Por Everton Edvaldo
Nos
últimos dias, viralizou pelo mundo o caso do assassinato do negro Gerge Floyd por
um policial. Novamente, a pauta sobre o racismo voltou a estar em alta. Os
extremismos logo começaram: vários negros revoltados e indignados destruíram e
queimaram lojas, carros, dentre outras coisas. Nesse ínterim, a ala mais
política e ideológica reaparece no cenário com mais força para implantar suas
bandeiras. Esse não foi o primeiro caso de racismo, nem será o último,
lamentavelmente, mas o meu texto é para lidar com uma coisa ainda mais grave: a
omissão daqueles que se dizem ortodoxos, conservadores e bíblicos.
Em
primeiro lugar, não é verdade que todos que são conservadores são omissos
quanto a isso, existe um remanescente dentro desse nicho que tenta
conscientizar os demais da importância desse tema. Mas esse remanescente é
muito pequeno e inexpressivo e muitas vezes, é “sufocado” ou ignorado pela
massa.
Em
segundo lugar, o Cristianismo ainda nos dias de hoje tem deixado a desejar na
forma como se relaciona com as questões sociais. Com exceção de alguns avanços
que foram feitos historicamente nesses últimos 2000 anos, boa parte da
preocupação dos cristãos até o século XVIII era com questões espirituais. Os
poucos que ascenderam à status sociais, subiram ao poder e podendo fazer algo
por causas justas, pouco fizeram, ou não fizeram nada. Obviamente, questões
espirituais são importantes, mas estas não anulam as questões sociais que são
implicações práticas da mesma. Por exemplo, a questão da escravidão foi
discutida de forma efetiva tardiamente na história da igreja. É nos dias de
John Wesley com sua luta abolicionista que as coisas começam a mudar. Várias
outras questões como o papel da mulher na igreja e na sociedade foram
simplesmente ignoradas e omitidas por muitos, e essa postura de se isentar dos
problemas alimentou movimentos revolucionários, progressistas, feministas e
ideológicos.
Em
terceiro lugar, quem disse que para defender causas sociais eu preciso ser
adepto de hermenêuticas sociais ou de ideologias políticas que não são
conservadoras (como o esquerdismo, por exemplo)? É justamente por conta da
nossa omissão que esses grupos crescem, ganham voz e espaço. Se nós
estivéssemos cortando a nossa grama de forma efetiva, talvez o nosso quintal
não estivesse tão entulhado. Sim meus amigos, um dos grandes responsáveis pela
proliferação e captação de cristãos por esses movimentos mais reacionários são
os próprios cristãos ditos conservadores que ao invés de tratar o problema à
altura, terceiriza de forma indireta sua responsabilidade. Rotular, censurar e
ser intolerante com esses grupos além de ser a forma mais estratégica de
promove-los, viabiliza munições para que eles tenham sucesso em suas agendas.
Em
quarto lugar, a pauta do oprimido, é uma pauta bíblica. Não é porque um cristão
de esquerda a toma para si que faz dela menos bíblica. Obviamente, eu discordo
da leitura que é feita por esse movimento, mas isso não faz da pauta menos
importante. A pauta da injustiça social ou da desigualdade é real, e antes de
ser de esquerda ou de direita, ela é um grito da humanidade, grito este já dado
por muitos daqueles personagens que fizeram parte da Bíblia como os pobres, oprimidos,
órfãos, mulheres, viúvas, estrangeiros, a quem Deus tanto amou, acolheu e
amparou.
Em
quinto lugar, o que aconteceu com George Floyd não está muito distante da nossa
realidade. Nossas igrejas estão cheias de pessoas que não conseguem mais
respirar, elas não aguentam mais! A omissão da igreja brasileira em muitos aspectos,
contribui para que mais e mais pessoas sejam torturadas até a ‘morte’ (algumas
físicas, inclusive). Por exemplo:
“Não
consigo respirar” é o grito do casal de adolescentes que infelizmente, não tendo
do seu pastor uma orientação sexual, um trabalho de mentoria/ instrução, cairá
em fornicação, e será obrigado pela igreja a casar, não recebendo nenhum suporte
e empurrando com a barriga um casamento que potencialmente já vai começar destruído.
“Não
consigo respirar” é o grito da mulher que é agredida e violentada pelo esposo
cristão e que quando busca ajuda na igreja, recebe o conselho de líderes e
outras irmãs para orar por ele, ao invés de denunciar.
“Não
consigo respirar” é o grito da pessoa que é cristã/salva que está passando por
depressão que receberá reações de irmãos da igreja do tipo “isso é frescura,” “depois
passa”, “isso é opressão demoníaca, vamos orar” e que se vier a cometer suicídio,
ainda será julgada como alguém que não era cristã e que foi para o inferno.
“Não
consigo respirar” é o grito das crianças que são abusadas por líderes/pastores de
igrejas e até por pais cristãos, grito esse que muitas vezes é abafado pela
instituição.
“Não
consigo respirar” é o grito daquela pessoa que é cristã e que está lutando
contra desejos homoafetivos e que será discriminada por seu jeito fora do
padrão “heterossexual.”
“Não
consigo respirar” é o grito daquele pai família cristão que dizima há 10 anos,
mas que quando está desempregado, passando necessidade, a igreja simplesmente ignora
e se brincar, ainda liga ‘cobrando’ o dízimo do mês.
“Não
consigo respirar” é o grito daquela família que na igreja se comporta como se
tudo estivesse bem, mas dentro de casa, vive um verdadeiro inferno.
“Não
consigo respirar” é o grito daquela mulher que se for traída e pedir divórcio,
será discriminada pela igreja.
Enfim,
“não consigo respirar” não é somente o grito de um negro, é um grito de todos,
é um grito de socorro que representa uma parcela de pessoas que estão
simplesmente tendo seus problemas ignorados pela igreja contemporânea. Oro a
Deus para que isso mude logo!
Cirúrgico. Muito bom o seu texto, parabéns pelo posicionamento. A igreja precisa de pessoas que se posicionem como você.
ResponderExcluirExcelente artigo. Expõe bem a omissão de muitos cristãos que parecem viver numa bolha e pouco se interessam com as injustiças sociais. Algumas inclusive, cometidas por muitos que se dizem cristãos .
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