2 de janeiro de 2017

Deus realmente odeia os réprobos?


Por Everton Edvaldo

Introdução: Não é de hoje que o entendimento acerca da extensão do amor de Deus tem sido um tema polêmico. Na ânsia de explicar à luz da Bíblia, aquilo que Deus sente em relação às suas criaturas, muitas pessoas tem sido levadas a uma má compressão no que diz respeito ao amor de Deus, afirmando que Deus realmente odeia aqueles que não irão para o céu. É comum encontrar na Internet, pessoas simpatizantes desse entendimento, em sua maioria , composta por calvinistas. Neste artigo, pretendo mostrar através das Escrituras, que esse entendimento não é autêntico quando levado ao extremo. Desenvolverei  alguns argumentos mostrando que Deus ama todas as pessoas do mundo, sem exceção. Também irei analisar alguns textos bíblicos utilizados pelos disseminadores do "ódio divino", e por fim, apresentarei a visão de alguns calvinistas que não negaram que Deus ama todas as pessoas do mundo. Boa leitura!

UM PANORAMA DO ASSUNTO NA PESPECTIVA POPULAR CRISTÃ

Antes de desenvolver o artigo, gostaria de apresentar como muitos enxergam essa questão do "amor e ódio de Deus pelas suas criaturas". Afinal, Deus também ama aqueles que não irão para o céu ou Ele só ama os Eleitos?

Atualmente, principalmente na Internet, podemos encontrar quatro tipos de respostas para essa pergunta:

- Deus não odeia ninguém. Deus ama a todos  (réprobos e Eleitos) salvivicamente.

- Deus ama a todos. Aos réprobos, Ele ama com um amor criacional e afetivo. Aos Eleitos, Ele ama salvivicamente.

-Deus odeia os réprobos condicionalmente e ama os Eleitos incondicionalmente.

- Deus ama e odeia os réprobos ao mesmo tempo. Quanto aos Eleitos, Deus não os odeia  e  porém os ama salvivicamente.

AMOR DE DEUS: UMA DOUTRINA CRUCIAL NAS ESCRITURAS SAGRADAS

É impossível usar a Bíblia para negar que Deus é amor, por natureza e essência. O amor de Deus é descrito nas Escrituras Sagradas como uma das coisas mais fantásticas que existem. 

A Bíblia revela Deus como sendo amoroso em todos os aspectos. Primeiramente consigo mesmo, com sua justiça, caráter, nome e pessoas da Trindade. Em segundo lugar, encontramos Deus amando tudo quanto criou, anjos, lugares e pessoas. Em terceiro lugar, Deus é amoroso no modo como relaciona-se com os seres criados à sua imagem e semelhança, e isso inclui tanto o derramamento de bênçãos espirituais e materiais como até mesmo na aplicação de "castigos" e disciplinas.

Para Champlin: 

"O amor, naturalmente é um atributo de Deus; mas permeia todas as coisas, de tal modo que é legítima a declaração que 'Deus é amor'. (CHAMPLIN, V.1. p. 140).

A questão é: "como um Deus amoroso consegue sentir ódio por algumas das suas criaturas?" Como ele pode em dado momento, abrir mão desse atributo interno e eterno para com algumas pessoas?

Primeiro vamos esclarecer que tipo de ódio seria esse que Deus sente, na pespectiva dos defensores do "ódio divino."

ÓDIO HUMANO X ÓDIO DIVINO

Em essência, o ódio nunca foi um termo adequado para descrever algo bom. Além da palavra trasmitir uma conotação forte, ela aponta para um  sentimento que desencadeia numa série de males tanto para quem o sente quanto para quem é alvo desse sentimento. Estamos falando do ódio como um sentimento humano e como sentimento humano, o ódio é maligno,  carnal e altamente nocivo.

Os defensores do ódio divino, ao desconsiderarem o termo na Bíblia como um antropopatismo, e ao acreditarem real e concretamente que Deus tem ódio, acabam fazendo uma distinção entre um ódio humano e um ódio divino afim de não manchar o caráter de Deus. Isto é,  para eles, o ódio que Deus sente não é o mesmo ódio que o homem sente. Dessa forma, o ódio divino é visto por eles como santo, justo e bom já que logicamente flui da natureza de  Deus que é boa, perfeita e pura.

Porém, devemos compreender que o homem só consegue descrever com plena certeza aquilo que sente verdadeiramente, e aquilo que não sente, o homem descreverá com imperfeição ou atribuirá a alguém diminuindo ou aumentando a conotação de um determinado termo. 

Isto significa dizer que o homem não tem um entendimento claro do que seja um "ódio divino", a não ser por dedução a partir do caráter de Deus.


Tal tipo de entendimento, apesar de parecer ortodoxo, tem causado muitos problemas na mente de alguns cristãos. 

Isto porque uma coisa é alguém dizer que "Deus odeia os pecadores" como um antropopatismo, em forma de figura de linguagem (conforme fazem os autores bíblicos e alguns teólogos). Outra coisa, é alguém afirmar que "Deus odeia os pecadores" no sentido de que Deus não ama todos os pecadores e que o ódio faz parte da essência divina na mesma proporção que o amor. Já vi muitos até mesmo afirmando que o ódio é um dos atributos de Deus. Ora, tal afirmativa é um absurdo! Em nenhum lugar das Escrituras é ensinado que Deus é ódio, por outro lado, a Bíblia é bem clara ao dizer que Deus é amor. 

Ao longo do artigo, veremos que "ódio divino" não existe concretamente em Deus e não passa de um termo usado pelo homem na tentativa de chegar perto daquilo que Deus sente diante do estado pecaminoso em que os pecadores se encontram.

COMO ENTENDER AS PASSAGENS BÍBLICAS QUE AFIRMAM QUE DEUS ODEIA DETERMINADAS PESSOAS?

Bem, muitos defensores do  "ódio divino", recorrem à Bíblia para apoiar suas interpretações. Vejamos aqui algumas delas e o que significam.

"O SENHOR põe à prova ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina.” (Salmos 11:5).

“Porque o SENHOR abomina o perverso, mas aos retos trata com intimidade.” (Provérbios 3:32).

Provérbios 6.16-19, diz que a alma de Deus abomina “o que semeia contenda entre irmãos”.

Salmos 5:5 – Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade.

Malaquias 1.3- "... aborreci a Esaú..."

Romanos 9. 13- "Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú"

Entendendo o significado dos termos.

Dependendo da tradução, encontraremos em algumas Bíblias o termo "aborrecer" ao invés de "odiar", o que facilita bastante o entendimento da passagem quando acompanhado de uma exegese do contexto. Nas passagens do Antigo Testamento que abordamos acima, os autores bíblicos usaram dois termos hebraicos que foram traduzidos como "ódio", "aborrecimento" ou "abominação."

śānē, raiz primitiva; odiar:- o que aborrece, inimigo,  quem odeia; detestável. O termo ainda significa: ter aversão a, ser hostil, destestar alguém ou alguma coisa. Na raiz intensiva, a palavra denota uma pessoa que irradia ódio.

O outro termo é tô'ēbhah que significa alguma coisa odiosa (moral), uma abominação e num sentido mais amplo denota uma coisa ofensiva.

Explicação.

Primeiramente, devemos entender que a Bíblia não é livro que contém  uma linguagem indecifrável a ponto de ninguém entender sua linguagem. Nas Escrituras, os escritores se utilizaram da linguagem disponível em sua época para expressar aquilo que Deus queria falar. É verdade que toda a Escritura é inspirada por Deus, entretanto, esse fato não significa que devemos interpretar literalmente tudo quanto está escrito nela. As passagens bíblicas estão cheias de figuras de linguagens que são utilizadas com o objetivo de tornar a mensagem divina  compreensível aos seus destinatários. Entre essas figuras de linguagens, temos duas que são conhecidas como antropopatismo e antropomorfismo.

Antropopatismo

Segundo Champlin:

"Antropopatismo vem do grego anthropos, homem e pathein, sofrer. Atribuição de sentimentos humanos a qualquer coisa não-humana, como objetos inanimados, animais, poderes da natureza, seres espirituais e Deus." (CHAMPLIN V.1. p. 200). 

A Bíblia está cheia de antropopatismos, isto é, os autores bíblicos atribuindo emoções  humanas a Deus (cf Gn 6.6; 8.21; 11.5-6; Pv 24.8, Zc 1.2; Ef 4.30; Rm 1.18; Cl 3.6; Hb 3.11.). Um exemplo usado por Champlin é o da ira de Deus. 

Segundo ele:

"Quando dizemos que Deus se ira, estamos praticando a falácia patética, a menos que qualifiquemos tal uso com explicações. Parece pelo menos razoável supor-se que Deus não se ira no mesmo sentido em que os fazem os homens." (CHAMPLIN V.1. p. 200).

Sentimentos como "ira", "ciúmes", "arrependimento", entre outros, também são figuras antropopáticas quando atribuídas a Deus.

Antropomofismo.

Antropomofismo é quando os autores bíblicos atribuem formas humanas a Deus. "Vem do grego, antropomorfos -"de forma humana". Atribuição de qualidades humanas ao ser divino, ou a idéia de que Deus ou os deuses têm alguma espécie de formato, similar à anatomia humana." (CHAMPLIN V.1. p. 199). Exemplo: quando Deus é representado na Bíblia como tendo forma humana, com braços, pés, mãos, coração, etc.

Tratando sobre o "Ódio divino", R.N. Champlin explica:

"O termo ódio é antropomórfico, que devemos entender metaforicamente, e não em termos reais do ódio humano. Penso que essa é a resposta certa. Os homens aplicam às palavras de Deus sentidos que lhes são significativos, por causa de suas próprias naturezas emocionais; porque é difícil imaginarmos Deus sujeito ao mesmo tipo de natureza emocional que o homem têm." (CHAMPLIN Vol 4, p. 578).

Nesse sentido, o ódio não é algo concreto em Deus como o amor, mas apenas um sentimento humano que os autores bíblicos atribuíram a Deus. Foi o termo que eles acharam mais próximo da insatisfação que Deus sente em relação ao estado em que o pecador se encontra. 

Isso de forma alguma anula o amor real de Deus por tais pessoas, isto é, não é um sentimento em oposição ao amor divino por elas. O que faz Deus sentir essa insatisfação por tais pessoas nada mais é do que primeiramente o amor por sua própria justiça. Sim, Deus ama a si mesmo e esse tipo de amor próprio faz com que Ele negue-se a compactuar com qualquer coisa que seja contrária à sua natureza.

Tais versículos deixam claro que Deus está insatisfeito tanto com a iniquidade quanto com o iníquio. A mensagem de Deus para o homem é: "não me agrado do estado em que você está nem dos atos que você prática."

Os defensores do "ódio divino" como algo concreto em Deus e não apenas uma figura de linguagem recorrem à seguinte pergunta: 

"Se os autores bíblicos não quisessem que seus leitores interprepassem o ódio como algo literal em Deus, porque não usaram um termo mais suave ou até mesmo outro termo para dizer o que disseram?"

Ora, não é sensato exigir tal coisa dos autores bíblicos, principalmente quando se trata de judeus que viveram há mais de 2.000 anos. Até mesmo hoje em dia é difícil para um judeu radical admitir que Deus ama outros povos a não ser o povo de Israel, quanto mais no período bíblico.  

Então alguém poderá questionar: "Mas não foi o Espírito Santo que inspirou estes homens, porque ele não os orientou a usar outro termo?" Óbvio que sim! O Espírito Santo não hesitou em se comunicar dessa forma e não errou em ter feito assim. Devemos entender que o problema não está na escrita, mas sim na interpretação literal das passagens. 

Outro ponto interessante é que a revelação bíblica ao longo dos séculos, foi progressiva. Hoje sabemos sem dificuldade alguma que Deus amou o mundo a partir de toda a Bíblia e não apenas de partes isoladas dela. Por isso que podemos afirmar com precisão que Deus ama os pecadores, pois a Bíblia assim o faz! 


Geralmente, os defensores do ódio divino afirmam que Deus ama os Eleitos incondicionalmente, mas odeia os réprobos condicionalmente.

Entretanto, existe um problema com esse tipo de entendimento. Acompanhe meu reciocínio:

Primeiro, se Deus ama uma pessoa incondicionalmente, ou seja, embora a pessoa não mereça, Ele a ame, porque não posso concluir que Deus ama a todos, visto que ninguém merece?

Segundo, se Deus odeia uma pessoa condicionalmente, ou seja, o pecado é a razão pela qual Ele a odeia, porque não posso concluir que Deus odeia a todos, visto que todos pecam?

Não tem para onde escapar, ou Deus ama a todos ou Ele não ama ninguém.

Alguns esclarecimentos.

Ao defender que Deus não sente ódio de fato, não estou insinuando que Deus esteja satisfeito com o estado em que os réprobos se encontram. O amor de Deus pela humanidade não abre espaço para que esta peque e viva uma vida imoral.

Também não nego que a justiça de Deus chegará sobre os que vivem debaixo do amor de Deus, mas que recusam se arrepender. O amor não deixa o erro impune.

SOBRE JOÃO 3.16

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."

Não quero tornar o artigo cansativo, nem é de minha intenção fazer uma exegese acurada sobre essa passagem bíblica que sem dúvida é uma das mais belas das Escrituras.

Como podemos ver, não há restrições do amor Deus na frase de Jesus direcionadas para réprobos ou Eleitos. Ele simplesmente declara o amor salvívico de Deus pelo mundo.

Eu posso dizer a qualquer pessoa do mundo que Deus a ama por três motivos, primeiro se ela faz parte do mundo, então ela se enquadra dentro do amor de Deus. Segundo, essa afirmação não mancha o caráter de Deus nem traz complicações para os atributos Dele e por fim, tal declaração é fundamentada exaustivamente na Bíblia. É por isso que Irineu de Lião, teólogo do segundo século afirmou com precisão que: "O Senhor é cheio de misericórdia e compaixão, e ama o gênero humano." (Citado por ROSAS, p. 60).

Alguns até tentam conceituar o mundo de João 3.16 como o mundo dos Eleitos, porém tal interpretação  não se sustenta diante de uma boa exegese.

De acordo com Champlin:

"Este mundo não é o mundo dos Eleitos- mas sim, de todos os indivíduos do mundo,  de todas as épocas, sem exceção alguma. Deus, sendo um ser inteligente, tem consciência da existência deste mundo e ama a todos os homens que nele habitam." (CHAMPLIN V.1 p. 139).

Champlin também entende que os que negam o amor universal de Deus, na verdade não acreditam que Deus seja amor.

"Pontos de vista religiosos modernos, que exageram a vontade divina ou seu senso de vingança, às expensas de seu amor, também contradizem o quadro que o N.T. faz dele. Aqueles que crêem em 'reprovação ativa' e em amor limitado; Deus amaria não o mundo,  mas exclusivamente aos eleitos, na realidade não acreditam que Deus seja amor. Aqueles que vêem apenas retribuição e vingança no julgamento divino, ignorando passagens como o primeiro capítulo da epístola aos Éfesios e as passagens de 1 Ped. 3.18-20 e 4.6, ou então pervertendo-as, na realidade não podem dizer que 'Deus é amor." Até mesmo o juízo de Deus é uma medida de seu amor, porque o juízo opera através do amor." (CHAMPLIN V. p. 140).

CALVINISTAS QUE CREEM QUE DEUS AMA A TODOS

Que Deus ama a todos é uma verdade defendida inclusive por muitos calvinistas.

Explicando como Como Deus Ama o Mundo em João 3.16, John Piper é bem claro:

"A questão diante de nós hoje é como Deus ama o mundo de acordo com João 3:16. Jesus disse: "Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho únigenito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." É muito importante que nós deixemos a Bíblia defina o que quer dizer por amor em cada passagem . Não devemos trazer todas as nossas suposições sobre o amor e fazer a Bíblia dizer o que pensamos que o amor deve ser. Algumas grandes coisas parecem óbvias desse versículo:.
1. Deus ama o mundo, ou seja, Ele ama a grande totalidade dos caídos, seres humanos pecadores. 
2. O amor é de tal natureza, intensidade e magnitude que levou Deus a dar seu Filho para morrer pelo mundo (João 10:17-18). 
3. Um propósito incontestavelmente claro e efetivo desse amor, e dessa dádiva do Filho, é que "todo aquele que Nele crê não pereçará, mas tem a vida eterna." Em outras palavras, este amor abre uma porta real, para que todo aquele que crê no Filho entre na vida eterna.
4. Portanto, esse amor é indiscriminado. Pode ser declarado, prometido e aplicado a todos, sem exceção. Porque o que esse amor diz é: "Se você crer no meu filho, darei a você a vida eterna. Eu posso fazer isso justamente porque o meu filho cancelou as dívidas de todos os que crêem. Se você crer, os teus pecados são cancelados. Meu amor por você é este: Eu dei meu Filho, para que confiar Nele seja a única condição para viver comigo para sempre ". 
Para Cada Ser Humano: "Deus ama você". 
Podemos, portanto, dizer a cada ser humano: "Deus ama você. E é assim que Ele te ama: Ele deu seu Filho para morrer, de modo que se você viesse a crer, seus pecados seriam perdoados e você teria a vida eterna ". 
Isso é o que o amor de Deus significa, promete e faz em João 3:16." (http://mortoporamor.blogspot.com.br/2010/12/john-piper-sermao-sobre-joao-316-parte_12.html?m=1).

Louis Berkhof (1873-1957) falando sobre O Amor de Deus, explica:

"Desde que Deus é absolutamente bom em Si mesmo, Seu amor não pode achar completa satisfação em nenhum objeto falto de perfeição absoluta. Ele ama as Suas criaturas racionais por amor a Si mesmo, ou, para expressá-lo doutra forma, neles Ele se ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua obra e Seus dons. Ele nem mesmo retira completamente o Seu amor do pecador em seu estado pecaminoso atual, apesar de que o pecado deste é uma abominação para Ele, visto que, mesmo no pecador, Ele reconhece um portador da Sua imagem. Jo 3.16; Mt 5.44, 45." (http://mortoporamor.blogspot.com.br/2010/07/louis-berkhof-o-amor-de-deus.html?m=1).

Explicando o Porque Deus amou o mundo, João Calvino diz:

"Cristo abre a primeira causa e, por assim dizer, a fonte da nossa salvação, e faz isso de forma que nenhuma dúvida possa permanecer; pois nossa mente não pode encontrar repouso tranqüilo, até que cheguemos ao amor não merecido de Deus. Como toda questão sobre nossa salvação não deve ser buscada em qualquer outro lugar a não ser em Cristo, então devemos ver de onde Cristo veio até nós, e por que Ele foi oferecido para ser nosso Salvador.  Ambos os pontos são distintamente declarados para nós: a saber, que a fé em Cristo traz vida para todos, e que Cristo trouxe vida, porque o Pai Celestial ama a raça humana, e deseja que eles não venham a perecer."

Sobre  [Ele deu seu Filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça], Calvino comenta:

"Como os homens não são facilmente convencidos de que Deus os ama, a fim de eliminar qualquer dúvida, Ele declarou expressamente que somos muito queridos por Deus que, por nossa causa, Ele nem mesmo poupou seu Filho unigênito." (http:/ mortoporamor.blogspot.com.br/2010/09/joao-calvino-1509-1564-comentario-sobre_08.html?m=1).

George Whitefield (1714-1770) discorrendo sobre nosso Amor e o Amor de Deus, afirma:

" ...esse amor não se limita a um grupo particular de homens, mas é imparcial e universal: um amor que envolve a imagem de Deus onde quer que ela seja contemplada, e que se deleita em nada mais do que ver a vinda do Reino de Cristo. Este é o amor com que Jesus Cristo amou a humanidade: Ele amou todos, até mesmo o pior dos homens, como se torna visivel pelo seu choro pelo obstinadamente perverso; mas onde quer que Ele visse, ao menos, o lampejo da semelhança divina, aquela alma Ele amou em particular." (http://mortoporamor.blogspot.com.br/2010/09/george-whitefield-nosso-amor-e-o-amor.html?m=1).

Em notas sobre João 3.16, J. C. Ryle (1816-1900) explica:

[Porque Deus amou o mundo de tal maneira, etc]

"Nosso Senhor, neste versículo, mostra  para Nicodemos outra "coisa celestial". Nicodemos, provavelmente pensava, como muitos judeus, que os propósitos de misericórdia de Deus eram inteiramente confinados ao Seu povo escolhido, Israel, e que quando o Messias surgisse, Ele surgiria apenas para o especial benefício da nação judaica. Nosso Senhor, aqui declara a ele que Deus ama todo o mundo, sem exceção alguma; que o Messias, o Filho unigênito de Deus, é a dádiva do Pai para toda a família de Adão, e que cada um, quer judeu ou gentio, que Nele crê  para a salvação, pode ter vida eterna. - É impossível conceber declaração mais surpreendente para os ouvidos de um rígido fariseu! Um versículo mais maravilhoso não pode ser encontrado na Bíblia! Que Deus amaria um mundo tão perverso como este, e não o odiaria, - que Ele o amaria de modo a prover salvação - que, a fim de prover salvação Ele daria, não um anjo, ou qualquer ser criado, mas o dom inestimável que é o Seu Filho unigênito - para que esta grande salvação fosse oferecida gratuitamente a todo aquele que crê, - tudo, tudo isso é realmente maravilhoso! Isso era certamente uma "coisa celestial." (http://mortoporamor.blogspot.com.br/2011/01/j-c-ryle-1816-1900-notas-sobre-joao-316.html?m=1).

Ryle também diz:

"As palavras, "Deus amou o mundo",
tem recebido duas interpretações muito diferentes. A importância do tema nos dias de hoje torna desejável indicar ambos os pontos de vista de forma completa. 
Alguns pensam, como Hutcheson, Lampe, e Gill, que o "mundo" significa os eleitos de Deus de todas as nações, quer judeus ou gentios, e que o "amor" com o qual se diz que Deus os ama é aquele amor eterno com o qual os eleitos foram amados antes do ínicio da criação, e pelo qual seu chamado, justificação, preservação e salvação final são completamente assegurados.- Essa visão, embora apoiada por muitos e grandes teólogos, não me parece ser o que nosso Senhor queria dizer. 
"O mundo" é, sem dúvida, um nome dado algumas vezes para o "ímpio" exclusivamente. Mas eu não vejo isso como um nome dado aos santos.- Por outro lado, interpretar a palavra "mundo" como “somente os eleitos” é ignorar a distinção que, a meus olhos, é claramente estabelecida no texto entre toda a humanidade e aqueles dessa humanidade que "crêem”. Se o "mundo" significa apenas a porção crente da humanidade, teria sido o bastante dizer: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que o mundo não pereça." Mas nosso Senhor não diz isso. Ele diz, "para que todo aquele que Nele crê”. 
Por último, confinar o amor de Deus aos eleitos é tomar uma dura e estreita visão do caráter de Deus, e coloca razoavelmente o cristianismo aberto às acusações que o retratam como cruel e injusto para com os ímpios. Se Deus não tem consideração por ninguém, a não ser Seus eleitos, e não se importa com ninguém além deles, como julgará Deus o mundo? Eu creio no amor eletivo de Deus Pai tão fortemente quanto qualquer um. Eu considero o amor especial com que Deus ama as ovelhas que Ele tem dado a Cristo desde toda a eternidade, como a mais abençoada e confortadora verdade, e de mais alegria e beneficio aos crentes. Eu digo apenas, que não é a verdade deste texto. 
A palavra, na minha opinião, é assim utilizada em João 1:10, 29; 6:33, 51; 8:12; Rom. 3:19; 2 Cor. 5:19, 1 João 2:2; 4:14.  É o mesmo sentimento de "amor" que aparece no Salmo 145:9, em Ezequiel. 33:11, João 6:32, Tito 3:4, 1 João 4:10, 2 Ped. 3:9, 1 Tm. 2:4.  Mas não é menos que um amor real. É um amor que limpa Deus de injustiça no julgamento do mundo." (http://mortoporamor.blogspot.com.br/2011/01/j-c-ryle-1816-1900-notas-sobre-joao-316.html?m=1).


João Calvino (1509-1564) em um dos seus sermões sobre João 3.16 não me parece negar que Deus ame os réprobos.  Ele afirma:

" É verdade que São João diz geralmente que Ele amou o mundo. E por quê? Porque Jesus Cristo se oferece a todos os homens, sem exceção, para ser seu Redentor. Isso é dito, depois no Pacto, que Deus amou o mundo quando Ele enviou seu único filho, mas Ele nos amou, nós (eu digo) que fomos ensinados por seu Evangelho, porque Ele nos reuniu a Ele. 
Assim, vemos três graus do amor de Deus, como nos demonstrou em nosso Senhor Jesus Cristo. O primeiro diz respeito ao resgate que foi comprado na pessoa daquele que deu a si mesmo à morte por nós, e se tornou maldito para nos reconciliar com Deus, seu Pai. Esse é o primeiro grau do amor, que se estende a todos os homens, na medida em que Jesus Cristo estende seus braços para chamar e atrair todos os homens, tanto os grandes quanto os pequenos, e ganhá-los para Ele." (http://mortoporamor.blogspot.com.br/2010/09/joao-calvino-1509-1564-joao-316.html?m=1).

Conclusão: Neste artigo, vimos que não existem boas razões bíblicas para duvidarmos do amor universal de Deus pela humanidade. Deus realmente não odeia os réprobos, pois os ama e deseja sua salvação. Porém, isso não significa que Ele esteja satisfeito com seus pecados. Ele não os aprova e no momento certo, o juízo os alcançará. Que possamos orar pelos que se recusam a acreditar em tais verdades e fazem afirmativas que confundem a mente do povo de Deus.  Que Deus nos ajude em tudo, amém!

Obras consultadas:

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 1991.

ROSAS, Tiago. A mensagem da Cruz. Campina Grande: FACTS, 2016
Bíblia de Estudo Palavras- Chave. Rio de Janeiro: CPAD.

Site consultado:

hzttp://mortoporamor.blogspot.com.br/?m=1 (Acessado em 02/01/2017).

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