Por Everton Edvaldo
Leitura Bíblica: Jesus declarou: "Creia em mim, mulher: está próxima a
hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. Vocês,
samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a
salvação vem dos judeus. No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou,
em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São
estes os adoradores que o Pai procura.’’ (João 4:21-23)
Introdução: Nunca se precisou
falar tanto nesse tema como nos dias de hoje. Numa época onde tudo é
relativizado, instável e incerto, o cristão é desafiado a manter ou a resgatar
a identidade que herdamos quando fomos salvos por Jesus. Porém, o que significa
identidade? ‘’Do latim identĭtas, a identidade é o conjunto das
características e dos traços próprios de um indivíduo ou de uma comunidade.
Esses traços caracterizam o sujeito ou a colectividade perante os demais.’’[1] Acontece que o Cristianismo surge num
contexto e lugar específico e aos poucos foi ganhando forma e sua própria
identidade. Depois de dois mil anos, depois de tantos povos, línguas, lugares e
costumes, ainda é possível falar numa identidade cristã? Por incrível que
pareça sim e é o que veremos neste sermão.
I- FALANDO
UM POUCO SOBRE OS TIPOS DE IDENTIDADE:
O Cristo tem pelo menos, dois tipos de identidade: a
terrestre e a celestial. A terrestre nós adquirimos aqui na terra, quando vamos
tirar nossa documentação. Ela nos identifica pela numeração e pelo órgão. Ainda
é possível falar na identidade que construímos ao longo da nossa vida,
manifestada através do nosso caráter e personalidade. No entanto, a identidade
celestial opera de modo bastante diferente da terrestre.
Em primeiro lugar, precisamos enfatizar que existem no
mínimo, três facetas da identidade celestial:
- Criação: Desta faceta, todos (cristãos e não cristãos participam),
isto, porque todos os seres humanos são criaturas de Deus e carregamos conosco
a sua imagem e semelhança. Nesta condição, nós desfrutamos das bençãos da terra
e de toda a criação. Por exemplo, a chuva, o sol, a luz e tantas outras coisas
(Mt 5.45). Nesse sentido, somos singulares na criação e a biologia juntamente
com a genética confirma essa ideia.[2]
Passamos a tê-la a partir do momento que nascemos.
- Filiação: Ela nos foi conquistada na cruz do calvário e passa a ser
nossa quando nascemos de novo, isto é, somos regenerados (Jo 1.12,13). Na
condição de filhos, nós finalmente podemos desfrutar da eternidade e do nosso
Deus. Através da filiação, nós o conhecemos como Pai amoroso, bondoso e justo.
- Adoração: Finalmente, a Bíblia também fala da condição de adoradores
que adorarão ao Pai em espírito e em verdade. Ela elenca e revela que o propósito[3]
do homem é adorar ao SENHOR. É justamente nesse propósito que vamos focar neste
sermão.
II- LIVRES PARA ADORAR EM QUALQUER LUGAR
Escolhi como texto áureo da nossa mensagem, João 4.20-24,
porque esse trecho é um minitratado de Jesus sobre a vida eterna e a adoração.
Nele, Jesus entrelaça ambos os temas e contextualiza determinadas
características que serão notadas nos verdadeiros adorares.
Antes de tudo, esse texto é cheio de ironias. Por exemplo,
Jesus está em Samaria, um lugar odiado pelos judeus, falando com uma mulher,
algo incomum para a época e lhe transmitindo ensinamentos, algo não muito
levado a sério pelos melhores rabinos da época. Jesus se mostrava livre dos
paradigmas humanos, o tempo todo. Perceba que ele é o primeiro a estar livre.
Nós só somos livres para adorar, porque ele é livre para reinar. Glória a Deus!
No versículo 7, o texto diz que ao meio dia, veio uma mulher
samaritana tirar água. Aparentemente essa descrição parece ser simples para nós
que vivemos num país onde temos água em abundância, o mesmo não se dá em
Israel, onde só há um rio (Jordão) e a água é escassa, por isso tinha um valor
enorme.
Dessa forma, a água em Israel era usada de forma criteriosa,
haviam horários e até mesmo um encarregado das águas, que no horário
estabelecido abria as comportas e as mulheres se aproximavam apressadas com os
cântaros na cabeça. (ROPS, p. 25,26)
Foi uma dessas mulheres que foi ao poço de Jacó, onde Jesus
estava sentado à beira, cansado da viagem na cidade de Samaria, a rival da
cidade santa, Jerusalém.
Os samaritanos eram odiados pelos judeus, uma rixa antiga,
porém bastante presente e intensa nos dias de Jesus (Jo 4.9)[4].
“Um provérbio corrente, registrado no Talmude, dizia que ‘um pedaço de pão dado
por um samaritano era mais impuro do que carne de porco.’” (ROPS, p. 54) .
Principalmente, porque em 333 a.C, Manassés, genro do
governador de Samaria, obteve de Alexandre, o Grande a permissão para construir
um templo no monte Gerizim que rivalizasse com o de Jerusalém (ROPS, p. 52,53) . Samaria foi
destruída em 128 a.C, por João Hircano, mas nas últimas décadas antes de
Cristo, os samaritanos voltaram a construir um santuário sobre o monte Gerizim
e ali mantiveram um clero, faziam seus sacrifícios e oravam a Javé, chegando
mesmo a afirmar que a sua era a verdadeira religião de Israel (ROPS, p. 53) . A mulher samaritana
estava bem familiarizada com esses acontecimentos (Jo 4.20).
Já Jerusalém, era o centro religioso do povo de Deus já fazia
dez séculos (ROPS, p.
100) .
Cidade esplendida, possuía um templo gigantesco construído por Herodes, no
mesmo local onde o rei Salomão havia construído o seu. Nesta época,
aparentemente a religião judaica havia se estabelecido, não haviam estátuas nas
esquinas (ROPS 2008,
p. 112) ,
e a compreensão acerca do Deus de Israel, agora era algo mais claro para o
povo. Os judeus eram estritamente territoriais, e para eles, não havia cidade
mais sagrada do que Jerusalém, ali era o lugar que Deus escolheu para ser
adorado. A mulher de Samaria sabia disso e até fala acerca desse conhecimento
para Jesus.
Então o lugar que Jesus se encontrava não era bem-vindo aos
judeus. Jesus começa o seu diálogo com
aquela mulher e perceba que ela faz algumas provocações a Jesus. Ela levanta
algumas problemáticas como por exemplo:
Como um judeu pede água a um samaritano para beber? Onde você
pode conseguir essa água viva? Você é maior do que Jacó, nosso pai? Etc...
Isto significa que aquela mulher possuía algumas “amarras” e
crenças que a impediam que ver e adorar o único que era digno de louvor e
adoração. Veja que ela cria em Deus e até tinha um conhecimento sobre religião,
mas ela precisava de um encontro com a fonte de águas vivas! Depois desse
encontro, suas amarras espirituais começaram a cair por terra, pois agora, ela
estaria livre para adorar verdadeiramente.
Essa é a primeira lição que poderíamos extrair. Cristo nos
livrou da miopia espiritual e agora nós podemos adorá-lo. Muitas vezes, nós
colocamos tantas dificuldades, barreiras. Criamos escamas para nossos olhos,
ciscos e obstáculos que não podem mais subsistir na presença de Cristo.
Por outro lado, essas provocações revelam o interesse e
curiosidade da mulher em saber quem era Jesus. Ser interessado pelas coisas do
reino, faz parte do processo de conscientização da verdadeira adoração que é
livre, sem amarras, rotulações e industrializações. A verdadeira adoração não
tem prazo de validade, pois tem hora para começar, mas não há momento para
terminar. Tudo é natural, sem ter a ‘’barra forçada.”
Não existe um lugar na face da terra onde não podemos adorar
a Jesus. Isto significa dizer que devemos carregar nossa identidade de adorador
em qualquer lugar onde pisarmos. Mais que um momento, é um estilo de vida. A
adoração não começa na igreja e termina no final do culto. O culto
congregacional é uma extensão da nossa vida espiritual e de intimidade com
Deus. José adorou a Deus com sua vida no Egito e Daniel na babilônia, sem
templo, sem sacrifícios de animais e liturgia. Pelo contrário, o corpo, a alma
e o espírito deles, exalava o aroma suave da adoração. Andavam pela fé, e essa
fé poderosa tornava tudo transparente para eles de modo que adoravam
livremente.
III-LIVRES PARA ADORAR SEM RESTRIÇÃO DE GÊNERO, COR OU ETNIA
Um detalhe poucas vezes observado nas pregações sobre Jesus,
é que uma das maiores e mais didáticas aulas de Jesus sobre adoração foi
transmitida a uma mulher. Talvez isso não soe tão chocante para nós, mas
naquela época, as mulheres não tinham o mesmo prestígio social que possuem aqui
no Ocidente. Para você ter ideia, um “ditado rabino afirmava que todo homem
devia agradecer diariamente a Deus por não ter nascido mulher, nem pagão, nem
operário. As mulheres não comiam com os homens, mas ficavam de pé enquanto eles
comiam, servindo-os à mesa.” (ROPS, p.
147)
Também era “impróprio que um israelita falasse a uma mulher
na rua, até mesmo- na verdade, acima de tudo- se fosse sua esposa. Quando os
apóstolos viram Jesus conversando com a mulher de Samaria ficaram completamente
atônitos, como admite o apóstolo João.’’ (ROPS, pp. 147,148)
Porém, Jesus quebra paradigmas sociais afim de salvar uma
alma. Ele além de falar com uma mulher, lhe transmite ensinamento acerca do
Reino de Deus, algo impensável naqueles dias, pois as mulheres não tinham o
direito de aprender.
“As mulheres não tinham posição oficial na religião, por que
e então ensinar-lhes a Lei? ‘Seria melhor ver a Torá queimada’, afirmou um
doutor exaltado, ‘do que ouvir suas palavras dos lábios das mulheres.’ O mesmo
doutor, que era sem dúvida um misógino, declarou que ‘ensinar uma menina seria
o mesmo que colocá-la no caminho da devassidão moral.” (ROPS, p. 130)
Jesus sabia que através do conhecimento da verdade, aquela
mulher seria finalmente liberta e se tornaria uma verdadeira adoradora.
É isso que o Evangelho faz: derruba todas as barreiras
sociais que impedem as pessoas de serem verdadeiras adoradoras. Em Cristo,
todas as diferenças são eliminadas (Gl 3.28) e é por isso que podemos dizer que
somos livres para adorar.[5]
Me recordo de grandes figuras do cristianismo como Martin Luther King[6]
que entendeu que o Evangelho não tem cor, ele é para todos.
Nele, países, povos, tribos e todo o cosmos são conclamados a
louvar ao SENHOR (cf. Sl 148). É por isso que no ápice do Avivamento da Rua
Azuza, no começo do século XX, o pastor e pioneiro do Movimento Pentecostal
pode exclamar: “A linha de cor foi lavada pelo sangue de Jesus.”[7]
Agora, permita-me falar sobre os limites que os livres adoradores
devem levar em consideração. Limites? Sim, até porque liberdade sem limites não
é liberdade, mas libertinagem!
Ser livre para adorar não tem nada a ver com o moderno
movimento que transmite o seguinte ensinamento “deixa eu adorar do meu jeito.” Não
é do nosso jeito, é do jeito que as Escrituras prescrevem. A adoração tem sido
confundida em nossos dias com muitas coisas que nem sequer deveriam passar pela
mente de um cristão. Em razão disso, alguns estão fazendo praticando coisas
espantosas nas igrejas e fora dela, em nome da adoração. Porém, como o falso
não tira o valor do verdadeiro, devemos observar o que Cristo estabeleceu como
sendo a verdadeira adoração com bom senso e equilíbrio.
IV- LIVRES PARA ADORAR (08) EM ESPÍRITO(09) E EM VERDADE (10)
“Nossos antepassados
adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se
deve adorar". Jesus declarou: "Creia em mim, mulher: está próxima a
hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. Vocês,
samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a
salvação vem dos judeus. No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou,
em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São
estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os
seus adoradores o adorem em espírito e em verdade". (João 4:20-24)
Na época da mulher
samaritana, havia uma disputa [11]
bem popular e acirrada acerca do lugar em que Deus devia ser adorado. Nós já
tivemos a oportunidade de ver um pouco do contexto histórico no primeiro
tópico, porém nesses versículos, desenvolveremos melhor o argumento de Jesus
que é libertador.
A mulher samaritana se
remete ao passado para fundamentar a prática do seu povo de adorar naquele
monte. Comentando sobre esse assunto, o teólogo e reformador francês
João
Calvino (1509-1564) explica:
"Os
samaritanos se transviaram por não considerar, no exemplo de Jacó, quão amplamente
a condição daquele tempo diferia da de seu próprio tempo. Aos Patriarcas se
permitiu erigir altares em qualquer lugar, visto que ainda não havia se fixado
um lugar mais tarde designado pelo Senhor. Mas desde o tempo em que Deus
ordenou que o templo fosse edificado no monte Sião, cessou aquela
liberdade da qual outrora desfrutaram. Por essa razão, Moisés disse: 'Não
fareis conforme tudo o que hoje fazemos aqui, cada qual tudo o que bem parece
aos seus olhos. Mas no lugar que o Senhor Escolher numa de tuas tribos ali
oferecerás teus holocaustos, e ali farás tudo o que te ordeno.' [Dt 12.8,14].' (CALVINO, p.
169)
Ou seja, o erro dos samaritanos foi não ter discernido que o
tempo de adorar a Deus nos montes já havia passado.[12]
Por outro lado, os judeus engessaram a adoração a Deus única
e exclusivamente em Jerusalém. Enclausuraram o Deus criador de tudo que há no
Universo, num pequeno e limitado espaço físico. É nesse momento que Jesus
transborda os níveis mais altos da sabedoria humana e espirra de forma objetiva
e profunda o ensinamento de que a hora estava chegando, em que nada disso faria
mais sentido. Um novo tempo estava chegando.
Sobre esse ponto, Calvino comenta:
"Na
primeira parte desta réplica, ele brevemente descarta o culto cerimonial que
fora designado sob a lei, pois quando diz que a hora chegou quando não haverá
lugar peculiar e fixo para o culto, ele tem em mente que o que Moisés legislou
foi só por algum tempo, e que o tempo estava chegando quando o muro de
separação [Ef 2.4] seria derrubado. E, assim, ele estende o culto divino muito
além de seus estreitos limites de outrora, para que os samaritanos viessem a
ser participantes dele." (CALVINO, p. 170).
É justamente nesse tempo que Jesus prenuncia que nós vivemos.
O tempo dos verdadeiros adoradores que adoraram em espírito e em verdade. Isto
é, uma adoração sincera, pura, imaterial, que vem da parte mais íntima e
recôndita do ser humano.
Ela contagia o nosso corpo, o nosso lar, a nossa vida, tudo e
todos. Adoração que é livre de qualquer coisa e que é ‘’presa’’ somente à
verdade, a verdade que liberta (Jo 8.32) e ao mesmo tempo cativa e ironiza a
vida e o viver.
Conclusão: Que essa palavra possa penetrar nossos corações e nos
conscientizarmos acerca da grandeza do Deus que servimos e da transparência com
que Jesus trata o modo como somos livres para adorar. Essa adoração que faz
parte da nossa identidade e que se mistura com nosso ser, onde finalmente somos
entregues como uma oferta viva a Deus.
Então permita entrar nessa dimensão e honre sua vocação.
Jamais deixe que preceitos humanos lhe roubem a felicidade que é viver em prol
do reino. “Vista a camisa do Reino, pois, você faz parte dele. O mundo não
hesita em adorar os seus senhores, então porque ficamos tão acanhado em prestar
honra e louvor ao único que é digno de toda a glória?
Está na hora de estendermos a nossa tenda, levantarmos a
nossa bandeira e externalizar a nossa adoração, concentrando, direcionando,
intensificando e potencializando o louvor, a glória, a honra e a majestade a
Deus. Seja abençoado em nome de Jesus, amém!
Obras Citadas
CALVINO,
João. Evangelho Segundo João, volume 1. São Paulo: Fiel, 2015.
ROPS, Henri Daniel. A Vida diária nos dias de
Jesus. São Paulo: Vida Nova, 2008.
TOZER, A. W. O Propósito do homem. Rio de Janeiro: Graça Editorial,
2013.
MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida
Nova, 2012.
[1] https://conceito.de/identidade.
Acesso: 08/07/2019 às 14:01.
[2] A
existência do DNA aponta para
singularidade de cada ser humano.
[3] “O
Propósito para o qual fomos criados, segundo a Bíblia, é adorar a Deus e
desfrutar da Sua presença eternamente.” (TOZER, A.W. O propósito do homem, p.
31).
[4] A
palavra que aparece no original aqui aponta para a ideia de que os judeus não
se relacionavam bem com os samaritanos.
[5] “De
tudo que um Avivamento pode gerar, o principal é a restauração do propósito e
do significado de ser um adorador.” (TOZER, A.W. Tozer. O propósito do homem,
p. 33).
[6]
Para saber sobre a vida de Martin Luther King, indico o livro: ‘’A
Autobiografia de Martin Luther King” de Clayborne Carson (Zahar).
[7] https://teologiapentecostal.blog/2009/09/07/o-pentecostalismo-e-o-racismo-a-quebra-de-preconceitos/.
Acessado dia 12/07/2019 às 23:06.
[8]
Adoração significa “ter grande admiração ou apreço por.” (MARTIN, p. 17)
[9] Adorar
em espírito é alcançar o nível mais alto de espiritualidade. É uma dimensão
equivalente a andar no Espírito e viver no Espírito (cf. Gl 5.25).
[10]
Adorar em verdade, é estar ligado ao próprio Cristo. Em outra passagem, Jesus
vai dizer que a verdadeira libertação só vem através do conhecimento da verdade
(Jo 8.32) e nós bem sabemos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6).
[11]
"É bem notório que houve constante controvérsia
entre os judeus e os samaritanos sobre a verdadeira norma de se cultuar a Deus.
Ainda que os filhos de Cute e outras estrangeiros, os quais foram trazidos para
Samaria quando as dez tribos foram levadas para o cativeiro, fossem
constrangidos pelas pragas e castigos divinos a adotar as cerimônias da lei e a
professar o culto do Deus de Israel (como lemos em 2Rs 17.27), todavia a
religião que haviam aprendido era imperfeita e corrompida de muitas maneiras de
muitas maneiras, o que os judeus de modo algum toleravam. Mas a controvérsia se
tornou ainda mais acirrada depois que Manassés, filho do sumo sacerdote João, e
irmão de Jado, edificou o templo no monte Gerizim, quando Dario, o último rei
persa, manteve o governo da Judéia nas mãos de Sambalá, a quem ele colocou ali
como seu lugar-tenente. Pois Manassés, tendo se casado com uma filha do
governador, para que não fosse inferior a seu irmão, fez-se sacerdote ali, e
granjeou para si, por meio de subornos, tantos apóstolos quanto pôde, como
relata Josefo." (CALVINO, p. 166).
[12]
"Agora, percebemos qual era a natureza da questão. Os samaritanos tinham o
exemplo dos Pais como sua norma: os judeus descansavam no mandamento divino.
Esta mulher, embora até aqui seguisse o costume de sua nação, não vivia
plenamente satisfeita com ele." (CALVINO, p. 169).
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