26 de agosto de 2019

10 Alternativas para a sobrevivência e expansão da Teologia Pentecostal Clássica no Brasil




Por Everton Edvaldo

Cuidar do destino da Teologia Pentecostal Clássica no Brasil é um grande desafio. Enquanto que o Movimento, cresce e prospera no nível prático, o mesmo não pode ser dito do ponto de vista confessional. Isto é, poucos Pentecostais manuseiam com propriedade a teologia que sustenta todo o Movimento Pentecostal. O fenômeno por trás desse cenário, parece ser mais ou menos assim: A solidificação da Teologia Pentecostal Clássica não acompanha o crescimento numérico dos Pentecostais no mesmo ritmo. Ou seja, há muitos Pentecostais “na praça”, mas que são pequenos no conhecimento e compreensão do seu próprio credo. Ou em outras palavras, o domínio intelectual da Teologia Pentecostal Clássica[1] parece não sair dos círculos acadêmicos. O “povão Pentecostal” desconhece o básico da fé que o Movimento professa. Bem... Isso acontece por vários fatores... E já adianto: não é culpa do Movimento em si, mas muitas vezes, de que faz parte dele... Vou explicar para vocês alguns fatores:

Em primeiro lugar, o público popular Pentecostal, é majoritariamente composto por pessoas com baixo índice de escolaridade. Isto é, refletem apenas a situação educacional que a maioria do país oferece. Muitos brasileiros, mal sabem ler, ou são analfabetos funcionais.

Em segundo lugar, em muitos lugares, ainda há várias pessoas que oferecem algum tipo de resistência ao estudo ou à intelectualidade, seja ela teológica ou secular. Entre elas, algumas são líderes e pastores.

Em terceiro lugar, dos diversos pentecostais que há escolarizados, a maioria procura se especializar e se dedicar em outras áreas, menos na área teológica. Isto é, crescem em várias áreas do conhecimento e profissionalização, mas deixam a desejar no estudo teológico.

Em quarto lugar, alguns Pentecostais até conseguem alcançar um certo grau de maturidade no conhecimento da TPC, mas em algum momento do percurso, ocorre uma falha de comunicação no repasse desse grau alcançado a outras pessoas. Dificultando dessa forma, o diálogo e a construção do aprendizado.

Em quinto lugar, recebo vários e-mails dos Pentecostais perguntando quais livros indico para começar a estudar a Bíblia. A impressão que tenho muitas vezes, é de que há um bom quantitativo de pessoas querendo aprender, mas poucos líderes preparados e dispostos a ensinar.

Ainda há outras coisas que apesar de não justificar, explicam o porque há tantos pentecostais analfabetos no que diz respeito à sua confessionalidade. Contudo, por ora, vamos nos ater a esses detalhes expostos acima.

Dito isto, gostaria de acenar para outros problemas e apontar possíveis soluções para que possamos dar conta de um dos maiores desafios da atualidade: manter viva a TPC no Brasil.

Pois bem... O que gostaria de acenar é que se quisermos alavancar a TPC e conquistar o respeito de outros irmãos de confessionalidade distinta da nossa, teremos que trabalhar muito!

Digo isto, também é preico dizer que o que impede que isso aconteça é algo que já se estruturou há um bom tempo. Então o que devemos fazer, como proceder?

Bem, eu posso ajudar fazendo algumas observações, reflexões e dicar do que poderíamos fazer para mudar o quadro... Talvez alguém diga:

“É só os Pentecostais passarem a frequentar mais as EBDs e os cultos de doutrina...” Talvez isso seja bom, mas não o suficiente. Isto porque muitas vezes, as lições de EBD são até boas e bem escritas, porém, quem vai repassar o conhecimento não estuda, não se prepara e não comprometimento algum com a Palavra de Deus ou com o Deus a Palavra.

Então outra pessoa pode dizer: “Então é melhor mandar os Pentecostais para os seminários.” Pode ser, mas há dois grandes desafios: o primeiro é o nível de ensino de seminários que muitas vezes é baixíssimo. E segundo: há seminários que estão deixando entrar ensinos heterodoxos como o liberalismo teológico. Nessas circunstâncias, mandar um pentecostal para um seminário, seria como assinar seu atestado de óbito. Um caminho mais excelente seria enviá-lo para um seminário conservador e com um bom nível de ensino, que faça um trabalho relacional e bem equilibrado entre o caminho ministerial e teológico. Contudo, até mesmo nesse caminho há espinhos, pois, há poucos seminários nessa estirpe para a demanda de Pentecostais que existem...

Então... o que mais poderíamos fazer?

Bem, em primeiro lugar, devemos estimular a reflexão e produção teológica dos teólogos pentecostais que já temos. Isto é, devemos dar condições (financeiras, emocionais e denominacionais) para que eles produzam em todas as áreas, sejam elas teologia pública, apologética, confessional e principalmente pedagógica. Temos muitos Pentecostais no campo e poucos escrevendo... Essa discrepância é de se esperar, mas ao mesmo tempo é perigosa. Às vezes, me pego perguntando: quando essa geração de teólogos pentecostais partir, quem os sucederá?

Segundo, nós devemos quebrar o monopólio das editoras que representam hoje o Pentecostalismo. Aqui no Brasil, nós temos a CPAD que já fez muita coisa por nós, mas que poderia ter feito muito mais. Se a CPAD usasse apenas 50% do potencial que ela possui, o nível de obras teológicas que teríamos nas prateleiras das livrarias evangélicas seria outro. Existem muitas pérolas que autores nacionais produzem sobre Pentecostalismo, mas que não são publicadas simplesmente porque o autor não tem um nome ou uma influência no mercado. Sem falar na burocracia que dificulta bastante... E o que falar dos autores de fora, que são gigantes lá fora e completamente desconhecidos aqui no Brasil, simplesmente porque não são traduzidos? Hoje, graças a Deus, nós temos editoras como a Carisma e a Vida Nova que estão publicando e traduzindo livros que há muito tempo já deveriam estar nas nossas mãos. Minha oração é que Deus levante mais editoras assim, que chegam para somar e fazer a tarefa de casa.

Terceiro, vejo pentecostais que estão interessados em aprender mais sobre TPC, mas não possuem dificuldade em achar materiais para pesquisa. Bem... Em parte, isso se dá devido à falta de divulgação e marketing que há em nosso meio. Por outro lado, pela desunião que existem em alguns círculos. Somos especialistas em “ganhar almas”, mas nus, cegos e pobres no que diz respeito ao marketing. Investimos pouco no marketing dos nossos materiais e por isso, eles navegam pelos mares do esquecimento. Ou seja, o material/conteúdo está lá, mas faltam pessoas para divulgar, e como diz o ditado: “quem não é visto, não é lembrado.” Eu costumo dizer que os reformados têm muitas coisas a nos ensinar. Eles são pequenos e inofensivos em suas igrejas locais, mas gigantes na produção, marketing e na internet. Eles sabem bem usar a internet a seu favor. Algumas páginas reformadas na internet, possuem mais seguidores do que várias igrejas reformadas juntas. Qual segredo? E que além de bons marketeiros, eles também são unidos. Enquanto muitos pentecostais, vivem se digladiando na internet, eles procuram encontrar unidade na diversidade. Isto é, apesar das divergências, compartilham o que há em comum. A gente deixa que crenças secundárias nos inibam de compartilham um livro, autor ou página que discordamos em algum ponto, enquanto eles, não... Na minha humilde opinião, deveríamos explorar mais o território virtual. Essa ferramenta poderosíssima dá voz a quem não tem voz, recursos e visibilidade. Então porque não exploramos mais ela? Convido você a compartilhar livros, autores, blogs e canais do Youtube que são comprometidos com a TPC e dentro de poucos anos, o quadro será bem mais positivo. Essa é uma das maneiras mais eficazes e com menos custo para alcançar o povão em grande quantidade.

Quarto, se quisermos sobreviver e expandir a TPC, devemos conquistar nosso próprio espaço/território. Por exemplo, nossa teologia tem sido grandemente atacada e ridicularizada por irmãos de outras vertentes teológicas. Isso faz com que aqueles pentecostais mais simples, se sintam inseguros nas suas crenças e até fascinado por outras teologias... Por isso, devemos mostrar que nossa tradição é tão rica quanto qualquer outra. E que no quesito “teologia” não ficamos atrás, nem na frente de nenhuma outra vertente teológica.

Quinto, promover o diálogo com outras tradições. Uma das maneiras de conquistar respeito e espaço, é dialogando com outras tradições. Não falo de um diálogo inter-religioso, mas de um diálogo saudável, onde haja uma troca de conhecimento e oportunidade para todos.

Sexto, intensificar a capacitação de obreiros e líderes pentecostais através de seminários, workshops, palestras, cursos, centros de especialização e pesquisa.

Sétimo, descentralizar as concepções estritamente denominacionais da nossa teologia. A TPC na sua formação recebeu várias influências das mais diversas tradições e hoje, há denominações que se colocam como detentoras únicas da TPC e agem como se fossem donas da mesma. Por exemplo, umas das principais confusões nas discussões sobre Pentecostalismo é quanto a distinção entre Assembleianismo e Pentecostalismo que muitas vezes não é discernida nem feita/pontuada. Então deixe-me explicar: todo assembleiano é Pentecostal por natureza, tradição e teologia, contudo, o Pentecostalismo não se resume às Assembleias de Deus. O Movimento é muito maior e não está limitado/confinado a nenhuma denominação específica. Ele é inter-denominacional ou até mesmo, por assim dizer, a-denominacional, pois, não é propriedade de uma única denominação, até porque o Espírito Santo que é o verdadeiro Bispo e condutor por excelência desse movimento, é livre e sopra aonde quer. Bem... Uma das razões pelas quais ainda há essa confusão nos dias de hoje é pelo fato da Assembleia de Deus ser atualmente, a denominação que mais veste a camisa do Pentecostalismo, no que diz respeito à influência, popularidade e crescimento. Porém, em outras palavras, eu diria que o Assembleianismo é uma das maiores expressões do Pentecostalismo no mundo hoje, mas não a única. Há uma necessidade dessa descentralização para que se abra margens para que outros ramos pequenos também se destaquem e agreguem no nosso time. O que acontece quando se explode algum artefato? Ele se espalha não é mesmo? Porém, enquanto não há uma explosão, ele continua contido e sólido. Descentralizar, não vai enfraquecer os Pentecostais, apenas vai colocá-los como fagulhas cheias de conhecimento e poder em tudo que é lugar.[2]

Oitavo, investir sem reservas na juventude da igreja. Ela será responsável pelo futuro da TPC no Brasil. A demanda é urgente e para os dias de hoje. Temos que preparar o maior número de jovens possíveis, para que quando essa geração presente durma no SENHOR, a próxima esteja preparada para responder os desafios do seu tempo e por conseguinte, ter maturidade e preparação para repassar esse legado teológico a outros jovens.

Nono, atentar para a produção de teologia pública. Um dos recursos que podemos usar ao nosso favor, é o da teologia pública. Através dela, poderemos sobreviver em outros ambientes e lugares que não somente teológicos. Em parceira com outros espaços e áreas, nós poderemos influenciar efetivamente outras pessoas.

Por último e não menos importante, continuar trabalhando em nossas igrejas locais, através do ensino e da pregação, seja ela temática, expositiva ou textual. Para isso, devemos continuar estudando, aprimorando nossos conhecimentos e se especializando para cada dia mais oferecer e transmitir ao nosso povo pentecostal, o que há de mais sólido na TPC. 


[1] A partir de agora vamos se referir pela nomenclatura “TPC.”
[2] Sobre descentralização, veja a narrativa da torre de babel (Gênesis 11. 1-9) e da dispersão da Igreja em todo o livro de Atos. Em ambos os episódios, Deus fez espalhar as pessoas que estavam reunidas num só lugar. Esse ato fez com que os participantes desse evento, se espalhassem, no primeiro caso, territorialmente e linguisticamente, e no segundo, missionalmente.


Um comentário:

  1. Uma ótima reflexão, essa é uma das minhas preocupações. Vejo alguns amigos que cresceram comigo, se desviando das teologia pentecostal, rumando para raízes reformadas.

    ResponderExcluir