(Por Everton Edvaldo)
Lembro-me
que há alguns anos, uma das maiores preocupações das igrejas evangélicas e dos
cristãos, era acerca da ascensão do Islamismo no mundo todo. Estimava-se que em
poucos anos, a religião muçulmana ultrapassaria a cristã e seria a religião
predominante no globo. Essa preocupação fez com que os cristãos investissem
mais em missões. Isto é, acordaram para o mandamento de Jesus que disse: “Ide
por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16.15, ARC).
O
resultado já pode ser visto hoje. De acordo com os estudos do pastor J. D. King
(um instrutor no Centro de Treinamento Revival e pesquisador independente), “o
cristianismo está avançando rapidamente em todo o mundo.”[1]
Até este
ano (2018), estima-se que em torno de 2,2 a 3,2 bilhões de pessoas se
identificam com Jesus.[2] Sem dúvida, isto é um
grande avanço! Segundo King ‘’o
crescimento protestante de 1960 a 2000 foi três vezes maior que a população
mundial e o dobro do Islã.”[3]
Rodney Stark nos informa que: ‘’Em abril de 2015, o Pew Research Center declarou que os
muçulmanos logo ultrapassariam os cristãos por meio de fertilidade
superior. Eles não vão… O islamismo gera muito pouco crescimento por meio
de conversões, enquanto o cristianismo desfruta de uma taxa de conversão
substancial, especialmente em países localizados no “sul global” - Ásia, África
Subsaariana e América Latina. E essas conversões não incluem milhares de
conversões que estão sendo obtidas na China. Assim, as tendências atuais
de crescimento projetam um mundo cada vez mais cristão.” [4]
Por outro lado, a nossa preocupação dessa vez deve estar
voltada para os Estados Unidos e para a Europa. O pastor King nos traz dados alarmantes
quando diz: “Enquanto a glória de Deus está em exibição em todo o mundo, nem
todas as nações estão experimentando o mesmo grau de impacto. O
cristianismo está, sem dúvida, ultrapassando o crescimento da população
internacionalmente. No entanto, está estagnado no Ocidente. Segundo Lamin
Sanneh, cerca de 4.300 pessoas estão deixando por dia, a igreja na América do
Norte e na Europa.”[5]
Pois bem, o que estaria por trás disso? Falta-me espaço
para discorrer sobre todas as causas deste “fenômeno”. Porém, o próprio King
nos dá uma pista: “Parece que esta declinação pode ser atribuída a um ceticismo
permeável. Durante séculos, o cristianismo ocidental questionou a
viabilidade do sobrenatural. E Embora os indivíduos apreciem os estupendos
relatos bíblicos, muitos estão convencidos de que esses encontros não são
replicáveis.” [6]
Em outras palavras, o cristão norte americano e europeu
se tornou cético em muitos aspectos. Para o Dr. Roger E. Olson “em geral, o
cristianismo evangélico americano, incluindo a maioria dos batistas, também se
acomodou ao racionalismo e ao naturalismo da modernidade.”[7] Ele
discorre que “a maioria dos cristãos evangélicos americanos contemporâneos
apenas fala da boca para fora sobre o sobrenatural, enquanto a Bíblia está
saturada com isso. Em grande parte, os evangélicos e batistas americanos
absorveram a visão de mundo da modernidade que relega o sobrenatural, os
milagres e as intervenções cientificamente inexplicáveis de Deus, ao passado
(“tempos bíblicos”) e em outros lugares (“os campos missionários”).’’[8]
É difícil imaginar que a América do Norte, que no início
do século XX foi varrida por um grande avivamento espiritual, está beirando ao
ceticismo. Entretanto, infelizmente esta é a realidade.
Lamentavelmente, o ceticismo é uma porta que atrai inúmeros
males para o cristianismo. Não é à toa que ao se tornar cético, o cristão tende
geralmente, a abraçar dois caminhos. Ou ele se torna um cristão nominal que
flerta com o ateísmo e que apesar de frequentar alguma denominação, no fundo
não crê mais nas Escrituras, ou então se torna um desigrejado.
Penso que nós devemos reagir a essa condição e fortalecer
nossas bases, pois, caso isso se expanda para outros países e regiões do mundo,
o cristianismo estará caminhando para um grande abismo.
Isto significa que não podemos deixar que o ceticismo
prejudique o evangelho de Cristo e acredito que o remédio para esta enfermidade
não está muito longe dos nossos olhos. Reflita bem... Porque o evangelho tem
crescido tanto na África e na Ásia? Por acaso, não é porque eles se permitem
acreditar no sobrenatural tão bem documentado e encorajado pelas Escrituras?
Isso é de extrema importância para nós, pois tendo em vista que o evangelho é o
poder de Deus para os que creem, então crer é o primeiro passo! Precisamos ter
fé no que está escrito nas Escrituras. O que vem depois é apenas o resultado
dessa confiança em Deus.
Pastor King acredita que a ‘’razão pela qual os líderes
ocidentais não estão acompanhando seus equivalentes no leste e no sul global é
que eles estão hesitantes em relação aos charismata. Na maior parte, os
cristãos no mundo industrializado se opõem ao sobrenatural.” [9] De
fato, isso tem sido muito nocivo ao evangelho, pois o cristianismo na América
do Norte e na Europa além de ter parado de crescer, está diminuindo. Todos os
anos, milhares de igrejas são fechadas e dão lugar a bares, boates e cassinos.
No Brasil, algo muito próximo do que abordamos acima tem
tentado se instalar nas igrejas evangélicas. Isto acontece da seguinte maneira:
a maioria dos evangélicos brasileiros gosta do contato com aquilo que é sobrenatural,
místico e metafísico. Logo, estão mais propensos a embarcar num extremo chamado
“excesso”. Hoje, é claramente notável que alguns desses cristãos, lidam com o
sobrenatural de forma incorreta, sem bom-senso e discernimento.
Nos últimos anos, um grupo de evangélicos tem despertado
para este fato e estão tentando solucionar este problema recorrendo a outro
extremo: o ceticismo. Acontece que esse ceticismo não é apresentado com esse
nome, mas sim com uma linguagem mais branda e alega se fundamentar nas
Escrituras e na Ortodoxia. Contudo, é o mesmo ceticismo que têm destruído os
Estados Unidos e Europa, e que cada vez mais procura se distanciar do
sobrenatural de Deus.
Dr Roger E. Olson pontua: “Eu suspeito que a prática
evangélica contemporânea de evitar o sobrenatural no reino físico, na realidade
tem pouco a ver com questões intelectuais. Suspeito que tenha mais a ver
com querer que nossa religião seja respeitável; pois acima de tudo, não
queremos ser vistos pelo mundo ao nosso redor como fanáticos. Os abusos do
sobrenatural visto na televisão a cabo nos fazem abandoná-lo
completamente. Mas, como diz o velho ditado, ‘a cura para o abuso não é o desuso,
mas uso adequado.’ Nós jogamos o bebê para fora com a água do banho.”[10]
O que Olson está dizendo é que o fanatismo de alguns não
deve servir de pretexto para abandonarmos o sobrenatural. Não se joga “o bebê
fora” com a água suja do banho. Quando se perde esse contato com o
sobrenatural, a vitalidade da igreja desaparece e entra em decadência.
Eu particularmente penso que essa resistência ao
sobrenatural não permite que as pessoas vivam num “degrau à mais” com Deus e o
resultado disso, é um evangelho cada vez mais distante daquele apresentado
pelas Escrituras. Pastor King conclui seu artigo dizendo o seguinte:
‘’Enquanto
os evangelistas no mundo majoritário provocam a imaginação das massas, os
pregadores ocidentais estão tentando persuadir com a política, o
moralismo, e argumentos filosóficos vazios. Líderes do mundo
emergente dão às pessoas algo para elas ver e ouvir, e tudo o que fazemos é
aplacar e conversar. Até que a Igreja Ocidental esteja disposta a abraçar o
sobrenatural, nossas igrejas não corresponderão ao crescimento na África, Ásia
e América Latina. Deus está à altura de coisas inexplicáveis e, na maioria
das vezes, estamos perdendo. Nesta hora única, os ocidentais não podem mais se
permitir desencantar. ”[11]
Sim, não devemos nos desencantar e ainda podemos mudar
esse quadro! Um cristão que deseja ver o cristianismo crescendo na América do
Norte e na Europa novamente precisa ir mais além e não simplesmente dizer ao
enfermo, por exemplo, que “Deus tem poder
para lhe curar”. Não adianta dizer isso e não orar, e não ter fé que após
sua intercessão, Deus irá manifestar Seu poder para Sua glória.
Interessante que Olson nos informa de maneira detalhada
como o cristão norte-americano tem lidado com essa questão do sobrenatural e
pontua um fato sobre a oração. Ele diz:
“Nós oramos
pelos enfermos - para que Deus os conforte e “esteja com eles” em sua
miséria. Oramos para que Deus dê aos seus médicos as habilidades
deles. Mas evitamos pedir a Deus para curá-los. Evitamos qualquer
menção a demônios ou possessão demoníaca e evitamos estritamente o exorcismo
como algo primitivo e supersticioso - exceto quando Jesus o fez. Nós
também desprezamos as igrejas que ungem os doentes com óleo e oram por sua cura
física. Nós suspeitamos que eles são "cultistas" e provavelmente,
encorajam as pessoas doentes a não procurarem tratamento médico. Nós
(talvez com razão) ridicularizamos os evangelistas que afirmam ter orado a Deus
para redirecionar os furacões, mas nunca oramos a Deus para salvar as pessoas
de desastres naturais. A verdade é que adotamos gradualmente a ideia de
que “a oração não muda as coisas; muda a mim” e, consideramos a oração
peticionária como algo "infantil", conforme gostava de chamar
Friedrich Schleiermacher.’’[12]
Bem, enquanto continuarmos com esse tipo de postura diante
das adversidades e dos problemas, seremos cristãos inseguros e propensos a
abandonar a fé a qualquer momento, e infelizmente, estaremos de fora das
estatísticas crescentes de um cristianismo poderoso, atuante e livre no mundo,
mas que é preso e impotente em nosso coração.
Por fim, Deus pode mais uma vez incendiar a América do Norte
e a Europa com Seu poder e para isso, é preciso que os cristãos deem mais
ênfase à atuação do Espírito Santo, bem como sua liberdade em nossas vidas;
expulsando das igrejas e dos seminários, as crenças que ensinam um evangelho
morto, estagnado e engessado. Se não revertemos isso a tempo, será tarde
demais.
Sobre o
autor: Everton Edvaldo é editor do blog Esquina da Teologia Pentecostal e
professor de Escola Bíblica Dominical da IEAD-PE. Bacharelando em Teologia pelo
IALTH. Em seu blog, contribui com traduções na área de Teologia
Carismática-Pentecostal e com artigos sobre os mais variados assuntos da
Bíblia.
Publicado originalmente na Revista Holy Magazine. 1 Ediçaõ
[1] http://pneumareview.com/the-disenchantment-of-the-west-why-christianity-is-waning-in-the-united-states-and-europe/
(Consultado dia 15/08/2018).
[2] Ibid
[3] Ibid
[4] Rodney Stark, triunfo da fé: por que o mundo é mais religioso do que nunca (Instituto de Estudos Intercolegiais, 2015), 19.
[6] Ibid
[7] http://www.patheos.com/blogs/rogereolson/2015/04/embarrased-by-the-supernatural/
(Acessado no dia 15/08/2018 às 20:45).
[8]
Ibid
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