Por Everton Edvaldo.
O nosso blog teve a oportunidade de entrevistar o pastor, escritor e teólogo Thiago Velozo Titillo. Titillo é pastor batista, especialista em Teologia Bíblia e Sistemática-Pastoral pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro, graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Betel e licenciado em Letras pela Universidade Estácio de Sá. Concluiu o curso de grego (livre) pela Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro. Leciona na rede estadual de ensino (SEEDUC-RJ), no Seminário Teológico Betel e no Seminário Teológico Peniel. Casado com Danielly e pai de Yasmim, é pastor auxiliar da Igreja Batista Memorial do Catumbi. Autor de três livros, Titillo não hesitou em responder nossas perguntas.
01) Thiago Titillo, sabemos que hoje, muitos cristãos estão despertando o interesse pela leitura da Bíblia, de livros que falam sobre Deus e Jesus. Isso é uma ótima notícia! E como investigadores que são, os leitores gostam de conhecer bem a trajetória daqueles que hoje são referências no Estudo das Sagradas Escrituras. Como referência e uma grande influencia teológica na cristandade brasileira, revele-nos quando e como surgiu sua paixão pela leitura da Bíblia e livros de teologia?
R= Por volta dos 16-17 anos, comecei a sentir um vazio e uma falta de sentido em minha vida. Naturalmente, a vida só faz sentido quando estamos cumprindo o propósito para o qual fomos criados, a saber, adorar e servir a Deus. Embora eu já tivesse consciência dos meus pecados e – de alguma forma – cresse em Cristo, faltava-me uma relação íntima e pessoal com Ele. A leitura bíblica nasceu daí: de uma vontade de conhecer mais a Deus e se relacionar com Ele de perto. Nessa época, o pastor da minha Igreja que eu congregava – Carlos Eufrázio da Cruz – colocou-me para cuidar da Biblioteca da Igreja Batista Central do Rio de Janeiro. Até hoje não sei se foi por acaso, ou se ele percebia em mim um espírito inquiridor que poderia se desenvolver a serviço do Reino a partir da leitura teológica (pretendo pergunta-lo ainda!). Sei que foi nessa ocasião que comecei a ler os livros de Teologia na Biblioteca da Igreja. O primeiro foi o clássico Esboço de Teologia Sistemática, de Alva Bee Langston. E não parou mais...
02) Com três livros escritos e uma ótima bagagem acadêmica, você tem se destacado, sobretudo, pela produção de conteúdo e material que giram em torno do Arminianismo. Além disso, quais outras áreas da teologia que te chamam atenção e que você particularmente ama estudar e escrever?
R= Amo estudar patrística (meu primeiro livro, inclusive, foi nessa área) e a teologia da Reforma. Outra área de interesse é a escatologia. Meu artigo final da Pós-Graduação, inclusive, juntou duas de minhas paixões: patrística e escatologia. Trabalhei as expectativas escatológicas em Policarpo e Papias. A pedido do meu orientador, o Dr. Valtair Miranda – uma das maiores autoridades em escatologia judaico-cristã – meu artigo foi publicado na Revista Pós-Escrito, publicação eletrônica da Faculdade Batista do Rio de Janeiro. Inclusive, após a publicação de Jamais Perecerão, deve pintar uma obra introdutória sobre Apocalipse, no ano que vem...
03) Por muito tempo, os cristãos brasileiros desconheciam a teologia arminiana, em geral. Aconteceu que, com redescobrimento, ou melhor, a ênfase por conhecer, traduzir livros e materiais sobre o arminianismo no Brasil, houve uma aproximação entre os irmãos de variadas tradições evangélicas. Por exemplo, o arminianismo favoreceu a frequência do diálogo entre metodistas, assembleanos e outros irmãos de outras denominações. Como Batista que é, você tem sentido esse impacto? Se sim, como tem sido essa experiência e na sua opinião, qual fator principal da teologia arminiana tem favorecido este diálogo que viabiliza tanto a comunhão, a unidade e a tolerância?
R= Minha denominação em particular, é arminiana. Os batistas brasileiros são arminianos de maneira geral, mas rejeitam o rótulo. Dizem: “Não somos calvinistas nem arminianos, somos bíblicos”. Esse padrão repete o modelo dos arminianos batistas norte-americanos, como por exemplo, Henry Clarence Thiessen (no passado) e Norman Geisler (presentemente). Alguns batistas, como Roger Olson, não têm problemas em assumir sua herança soteriológica. Eu também não tenho. Se os batistas calvinistas não têm, por que eu deveria ter? Os batistas dos EUA, em especial na Convenção do Sul, estão divididos entre calvinistas e não-calvinistas (arminianos). Aqui a realidade é outra. Há alguns batistas calvinistas de renome, mas são poucos comparados ao número de pastores batistas arminianos dentro da denominação. Contudo, tenho sido convidado muito mais frequentemente para ministrar em Assembleias de Deus sobre o assunto do que no meio batista. Talvez pela postura de querer “ser bíblico” e não seguir “doutrinas de homens”. Um purismo desnecessário. E tem sido uma alegria muito grande comungar com servos de Deus de outros arraiais denominacionais. O próprio espírito de tolerância arminiano promove essa troca. Com algumas desonrosas exceções (em especial nas redes sociais), aqueles que se permitem influenciar pela soteriologia de Armínio, são também influenciados pelo seu espírito pacifista.
04) Seu recente livro escrito: "Jamais Perecerão", aborda um dos assuntos mais polêmicos do cristianismo ao longo dos séculos. Que tal contar-nos um pouco sobre elaboração desse trabalho? Como surgiu a ideia de lançar um livro sobre esse tema? Levando em consideração que o ponto de vista que você defende no livro, não é encarado com bons olhos pela maioria dos cristãos no Brasil, qual a sua expectativa com relação à reação do público com seu livro e quais conselhos você dá para aqueles que creem diferente de você e que vão lê-lo?
R= Essa obra surgiu de um questionamento em sala de aula a respeito do pensamento de Martinho Lutero sobre o assunto. Eu estava falando sobre a teologia de Martinho Lutero em uma aula de História do Cristianismo, e por fim, tornou-se uma aula de exegese de textos selecionados. Eu discordo de que o tema que eu abordo no livro seja visto com maus olhos pela maioria dos evangélicos brasileiros. Eu acrescentaria “arminianos” à “evangélicos”. Sim, a visão que eu defendo é minoritária entre os arminianos. Mas é a visão majoritária dos batistas, e também defendida pelas igrejas calvinistas. Creio que há um equilíbrio neste ponto. O meu conselho para os que irão ler a obra e não defendem o mesmo ponto de vista é: seja bereano. Leia de coração aberto e confira se as Escrituras são assim mesmo. E vai outro conselho, em especial, para quem critica antes de ler: leia primeiro.
05) Sobre debates na área da soteriologia, as redes sociais têm facilitado bastante esse tipo de prática. Algumas pessoas usam-na de forma sensata para expor, explicar e dialogar. Já outras, usam-na com o objetivo de se auto-promover, propagar contendas, etc. Como você se posiciona em relação a essa repercussão no ambiente virtual?
R= Eu busco evitar pessoas e páginas que promovem contendas ao invés de instrução sadia e em amor. Eu apenas evito aproximação.
06) Atualmente, muito se fala na doutrina do amor de Deus. Há quem escreva sobre a intensidade e a extensão desse amor, principalmente os arminianos. Você não poderia ficar de fora não é mesmo? Na sua perspectiva, o que a Bíblia revela sobre "Amor de Deus e o Deus de amor"?
R= Entendo que o amor é um atributo de Deus tão importante quanto os outros, mas não menos ou mais importante. A Bíblia diz que Deus é amor, mas Deus também é Santo e justo. Um Deus verdadeiramente amoroso ama com amor salvífico todas as suas criaturas, mas pode condená-las por ser justo, caso não correspondam. Qualquer coisa menor do que isso lança sobre o amor de Deus terríveis sombras.
07) Sobre sua devoção ao Estudo da Bíblia, gostaríamos de saber um pouco do seu relacionamento com a Palavra de Deus. Sendo assim, nos conte qual livro da Bíblia você gosta mais de ler/estudar. Qual personagem dela (além de Jesus) te inspira na caminhada cristã e nos cite o nome de um teólogo que teve grande influencia na sua formação acadêmica.
R= Depois de Jesus Cristo, o personagem bíblico que mais admiro é Paulo. Ultimamente tenho lido/estudado mais o livro do Apocalipse, mas amo os Evangelhos e os Salmos. Amo a Bíblia inteira (rs). Em minha opinião, o maior teólogo da Igreja de todos os tempos foi Agostinho. Sua influência permeia todas as tradições cristãs.
08) Falando em teólogo, Jacó Armínio foi sem dúvida, um excelente exegeta das Escrituras. Além de respeitoso e eloquente, Armínio se destaca pelas várias virtudes que cultivou ao pés do SENHOR. Qual delas te chama mais atenção, quando você está lendo uma obra ou texto dele?
R= Certamente o espírito pacificador e o tom e irênico, mesmo diante da oposição.
09) Como dinâmico que é, acredito que ainda contribuirá muito para a teologia bíblica. Em relação ao 'futuro', você tem alguma coisa que queira realizar? Irá continuar escrevendo? Algo que possa nos revelar?
R= Tenho muitos objetivos. Pastoreei uma Congregação (2011-2012) e depois servi em alguns ministérios auxiliares. Pretendo retomar a experiência do pastorado titular de uma Igreja. Tenho orado para que Deus me direcione nesse sentido. Como escritor, estou rabiscando algo sobre o livro do Apocalipse. Acredito que sairá em 2018. Pretendo ainda dar continuidade à minha carreira acadêmica, iniciando o mestrado em Teologia. Buscando no Senhor a Sua vontade para minha vida.
10) Por fim, gostaríamos que desse uma palavra de encorajamento aos leitores que admiram seu trabalho e aos seguidores da Esquina da Teologia Pentecostal.
R= Galera, vamos buscar a cada dia conhecer mais a Bíblia e a Teologia. Mas que isso aumente a nossa piedade e nos aproxime mais de Deus. Que o conhecimento seja razão para uma vida santa e madura, aplicando no dia-a-dia aquilo que aprendemos na Palavra (Tiago 1.22-25). Do contrário, de nada valerá...
Ao nobre Edvaldo e amado Pr. Thiago contribuo com o pensamento de que as redes sociais invadiram o sistema devocional e formador de uma massa expressiva, ou no minimo barulhenta... e iniciativas como essa, de destacar a pessoa de um entrevistador em seu aspecto devocional pode sim servir de direcionamento para a vida de muitos que se encontram perdidos entre pensamentos "fantasiosos" de um mundo não seu.
ResponderExcluirNesse ensejo os parabenizo pela riquíssima contribuição devocional!
Muito bom conhecer mais desse irmão en Cristo tão precioso.
ResponderExcluirÓtima entrevista, parabéns Everton muito bom trabalho, espero ver muitas outras entrevista.
ResponderExcluirUm desafio a vc, entrevistar o Paulo
Cesar Antunes, dono do site arminianismo
Saulo Lopes
Escreve muito bem, é eloquente e além de possuir muito conhecimento é um mestre didarico. Glória a Deus pela sua vida Pr. Thiago Titillo.
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