ... é a maneira puramente subjetiva e arbitrária pela qual eles interpretam o texto bíblico ”. 1

Hermenêutica e o Movimento da Fé Contemporânea

James W. Sire, em seu livro Scripture Twisting, aborda as formas em que os cultos fazem mau uso das Escrituras: citação imprecisa, tradução distorcida, ignorando o contexto imediato, contextos em colapso de dois ou mais textos não relacionados, especulação e superespecificação, confundindo linguagem literal com linguagem figurativa (e vice-versa), citações seletivas, definições confusas, ignorância de explicações alternativas, entre outras. 2 Muitos desses abusos das Escrituras no movimento da fé contemporânea foram apontados por seus críticos. No entanto, isso não significa que os líderes da fé contemporânea sejam cultos como alguns afirmam que são, mas demonstra que há um problema sério com alguma exegese da fé contemporânea.

Copeland parece à primeira vista ter uma preocupação com a interpretação adequada das Escrituras quando afirma “que estamos colocando a Palavra de Deus em primeiro lugar neste estudo, não o que pensamos que ela diz, mas o que realmente ela diz!” 3 Contudo, Fee responde:

“Isso é nobremente dito; mas o que isso significa? Implicitamente é o indício de que as interpretações que diferem das dele são baseadas no que as pessoas pensam, não no que a Bíblia diz. Mas também está implícita a verdade de que a boa interpretação deve começar com o significado claro do texto. O significado claro do texto, no entanto, é precisamente o que Copeland e os outros não nos dão, texto após texto.Mas “significado claro” tem a ver, antes de tudo, com a intenção original do autor, tem a ver com o que teria sido claro para aqueles a quem as palavras foram originalmente endereçadas. Não tem a ver com como alguém de uma cultura americana branca suburbanizada do final do século XX, lê seu próprio cenário cultural de volta ao texto através do prisma frequentemente distorcido da linguagem do início do século XVII.” 4

Para ilustrar a apreensão de Fee, um ditado popular no movimento da fé contemporânea proclama: “Deus disse isso; Eu acredito nisso; e isso resolve tudo.” Essa afirmação é verdadeira até onde vai. Mas deixa algo de fora: o que é que Deus realmente disse, e o que isso significa? Muitas vezes isso é presumido, ao invés de ser pensado e estudado exegeticamente. Lovett, ex-professor da Oral Roberts University, também escreve sobre sua preocupação, explicando: “O problema com os expoentes da interpretação da palavra de fé é sua seleção tendenciosa de passagens bíblicas, muitas vezes sem a devida consideração ao seu contexto. A frase auto-definida "confessando a Palavra de Deus" tem precedência sobre os princípios hermenêuticos e as regras para a interpretação bíblica.5 Simmons conclui que a frágil fundação hermenêutica do movimento da fé contemporânea deriva de seu reconhecido fundador: “Nas mãos de Kenyon, mesmo os textos que eram um dos principais focos dos keswickianos em geral mostraram-se notavelmente elásticos. [...] A tendência de Kenyon era estender um termo ou metáfora a um extremo literal que a palavra original ou a figura de linguagem não pretendessem. ” 6

Além da influência de Kenyon, os círculos pentecostais geralmente tinham uma aversão à educação formal devido à rejeição da crença e prática pentecostal pelos acadêmicos. Como resultado, alguns líderes carismáticos e de palavra de fé evitam que a teologia e a exegese bíblica sejam tradicionais e não conduzidas pelo Espírito. James Zeigler, ex-aluno do Rhema e ex-diretor do Centro de Pesquisas do Espírito Santo da Universidade Oral Roberts, apontaram que muitos dos mestres da Palavra de Fé, não sendo educados nas línguas bíblicas, hermenêutica e teologia, dependem muito de um tradução literal da versão inglesa do rei James da Bíblia. 7 Eles têm principalmente conhecimento de segunda mão de grego e hebraico, baseado em auxílios como da Concordância de Strong ou O Dicionário Expositivo de Vine , a Bíblia de Referência Anotada de Dake e a Bíblia Ampliada (que alguns estudiosos acreditam ser deficiente porque dá tantas opções, ao invés de definir um termo dentro de seu contexto). Um dos meus professores, quando eu era estudante na Universidade Oral Roberts, comentou astutamente há muitos anos, “um pouco de conhecimento [sobre grego e hebraico] pode ser uma coisa perigosa”.

Derek Vreeland, um defensor dos princípios básicos da teologia da fé contemporânea, no entanto, reconhece: “Os escritos de E. W Kenyon carecem de sofisticação teológica e, em parte, revelam um afastamento dos mais sólidos princípios hermenêuticos. No entanto, todos os seus ensinamentos estão dentro dos limites do cristianismo ortodoxo histórico, talvez à margem, mas ainda dentro da ortodoxia.” 8 Vreeland, embora agora e mais uma vez defensor dos líderes da fé contemporânea, também admite que Hagin usa hermenêutica pragmática ”e uma“ hermenêutica seletiva ”. 9 Para ilustrar essa falta de sofisticação teológica e exegética, alguns exemplos de falhas hermenêuticas no ensino da fé contemporânea incluem:

“Referindo-se a Hebreus 1: 6, onde Jesus é chamado em KJV Bíblia "o primeiro gerado", Copeland afirma: "Ele não é mais chamado de Filho unigênito de Deus. Ele é chamado o primeiro nascido dos mortos, o primeiro gerado de muitos irmãos. (…) A próxima coisa que Ele faz é incluir você e eu no princípio de Deus. ” 10 Isso parece denegrir a divindade de Cristo e deificar a humanidade. No entanto, eu não acredito que Copeland esteja intencionalmente propagando visões heréticas aqui. Em vez disso, ele está mostrando sua ignorância teológica e exegética ao não distinguir entre "primeiro gerado" ( prototokos - primeiro-nascido , protótipo) e "apenas gerado" ( monogenes - exclusivo, único).

Como mencionado anteriormente, Capps interpreta Mateus 7: 7 à luz de suas suposições a respeito de outras passagens das Escrituras, negando que possa significar continuar pedindo e buscando. Ignorante do que o texto realmente diz e significa na língua original, ele chega a uma conclusão errônea. Barron aponta corretamente: “A inflexibilidade de Capps demonstra uma grande falha no ensino da confissão positiva: tenta fazer leis universais a partir de textos isolados”. 11

Em relação a Hebreus 11: 1, ouvi várias vezes os professores da fé contemporâneos afirmarem: “A fé é imediata... Isso significa que a fé é imediata”. Entretanto, o problema com essa interpretação é que a palavra grega traduzida como “imediata” (de), não significa “imediato no tempo”. Pelo contrário, é uma palavra de transição que pode ser traduzida como “assim sendo”. É válido dizer que às vezes, a fé é imediata, mas não pode ser reivindicada arbitrariamente que a fé é sempre imediata, nem que este versículo pode ser legitimamente reivindicado como suporte o ensino.
Como foi citado anteriormente, inferindo da redação na Bíblia King James, alguns líderes da fé contemporânea confundem o assunto de Romanos 4:17, acreditando que os crentes podem “chamar as coisas que não são como se fossem”, quando, de fato, Deus é a pessoa a ser referida no contexto.
MacGregor observa que Copeland “interpreta Isaías 40:12 exatamente da mesma maneira que a hermenêutica mórmon: 'A Bíblia diz [Deus] mediu os céus com um palmo de nove polegadas. Bem . . . minha extensão é de oito e três centímetros de comprimento. Então o vão de Deus é um quarto de polegada mais longo do que o meu. Então você vê . . . Deus . . . fica em torno de 6'2 ", 6'3", pesa em algum lugar no bairro de algumas centenas de libras, pouco melhor.'" 12 Enquanto MacGregor acredita que Copeland está intencionalmente tomando emprestado do mormonismo, eu acho que é mais provável que Copeland, se ele estava falando sério quando fez a declaração, estava servilmente aderindo a um texto literal da Bíblia King James, não compreendendo o uso hermenêutico de Isaías da linguagem metafórica antropológica para descrever Deus em termos que o homem antigo podia entender.

Estas são apenas algumas das muitas interpretações errôneas apontadas pelos críticos de fé contemporâneos. Tendo apontado essas falhas, também devemos reconhecer que Hagin, antes de sua morte em 2003, reconheceu esse problema no movimento da fé contemporânea e enfatizou a necessidade de interpretar as Escrituras em seu contexto e não confundir figurativo com literal (embora ele precisasse ir mais longe com isso). 13 Também deve ser notado que existem alguns líderes de fé contemporâneos como Bob Yandian e Rick Renner de Tulsa, Oklahoma, que estudaram as línguas originais e procuram aplicar exegese e exposição sólidas, trazendo moderação à interpretação e práxis do movimento de fé contemporâneo. 14

Hermenêutica e o Movimento da Fé Clássica

Em contraste com a maioria dos professores de fé contemporâneos, os principais professores de fé clássicos e seus antecessores, em geral, receberam uma educação teológica acadêmica, como era costume na época. George Müller foi um estudioso brilhante, fluente em seis idiomas, mas mesclou a erudição e a fé vibrante. John Wesley, Andrew Murray, Thomas Upham, AB Simpson, Oswald Chambers e RA Torrey eram todos educados no seminário e estudavam as línguas clássicas, como o grego, o hebraico e o latim. Simpson ganhou prêmios acadêmicos por sua bolsa de estudos. Jonathan Edwards foi presidente de Princeton em seus primeiros dias. Charles Finney foi treinado em direito. Torrey foi altamente educado como um graduado da Universidade de Yale e Yale Divinity School, e leu a Bíblia em grego, hebraico e alemão. Charles Blanchard serviu como presidente do Wheaton College. A.T. Pierson escreveu um livro sobre hermenêutica.

Outros que não eram estudiosos, no entanto, usaram materiais acadêmicos e submeteram e confirmaram seus ensinamentos com acadêmicos. Phoebe Palmer conferenciou com o marido que era médico e teólogo. DL Moody tornou-se amigo íntimo do renomado professor Henry Drummond. Hannah Whitall Smith consultou pastores e teólogos sobre seus ensinamentos e escreveu um livreto sobre a interpretação da Bíblia. Amy Carmichael estudou o Novo Testamento grego, comentários e materiais de referência acadêmica. A. W Tozer e John MacMillan, embora nunca tivessem completado o ensino médio, leram vorazmente os pais da igreja, místicos, reformadores e escritores e teólogos clássicos. MacMillan aprendeu grego e hebraico através do estudo por si mesmo, conversando com rabinos, consultando professores e frequentando aulas de faculdade e seminário.

Ainda assim, esses líderes clássicos da fé não eram acadêmicos indigentes ou teólogos da torre de marfim que tinham pouca experiência vital em uma caminhada de fé. Antes, eles andavam perto de Deus e praticavam uma vida de fé ousada, mas estudavam intensamente, aplicavam exegese à vida e confiavam no Espírito para iluminar a interpretação. Murray, educado no Seminário, aconselhou tanto a necessidade de estudo como de revelação, dizendo: “Como toda a Palavra de Deus é dada pelo Espírito de Deus, cada palavra deve ser interpretada para nós pelo mesmo Espírito.” 15Simpson estava preocupado com a gramática - hermenêutica histórica, mas também percebeu que Deus havia fornecido muito simbolismo divino nas Escrituras: “Seria um grande erro ler a Bíblia apenas simbolicamente. Mas é lindo ver verdades escondidas abaixo da história ”. 16 Isso não quer dizer que todos os escritores clássicos de fé tivessem interpretações que seriam aceitas pelos estudiosos hoje ou que sempre concordariam com as interpretações uns dos outros em todos os assuntos.

Reflexões e Conclusões

A revelação e hermenêutica guiadas pelo Espírito não são entidades mutuamente exclusivas que se opõem. Novamente, este não é um caso de "ou-ou", mas de "ambos" e "", duas polaridades que são mantidas em tensão dinâmica na natureza elíptica da verdade. A bolsa de estudos e o conhecimento guiado pelo Espírito andam de mãos dadas. O estudo exegético e hermenêutico fornece os bancos necessários para conter e manter o fluxo do rio do Espírito de Deus. Isso não quer dizer que uma pessoa deva ser um estudioso para ser usado por Deus ou para ouvir de Deus. Moody, Smith Wigglesworth, Tozer e MacMillan não completaram o ensino médio, mas foram muito usados ​​por Deus e receberam insights genuínos de Deus. Tozer enfatizou a necessidade de não ser apenas ensinado pela Bíblia, mas pelo Espírito também. 17Torrey, embora formado em Yale, não denegriu a falta de educação. Ele também entendeu que uma pessoa pode ser bem instruída, mas não ensinada pelo Espírito: “A oração fará mais do que uma educação teológica para tornar a Bíblia um livro aberto. Somente um homem de oração pode entender a Bíblia.” 18 Torrey equilibrou a educação humana com a educação divina:

“O homem que pode ser mais plenamente ensinado por Deus é aquele que estará mais preparado para ouvir o que Deus ensinou aos outros. … Mas não devemos depender deles, embora possamos aprender muito com eles. Nós temos um professor divino: o Espírito Santo. Nós nunca conheceremos verdadeiramente a verdade até sermos ensinados por ele. Nenhuma quantidade de mero ensinamento humano, não importa quem sejam nossos professores, nos dará uma compreensão correta da verdade. Nem mesmo um estudo diligente da Palavra, seja em inglês ou nas línguas originais, nos dará uma compreensão real da verdade. Nós devemos ser ensinados pelo Espírito Santo.Aquele que é assim ensinado, mesmo que não saiba uma palavra grega ou hebraica, entenderá melhor a verdade de Deus do que alguém que conhece as línguas originais, mas que não é ensinado pelo Espírito. O Espírito guiará aquele que Ele ensina “em toda a verdade” - não em um dia, uma semana ou um ano, mas um passo de cada vez.” 19

Por conseguinte, é necessário, por um lado, que os professores da fé contemporânea aceitem, aprendam e apliquem princípios sólidos da hermenêutica e, por outro lado, que aqueles que não são carismáticos reconheçam que Deus fala às pessoas hoje e dá uma visão especial - seja isto chamado de revelação, iluminação ou o que for. Aqueles de nós que são eruditos evangélicos e / ou carismáticos precisam estar abertos para o Espírito Santo dar novas percepções e novas aplicações às Escrituras.

As pessoas da fé contemporânea precisam estar dispostas a submeter todas as supostas revelações às ferramentas da hermenêutica sólida. (Certa vez tive uma amiga e colega que era diretora de educação cristã em uma igreja onde eu servia como pastor assistente. Ela frequentemente recebia insights sobre as Escrituras que poderiam ser descritos como revelações. Contudo, uma vez que ela não estudou a Bíblia nas línguas originais, ela vinha para mim e dizia: “Eu acredito que Deus está dizendo para mim que esta passagem significa isso. Isso se enquadra com o grego ou o hebraico?”). Eu recomendaria essa abordagem aos líderes da fé contemporânea. Sempre que eles acreditam que receberam uma revelação especial de Deus, seria bíblico e apropriado submetê-la à confirmação de estudiosos de compreensão semelhante que estão abertos ao reino do sobrenatural - por exemplo, professores em colégios e seminários carismáticos ou pentecostais - como a Universidade Oral Roberts, a Universidade Regent, o Seminário Teológico Assembleias de Deus, o Seminário Teológico Igreja de Deus, etc., ou eruditos pentecostais / carismáticos em outros seminários evangélicos, como Gordon Fee e Wayne Grudem.

Em última análise, o princípio de "a verdade tem duas asas" de Tozer é necessário nas questões da fé e da hermenêutica para manter uma tensão saudável das contra-polaridades. A.J. Gordon citou o comentário perspicaz de William Lincoln sobre a necessidade de equilibrar as polaridades da verdade: “O único caminho para um crente, se ele quiser ir corretamente, é lembrar que a verdade é sempre bilateral. Se existe alguma verdade que o Espírito Santo tenha imprimido em seu coração, se você não quer empurrá-la ao extremo, pergunte qual é a contra-verdade, e apóie um pouco do seu peso sobre isso; caso contrário, se você tem muito de um lado da verdade, há o perigo de forçá-lo a uma heresia. Heresia significa verdade selecionada; isso não significa erro: heresia e erro são coisas muito diferentes. Heresia é verdade; mas a verdade levou a uma importância indevida para o menosprezo da verdade do outro lado ”.20 Ouvi certa vez o dr. Costa Deir, decano do Instituto Bíblico Elim, uma escola pentecostal, proclamar esse equilíbrio com um lema perceptivo:“ É bom ser altamente educado; é melhor ser educado do Alto; é melhor ser ambos”.

Notas

1 Gordon Fee, A doença do evangelho da saúde e riqueza (Cosa Mesa, Calif .: Palavra para hoje, 1979), 3. 

2 James W. Sire, escritura Twisting: 20 maneiras os cult cultiva a Bíblia (Downers Grove, Ill. : InterVarsity, 1980). 

3 Kenneth Copeland, citado em Fee, 3. 

4 Ibid., 3, 4. 

5 L. Lovett, “Teologia da Confissão Positiva”, em Stanley M. Burgess e Gary B. McGee (ed.), Dicionário dos Movimentos Pentecostais e Carismáticos. 
(Grand Rapids: Zondervan, 1988), 720. 

6 Dale H. Simmons, EW Kenyon e o Postbellum Pursuit of Peace, Power e Plenty (Lanham, MD e London: Scarecrow Press, 1997), 108.

7 Conversa pessoal com Zeigler, Tulsa, Okla., 1997. Veja também Vreeland, “Reconstruindo a Teologia da Palavra de Fé”, 13. 

8 Derek E. Vreeland, “Reconstruindo a Teologia da Palavra de Fé: Uma Defesa, Análise e Refinamento da Teologia de a Palavra de Movimento Fé.”Trabalho apresentado no 30 º Encontro anual da Sociedade de Estudos pentecostais, Oral Roberts University, Tulsa, Oklahoma, março de 2001, 5.

9 Ibid., 12, 19. para ser justo com Hagin, ele Deve-se notar que seu livro mais recente, The Midas Touch , mostra mais preocupação com a hermenêutica do som. 

10 Kenneth Copeland, “A oração de amarrar e perder”, gravação de som. Ft. Worth, Tex .: Publicações da KCP, 1987. 

11Bruce Barron, O Evangelho Saúde e Riqueza (Downers Grove, Ill .: IVP, 1987), 102. 

12 Kirk R. MacGregor, “O Movimento Palavra da Fé:? A Conflation Teológico da Nação do Islã e o mormonismo” Journal of the Academia Americana de Religião , vol. 75, No. 1, (Março de 2007), 89. 

13 Kenneth Hagin, O Toque Midas: Uma Abordagem Equilibrada à Prosperidade Bíblica (Tulsa, Okla .: Fé Publicações da Biblioteca, 2000), 147, 150-153, 161. 

14 I Ouvi Renner admitir publicamente: "Nós, pessoas religiosas, fizemos algumas coisas malucas", e depois ele passa a ensinar uma abordagem equilibrada da fé. 

15 Andrew Murray, O Espírito de Cristo(Springdale, Penn .: Whitaker House, 1984), 162. 

16 AB Simpson, Emblemas Divinos (Camp Hill, Penn .: Christian Publicações, 1995), np

17 AW Tozer, A Raiz dos Justos (Camp Hill, Penn .: Christian Publications, [1955] 1986), 34-37. 

18 RA Torrey, Como Obter a Plenitude do Poder (New Kensington, Penn .: Whitaker, [1982] 1984), 77-78. 

19 Ibid., 51. Simmons ( EW Kenyon , 93-94), no entanto, interpreta erroneamente a afirmação de Torrey como uma reivindicação antiintelectual por não precisar de hermenêutica, talvez não percebendo que o próprio Torrey era um estudioso e havia estudado críticas bíblicas em uma universidade alemã.
 .
20AJ Gordon, O Ministério da Cura (Harrisburg, Penn .: Christian Publications, sd), 261-262.
Este artigo é um excerto de Only Believe: Examinando as Origens e Desenvolvimento de Teologias Clássicas e Contemporâneas da Palavra de Fé (Tulsa, OK: Word e Spirit Press, 2008). Only Believe está disponível através do site do autor, HigherLifeMinistries.com , e através de vendedores on-line, como a Amazon . Usado com permissão.

Sobre o autor : Paul L. King possui um D.Min da Oral Roberts University e um D.Th. da Universidade da África do Sul. Ele serviu por 16 anos no corpo docente da Oral Roberts University como Coordenador de programas do Instituto Bíblico e Professor Adjunto na Faculdade de Teologia e Ministério. Autor de 10 livros e mais de 50 artigos, foi bolsista do ano da ORU 2006 e também atuou como bolsista da D.Min. programa no Seminário Teológico de Aliança. Atualmente é Doutor em Mentor do Programa Randy Clark Scholars no United Theological Seminary, Consultor e Instrutor de Liderança e Ministério da Igreja, pastor ordenado da Aliança Cristã e Missionária e Pastor Interino de Consultoria da Igreja da Aliança Chinesa de Plano (Texas). Twitter: @PaulLKingwww.higherlifeministries.com

Tradução: Everton Edvaldo