Por
Everton Edvaldo
Cuidar
do destino da Teologia Pentecostal Clássica no Brasil é um grande desafio. Enquanto que o
Movimento, cresce e prospera no nível prático, o mesmo não pode ser dito do
ponto de vista confessional. Isto é, poucos Pentecostais manuseiam com propriedade a
teologia que sustenta todo o Movimento Pentecostal. O fenômeno por trás desse
cenário, parece ser mais ou menos assim: A solidificação da Teologia Pentecostal
Clássica não acompanha o crescimento numérico dos Pentecostais no mesmo
ritmo. Ou seja, há muitos Pentecostais “na praça”, mas que são pequenos no conhecimento
e compreensão do seu próprio credo. Ou em outras palavras, o domínio
intelectual da Teologia Pentecostal Clássica[1] parece não sair dos
círculos acadêmicos. O “povão Pentecostal” desconhece o básico da fé que o
Movimento professa. Bem... Isso acontece por vários fatores... E já adianto:
não é culpa do Movimento em si, mas muitas vezes, de que faz parte dele... Vou
explicar para vocês alguns fatores:
Em
primeiro lugar, o público popular Pentecostal, é majoritariamente composto por
pessoas com baixo índice de escolaridade. Isto é, refletem apenas a situação
educacional que a maioria do país oferece. Muitos brasileiros, mal sabem ler,
ou são analfabetos funcionais.
Em
segundo lugar, em muitos lugares, ainda há várias pessoas que oferecem algum
tipo de resistência ao estudo ou à intelectualidade, seja ela teológica ou
secular. Entre elas, algumas são líderes e pastores.
Em
terceiro lugar, dos diversos pentecostais que há escolarizados, a maioria procura se
especializar e se dedicar em outras áreas, menos na área teológica. Isto é, crescem
em várias áreas do conhecimento e profissionalização, mas deixam a desejar no
estudo teológico.
Em
quarto lugar, alguns Pentecostais até conseguem alcançar um certo grau de
maturidade no conhecimento da TPC, mas em algum momento do percurso, ocorre uma
falha de comunicação no repasse desse grau alcançado a outras pessoas.
Dificultando dessa forma, o diálogo e a construção do aprendizado.
Em
quinto lugar, recebo vários e-mails dos Pentecostais perguntando quais livros
indico para começar a estudar a Bíblia. A impressão que tenho muitas vezes, é
de que há um bom quantitativo de pessoas querendo aprender, mas poucos líderes
preparados e dispostos a ensinar.
Ainda
há outras coisas que apesar de não justificar, explicam o porque há tantos
pentecostais analfabetos no que diz respeito à sua confessionalidade. Contudo,
por ora, vamos nos ater a esses detalhes expostos acima.
Dito
isto, gostaria de acenar para outros problemas e apontar possíveis soluções
para que possamos dar conta de um dos maiores desafios da atualidade: manter
viva a TPC no Brasil.
Pois
bem... O que gostaria de acenar é que se quisermos alavancar a TPC e conquistar
o respeito de outros irmãos de confessionalidade distinta da nossa, teremos que
trabalhar muito!
Digo
isto, também é preico dizer que o que impede que isso aconteça é algo que já se estruturou há um
bom tempo. Então o que devemos fazer, como proceder?
Bem,
eu posso ajudar fazendo algumas observações, reflexões e dicar do que
poderíamos fazer para mudar o quadro... Talvez alguém diga:
“É só
os Pentecostais passarem a frequentar mais as EBDs e os cultos de doutrina...”
Talvez isso seja bom, mas não o suficiente. Isto porque muitas vezes, as lições
de EBD são até boas e bem escritas, porém, quem vai repassar o conhecimento não
estuda, não se prepara e não comprometimento algum com a Palavra de Deus ou com
o Deus a Palavra.
Então
outra pessoa pode dizer: “Então é melhor mandar os Pentecostais para os
seminários.” Pode ser, mas há dois grandes desafios: o primeiro é o nível de
ensino de seminários que muitas vezes é baixíssimo. E segundo: há seminários
que estão deixando entrar ensinos heterodoxos como o liberalismo teológico.
Nessas circunstâncias, mandar um pentecostal para um seminário, seria como
assinar seu atestado de óbito. Um caminho mais excelente seria enviá-lo para um
seminário conservador e com um bom nível de ensino, que faça um trabalho
relacional e bem equilibrado entre o caminho ministerial e teológico. Contudo,
até mesmo nesse caminho há espinhos, pois, há poucos seminários nessa estirpe
para a demanda de Pentecostais que existem...
Então...
o que mais poderíamos fazer?
Bem,
em primeiro lugar, devemos estimular a reflexão e produção teológica dos
teólogos pentecostais que já temos. Isto é, devemos dar condições (financeiras,
emocionais e denominacionais) para que eles produzam em todas as áreas, sejam
elas teologia pública, apologética, confessional e principalmente pedagógica.
Temos muitos Pentecostais no campo e poucos escrevendo... Essa discrepância é
de se esperar, mas ao mesmo tempo é perigosa. Às vezes, me pego perguntando:
quando essa geração de teólogos pentecostais partir, quem os sucederá?
Segundo,
nós devemos quebrar o monopólio das editoras que representam hoje o
Pentecostalismo. Aqui no Brasil, nós temos a CPAD que já fez muita coisa por
nós, mas que poderia ter feito muito mais. Se a CPAD usasse apenas 50% do
potencial que ela possui, o nível de obras teológicas que teríamos nas
prateleiras das livrarias evangélicas seria outro. Existem muitas pérolas que
autores nacionais produzem sobre Pentecostalismo, mas que não são publicadas
simplesmente porque o autor não tem um nome ou uma influência no mercado. Sem
falar na burocracia que dificulta bastante... E o que falar dos autores de
fora, que são gigantes lá fora e completamente desconhecidos aqui no Brasil,
simplesmente porque não são traduzidos? Hoje, graças a Deus, nós temos editoras
como a Carisma e a Vida Nova que estão publicando e traduzindo livros que há
muito tempo já deveriam estar nas nossas mãos. Minha oração é que Deus levante
mais editoras assim, que chegam para somar e fazer a tarefa de casa.
Terceiro,
vejo pentecostais que estão interessados em aprender mais sobre TPC, mas não
possuem dificuldade em achar materiais para pesquisa. Bem... Em parte, isso se
dá devido à falta de divulgação e marketing que há em nosso meio. Por outro
lado, pela desunião que existem em alguns círculos. Somos especialistas em
“ganhar almas”, mas nus, cegos e pobres no que diz respeito ao marketing.
Investimos pouco no marketing dos nossos materiais e por isso, eles navegam
pelos mares do esquecimento. Ou seja, o material/conteúdo está lá, mas faltam
pessoas para divulgar, e como diz o ditado: “quem não é visto, não é lembrado.”
Eu costumo dizer que os reformados têm muitas coisas a nos ensinar. Eles são
pequenos e inofensivos em suas igrejas locais, mas gigantes na produção,
marketing e na internet. Eles sabem bem usar a internet a seu favor. Algumas
páginas reformadas na internet, possuem mais seguidores do que várias igrejas
reformadas juntas. Qual segredo? E que além de bons marketeiros, eles também
são unidos. Enquanto muitos pentecostais, vivem se digladiando na internet,
eles procuram encontrar unidade na diversidade. Isto é, apesar das
divergências, compartilham o que há em comum. A gente deixa que crenças
secundárias nos inibam de compartilham um livro, autor ou página que
discordamos em algum ponto, enquanto eles, não... Na minha humilde opinião,
deveríamos explorar mais o território virtual. Essa ferramenta poderosíssima dá
voz a quem não tem voz, recursos e visibilidade. Então porque não exploramos
mais ela? Convido você a compartilhar livros, autores, blogs e canais do
Youtube que são comprometidos com a TPC e dentro de poucos anos, o quadro será
bem mais positivo. Essa é uma das maneiras mais eficazes e com menos custo para
alcançar o povão em grande quantidade.
Quarto,
se quisermos sobreviver e expandir a TPC, devemos conquistar nosso próprio
espaço/território. Por exemplo, nossa teologia tem sido grandemente atacada e
ridicularizada por irmãos de outras vertentes teológicas. Isso faz com que
aqueles pentecostais mais simples, se sintam inseguros nas suas crenças e até
fascinado por outras teologias... Por isso, devemos mostrar que nossa tradição
é tão rica quanto qualquer outra. E que no quesito “teologia” não ficamos
atrás, nem na frente de nenhuma outra vertente teológica.
Quinto,
promover o diálogo com outras tradições. Uma das maneiras de conquistar
respeito e espaço, é dialogando com outras tradições. Não falo de um diálogo
inter-religioso, mas de um diálogo saudável, onde haja uma troca de
conhecimento e oportunidade para todos.
Sexto,
intensificar a capacitação de obreiros e líderes pentecostais através de
seminários, workshops, palestras, cursos, centros de especialização e pesquisa.
Sétimo,
descentralizar as concepções estritamente denominacionais da nossa teologia. A
TPC na sua formação recebeu várias influências das mais diversas tradições e
hoje, há denominações que se colocam como detentoras únicas da TPC e agem como
se fossem donas da mesma. Por exemplo, umas das principais confusões nas
discussões sobre Pentecostalismo é quanto a distinção entre Assembleianismo e
Pentecostalismo que muitas vezes não é discernida nem feita/pontuada. Então
deixe-me explicar: todo assembleiano é Pentecostal por natureza, tradição e
teologia, contudo, o Pentecostalismo não se resume às Assembleias de Deus. O
Movimento é muito maior e não está limitado/confinado a nenhuma denominação
específica. Ele é inter-denominacional ou até mesmo, por assim dizer,
a-denominacional, pois, não é propriedade de uma única denominação, até porque
o Espírito Santo que é o verdadeiro Bispo e condutor por excelência desse
movimento, é livre e sopra aonde quer. Bem... Uma das razões pelas quais ainda
há essa confusão nos dias de hoje é pelo fato da Assembleia de Deus ser
atualmente, a denominação que mais veste a camisa do Pentecostalismo, no que
diz respeito à influência, popularidade e crescimento. Porém, em outras
palavras, eu diria que o Assembleianismo é uma das maiores expressões do
Pentecostalismo no mundo hoje, mas não a única. Há uma necessidade dessa
descentralização para que se abra margens para que outros ramos pequenos também
se destaquem e agreguem no nosso time. O que acontece quando se explode algum
artefato? Ele se espalha não é mesmo? Porém, enquanto não há uma explosão, ele
continua contido e sólido. Descentralizar, não vai enfraquecer os Pentecostais,
apenas vai colocá-los como fagulhas cheias de conhecimento e poder em tudo que
é lugar.[2]
Oitavo,
investir sem reservas na juventude da igreja. Ela será responsável pelo futuro
da TPC no Brasil. A demanda é urgente e para os dias de hoje. Temos que
preparar o maior número de jovens possíveis, para que quando essa geração
presente durma no SENHOR, a próxima esteja preparada para responder os desafios
do seu tempo e por conseguinte, ter maturidade e preparação para repassar esse
legado teológico a outros jovens.
Nono,
atentar para a produção de teologia pública. Um dos recursos que podemos usar
ao nosso favor, é o da teologia pública. Através dela, poderemos sobreviver em
outros ambientes e lugares que não somente teológicos. Em parceira com outros
espaços e áreas, nós poderemos influenciar efetivamente outras pessoas.
Por
último e não menos importante, continuar trabalhando em nossas igrejas locais,
através do ensino e da pregação, seja ela temática, expositiva ou textual. Para
isso, devemos continuar estudando, aprimorando nossos conhecimentos e se
especializando para cada dia mais oferecer e transmitir ao nosso povo
pentecostal, o que há de mais sólido na TPC.
[1] A
partir de agora vamos se referir pela nomenclatura “TPC.”
[2] Sobre
descentralização, veja a narrativa da torre de babel (Gênesis 11. 1-9) e da
dispersão da Igreja em todo o livro de Atos. Em ambos os episódios, Deus fez
espalhar as pessoas que estavam reunidas num só lugar. Esse ato fez com que os
participantes desse evento, se espalhassem, no primeiro caso, territorialmente
e linguisticamente, e no segundo, missionalmente.
Uma ótima reflexão, essa é uma das minhas preocupações. Vejo alguns amigos que cresceram comigo, se desviando das teologia pentecostal, rumando para raízes reformadas.
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