20 de junho de 2020

Dicas cruciais para quem deseja escrever artigos para as mídias sociais.


Por Everton Edvaldo


Introdução:  Várias pessoas me perguntam como faço para escrever artigos, se uso alguma metodologia e como organizo meu tempo. Bem... Confesso que não é uma tarefa fácil, muito menos que terá sucesso do dia para noite. Mas garanto: você terá muito tempo para crescer e amadurecer nessa área. Afim de estimular a produção escrita de alguns pentecostais que gostam de ler e escrever, resolvi escrever esse texto dando dicas de como vocês podem colocar todas as suas ideias num artigo e publicar na internet. Vamos lá?

I- A PREPARAÇÃO

1- Aproveite todos os recursos que estiverem disponíveis.

Já dizia o ditado: "tempo é dinheiro." Não é toda semana que a gente tem disponível aquelas 3 horinhas pra sentar, organizar as ideias e escrever, mas eu tenho uma boa notícia: você pode fazer isso por etapas. Como funciona? Durante a semana você vai montando seu script e escrevendo aos poucos através de várias ferramentas. Quando você finalmente sentar para se dedicar ao artigo, 80% do seu trabalho já estará feito. Eu por exemplo escrevo pelo bloco de notas do celular, em folhas de caderno soltas e no word do Notebook. Isso me dá mais liberdade para escrever, de modo que uso os espaços e intervalo de tempo no ônibus, trabalho e na minha própria casa. Às vezes, estou sem disposição para ligar o notebook, então pego o celular e começo a escrever.

2- Não escreva de uma vez. Vá aos poucos.

A pressa é inimiga da perfeição. Antigamente eu gastava menos tempo para escrever artigos, isso porque eu terminava um e já começava outro. Atualmente, eu raramente sento para escrever um artigo de uma única vez (só quando a inspiração tá muito grande) geralmente, vou montando os pedaços aos poucos até concluir tudo. É menos cansativo e mais proveitoso porque você tem um certo tempo para maturar as ideias e aperfeiçoar seu trabalho.

3. Seja interativo com seu público.

Ou seja, tente colocar a linguagem do seu artigo em contato com seu público. Isso facilita a comunicação. Por exemplo se seu público é mais jovem, a linguagem precisa ser mais acessível a eles. Se é mais leigo, não pode ser tão rebuscada. Se é direcionado a acadêmicos, não pode ser simplista e assim por diante. Outra dica que me ajuda bastante é que eu costumo fazer enquetes ou perguntas durante a produção do meu texto nas mídias sociais. Assim, surge uma ideia aqui, uma crítica ali, uma ajuda aqui e acolá. Lembro-me quando estava escrevendo meu artigo sobre o ministério feminino no Movimento Pentecostal, os seguidores interagiram tanto (negativamente e positivamente) que isso contribuiu para aprimorar minha escrita. Para ser mais efetivo na comunicação, descubra a faixa etária do seu público e gênero. Isso ajuda bastante na hora de preparar um artigo. Essas informações devem nortear todo o processo de escrita.
4. Organize as ideias antes de colocar no papel. Se você dividir seu artigo em tópicos ou partes, ficará melhor para escrever. Ninguém gosta de ler um texto com ideias desencontradas, principalmente na nossa época, onde as pessoas são cada vez mais metódicas e sistemáticas.

II- O CONTEÚDO

Eu considero três elementos cruciais para a escrita de um bom artigo nos dias de hoje.

1. Problemática. Em primeiro lugar, levantar a problemática é um bom ponto de partida. Aqui você vai identificar a demanda/necessidade e as deficiências acerca do acerto que você está falando. Por exemplo, se seu artigo tem por título: "Resgatando a identidade Pentecostal", você precisará mostrar o porquê é necessário falar nisso nos dias de hoje. O que tem feito com que se fale no resgate da identidade Pentecostal? Quais são os fatores? O que não é identidade Pentecostal? E por aí, vai...

2Provocação. É o momento onde você vai confrontar o assunto que você está falando com a realidade. Isso pode ser feito através do uso de um pensador, ou até mesmo de uma crítica. Quando você se dispõe a colocar um pensamento sob escrutínio, o seu texto, além de ficar mais interessante, coloca o autor em contato com outras vertentes sobre aquele assunto. Aqui você vai mostrar o porquê "você acredita no que acredita."

3. Resolução. Apontar os problemas sem mostrar possíveis alternativas não é legal para seu texto. Mesmo se seu texto for uma crítica, ele precisa acenar soluções. Afinal as pessoas precisam saber no que devem melhorar e ninguém melhor do que o problematizador para instrumentalizar esse percurso.

III- O TEXTO

-Estrutura. Seu texto precisa ter começo, meio e fim. A ordem a ser seguida é basicamente essa: introdução, desenvolvimento e conclusão. Todas três precisam estar interligadas e bem distribuídas.

-Dados. Se quiser ter suas ideias aceitas com mais credibilidade, deixe seu texto recheado de boas referências bibliográficas, porcentagens, informações e dados concretos.

-Ortografia/Gramática. Certifique-se de que seu texto está em paz com a Língua-Portuguesa. Uma dica que sempre dou é: pegue seu texto e disponibilize para 5 ou mais amigos/pessoas. Elas irão ler e dar o feedback. Esse feedback pode incluir críticas, sugestões e correções. É maravilhoso! Verifique se há coesão e coerência no seu texto e faça os ajustes que for necessário fazendo uma revisão antes de publicar. Evite jargões, termos informais e coloquiais.

-Objetividade. Seu texto não precisa ser prolixo para ser profundo e impactante. Há pessoas que enchem linguiça no texto ou arrodeiam demais para dizer o óbvio ou coisas que qualquer um diria num dia ensolarado.  Você precisar ir direto ao ponto. Você pode criar interesse e expectativa no seu público dessa forma. Fazer o percurso contrário fará com que você corra o risco de o leitor não ler seu texto até o fim ou se cansar nos primeiros três parágrafos.

-Digressões. São desvios momentâneos do assunto sobre o qual se fala ou escreve. É muito importante que você tenha cuidado com as digressões. Há escritores que começam falando de um assunto, fogem do tema e nunca mais retornam. Devemos estar atentos a isso, pois, além de prejudicar nosso texto e imagem, acaba nãos satisfazendo o nosso público.

Conclusão: Espero que esse breve texto possa ter contribuído para aqueles que querem escrever, mas que não sabem como começar. Espero que tenha ajudado! Agora é só colocar a mão na massa! Lets go!

4 de junho de 2020

Como os pastores devem lidar com jovens pentecostais que estão flertando com o calvinismo?




Por Everton Edvaldo

Introdução: Nos últimos 2/3 meses, o tanto de mensagens que tenho recebido de pastores e líderes de todo o Brasil que estão com problemas com jovens pentecostais que estão flertando com o calvinismo não está no gibi. Dessa forma, pensei em escrever esse texto propondo dicas e conselhos que podem ajudar os pastores na hora de lidar com problemas dessa natureza. Boa leitura!

ENTENDENDO O PROBLEMA:

Muitos procuram fórmulas e receitas prontas que vão funcionar em todos os casos, porém, o que você, leitor, verá aqui são princípios gerais que podem ser flexibilizados mediante a particularidade de cada contexto e região. No entanto, é impossível fazer isso sem que se entenda o que tem feito com que os jovens pentecostais se tornem calvinistas. Se você aplica resoluções sem entender o problema, corre o risco de agravá-lo ainda mais, sem falar que vai tratar com os sintomas e não com a causa. Lembre-se que árvore que não tem sua raiz arrancada, mas somente os galhos, um dia volta a florescer. Logo, é de extrema importância que você entenda a raiz do problema que pode ser uma, duas ou até mesmo várias, sem falar que pode partir de algo externo ou até mesmo de você. Boa leitura!

1. Quando o problema está em você.

Muitos pastores são responsáveis ainda que indiretamente pelo que tem acontecido com a juventude pentecostal. Vejamos agora alguns fatores:

a) Omissão. Infelizmente, por muitos anos, boa parte da liderança pentecostal no Brasil foi omissa com relação a esse assunto. Muito embora a nossa identidade desde há muito tempo tivesse estabelecida, muitos pastores erraram quando não investiram teologicamente na juventude. Erraram quando não trataram as pregações antropocêntricas, triunfalistas e semi-pelagianas dos seus púlpitos. Erraram quando não deram uma boa base teológica pentecostal ainda no discipulado desse público juvenil. E ainda hoje erram na forma como lidam com nosso público, simplesmente muitas vezes, por não falar a nossa linguagem. Muitos pastores não estão haptos para falar às novas gerações que estão surgindo.

b) Subestimação. Um dos problemas na liderança das igrejas também se dá pelo fato de que alguns pastores, diferente do apóstolo Paulo, ignoram a voz da juventude. Esquecem que somos a igreja de amanhã e que não servimos apenas para encher os templos nos cultos e congressos com duas horas de louvor fervoroso e radiante, mas de que também temos potencial para falar à nossa própria geração. Um jovem pentecostal que abraçou a teologia calvinista influenciará outros jovens da congregação muito mais rápido que o pastor de lá. Não tenha dúvidas disso.

c) Ignorância. Muitos pastores também ficaram devendo na hora de se preparar para falar às novas gerações. Hoje, qualquer jovem mediano pentecostal tem acesso à internet, e domina assuntos que seu pastor muitas vezes, sequer sabe que existe. Então o jovem pentecostal não encontrando uma ponte entre sua geração e a geração do seu pastor, acaba entrando em contato com a teologia reformada sem uma boa preparação em suas próprias raízes. E aquele velho ditado se repete: o que ele não encontra em casa, vai procurar na rua...e acha! Boa parte dos jovens pentecostais que flertaram ou abraçaram o calvinismo, se tornaram calvinistas não porque a teologia pentecostal não fosse sólida e robusta, mas simplesmente porque nem sequer ouviram que existia teologia pentecostal.

Evite esses erros!

2. Quando o problema está fora.

Tudo é um ciclo, e como uma coisa puxa a outra, em conjunto com essas posturas, o jovem pentecostal encontrará outras pedras ao longo da sua jornada. Veremos algumas delas:

a) A Internet. O mundo de hoje é digital, online, virtual e acreditem, boa parte da juventude pentecostal além de estar presente na internet, são pessoas que gostam de ouvir pregações, tirar dúvidas sobre o cristianismo e Bíblia, além de ter curiosidade por aquilo que é diferente. Resultado: como os reformados representam um algoritmo gigantesco de visualizações e conteúdo na internet, os pentecostais acabam entrando em contato com a teologia reformada e nesse caso, o problema não é nem esse, pois vale lembrar que a teologia reformada não é nossa inimiga, muito menos não é uma tradição que não tem nada a agregar à nossa fé. O problema é quem está indo lá assistir esses vídeos são jovens que não possuem os pés bem firmes na sua própria tradição. Esse jovem será uma isca fácil e logo estará na internet e na congregação influenciando outros jovens e formando a próxima geração de ‘pentecostais reformados’. Os caminhos que eles traçam são três: um menos prejudicial e menos comum que é o de ser calvinista, porém respeitar a identidade pentecostal da congregação que ele pertence.  O segundo é o do proselitismo. Esse jovem não quer sair de sua igreja para ir para uma presbiteriana, até porque o jovem que se encaixa nesse perfil, não abrilhanta os olhos pela liturgia presbiteriana, por assim dizer. Então ele provavelmente vai dar trabalho ao pastor em sua própria congregação, uma vez que fará de tudo para convencer a tudo e a todos do ele acredita, propondo muitas vezes, novas expressões do tipo ‘pentecostal reformado’ que é um outro nome para alguém que é um continuísta calvinista. O terceiro tipo será o jovem que vai conhecer a teologia reformada, se tornar calvinista e migrar para uma igreja reformada. Essa parcela ainda é mínima em nosso meio, o que não deixa de ser preocupante. Porém, não existe um tal "Êxodo Pentecostal", conforme tem sido pregado por muitos reformados. A verdade é que uma parcela grande daqueles que saem das igrejas pentecostais não queriam sair, eles queriam simplesmente que sua igreja melhorasse. Então eles procuram suas melhoras, porém, alguns não conseguem se adaptar ao ambiente reformado e acreditem, se tornam desigrejados. 

b) As livrarias: A grande massa dos materiais literários que ocupam as prateleiras das livrarias evangélicas ainda são livros reformados. Vamos censurar ou deixar de vender livros reformados por conta disso? Não, pelo contrário, devemos consumi-los, mas só depois de nos certificarmos de que conhecemos bem a nossa própria tradição. O jovem pentecostal que vai numa livraria não tem esse discernimento e geralmente, acha que todo livro que vende ali, reflete o que a Bíblia ensina. Essa inocência será seu atestado de mudança de identidade. Logo em breve, se tornará um calvinista, muito provavelmente. Não é adivinhação, apenas constatação a partir das estatísticas.

c) As referências externas. Você sabia que as referências externas podem ser um problema para a juventude da sua igreja? Quem são as pessoas que são referências na sua congregação? São pregadores e cantores que pregam e cantam mensagens antropocêntricas, triunfalistas e antibíblicas? Então pode ter certeza que os jovens da sua igreja vão buscar referências sérias. E sabem quem eles encontram? Pessoas como Augustus Nicodemus, Hernandes Dias Lopes, Jonas Madureira, dentre outros reformados. Se as novas referências delas são cristãos calvinistas, você acha mesmo que ela também não será?

d)  A postura dos pentecostais na mídia. Infelizmente, os pentecostais brasileiros ainda são bastante desunidos. Somos especialistas em denegrir a nossa própria imagem. Veja como funciona o clico: boa parte dos reformados que estão na internet não fazem o devido discernimento entre aquilo que é Pentecostalismo Clássico e Neopentecostalismo. Por causa disso, eles veem tudo como uma coisa só, e as atrocidades e bizarrices neopentecostais também são colocadas nas costas dos pentecostais. O problema é que a internet também está cheia de pentecostal que ‘mete o pau’ não somente no neopentecostalismo, mas também em outros pentecostais. Resultando: alimentam ainda mais a imagem embaçada que os reformados têm de nós. Dessa forma, quando um jovem pentecostal entra em contato com a literatura reformada, estará lidando com um material que (de modo geral) vê o pentecostalismo de forma ruim, como um movimento que não tem teologia, nem hermenêutica, nem seriedade. Ou seja, o material que ele tem acesso vai ratificar aquela imagem que ele já tem a partir do que ele vê no seu próprio contexto.

PRINCÍPIOS GERAIS PARA LIDAR COM ESSES PROBLEMAS:

O Pastor pentecostal precisa estar atento à essas questões, levando em consideração algumas dessas dicas:

a) Faça uma mentoria mais de perto com seus jovens. O que ele leem? Quais são suas influencias e referências? Lembre-se que você pode mapear seus passos, não para censurá-lo, mas para orientá-lo de modo seguro entre os seus estudos teológicos.

b) Prepare 5 ou 10 jovens que formem outros jovens. Acredite, os jovens conseguem influenciar outros jovens muito mais rápido do que você. Eles se identificam bem mais com quem fala sua linguagem por assim, dizer, então é de suma importância que você dê voz e espaço para que sua equipe tenha jovens que influenciem outros.

c) Invista na juventude. Invista tempo e dedicação na sua juventude. Dessa forma vão se sentir mais acolhidos e será mais fácil de lhe ouvir.

d) Promova eventos para falar sobre o assunto. Promova Congressos, palestras, cultos de instrução sobre esse assunto. Os temas podem ser tanto apologéticos quanto expositivos no sentido de expor o que a igreja acredita e porque acredita naquilo. No caso das Assembleias de Deus, que tal tirar alguns dias para expor a Declaração de Fé da Igreja? Ou um dia para expor os 5 pontos do Arminianismo e relacioná-los com a Bíblia? Ou até mesmo mostrando o porque que um pentecostal não deve ser calvinista?

e) Conheça o assunto e esteja preparado para as dúvidas que vão surgir. Não apenas os jovens devem conhecer sobre a temática. É seu papel estuda-lo e estar bem resolvido teologicamente. Muitos pastores não estão nem mesmo seguros sobre sua teologia, dessa forma, devem estudar à fundo livros e obras que abordem essas questões.

Além disso, ore pela sua juventude, tenha paciência e esteja pronto para exercer uma liderança antes de autoritária, servil. Que Deus abençoe a todos!


3 de junho de 2020

Vamos falar sobre Cosmovisão Pentecostal?





Everton Edvaldo

Em qualquer livraria evangélica brasileira, é natural encontrar pelo menos, um livro que fale sobre Cosmovisão cristã. Acontece que boa parte dos materiais em Língua-Portuguesa, trazem uma perspectiva reformada sobre esse assunto. Os Pentecostais muitas vezes, bebem desse tipo de literatura por falta de opção em língua vernacular, o que nos leva para a seguinte realidade: há uma escassez de obras que toquem nessa temática. Mas calma ai... existe essa tal “Cosmovisão Pentecostal?” Sim, muito embora a teologia pentecostal foque seus debates no papel do Espírito Santo, nos dons espirituais, batismo no Espírito Santo e Línguas evidenciais, seria muito simplismo dizer que os pentecostais só têm a contribuir para a área pneumatológica da teologia. A própria história do Pentecostalismo, atesta que ao longo dos anos, o movimento Pentecostal estruturou na prática, sua própria forma de cosmovisão (muito embora a reflexão acadêmica e conceitual seja mais recente). Mas o que é cosmovisão? É a nossa visão de mundo. A pergunta que devemos fazer é: o que o Pentecostalismo teria de único que o faria ser visto como tendo sua própria cosmovisão? Bem, atualmente essa expressão tem sido discuta e mencionada com frequência em obras de teólogos Norte-Americanos. Hoje eu gostaria de falar com vocês a partir do que escreveu o filósofo Pentecostal J.K. Smith em sua obra “Thinking in Tongues” (Pensando em Línguas). Vamos lá?

CARATERÍSTICAS DE UMA COSMOVISÃO PENTECOSTAL

Smith começa sua obra convidando os pentecostais a desenvolverem sua própria maneira de fazer filosofia e no capítulo dois trabalha cinco caraterísticas de uma cosmovisão pentecostal. São elas: 1) Uma posição de abertura radical a Deus, 2) uma teologia "encantada" da criação e da cultura, 3) uma afirmação não dualista da personificação e da materialidade, 4) uma epistemologia afetiva, narrativa e 5) uma orientação escatológica para a missão e a justiça. Smith chega a esses cinco elementos com base em sua análise da espiritualidade pentecostal. (pp. 33-46). Os próximos quatro capítulos exploram ainda mais a contribuição do entendimento de Smith de uma cosmovisão pentecostal em relação às seguintes áreas de estudo: epistemologia (capítulo 3), metafísica (capítulo 4), filosofia da religião (capítulo 5) e filosofia da linguagem (capítulo 6).

Smith segue falando da Epistemologia da espiritualidade Pentecostal. Para ele, ela é apoiada ou precursora de um tipo pós-moderno de teoria do conhecimento. Nela, a narrativa tem o papel principal de fazer do pentecostalismo um tipo de contra-modernidade (p. 50) Todos sabemos que os Pentecostais são os cristãos das histórias e nesse sentido, nos aproximamos mais da Pós-Modernidade do que da Modernidade. Smith usa a expressão ‘proto-pós-moderna’ na medida em que critica os entendimentos excessivamente cognitivistas da antropologia e epistemologia inerentes ao racionalismo moderno. Smith ressalta, com razão, que quando se olha para o culto pentecostal, há uma ênfase distinta em uma epistemologia afetiva e narrativa.

Além disso, a própria Ontologia Pentecostal é diferente da Evangélica. Enquanto os Evangélicos aderiram a um sobrenaturalismo intervencionista onde há um universo fechado que às vezes é invadido por Deus, nossa contribuição para essa campo seria de que o universo é encantado, uma realidade cheia do Espírito. Desta forma, o cosmos está cheio da presença e graça de Deus. Outro erudito pentecostal que trabalha bem essa questão é Amos Yong, muito embora ele tenha levado para outra direção, em específico na área do diálogo inter-religioso. Segundo Smith, a nossa ontologia é elástica e envolve um universo onde o físico e o não-físico são misturados, logo nossa ontologia possui uma abertura radical, diferente daquela que emerge da metafísica reducionista naturalista. Ele até admite que os pentecostais geralmente se apegaram a um modelo sobrenatural intervencionista, mas ele argumenta que os pentecostais deveriam adotar um naturalismo encantado ou um sobrenaturalismo não-intervencionista que se alinharia mais consistentemente com seus compromissos pentecostais. O que está em questão aqui é a rejeição de Smith de uma estrutura dualística que separa o "natural" do "sobrenatural". Em vez disso, ele propõe uma visão integrada da realidade, onde a natureza não é um sistema fechado e autônomo, sem a presença e a atividade do Espírito de Deus. Nas suas palavras:

“O Espírito já está sempre presente pela e na criação. A presença do Espírito não é uma "visita" pós-capsariana ou soteriológica de uma criação que, de outra forma, não tem Deus; antes, o Espírito já está sempre dinamicamente ativo no cosmos / mundo / natureza. Deus não precisa 'entrar' na natureza como visitante e estrangeiro; Deus já está sempre presente no mundo. Assim, a criação é preparada para a ação do Espírito. (p. 102-103).

Smith também dialoga com Derrida, Polanyi, Michael Foucault, entre outros, expondo como a crítica pós-moderna atuou no processo de avaliação da modernidade. Nas suas palavras: "Correndo o risco de cair no clichê, a crítica pós-moderna da modernidade descobriu que o que muitas vezes era apresentado como ‘racional’ era o que os homens brancos europeus pensavam ser uma boa ideia" (p. 57). Obviamente, os Pentecostais não abraçaram tudo da Pós-Modernidade. Se nela, o conceito de verdade pode ser liquido e não algo sólido como pontua Bauman, este é um ponto em que os pentecostais ficam distantes, pois a Bíblia é verdadeira em todas as suas proposições, aponta para a verdade e não pode ser relativizada.

No último capítulo, o autor propõe como a prática pentecostal do falar em línguas pode contribuir para a filosofia da linguagem. Nessa parte algo que me chamou muito atenção foi o reconhecimento das diferenças entre Lucas e Paulo, e até as distinções no próprio entendimento de Paulo da função do discurso em línguas. Em geral, os pentecostais reconhecem diferentes funções do discurso em línguas nas Escrituras e na prática, mas o que essas funções realmente são e como elas se relacionam com as práticas contemporâneas continua sendo uma questão muito discutida, tanto na igreja quanto na academia, muito embora muita coisa já tenha sido dita. Além do mais, as línguas para Smith, é um idioma de resistência, desenvolvendo dessa forma sua natureza sócio-política. Ele afirma:

“Como ação, uma das coisas que o falar em línguas faz é efetivar um tipo de resistência social aos futuros poderes. Ou talvez devêssemos dizer que o discurso em línguas é a linguagem das comunidades de fé marginalizadas pelos futuros poderes, e esse discurso pode ser indicativo de uma espécie de resistência escatológica aos poderes. Podemos dizer que o proletariado fala em línguas” (p. 147).

UMA PALAVRA PARA O FUTURO

            É claro que muita coisa que Smith disse poderia ser melhorada, mas para isso, as pessoas precisam primeiro entender o que foi dito. Mas será que os pentecostais brasileiros estão dispostos a dialogar?

         A verdade é que se quisermos de fato contribuir para o debate acerca de uma cosmovisão pentecostal, devemos primeiro compreender não somente o movimento em si, mas também o que os teólogos, teóricos, filósofos e apologistas pentecostais tem a dizer. Nos próximos 5 anos seremos bombardeados (graças a Deus) com uma produção em massa de obras sobre pentecostalismo, escrita por teólogos nacionais e internacionais. Dada a escassez de obras mais holísticas, será natural que muitas pessoas estranhem expressões e debates sobre ‘novos assuntos’ (ou assuntos desconhecidos), por assim dizer. Por isso, gostaria de deixar alguns conselhos aos meus queridos leitores:

            Não veja o pentecostalismo como um sistema fechado que fala uma única língua. O Pentecostalismo é um movimento plural, de muitas vozes. Muito embora tenhamos nossa própria identidade, existem aspectos do movimento que fazem parte da sua diversidade. Compreender a diversidade idiomática do movimento é crucial para crescer nos seus estudos e principalmente na prática.

      Não caia no engodo de achar que tudo que tinha para ser dito sobre o pentecostalismo, foi dito pelos pioneiros. Muitos pentecostais brasileiros estranham quando veem uma temática que foi ignorada pelos nossos teólogos antepassados como perigosa e suspeita. Mas na verdade, não podemos ver a coisa dessa forma, pois não somos um movimento estático. A nossa teologia está em movimento e na medida que os problemas mudam, a forma como se responde a cada um também muda e precisa estar à altura.  Sem falar que muitas das coisas que os pioneiros defenderam lá no início do movimento, hoje não é mais defendida pela maioria de nós, porque crescemos e evoluímos. O que vejo na tentativa de muitos que se apegam à tradição, é que eles selecionam apenas aquilo que lhes é comum e ignoram o restante do contexto. Obviamente, a nossa tradição é importante, mas não determinante.

    Cuidado com aqueles que nunca construíram nada para o pentecostalismo, mas que se dizem defensores do movimento. Estes, estão preocupados mais em fazer barulho do que em contribuir de fato para um debate saudável. Portanto, é muito comum que elas estejam mais preocupadas em rotular do que em dialogar. Sem falar que adotam posturas de militância, sensacionalismo e autoritarismo, além de ignorar ameaças iminentes mais urgentes ao movimento.

            Tenha senso crítico. Obviamente, você não pode concordar com qualquer coisa que você lê. Mas certifique-se que você primeiro compreendeu o que leu, a fim de não cometer injustiças em seus pronunciamentos.

            Tente encontrar unidade na diversidade. Aquilo que nos une deve ser maior do que aquilo que nos separa. Logo, mesmo que você não concorde com o que o outro diz acerca de um assunto, isso não quer dizer que ele é seu inimigo.  

            Enfim, se quisermos construir e contribuir para o debate acerca da cosmovisão pentecostal, devemos abraçar estes conselhos. Que Deus os abençoe!

31 de maio de 2020

"Não consigo respirar"- Até quando seremos omissos?




Por Everton Edvaldo

Nos últimos dias, viralizou pelo mundo o caso do assassinato do negro Gerge Floyd por um policial. Novamente, a pauta sobre o racismo voltou a estar em alta. Os extremismos logo começaram: vários negros revoltados e indignados destruíram e queimaram lojas, carros, dentre outras coisas. Nesse ínterim, a ala mais política e ideológica reaparece no cenário com mais força para implantar suas bandeiras. Esse não foi o primeiro caso de racismo, nem será o último, lamentavelmente, mas o meu texto é para lidar com uma coisa ainda mais grave: a omissão daqueles que se dizem ortodoxos, conservadores e bíblicos.

Em primeiro lugar, não é verdade que todos que são conservadores são omissos quanto a isso, existe um remanescente dentro desse nicho que tenta conscientizar os demais da importância desse tema. Mas esse remanescente é muito pequeno e inexpressivo e muitas vezes, é “sufocado” ou ignorado pela massa.

Em segundo lugar, o Cristianismo ainda nos dias de hoje tem deixado a desejar na forma como se relaciona com as questões sociais. Com exceção de alguns avanços que foram feitos historicamente nesses últimos 2000 anos, boa parte da preocupação dos cristãos até o século XVIII era com questões espirituais. Os poucos que ascenderam à status sociais, subiram ao poder e podendo fazer algo por causas justas, pouco fizeram, ou não fizeram nada. Obviamente, questões espirituais são importantes, mas estas não anulam as questões sociais que são implicações práticas da mesma. Por exemplo, a questão da escravidão foi discutida de forma efetiva tardiamente na história da igreja. É nos dias de John Wesley com sua luta abolicionista que as coisas começam a mudar. Várias outras questões como o papel da mulher na igreja e na sociedade foram simplesmente ignoradas e omitidas por muitos, e essa postura de se isentar dos problemas alimentou movimentos revolucionários, progressistas, feministas e ideológicos.

Em terceiro lugar, quem disse que para defender causas sociais eu preciso ser adepto de hermenêuticas sociais ou de ideologias políticas que não são conservadoras (como o esquerdismo, por exemplo)? É justamente por conta da nossa omissão que esses grupos crescem, ganham voz e espaço. Se nós estivéssemos cortando a nossa grama de forma efetiva, talvez o nosso quintal não estivesse tão entulhado. Sim meus amigos, um dos grandes responsáveis pela proliferação e captação de cristãos por esses movimentos mais reacionários são os próprios cristãos ditos conservadores que ao invés de tratar o problema à altura, terceiriza de forma indireta sua responsabilidade. Rotular, censurar e ser intolerante com esses grupos além de ser a forma mais estratégica de promove-los, viabiliza munições para que eles tenham sucesso em suas agendas.

Em quarto lugar, a pauta do oprimido, é uma pauta bíblica. Não é porque um cristão de esquerda a toma para si que faz dela menos bíblica. Obviamente, eu discordo da leitura que é feita por esse movimento, mas isso não faz da pauta menos importante. A pauta da injustiça social ou da desigualdade é real, e antes de ser de esquerda ou de direita, ela é um grito da humanidade, grito este já dado por muitos daqueles personagens que fizeram parte da Bíblia como os pobres, oprimidos, órfãos, mulheres, viúvas, estrangeiros, a quem Deus tanto amou, acolheu e amparou.

Em quinto lugar, o que aconteceu com George Floyd não está muito distante da nossa realidade. Nossas igrejas estão cheias de pessoas que não conseguem mais respirar, elas não aguentam mais! A omissão da igreja brasileira em muitos aspectos, contribui para que mais e mais pessoas sejam torturadas até a ‘morte’ (algumas físicas, inclusive). Por exemplo:

“Não consigo respirar” é o grito do casal de adolescentes que infelizmente, não tendo do seu pastor uma orientação sexual, um trabalho de mentoria/ instrução, cairá em fornicação, e será obrigado pela igreja a casar, não recebendo nenhum suporte e empurrando com a barriga um casamento que potencialmente já vai começar destruído.

“Não consigo respirar” é o grito da mulher que é agredida e violentada pelo esposo cristão e que quando busca ajuda na igreja, recebe o conselho de líderes e outras irmãs para orar por ele, ao invés de denunciar.

“Não consigo respirar” é o grito da pessoa que é cristã/salva que está passando por depressão que receberá reações de irmãos da igreja do tipo “isso é frescura,” “depois passa”, “isso é opressão demoníaca, vamos orar” e que se vier a cometer suicídio, ainda será julgada como alguém que não era cristã e que foi para o inferno.

“Não consigo respirar” é o grito das crianças que são abusadas por líderes/pastores de igrejas e até por pais cristãos, grito esse que muitas vezes é abafado pela instituição.

“Não consigo respirar” é o grito daquela pessoa que é cristã e que está lutando contra desejos homoafetivos e que será discriminada por seu jeito fora do padrão “heterossexual.”

“Não consigo respirar” é o grito daquele pai família cristão que dizima há 10 anos, mas que quando está desempregado, passando necessidade, a igreja simplesmente ignora e se brincar, ainda liga ‘cobrando’ o dízimo do mês.

“Não consigo respirar” é o grito daquela família que na igreja se comporta como se tudo estivesse bem, mas dentro de casa, vive um verdadeiro inferno.

“Não consigo respirar” é o grito daquela mulher que se for traída e pedir divórcio, será discriminada pela igreja.

Enfim, “não consigo respirar” não é somente o grito de um negro, é um grito de todos, é um grito de socorro que representa uma parcela de pessoas que estão simplesmente tendo seus problemas ignorados pela igreja contemporânea. Oro a Deus para que isso mude logo!

9 de maio de 2020

Afinal, Deus está ou não no controle de todas as coisas? Uma resposta a John Piper e Victor Azevedo


Por Everton Edvaldo

É comum em meio à qualquer caos (como guerras, pandemias, massacres terroristas), o tema da teodicéia ficar em alta. Afinal, se Deus é bom e todo poderoso, porque ele não acaba com o mal? Ou porque ele permite que pessoas de bem, sofram? Interessados nisso, muitos cristãos passam e estruturar suas próprias respostas para um problema que é dificílimo de responder, porque qualquer resposta não esgota a temática. Essa semana, em meio à Pandemia do COVID-19, fomos bombardeados por duas declarações extremas. 

A primeira de um teólogo cristão, sério e comprometido com a Palavra de Deus: John Piper. Para John Piper (que é calvinista), Deus controla tudo, a ponto de decretar todas as coisas (incluindo o mal), logo, até o Corona Vírus foi enviado por Deus. Não é de hoje que afirmações como essas, tem beirado a uma crença heterodoxa antiga chamada fatalismo. 

O fatalismo foi uma filosofia greco-romana segundo a qual todos acontecimentos são fixados com antecedência pelo destino. No Cristianismo, ele ganhou uma nova roupagem através de algumas figuras cristãs como Agostinho até os dias da reforma (com Calvino).

 No Calvinismo, a mão de Deus está em todas as coisas, a ponto de um Calvinista como Francisco Gomaro afirmar: "Deus move as línguas dos homens para blasfemar." Mas voltando ao caso de John Piper, não é a primeira vez que ele faz declarações desse tipo, em meio ao luto gritante do ataque terrorista à torres gêmeas em 2001, (que matou mais de 2.000 pessoas), ele chegou a dizer que foi Deus quem enviou o avião em direção às torres gêmeas, quando afirmou que o evento foi decretado por Deus. 

O que há de errado com a frase do Piper? Piper faz afirmações com base em passagens mal compreendidas das Escrituras.  É bem verdade que embora a Bíblia fale de decreto, determinação e do controle de Deus, não podemos concluir com isso que todas e cada uma das coisas sejam meticulosamente fixadas por Ele, muito menos concluir arbitrariamente a partir das passagens que falam do juízo de Deus sobre nações, que qualquer tragédia na humanidade, tenha o 'dedinho de Deus.'

 Por outro lado, nesses dias, tivemos uma declaração tão digna de repreensão quanto a do Piper. Foi dita por um influencer gospel chamado Victor Azevedo. Este jovem, que há um bom tempo tem blasfemado de Deus e mostrado seu descompromisso com a Bíblia, fez uma declaração desconfortante: Deus não está no controle de todas as coisas, logo, Ele não tem nada a ver com o COVID-19.Esta declaração também não é nova no mundo cristão, pois já aparece como um desdobramento da teologia do teísmo aberto. 

Ela também não se encaixa com a Bíblia, pois ela é clara em dizer que Deus governa, controla e é soberano. A verdade é que a Bíblia garante sim que Deus está no controle de tudo, mas não no retrato apresentado pelo Calvinismo. Deus não precisa decretar meticulosamente todas as coisas para ser soberano. 

Ele é Rei e SENHOR, inclusive sobre o mal e sobre o COVID-19, quer permitindo-o, quer enviando-o. O SENHOR continua no trono e de lá, ninguém lhe tira. 

8 de abril de 2020

4 Mitos sobre o Pentecostalismo


Por Everton Edvaldo

Leitura Bíblica: (Efésios 4.15).

Introdução: No começo do século XX, o título “Pentecostal” era usado para se referir com menosprezo aos que buscavam viver uma vida de santidade e pureza. Segundo Elienai Cabral, o termo, "era relegado a um tratamento de menosprezo e discriminação." (CABRAL, p. 65). Porque isto aconteceu? Simples, a razão é que houve uma reação contrária ao Movimento Pentecostal por parte daqueles cristãos mais tradicionais e que não estavam dispostos a conhecerem de perto, o Mover de Deus. Lamentavelmente, os anos se passaram, e esses cristãos foram criando falácias e mitos a respeito do Movimento Pentecostal. A palestra de hoje, tem como foco principal, a apologia da nossa herança, desfazendo algumas dessas mentiras e mostrando a verdade. Veremos 4 mitos, aproveitando cada tópico, para fortalecermos a nossa fé.

I-  O PENTECOSTALISMO COLOCA AS EXPERIÊNCIAS NO MESMO PATAMAR DAS ESCRITURAS, E EM ALGUNS CASOS, ATÉ ACIMA...

Um dos primeiros mitos e espantalhos com relação ao Pentecostalismo, é que este não reconhece devidamente a supremacia das Escrituras acima de qualquer coisa. Isto acontece, em geral, por algumas razões. Primeiro, no Pentecostalismo, as experiências ocupam um lugar importante, ao qual nenhum outro sistema assim o faz. Segundo, alguns líderes simpatizantes do Pentecostalismo de fato colocam as experiências de pé de igualdade com as Escrituras.
Todavia, esse tipo de argumentação é falaciosa e não se sustenta à luz da verdade. O Pentecostalismo enxerga com importância as experiências porque a Bíblia, assim também o faz. Se a Bíblia ensinasse o contrário, não haveria porque os Pentecostais creem no que creem. A Bíblia está repleta de experiências; e aqui, já quero deixar claro a natureza dessas experiências: são experiências com Deus, obras divinas, intervenções, sinais, curas e manifestações do Espírito. De fato, em nenhum outro sistema atual você verá mais manifestações invisíveis e visíveis do Espírito Santo do que no Movimento Pentecostal, isto porque acreditamos que as experiências são importantes, porém, ser importante, não é estar no mesmo nível, nem acima de.
O Pentecostalismo dá muita ênfase ao Espírito Santo como atuante principal desta era, no entanto, faz isso dentro dos parâmetros bíblicos. Os Evangelhos estão repletos de sinais, curas, conversões, etc. Em Atos dos apóstolos, tais manifestações se intensificam. Temos pessoas sendo batizadas no Espírito Santo, falando em línguas, tendo revelações, no entanto, com uma profunda vida de oração e consagração a Deus!
Por outro lado, o Pentecostalismo reconhece e vive a plena autoridade das Escrituras sobre tudo e todos. Nenhum outro livro se equipara à Bíblia. Nenhuma revelação divina que tenha sido extra-bíblica é superior ou está no mesmo nível que a Palavra de Deus. Isto porque ela é a regra de fé para todos os salvos em Cristo, enquanto que qualquer outra revelação divina, pode ser normativa para uns e outros não.
Ainda que alguém que se declare Pentecostal faça isto, ou seja, colocar uma revelação no mesmo nível das Escrituras, não deve-se concluir que o Pentecostalismo é quem ensina isso. No mínimo, isto significa que este Pentecostal está indo além do que sua herança ensina. O erro de um, ou de alguns, não deve ser atribuído a todo o Movimento.
Os pioneiros do Movimento Pentecostal sempre tiveram um apreço enorme pela Bíblia Sagrada. Eram homens de Deus, de oração e de leitura bíblica, embora nem todos fossem teólogos ilustres.
Outra questão que deve ser abordada, é a de pessoas simpatizantes do Movimento Pentecostal. Algumas delas, são neopentecostais, participam de uma vertente tardia e estranha ao Pentecostalismo Clássico. Pois bem, os excessos e os distanciamentos teológicos por parte de alguns, não constituem um motivo para afirmar que o Pentecostalismo ensina coisas antibíblicas. Até porque, pessoas heréticas, isto é, que se distanciam da verdade para o erro, são reais em qualquer sistema teológico.
A verdade é que o verdadeiro Pentecostalismo coloca as experiências no seu devido lugar, mas sem macular ou quebrar o princípio do Sola Scriptura.
Comentando a respeito deste assunto, afirma o teólogo Pentecostal:

"Não como negar que o movimento pentecostal como um todo forte ênfase à experiência, mas destacar a experiência com Deus não é mesmo que colocá-la acima das Escrituras. O problema com o pentecostalismo carismático é que nele a experiência é posta em pé de igualdade com a Bíblia." (GONÇALVES, p. 100).
Isso nos alerta para tomarmos cuidado com aqueles pentecostais individuais que de alguma forma fazem tais coisas. Deveremos repudiar fortemente tais práticas.

II-  O PENTECOSTALISMO NÃO TEM NENHUM TIPO DE LIGAÇÃO COM A REFORMA PROTESTANTE, POR ISSO DEVE SER EVITADO.

É tendência moderna, evitar o Pentecostalismo por acreditar que este Movimento é alheio aos princípios da Reforma Protestante. Vejo todos os dias, jovens cristãos que se encantam com a teologia reformada a ponto de não querer nenhum contato com a produção teológica Pentecostal. Na verdade, esse tipo de mito, ganha cada vez mais credibilidade porque os jovens cristãos estão sendo bombardeados por movimentos estranhos que não são Pentecostais em sua essência, mas estão sendo plantados nas igrejas Pentecostais. Sem saber como reagir, muitos desses jovens, optam por abraçar a teologia reformada e seus desdobramentos. Assim, em vez de conhecerem suas raízes, abraçam não só a teologia reformada, como também os excessos que esta também trouxe e acabam por repudiar qualquer coisa que esteja associada ao Pentecostalismo.
Sem falar que entre os títulos “Reformado” e “Pentecostal”, se classificar como Reformado tem menos resistência aqui no Brasil. Dependendo da região, se você se diz Pentecostal, as pessoas te olham com outros olhos. Infelizmente, entre alguns cristãos tradicionais, o Pentecostalismo se tornou sinônimo de algo que não é bom para a igreja.
O que acontece é que um abismo foi criado entre a Reforma e o Pentecostalismo, quando na verdade, esse abismo não existe.
O pastor peruano e teólogo Pentecostal Bernardo Campos se posiciona em relação a esse assunto da seguinte forma, ele pergunta: "Qual a relação que se pode estabelecer entre o pentecostalismo atual e a Reforma Protestante do século XVI?" Ele responde:


"Num sentido histórico e social, o pentecostalismo é uma parte do protestantismo herdado da Reforma. De fato, muitos o reconhecem como um protestantismo popular e o diferenciam do protestantismo 'histórico'- termo sob todos os aspectos impreciso, porque o pentecostalismo não é a- histórico de modo algum- ou do 'velho' protestaram o, como costumava dizer Troeltsch. O pentecostalismo, assim como a maioria das igrejas evangélicas da América Latina e do Caribe, é herdeiro -em diversas vertentes- da teologia e da vida da ampla e completa Reforma Protestante." (Apud GONÇALVES, p. 17).
Eu costumo dizer que o Movimento Pentecostal trouxe dinamismo divino para as comunidades cristãs de todo o globo terra. No Pentecostalismo, os cinco princípios da reforma Protestante são valorizados e vividos. Ou seja, existe sim uma ligação entre ambos. Claro, não estamos dizendo que para que isso seja verdade, o Pentecostal precisa crer em tudo quanto ensinou Lutero, Calvino ou Zwiguio. Jamais, até porque eles mesmos divergiam entre si, mas dizemos isto argumentando e situando o Pentecostalismo como um movimento genuinamente bíblico dentro do protestantismo.
É importante enfatizar que também existem cristãos que não são Pentecostais, mas que não desprezam esse movimento. Por exemplo, no século XX, o pastor Roberto P. Shuler da igreja metodista em Los Angeles, escreveu um artigo honrando o povo Pentecostal. Ele diz:
"A grande Igreja Metodista por dois séculos foi uma chama viva; agora ficou estéril e sem fruto espiritual. Seus altares estão vazios e muitos destruídos. Um culto católico romano substitui o avivamento em muitas igrejas metodistas. O mesmo tem acontecido aos batistas no norte, aos presbiterianos e a outros corpos eclesiásticos. Ocupam-se em grandes empreendimentos visando a movimentos de caráter mundial. O fogo se apagou nos seus altares. Estão frios, sem vida, cheios de formalismo, mortos. Mas o pentecostais e outros grupos semelhantes estão em marcha. Estão ganhando conversos. Em toda parte constroem templos. Muitos se entregam a Jesus. São movimentos de crescimento rápido nos nossos dias trágicos." (MESQUITA, p. 23).

III-  PENTECOSTALISMO É SINÔNIMO DE ANALFABETISMO BÍBLICO.




Um dia desses, fui visitar uma igreja presbiteriana, e no final do culto, fiquei com alguns amigos para comer alguma coisa. Nesse ínterim de tempo, pude notar que os cristãos tradicionais que estavam ali, não viam com bons olhos a tradição Pentecostal. Eles riam e brincavam com algumas coisas da nossa nossa herança. Geralmente, esse tipo de situação acontece fora dos círculos pentecostais. O Pentecostalismo tem sido encarado na prática, como um sistema que não estimula o estudo contínuo e progressivo das Sagradas Escrituras, que espiritualiza tudo e não dá tanto crédito à exposição bíblica. Gostaria de pontuar algumas coisas sobre isso:
Primeiro, o verdadeiro Pentecostalismo é comprometido com o estudo das Sagradas Escrituras. Vemos isso tanto nos pioneiros, como nos cristãos Pentecostais atuais.
Segundo, no verdadeiro Pentecostalismo há teólogos tão bom quanto teólogos que não são Pentecostais, se não melhores! Existem jovens Pentecostais que dão prioridade à compra de livros reformados que em geral, ensinam coisas contrárias ao Pentecostalismo. Tais pessoas, acabam confundindo a mente e pensando que só na literatura rígida reformada existe verdade. Que engano! Se lessem livros Pentecostais, viriam o quanto a nossa herança é rica e viva!
Terceiro, a literatura Pentecostal é intensa e alcança não só no meio acadêmico mas também aqueles pentecostais simples e que não tiveram oportunidade de estudar. Isso é feito através de jornais, periódicos, seminários, EBDs, cultos de doutrina/ensino, etc.
Lembro-me de como comecei o meu amor pelo Pentecostalismo. Primeiro, foi lendo a Bíblia, quando terminei de lê-la pela terceira vez, senti a necessidade de estudar mais à fundo algumas coisas. Nessa época, já era aluno de EBD, mas ao invés de ficar apenas preso ao conteúdo da lição daquele trimestre, comprava outras lições e materiais para estudo. Depois, as lições eram pequenas demais, para minha sede de conhecimento. Passei a comprar livros Pentecostais e cada vez mais, meu amor ia crescendo e se intensificando. Autores como: Severino Pedro, Ciro Sanches Zibordi, Elienai Cabral, Elinaldo Renovato, Antônio Gilberto, Claudionor de Andrade, José Gonçalves, e tantos outros, fizeram parte do meu referencial de estudo.
Quarto, existe sim alguns pentecostais que não possuem um nível de conhecimento bíblico bom suficiente para fazer uma exposição das



principais doutrinas da Bíblia, todavia, isso não significa que o Pentecostalismo leva a isso. Por exemplo, tal realidade pode significar que este pentecostal (especificamente), não tem interesse ou que as várias circunstâncias da vida, não lhe propiciou tempo ou disposição adequada para entender bem aquilo que a Bíblia ensina.
Claro, temos muito o que melhorar ainda na área do conhecimento bíblico. Porém, qual é o cristão que não tem melhorar em alguma área não é mesmo? Estamos trabalhando para que todos venham tornar-se ávidos conhecedores do manual cristão. Pois bem jovem, hoje te convido para fazer parte daqueles que dão o seu melhor no estudo bíblico, na EBD, nos cultos de instrução, etc.

IV-  NÃO EXISTE CRESCIMENTO SAUDÁVEL NAS IGREJAS PENTECOSTAIS.

As igrejas pentecostais tem seus problemas e desafios como qualquer uma outra. Usar isso para afirmar que não existe crescimento saudável dentro delas, é um mito. Fruto do intenso trabalho missionário, as igrejas pentecostais crescem muito rápido. Isto é um fato! Onde a mensagem Pentecostal chega, vidas se rendem Cristo e passam a congregar. Em pouco tempo, nasce a necessidade de plantar uma congregação ali. Dessa forma, dezenas ou centenas de congregações vão surgindo naquele lugar. Esse tipo de repercussão, faz com que muita gente pense de forma negativa a respeito desse crescimento.
Primeiro, precisamos entender porquê as igrejas Pentecostais crescem! O crescimento é o próprio resultado do Pentecostes divino! Isto é o que vemos em Atos 2.41. Sem falar que as igrejas Pentecostais levam a sério a Grande comissão (Mt 28.18-20) e o ide de Cristo (Mc 16.15-18; At 1.8). Ganhar almas é uma das principais missões das igrejas Pentecostais.
Robert P. Menzies, enumera algumas razões desse crescimento. Por exemplo, Menzies elucida que as igrejas Pentecostais possuem DNA missional, uma mensagem clara, prodígios e sinais. (MENZIES, p. 95-102).
Diferente do que muitos pensam, esse crescimento acontece sim de forma saudável. Em qualquer igreja pentecostal séria, encontraremos crentes altamente engajados numa vida de santidade e comunhão com Deus, uma boa estrutura ministerial-eclesiástica (porém não perfeita), louvor e adoração, a prática das ordenanças do culto cristão (isto é, a Santa Ceia e o batismo nas águas) e acima de tudo, um bom e sisudo ensino da Palavra de



Deus. Tais coisas, de forma alguma, traz enfermidade para o corpo de Cristo, pelo contrário, traz saúde, vigor e jovialidade.
É dessa forma que crescemos e não ensinando Teologia da Prosperidade, confissão positiva, Maldição Hereditária, praticando exorcismos, entre tantas outras coisas que o neopentecostalismo faz.
Conclusão: A Bíblia nos ensina constantemente a andarmos com a verdade na boca e principalmente, no coração. Não podemos deixar que essas mentiras continuem sendo propagadas a respeito do Pentecostalismo. O Movimento Pentecostal é tão genuíno quanto qualquer outro mover de Deus na história! É claro que os homens que Deus usou e usa, são falhos e muitas vezes, acabam manchando algum ponto da sua trajetória, porém, isso impede o poder do Espírito Santo de continuar operando. Como disse o meu Pastor Presidente relatando o seu testemunho: "Deus nunca erra, mas o vaso é de barro." Homens são falhos, mas Deus não! Ele usa pessoas, porém, essas pessoas são falhas e claro que deixam sua marca em qualquer coisa que fazem. Contudo, acima destas coisas, o Movimento Pentecostal tem crescido de forma gloriosa e poderosa. Deus tem abençoado o seu povo e quer se utilizar de mim e de você para estarmos também engajados nesta causa. Estais dispostos a ir onde o SENHOR te mandar? Que Deus nos ajude e estarmos no centro da Sua vontade e contemplarmos o Seu tão grande campo de trabalho que o Movimento Pentecostal tem aberto para nós!

Bibliografia:

GONÇALVES, José. Rastros de Fogo. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.

MENZIES, Robert P. Pentecostes- Essa História é a nossa História. Rio de Janeiro: CPAD, 2016.

MESQUITA, Antônio. Artigos Históricos Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.