27 de agosto de 2017

Marcos, um cristão muito útil para o Reino de Deus



Por Everton Edvaldo

Leitura Bíblica: (Atos 12.25; 13.1-5, 13; 15.36,37; 2 Timóteo 4.11).

Introdução: Hoje iremos falar sobre um personagem bastante esquecido no seio da cristandade: João Marcos. Muitos só sabem de sua existência, por causa do Evangelho que leva seu nome, entretanto, a Bíblia nos traz detalhes suficientes para que entendamos um pouco quem foi este homem. Vamos falar acerca de sua vida, ministério, quedas e utilidades dentro da obra de Deus. Também falaremos de como Deus agiu nas circunstâncias difíceis envolvendo Marcos, revertendo qualquer rastro de fracasso em objeto de glória ao Seu nome. Porém, antes disso, permita-me falar acerca de alguns detalhes  para que facilitem a compreensão da jornada deste personagem.

I- QUEM ERA JOÃO MARCOS:

1. Seu nome. Das vezes que a Bíblia fala sobre Marcos, ela se refere a ele como "Marcos" simplesmente, ou de modo geral, como "João Marcos." João significa "Yahweh mostrou graça" e Marcos é seu nome latino adotado. Naquela época, era comum muitas famílias judaicas ter dois nomes, um hebraico e outro grego ou latino.

2. Sua família e seu lar. A Bíblia não traz muitos detalhes sobre a família de João Marcos. Ela fala apenas que ele era filho de Maria, "uma mulher rica e importante em Jerusalém (At 12.12)" (RYRIE, p. 954), (Obs: não era Maria, a mãe de Jesus); e primo do "apóstolo" José Barnabé (Cl 4.10), (para mais detalhes sobre Barnabé, veja At 4.36-37). As Escrituras não falam do pai de João Marcos. Sobre esse fato, comenta R.N. Champlin:

"O pai de João Marcos não é mencionado em porção alguma, e a maioria dos intérpretes pensa, por esse motivo, que Maria era viúva. Isso parece ser consubstanciado pelo fato de que a casa onde uma das congregações da igreja de Jerusalém se reunia é chamada de casa de Maria. Se seu esposo ainda vivesse, certamente não seria assim denominada." (CHAMPLIN, p. 129). 

De maneira bem simples, era uma família judia convertida e que fez parte da primeira geração de cristãos.

Sobre seu lar, Champlin comenta:

"Nada sabemos sobre o lar original de Marcos, quanto à sua localização, mas, na primeira vez que o encontramos, vemo-lo em Jerusalém, e talvez seja boa opinião que aquela era sua terra natal, ou, pelo menos, o lar central da família em geral." (CHAMPLIN, p. 129).

Ou seja, provavelmente, a terra natal de Marcos era a cidade de Jerusalém.

3. Curiosidades. A Bíblia não fala como Marcos se converteu, nem através de quem conheceu o Evangelho. Alguns estudiosos inferem que foi através de Pedro, todavia essa informação é apenas uma conjectura. Outra coisa que deve ser dita, é que Marcos não era apóstolo conforme muitos cristãos pensam que era. Em nenhuma passagem da Bíblia, Marcos é chamado de apóstolo. É quase unânime a afirmação de que Marcos nunca andou, viu ou conheceu Jesus pessoalmente. Contudo, "teve a oportunidade ímpar de colaborar no ministério de três apóstolos: Paulo (At 13.1-13; Cl 4.10; Fm 24), Barnabé (At 15.39) e Pedro (1 Pe 5.13)." (STAMPS, p. 1459). Por fim, Marcos é o autor do segundo Evangelho do Novo Testamento (escrito na década de 50 ou 60 d.C). Obviamente, essa é a curiosidade mais popular sobre ele.

II- A TRAJETÓRIA DE MARCOS:

1.Como começou.

Inicialmente, a jornada de Marcos está situada e descrita em Atos 12.25 e em Atos 13.5-15.

Tudo começa quando Paulo e Barnabé voltam de sua missão de socorro realizada em Jerusalém, e trazem consigo João, apelidado Marcos (Atos 12.25). Outrora, Barnabé e Paulo estivera na igreja em Jerusalém que se reunia na casa de Maria, mãe de Marcos. Eles devem ter conhecido o jovem num dos cultos realizados naquela casa. Certamente, viram alguma disposição no jovem para fazer a obra de Deus e o levaram para Antioquia da Síria.

Isto se tornou numa grande oportunidade para Marcos, pois, a igreja de Antioquia era um importante celeiro de cristãos, onde também haviam profetas e mestres/doutores (Atos 13.1). Perceba que Marcos saiu de sua terra, e agora, não estava mais em Jerusalém debaixo dos cuidados e do conforto da sua mãe. Em Antioquia, há muito trabalho a ser feito!

Aconteceu que na igreja antioquiana, o Espírito Santo disse aos seus servos: "Separai-me, agora, Barnabé a Saulo para a obra a que os tenho chamado." (At 13.2). Após jejuarem,  orarem, e impor as mãos sobre eles, os cristãos que ali haviam, despediram Paulo e Barnabé para proclamarem a Palavra de Deus. Os teólogos chamam esse evento de "A primeira viagem missionária."

"Paulo e Barnabé foram chamados para pregar o evangelho e conduzir homens e mulheres à salvação em Cristo." (STAMPS, p. 1659) de modo que, o alvo deles, "era conduzir pessoas a Cristo (16.31; 20.21), livrá-las do poder de Satanás (26.18), levá-las a receber o Espírito Santo (19.6) e organizá-las em igrejas." (STAMPS, p.1659).

Nessa viagem missionária, eles decidem levar João Marcos como auxiliar. É ai que sua trajetória ganha um novo rumo.

2. O Trabalho do jovem.

Nesse trio missionário, Marcos desempenhava o papel de cooperador de Barnabé e de Paulo. Segundo Charles Ryrie: "Fazia tudo o que Paulo e Barnabé lhe pediam- talvez ajudando a batizar e ensinar os recém-convertidos." (RYRIE, p. 1066). Sem falar que possivelmente, devia ajudar na prática, carregando a bagagem dos dois missionários, haja vista que ele era jovem, em pleno vigor da idade. De qualquer maneira, Marcos estava nessa viagem para prestar assistência.

3. A viagem em si.

Marcos desce juntamente com Barnabé e Paulo, ao porto marítimo de Selêucida  (25 Km de Antioquia), com o propósito de navegarem até Chipre, terra natal de Barnabé e ali, o Evangelho seria anunciado. De Selêucida, eles navegaram até Salamina, uma cidade marítima na costa oriental de Chipre, rica em mineral e agrícola, e que era um centro comercial importante naqueles dias.

Barnabé e Paulo, estrategicamente, anunciavam o Evangelho nas sinagogas judaicas dali (Atos 13.5). A cidade possuía uma quantidade considerável de judeus. Lá, o trio missionário encontrou um ambiente ideal para iniciar o trabalho de evangelização. Então a obra começou a ser desenvolvida!

O versículo 6 de Atos 13, diz que eles atravessaram toda a ilha até Pafos... Pare para refletir nos obstáculos que eles tiveram que enfrentar. Tiveram que passar por terrenos montanhosos, irregulares, de noite e de dia, no perigo, na insegurança e no risco de cair nas mãos de salteadores; dormindo no frio e por vezes andando no sol quente. Certamente, Marcos estava surpreso com tudo quanto estava passando. Isto porque uma coisa é você estar rodeado de irmãos na fé, com a família presente e perto de casa; outra coisa é você estar longe da sua família, em terra estranha, tendo que começar tudo do zero.

Naquela época, não havia ônibus, carros, bondes, trens, nem avião para se deslocar até o lugar desejado na ilha de Chipre. A caminhada era feita andando ou à cavalo. As dificuldades eram normas! Talvez a única vantagem que tivesse ali, era que Barnabé era natural desta ilha, fato este que possivelmente deve ter facilitado ao menos, a locomoção de um lugar para o outro.

Chegando em Pafos, o trio missionário não perdeu a oportunidade de pregar o evangelho ali (Atos 13.6-12).

Nesta época, Pafos era "centro de uma imprudente idolatria, uma cidade dedicada à deusa do amor Vênus e submersa nas mais abjeta superstição, depravação e libertinagem. Ao pregar o evangelho nessa cidade cipriota, Paulo enfrentou obstáculos e contou com ajuda sobrenatural para superá-los. Pafos era a capital e residência do procônsul Sérgio Paulo, um homem instruído que estava sedento por salvação. Mas um judeu mágico, Elimas (Barjesus), torcia o Paulo pregava. Este, cheio do Espírito Santo, repreendeu o referido falso profeta, que ficou temporariamente cego. 'Então, o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do Senhor.' (Atos 13.6-12)." (ZIBORDI, p. 66).

Este foi um dos grandes desafios que Marcos presenciou. Nesta ocasião, ele viu Paulo cheio do Espírito Santo e com autoridade, pregando o poderoso Evangelho de Deus! Bem, depois de Pafos, agora era a vez de navegarem até Perge da Panfília.

A respeito desta viagem, Ciro Sanches Zibordi nos informa:

"A viagem por terra, para o interior da Panfília, não foi nada fácil; tiveram de passar por estreitos desfiladeiros, onde havia grupos de salteadores prontos para atacar os viajantes." (ZIBORDI, p. 67).

A Bíblia não relata, porém alguns estudiosos acreditam que foi ali que "Paulo contraiu Malária ou alguma outra perigosa doença da região litorânea." (SWINDOLL, p. 174).

É nesta cidade que acontece algo inusitado: Marcos abandona a obra (v. 13).

Zibordi comenta que: "Deus guardou os pregadores do perigo, mas parece que João Marcos ficou assustado com o que viu e decidiu desertar da expedição. Ele era ainda muito jovem, mas muito útil aos pregadores itinerantes." (ZIBORDI, p. 67).

4. Por que Marcos volta para Jerusalém?

A Bíblia diz que apartando-se deles, Marcos volta para Jerusalém. Ela não nos informa quais foram os motivos que fizeram o jovem cooperador abandonar a expedição missionária, porém refletindo cuidadosamente, podemos inferir alguns baseado nas circunstâncias as quais ele estava sujeito. Exemplo:

a) Saudades da família. Embora estivesse com seu primo, Marcos talvez não tinha se acostumado ainda em ficar longe de sua mãe e do calor da majestosa Jerusalém, por isso, decidiu voltar para casa.

b) Choque de cultura. Marcos nasceu numa cultura judia e após se converter ao Evangelho, passou a viver uma vida de constante consagração e devoção a Deus. Em Jerusalém, sua casa era uma igreja e seu dia a dia era rodeado de cristãos. Depois que passou a acompanhar Paulo e Barnabé, não conseguiu adaptar-se aos ambientes pagãos por onde andavam e devido a isso, resolveu voltar para casa. Lembre-se que era pouco tempo para acostumar-se em ver tantas pessoas impuras vivendo publicamente de forma impiedosa.

c) Medo. Cada vez mais, os missionários estavam se arriscando por causa do  Evangelho. Quem sabe, o jovem apesar de confiar em Deus não tomou a atitude de abandonar Paulo e Barnabé num momento de desespero? R.N. Champlin comenta que: "os rigores da viagem talvez tenham sido demasiados para João Marcos e por isso ele resolveu voltar a Jerusalém. Os missionários estavam cruzando muitos trechos montanhosos, e estariam em perigo constante de serem assaltados por bandidos, que costumavam infestar essas regiões." (CHAMPLIN, p. 129).

Estas são apenas algumas hipóteses, entretanto, seja como for, uma coisa é certa: Marcos voltou para Jerusalém. Ele poderia ter voltado à Antioquia, para dar notícias aos cristãos antioquianos de como estava a expedição, mas não o fez. Porque não fez isso? Não sabemos, não está escrito. Também não sabemos se ele partiu ou não sem avisar/conversar com Paulo e Barnabé. Eu particularmente estou favorável a especular que ele deve ter conversado com os dois. Ambos devem ter relutado muito, até porque Marcos além de ser jovem, iria voltar sozinho, o que seria um risco maior, e traria mais uma preocupação para os dois missionários. Não adiantou! Ele os deixou e voltou para Jerusalém.

Muitas vezes, nós não resistimos ao árduo labor que possui a obra de Deus. Hoje, embora sejam contextos e circunstâncias diferentes e menores, muitos servos de Deus deixam de fazer a obra. Param em algum ponto, desistem e tiram a mão do arado. O que aconteceu com Marcos, é um retrato vivo do que acontece na igreja contemporânea. Estamos sempre preocupados com nosso conforto, família, desejos e futuro e só basta aparecer um obstáculo na nossa frente que logo desistimos de tudo.

Nas palavras de Theodore P. Ferris:

"Grande número de pessoas inicia a sua carreira na direção certa, com todas as melhores intenções do mundo; porém, quando as coisas se lhes tornam difíceis, quando não podem conseguir que as coisas corram da sua maneira, quando o caminho se torna áspero, então retrocedem... (...) João Marcos, auxiliar de Barnabé e Paulo, por uma razão ou outra, de natureza boa ou má, não foi capaz de resistir até o fim (...)." (Apud CHAMPLIN, p. 129).

Segundo A.T. Robertson:

"Foi uma falha séria na obra, embora Paulo e Barnabé continuassem aferrados ao trabalho." (Apud CHAMPLIN, p. 129).

Apesar disso, Paulo e Barnabé não recuaram! Agora, sem a assistência e auxílio de Marcos, tiveram que atravessar sozinhos de Perge até a Antioquia da Panfília (Atos 13.14) e dali, foram ainda pregar em Icônio, Listra, Derbe e por outros lugares até retornarem à Antioquia da Síria, alguns anos depois.

Nada é dito sobre Marcos ter naufragado na fé. Ao que parece, ele continuou servindo a Cristo em Jerusalém.

Contudo, aqui cabe uma pergunta que devemos fazer para nossas vidas: qual lugar é menos doloroso para estar, em Jerusalém ou em Perge? Será que o Senhor só pode contar com você quando estás rodeado pela sua família, perto de casa? Estás disposto a servir a Deus fora dos muros de Jerusalém, nas piores adversidades e condições?

No próximo ponto, vamos ver o que aconteceu com o jovem João Marcos. Será que foi o fim da sua jornada na obra? O que houve com ele?

III- O FIM DE UM MINISTÉRIO?

Teria Marcos mais alguma utilidade para o Evangelho? Vamos tratar disso nesse tópico. Algum tempo depois de retornarem da primeira viagem missionária, Barnabé e Paulo vieram novamente à Jerusalém por ocasião do Concílio da igreja (Atos 15.2-29). Nesta ocasião, é provável que Marcos estivesse naquela multidão que se silenciou quando Barnabé e Paulo contaram quantos sinais e prodígios Deus havia realizado entre os gentios (Atos 15.12).

Ao regressarem para Antioquia, depois de ter passado alguns dias, Paulo e Barnabé acham por bem visitar os cristãos que se converteram durante a primeira viagem missionária. Eles queriam saber como esses cristãos estavam (Atos 15.36).

Então a Bíblia relata algo interessante:

"E Barnabé queria levar também a João, chamado Marcos. Mas Paulo não achava justo levarem aquele que se afastara desde a Panfília, não os acompanhando no trabalho. Houve entre eles tal desavença, que vieram a separar-se. Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou-se para Chipre. Mas Paulo, tendo escolhido Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas." (Atos 15. 37-41).

Barnabé queria dar outra oportunidade a seu primo de fazer a obra de Deus, de tê-lo ao lado para que visse as maravilhas que Cristo estava fazendo através deles. Porém, Paulo, lembrando que Marcos havia se afastado da obra (do grego: aphistemi, significando aqui que ele desistiu, desertou, retirou-se, abandonou), não achou por bem levá-lo e então discutiu com Barnabé.

Charles Swindoll nos dá uma ilustração magnífica dessa passagem:

"Essa palavra 'queria' aparece no grego no imperfeito, significando 'desejar fortemente algo'. Barnabé não só queria isso, mas o texto sugere que pode ter exigido. 'O jovem vai'. Ele tem todo o direito de viajar conosco. Sim, ele falhou. Admito que nos abandonou. Ninguém está negando isso. Mas, Paulo, ninguém é perfeito. Ele era jovem e inexperiente. Lembre-se, porém, que a missão foi completada. Ele nos deixou, mas mesmo assim, nós a cumprimos. A ausência dele tornou as coisas mais difíceis para nós, confesso. Ele não só precisa do nosso encorajamento agora, como também se beneficiaria da nossa aprovação. Para que servem os conselhos, se não para dar encorajamento e afirmação para os fracos?" (SWINDOLL, p. 204, 205).

Não teve jeito, Paulo não aceitou a proposta. Para essa desavença, Swindoll explica que "Lucas usou a palavra grega parouxumós. Parouxuno significa 'afiar', como se faz com a lâmina de uma faca. (...) Estamos falando de uma briga memorável. (...) Isso levou finalmente a uma separação, uma ruptura permanente do time dos sonhos de Antioquia. Não lemos mais sobre o companheirismo de Paulo com seu amigo de longa data, Barnabé." (SWINDOLL, p. 207).

Não dá para dizer quem está certo ou errado. Paulo está com a razão, mas Barnabé quer salvar João Marcos da improdutividade. Ele sabia do potencial do primo e de como importante o seu auxílio. Parece que naquele momento, Paulo não conseguiu enxergar isso.

Acontece que Deus se utilizou deste fato para fazer uma coisa gloriosa. Aos olhos humanos, o ministério de ambos estava fadado ao fracasso. Os dois tinham discutido e se separado. O que seria das igrejas que foram fundadas? O que seria de Marcos? Talvez Marcos tenha pensado que não havia mais lugar para ele na obra. Porém Deus, não deixou que isto prejudicasse o Evangelho. Barnabé navegou para Chipre com Marcos e Paulo escolheu Silas como seu novo companheiro e iniciou sua segunda viagem Missionária. Dois grupos poderosos nas mãos de Deus se formam. Charles Swindoll nos chama atenção para o que Deus fez: "Não perca algo muito importante aqui: Deus multiplicou dividindo." (SWINDOLL, p. 208).

Muitas vezes, por um vacilo da nossa parte, parece que tudo que Deus projetou para nós, foi por água abaixo. Paulo estava coberto de razão, porém para que serve a razão, quando se trata de uma vida que saiu da rota, mas, que pode ser restituída? Pedro também errou quando negou Jesus! Jesus estava coberto de razão caso não quisesse mais contar com Pedro, mas não! Após ressuscitar, ele faz questão de ir atrás de Pedro, e dizer-lhe que devia apascentar suas ovelhas (João 21.15-17). Paulo não queria levar Marcos, porém Barnabé insistiu no jovem e ficou com ele. Em seus propósitos, Deus levanta alguém que acredita em nossa chamada. Alguém que não desiste da gente, que ora e que toma uma atitude assim como fez Barnabé. Não basta orar, seja como Barnabé, vá em busca de alguém que já não está na rota, que abandonou a obra; ainda há muita coisa a ser feita.

Outra coisa que aprendo, é que Deus pode usar circunstâncias difíceis para a glória do Seu nome e reino. Deus multiplicou dividindo! Talvez você esteja perdendo agora, talvez esteja tudo fora do lugar na sua casa, porém Deus está trabalhando em todos sentidos. Descanse em Deus, Ele há de dar resposta e solução para os problemas que estão tirando seu sossego.

IV- FINALMENTE, UM GRANDE OBREIRO:

Segundo R.N. Champlin: "Parece, portanto, que Barnabé fora capaz de aquilatar melhor o caráter de Marcos do que Paulo..." (CHAMPLIN, p. 130).

A companhia de Barnabé, amadureceu João Marcos. Depois do episódio de Atos 15, só vamos ver seu nome, sendo citado ao lado de grandes nomes do Cristianismo!  Não só com Barnabé, como também com Pedro e até mesmo Paulo.

Cerca de 12 anos mais tarde, não sabemos como, todavia, Marcos estava novamente com Paulo quando este esteve aprisionado em Roma (Cl 4.10).

Em Filemom 24, ele está na lista dos cooperadores de Paulo. E, poucos antes de ser morto, Paulo pede a Timóteo para trazer Marcos, pois lhe era muito útil para o ministério (2 Tm 4.13). Paulo usa a palavra grega (euchrēstos) que significa: "útil", "muito útil", "proveitoso", "adequado para o uso", "lucrativo."

Ao que parece, depois de um tempo, João Marcos, quando já era um homem maduro, fixou sua residência em Roma. A Bíblia dá a entender que Pedro tinha uma afeição enorme por ele, chamando-o inclusive de filho (1 Pedro 5.13). Claro, um filho na fé, e não biologicamente. Marcos passou um bom tempo com o apóstolo Pedro, experiência essa que lhe proporcionou um grande aprendizado para seu ministério.

Ele ainda trouxe importantes contribuições para o cristianismo. Por exemplo, hoje, é quase unânime a crença de que seu Evangelho foi o primeiro a ser escrito, tendo sido usado como fonte, inclusive por Lucas e Mateus.

Apesar de não ter conhecido Jesus pessoalmente, "com base no livro de Atos sabemos que Marcos, por algum tempo, foi companheiro de viagem do apóstolo Paulo e, deve ter sido elemento bem conhecido no círculo apostólico, por isso mesmo pode ter tido amplas oportunidades de conferenciar com Pedro e com outras testemunhas oculares, acerca da vida e dos ensinamentos de Jesus." (CHAMPLIN, p. 125).

Alguns chegam a dizer que o Evangelho Marcos é o próprio Evangelho de Pedro, sendo que escrito por Marcos. Seja como for, historicamente, Pedro deu muita contribuição para este trabalho, quer direta ou indiretamente.

A tradição além de dar crédito a Marcos pela autoria do Evangelho, também costuma afirmar que ele se tornou o primeiro intérprete pessoal de Pedro. Na História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia, encontramos uma citação de Papias, Bispo de Hierápolis em cerca de 140 d.C. Vejamos:
"Isto o presbítero também costumava dizer: 'Marcos, que realmente se tornou o primeiro intérprete de Pedro, escreveu com exatidão, tanto quanto podia relembrar, sobre as coisas feitas ou ditas pelo Senhor, embora não em ordem. Pois ele nem ouvira ao Senhor nem fora seu seguidor pessoal, mas em período posterior, conforme eu disse, passara a seguir Pedro, que costumava adaptar os ensinamentos às necessidades do momento, mas não como se estivesse traçando uma narrativa corrente dos oráculos do Senhor, de tal forma que Marcos não incorreu em equívoco ao escrever certas questões, conforme podia lembrar-se delas. Pois tinha apenas um objetivo em mira, a saber, não deixar de fora coisa alguma das coisas que ouvira e não incluir entre elas qualquer declaração falsa."  (Apud CHAMPLIN, p. 122).
A tradição ainda apresenta Marcos como sendo fundador da igreja em Alexandria, no Egito. Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C) nos informa:

"Dizem que esse Marcos, sendo o primeiro a ser enviado ao Egito, ali proclamou o evangelho que também pusera por escrito e foi o primeiro a estabelecer igrejas na cidade de Alexandria. O número de homens e mulheres convertidos desde o início foi tão grande, e tão extraordinária a disciplina e a austeridade filosófica deles, que Filo achou por bem descrever a conduta, as assembléias e todo o modo de viver deles." (CESARÉIA, p. 63).

Não existe qualquer afirmação bíblica quanto a isso, nem apoio sólido, entretanto, também não temos como confirmar ou descredibilizar estas informações.

Finalizando, "as tradições também registram que em Alexandria, Marcos se tornou pastor, e ali, finalmente, foi martirizado." (CHAMPLIN, p. 130).

Conclusão: Por fim, veja que obra grandiosa Deus fez através de Marcos. Se Barnabé tivesse desistido do jovem, talvez ele não teria chegado aonde chegou. Mais tarde, o apóstolo Paulo que também estava mais maduro, enxergou a grande utilidade que Marcos tinha para o ministério da igreja. A lição que aprendemos com tudo isso que aconteceu com o jovem é a seguinte: no tempo de abandono, aja como Barnabé! No tempo de necessidade, aja como Paulo (2 Timóteo 4.11). Quando somos sensíveis ao Espírito Santo, ele desfaz todo rastro de contenda e mágoa que ficou no passado. Agora há um tempo; um bom obreiro não nasce de uma hora para outra. É preciso tempo, oportunidades e experiências. João Marcos nos ensina que não são os nossos erros que dão a palavra final sobre a nossa trajetória. Ainda há espaço para você na obra. Se porventura, você abriu mão da sua chamada ou deixou de cooperar para o Evangelho, saiba que Deus conta com você! Ele fez grandes coisas através de Marcos e tem o mesmo poder que tinha no passado para fazer conosco! Deus irá fazer grandes coisas através da sua vida, apenas creia e fique à disposição. Outras oportunidades virão!

Que Deus abençoe a sua vida poderosamente!

Bibliografia:

CESARÉIA, Eusébio. História Eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol 4. São Paulo: HAGNOS, 2004.

RYRIE, Charles C. A Bíblia de Estudo Anotada e Expandida. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

SWINDOLL, Charles R. Paulo, um homem de coragem e graça. São Paulo: Mundo Cristão, 2012.

ZIBORDI, Ciro Sanches. Procuram-se pregadores como Paulo. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

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