A nossa Entrevista hoje é com o Pastor, Professor e Capelão, Linaldo Junior. Ele é Pastor, Capelão, Professor e Escritor. Pastoreia a Igreja Batista Missionária em Dois Irmãos e Peixinhos. No IALTH é Capelão, Professor e Coordenador. É casado com a Pedagoga Waldyelayne Oliveira. É da COBAM (Convenção Batista Missionária), e membro da ORPABAM (Ordem dos Pastores Batistas Missionários).
01) Com a explosão do
Movimento Pentecostal, criou-se uma visão popular de que as igrejas históricas
“ficaram para trás”, pois no começo, ela não viu com bons olhos as
manifestações espirituais. Contudo, alguns anos depois, algumas igrejas
históricas passaram por uma renovação espiritual. Como pastor batista, poderia
nos explicar como é atualmente o relacionamento dos batistas com a questão dos
dons espirituais?
Em linhas diretivas gerais, os Batistas que
aderiram ao conhecido “Movimento de Renovação Espiritual”, que iniciou nos anos
60 do século passado, além de ser continuístas, têm visto a própria questão do
uso dos dons espirituais com mais maturidade e elaboração teológica, e buscando
assim fazer uma dieta nos exageros de outrora e atuais.
O grande problema é que paralelamente
a isso, o cessacionismo tem adentrado com a mesma “força”, por vezes de forma
patente, e em outros nichos de forma latente e sutil. E isto pelo fato de que ao invés de se tratar
os exageros e ênfases erradas quanto aos dons espirituais, como Paulo faz em I
Coríntios 12, 13 e 14, muitos estão a absolutizar os equívocos e extremismos,
achando assim que o falso pode tirar o valor do verdadeiro.
Sendo assim, temos
Batistas equilibrados, os que apenas “tradicionalmente” acreditam nos dons, mas
que na práxis negam isso, e até há aqueles que pertencem a núcleos que na
teoria seria a antítese do continuísmo, mas hoje tratam os dons como deveria
sempre ser: com naturalidade e, em dependência sincera do Espírito que
distribui os dons como quer, como Paulo trabalha amplamente de forma direta e
indireta em Efésios, por exemplo.
Isto tudo posto, entendo
que nós Batistas Renovados/Carismáticos, precisamos de uma renovação espiritual
urgentemente, para que coletivamente não engessemos o que foi espontâneo e
sincero, fruto de um avivamento pontual de Deus em nosso contexto eclesial. Na
minha denominação, a COBAM (Convenção Batista Missionária), esta tem sido uma
preocupação: com bom siso, resgatar uma fé equilibrada sobre isso. Enéas
Toginini, Rosivaldo de Araújo, José do Rêgo, e outros nomes expoentes deste
movimento, certamente desejavam tal lucidez no início desta santa obra do
Espírito.
02) O senhor leciona a
disciplina de “Teologia Ministerial”, um assunto que não é tão bem trabalhado
em alguns seminários do Brasil. Muitos acreditam que a teologia
ministerial é apenas para aqueles que desejam se tornar pastores. Como o senhor
define “Teologia Ministerial” e qual a sua importância para um estudante de
teologia?
Infelizmente de forma
subjetiva, se acha vulgarmente que esta disciplina, como a do Aconselhamento
Bíblico e similares, é estritamente poiêmica, e assim se cria uma romanização
na prática evangelical, contrário ao próprio conceito do sacerdócio universal,
tão bem trabalhado, por exemplo, por Lutero. Evidentemente que há certos
exercícios que cabem apenas ao Pastor Regente. Mas isso precisa ser bem
delimitado e trabalhado, como temos feito.
No IALTH, aonde sou
Capelão e Docente, temos esta disciplina de forma bem definida, e inclusive
aplico tal a partir de uma macro exposição bíblica holística, em uma pedagogia
de vanguarda neste sentido. A partir disto, entendemos que, Teologia Ministerial
é uma disciplina diretiva e imperativa, que trabalha os aspectos práticos, teológicos
e vivenciais do crente em todos os âmbitos de sua vida.
O seu conceito é: para que
serve na prática a teologia e as doutrinas bíblicas? Qual a forma correta do
exercício pastoral e dos outros ministérios? Como demonstrarei a minha fé
através das atitudes? Por isso, em tal trabalho é feito desde assuntos teológicos e até
de cunho mais acadêmico, como questões relativizadas nos Seminários em geral,
mas extremamente importantes como: vida familiar e social, devocional, além de
aspectos como bom senso, sabedoria, ética cristã, etc.
Além de que, trazemos
experiências ministeriais diversas e adversas, para compartilharmos tais com os
alunos. Outrora eu desprezei esta disciplina (em minha primeira graduação), mas
ao ser ordenado ao pastorado, logo discerni a sua importância e graças a Deus,
isto tudo contribuiu para que hoje eu seja um fervoroso docente e defensor
dela. Em minha Igreja e congregação, e por onde ministro a Palavra, tenho usado
amplamente os imperativos da chamada Teologia Ministerial.
03) Há anos exercendo a
atividade de Capelão, sabemos que esta é uma tarefa árdua e
laboriosa. Quais são os principais desafios de ser capelão e qual
seria uma ferramenta ou característica indispensável que o capelão deve
possuir?
É um privilégio ser um
Capelão, e no meu caso, exercer tal também pelos diretivos da Capelania
Empresarial e Eclesiástica. Agora se exercida de forma sofisticada e coerente,
esta função é recheada de uma espécie de “coletiva solidão”. Ou seja, você lida
com muitas pessoas, mas ao mesmo tempo você terá que ser solitário, tanto por
aspectos como no que diz respeito a se guardar certos sigilos, quanto de que
seu labor será não compreendido amplamente e por ser mais nos e dos bastidores,
não reconhecido massivamente.
O Capelão é uma figura
invisível, embora imprescindível. A Capelania faz trabalhos espetaculares, para
que outros venham a ter os seus caminhos facilitados. Ser um conselheiro
bíblico, é ser visto por vezes como alguém maravilhoso, mas ter que lidar com
distorcidas e míopes “visões” de alguns, que o coloca ao mesmo tempo como
intransigente e áspero, afinal, nossa missão e compromisso é exclusivamente com
a verdade, e isso pode incomodar a alguns.
Sendo assim, enfatizo as
três características iniciais que é indispensável para que o capelão tenha:
1. Ele deve ser muito bem
preparado em diversos aspectos (tanto academicamente, como também nas esferas
psicológicas e espirituais), para que saiba lidar com muitos desafios, como por
exemplo, a tensão entre ser agradável, mas não perder a veracidade. Precisamos
ser sinceros, sem cometer “sincericídios”. E é muito fácil ser amado por todos e
sugestionar as pessoas nesta direção, mas isso não é ético, pois o Capelão deve
cumprir o seu papel com amor, mas sem máscaras e artificialidades;
2. Deve ter muito
discernimento espiritual para lidar com as mutações, hibridizações, e diversas
e adversas problemáticas de nosso tempo, tendo a Palavra de Deus como a única
regra de fé e prática, nesta geração relativista e que nem mesmo conhece o
básico das Escrituras.
3. O papel do capelão é
sempre atingir o bem maior e seu foco não está nos resultados em si, mas em ter
sido o instrumento da vontade de Deus aonde ele trabalha, quer ouçam quer
deixem de o ouvir. Neste sentido, o mais importante não são os resultados, mas
os frutos e assim não apenas carregarmos a bíblia, mas sermos instrumentos
carregados pela Palavra.
É por isso que temos
poucos capelães realmente preparados, até pelo fato de que ninguém é capelão
com cursos de um dia, e digo isto, visto estarmos a ver uma espécie de
“simonia” moderna neste sentido. Existem diversas Capelanias: Empresarial,
Hospitalar (geral e avançada), Eclesiástica, Esportiva, Escolar, Infantil,
Carcerária, Infantil, Poiêmica, etc. Ou seja, não temos apenas um universo da
capelania, mas um multiverso nela e dela.
04) O senhor já afirmou
que teve sua Cristologia influenciada por Edgar Young Mullins, principalmente
por ele defender Cristo como chave hermenêutica das Escrituras, além de Walter
Kaiser Jr, em sua ênfase de entender a revelação de Deus na história como
progressiva. Poderia explicar para o leitor o que é tais e porque o senhor
acredita no nisso?
Jesus é o todo no tudo.
Ele é o Senhor sobre tudo e todos. Ele é o caminho, a verdade, e a vida. Ninguém
irá aceitar e entender o propósito das Escrituras, se não creditar que Ele é o
verbo que se fez carne e o que revela a Palavra. O “mostra-nos o Pai, e isto
nos basta”, ainda tem sido uma indagação do farisaísmo religioso hodierno. Regras
hermenêuticas e a exegese bíblica, são fundamentais para se entender os
cenários amplos da Bíblia e contextos doutrinários. Jesus, porém, é o que nos
explica o propósito e a razão de tudo, inclusive da nossa fé. Edgard Young
Mullins, foi uma grande Pastor Batista, que brilhantemente desenvolveu ainda no
século 19, isto.
Precisamos também entender
e aceitar pela fé, que a revelação de Deus na história se dá progressivamente,
como bem trabalha o Walter Kayser Jr, por exemplo. No Antigo testamento, víamos
a promessa do Cristo que viria. No Novo testamento, do Cristo que foi
encarnado. Agora em nosso tempo, acrescido na fé do Cristo que voltará. E tudo
isso pelo fato de que a obra da cruz é o ápice
máximo de tudo, inclusive da revelação bíblica.
Infelizmente, se conhece
muito da crucificação (a história, cenário e pano de fundo), e pouco da obra da
cruz (seu macro propósito). E por tais razões não se crê mais na justificação
pela fé, no extraordinário amor de Deus, e na sua inexorável graça. Ou no
máximo se aceita isso, apenas conceitualmente, e não em “espírito e em verdade”.
Daí termos tantas poucas mensagens sobre a cruz, arrependimento, regeneração,
céu e inferno, etc., por exemplo.
05) Falando sobre a
reforma protestante, infelizmente alguns reformados dão uma atenção e espaço
exacerbado ao teólogo João Calvino. Há quem diga que ele foi o “maior teólogo
de todos os tempos.” Outros, o intitulam como o teólogo do Espírito Santo. Bem
sabemos que Calvino contribuiu e influenciou grandemente o seu tempo, mas na
sua perspectiva, é justo colocá-lo num patamar tão alto? O que há por trás
disso?
Primeiro, esta minha
resposta vale também aos que fazem de Armínio ou de qualquer homem de Deus um
absoluto. Todo homem é relativo (mentiroso), e só Deus é absolutamente pleno
(verdadeiro). Isto enfatizado, eu na verdade tenho muita vontade de rir ao
saber que tem quem eleve Calvino, ou qualquer ente não canônico e que não foi
assim inspirado por Deus, a um patamar tão elevado.
É uma enorme incoerência
dizer que depois do cânon fechado, todos são apenas iluminados pelo Espírito
Santo, mas ao mesmo tempo colocar alguém, no mesmo nível dos Apóstolos, por
exemplo. Para mim, se isso fosse uma questão realmente a ser tratada, o maior
nisto foi o Apóstolo Paulo (em certo sentido). E na frente de Calvino ainda
tem: Tiago, Pedro, João, etc. Qualquer coisa a mais que isso, é uma espécie de
“romanização do protestantismo” e paganizar os próprios conceitos da Reforma.
Ele também não foi o
teólogo do Espírito Santo em hipótese alguma, se nesta afirmativa houver um
desejo de colocá-lo “acima da média”, e em um status quo de maior autoridade. Até
pelo fato de suas ênfases e trabalho ter sido claramente em outra direção
existencial, inclusive nos seus aplicativos doutrinários; além de que quando
conhecemos as questões políticas e reais por detrás da própria Reforma, vemos
que as questões prioritárias eram outras.
O que está por detrás
disso, do eleger homens a tais níveis, são peculiares projeções psíquicas e
latentes angustias de sentimentos de culpa e neuroses não resolvidas, que
produz este culto a homens. E na verdade, até mesmo os canônicos não devem
receber este “amor pueril”, que faz da teologia uma espécie de HQ espiritual,
ou de um conto do nível branca de neve e seus sete anões. Dizer que Calvino,
Lutero, Armínio, Fulano ou Sicrano, é o “Teólogo do Espírito Santo”, é encarar
a realidade como uma obra ficcional, do tipo DC Comics, Marvel, Disney, etc.
06) O senhor compactua com
a ideia de que “precisamos de uma nova Reforma Protestante”?
Somente no sentido de que
necessitamos de mudanças urgentes e cruciais no atual contexto evangelical.
Agora, no que comumente se entende quando se faz afirmativas assim, não
compactuo com este tipo de “projeção psíquica latente”. Primeiro, reformar o
quê? Segundo, pense bem: será que de forma substanciosa, a reforma protestante
realmente chegou no Brasil, em seu “espírito” e ímpeto? Precisamos ir além de
uma “Reforma”.
Sou um defensor e proclamador
dela, temos que admitir que a
Reforma Protestante foi muito importante, mas não é uma espécie de “segunda
vinda do evangelho”. Ela teve suas contribuições, e houve nela a ação soberana
de Deus, mas também em tal há limites, extrapolações, questões humanas e
políticas nos bastidores, e como qualquer movimento, por mais sincero que seja,
teve seu lugar para aquele tempo e contexto.
Hoje, precisamos de algo
muito mais amplificado, acentuado, diretivo, imperativo e holístico. O que
ocorreu na alta idade média, passou. O que precisamos é primeiramente retornar
ao que era a ideia dos próprios reformadores: abraçar ao evangelho. Aliás,
aonde ficou o conceito dos próprios reformadores: “Igreja Reformada, sempre se
Reformando?”. Ao meu ver, hoje é apenas estética e cosmética as ideações nesta
direção. Ser “reformado” é para muitos deixar a barba crescer, cantar só
determinados tipos de músicas, ter certas liturgias e carregar as Institutas.
Ou seja, é só mudanças de embalagem e alquimias religiosas.
07) Como o senhor
descreveria o cenário atual da igreja brasileira? O que podemos melhorar?
Sendo bem sintético, em
todos os sentidos, estamos no pior momento da sua historicidade. De coisas
mínimas, como se conhecer realmente a Palavra, até sobre as questões mais
complexas, como dos múltiplos discernimentos que devemos ter, se percebe o quão retrógrado tem sido a fé dos evangélicos hoje. Aliás, estamos em um momento
aonde temos que evangelizar os crentes, e perceber que infelizmente, coisas
medievalistas e jurássicas, como formula batismal, predestinação x livre
arbítrio, etc., ainda é objeto de embates, brigas, dissensões e celeumas.
08) Quais são as
ferramentas essenciais que o estudante de teologia não pode abrir mão?
Acima de tudo, uma vida
devocional sincera e ampla, e um enorme desejo e vigor de estudar e
academicamente crescer (com sinceridade e conversão plena). Precisamos também
de teólogos que desejem fazer teologia de fato, e ter respostas coerentes para
as demandas do nosso tempo, ao invés de, por exemplo, viver com a mente na idade média, ao invés de entender
o que devemos saber e ter, na atual “idade da mídia”, e de diversas e adversas
mudanças e nuances. Isto, sem falarmos de questões como as da Mecânica
Quântica, ao qual ainda não temos massivamente um diálogo lúcido, e uma
apologética autoral para responder como convém, aos “multiversos” de perguntas
que vão crescer a cada dia mais nesta e em outras direções.
09) Essa semana,
lamentavelmente mais um pastor se suicidou nos Estados Unidos. Isso tem sido
constante ao longo dos anos. De que forma nós podemos identificar potenciais
suicidas? Como podemos ajuda-los?
Este é um assunto muito
longo, e que de fato é emergente e emergencial. Há formas diversas de fazermos
trabalhos preventivos e diretivos nesta direção, mas o passo inicial é se
entender a seguinte questão: o que fazer mediante a esta infeliz realidade?
Como podemos teologicamente e biblicamente sermos uma luz neste assunto?
Ao se identificar um
potencial suicida, e quaisquer características de ideação suicida, a ajuda de
um profissional adequado tem de ser fornecido a tal. Nossas igrejas precisam
trabalhar eticamente e biblicamente esta problemática. Necessitamos de ajudar
os nossos jovens, indo nas causas que levam alguém a prática do suicídio (a
questão da depressão, inclusive infantil, é grave).
Além de que, informações
simples, como o fato de que a maioria dos suicídios ocorrem ou na fase do
inicio da juventude, ou entre idosos, já nos revela que, por exemplo, este
publico precisa ser tratado e trabalhado objetivamente, e assim nestas faixas
etárias, é necessário um intensivo preventivo. Isto também considerando que há
uma sutil diferença hoje entre Idade Biológica e Idade Funcional.
10) Quais tipos de
“teologias” estão prejudicando o cristianismo aqui no Brasil?
Eu destaco duas: O
neo-pentecostalismo e seu cosmético “oposto”, mas maldoso também, do qual
chamamos de hiper-calvinismo e até do hiper-arminianismo. São extremos opostos,
com embalagens diferentes, mas com as mesmas latências, e motivações.
Temos que entender que, é
possível termos conceitos certos, mas não uma bíblica e real fé realmente
naquilo que se proclama. Além de que, heresias como aquelas que fatalizam tudo,
mostrando por exemplo, que se alguém pecou foi pelo fato de Deus ter ordenado
isso, mostra a utilização de pressupostos teológicos, para transferir as
próprias culpas e responsabilidades para o próprio Deus, o que gera mais culpa
e neurose ainda mais nos indivíduos.
Me lembro, que ouvi de um
professor em sala de aula que todo arminiano não é salvo! "Oxe... Como assim'',
pensei eu! O pior é que o que está por detrás deste “arianismo teológico”, é
gravíssimo. No final, estamos vendo o resultado: um cristianismo sem Cristo,
evangélicos sem evangelho, protestantes que se calam no que realmente é sério e
patente e crentes que carregam a Bíblia, mas que não conhecem de fato quem é Deus.
É ISSO MESMO, MEU FILHO CADA DIA SE FIRME MAIS E MAIS NA PALAVRA DE DEUS... AMEM.
ResponderExcluirLOUVADO SEJA DEUS QUE NOS DEU UM PASTOR FOCADO NA PALAVRA, E EM CRISTO E NÃO EM HOMENS E SUAS FALÁCIAS!!!! JESUS É O CENTRO DE TUDO.
ResponderExcluir