24 de maio de 2018

A queda de Jericó


Por Everton Edvaldo

Leitura Bíblica: (Josué 6.1-27).

Introdução: O relato da conquista de Jericó é mais permeado de lições do que possamos imaginar. Isto porque nessa passagem da Bíblia, tão comumente pregada nas igrejas, podemos ver o quanto Deus estava engajado para dar a terra de Canaã a seu povo, a saber: Israel. Esta cidade, que tem sido alvo de controvérsias históricas e arqueológicas, um dia foi alvo da ação providencial de Deus. A Conquista de Jericó é pré-anunciada em Josué 5.13-6.2 e é um evento que precede todas as outras conquistas descritas no livro de Josué. No estudo de hoje, veremos qual o contexto histórico presente naquela época, bem como o que aconteceu e de que forma isso traz impacto para nossas vidas. Faremos isso debaixo da graça de Deus, trazendo ao longo de todo o estudo, informações valiosas e aplicações espirituais e práticas. Boa leitura!

I- CONTEXTO HISTÓRICO:

Como toda passagem das Escrituras, esse relato em Josué 6 não deve ser lido, à parte do contexto histórico e bíblico da época. Isto significa que "a conquista de Jericó" não é uma ação de mero "capricho" de Deus. Existe uma causa para Deus ter entregado Jericó nas mãos de Josué e do povo de Israel, mas antes, permita-me falar brevemente sobre o contexto histórico e cultural, para depois disso, entrarmos nos detalhes e aplicações da passagem.

1. Finalmente às "portas" de Canaã! Este era o cenário de Israel nos dias de Josué. Uma nova geração, um novo líder, uma nova terra e obviamente, novos desafios. 

Tudo começa com Deus levantando e encorajando Josué a fazer o povo de Israel tomar posse da terra de Canaã¹. Então Josué prepara o povo para passar o Jordão. Depois disso, ele sabiamente envia espias que foram observar a cidade de Jericó. No retorno dos espias, um relatório da terra é transmitido a Josué e ele os faz atravessar o rio Jordão.

Acontece que os reis amorreus e cananeus estavam morrendo de medo , sem ânimo por causa dos israelitas (Josué 5.1,2). Então os israelitas se circuncidaram e celebraram a páscoa. É nesse contexto, que um ser celestial aparece a Josué e ordena que este conquiste a cidade de Jericó.

2. Jericó, que cidade era esta? Localizada às margens do rio Jordão, Jericó é considerada por boa parte dos estudiosos, como sendo a cidade mais antiga do mundo (9.000 a.c).² Nos dias de Josué, era habitada por cananeus e tinha uma infra-estrutura bastante organizada e definida. A Bíblia não diz a quantidade de pessoas que residiam em Jericó, mas deixa bem claro que ela era uma fortaleza. Logo, supõe-se que esta cidade abrigava um bom número de pessoas, pois, fortalezas eram formadas para proteger de possíveis inimigos futuros, a cidade, a população e o patrimônio individual e coletivo, algo que não precisaria se Jericó fosse um povoado ou aldeia com uma pequena população.

Segundo Donald K. Campbell "Na época [de Josué], a cidade de Jericó ocupava uma área de cerca de quarenta mil metros quadrados (200 x 200 metros), e eram necessários menos de trinta minutos para circundar a cidade”  (apud CHAMPIN, p. 921).


Diferente  de um simples povoado, Jericó tinha um rei, e homens guerreiros (essa expressão traz consigo a ideia de que eles eram experimentados em guerras). O erudito R.N. Champlin nos informa que "Jericó tinha um forte rei vassalo e homens valentes, que em si mesmos eram matadores experimentados e brutais ..." (CHAMPLIN, p. 920).

A situação moral. Jericó era a primeira e talvez a pior de todas as cidades de Canaã. 

3. A aparição do ser celestial. A Bíblia fala que estando Josué à frente de Jericó, apareceu-lhe um ser afirmando ser comandante do exército do SENHOR (cf. Josué 5.13-15). A partir daí, começa um diálogo que desencadeia numa série de instruções dadas pelo comandante à Josué. Interessante que Josué demostrou coragem ao ir ao seu encontro. Lembre-se que Deus havia dito a ele:

"Seja forte e corajoso, porque você conduzirá esse povo para herdar a terra que prometi sob juramento aos seus antepassados. Somente seja forte e muito corajoso!" (Josué 1.6,7).

Às margens de Jericó, Josué é um homem de coragem! Reflita comigo: poderia ter sido ali um dos soldados de Jericó, vindo para afrontá-lo ou até mesmo matá-lo. Mesmo não sabendo quem e de onde era este ser, Josué foi ousado ao ir ao seu encontro. Resultado: ele vê diante de si o príncipe do exército do SENHOR.³

Henry faz uma observação bastante pertinente quando diz: ''Até aqui, temos observado Deus falando com frequência a Josué, mas não lemos, até esse ponto, acerca de qualquer aparição da glória de Deus a ele. Agora que suas dificuldades aumentaram, seu ânimo aumentou proporcionalmente.'' (HENRY p. 22). Ou seja, Josué não desanima quando as dificuldades aumentaram. Isto, certamente, é um exemplo a ser seguido.


Bem, o que Josué estava fazendo à frente de Jericó? Não sabemos, a Bíblia não diz! Apesar disso, Matthew Henry especula:

"Lá, pelo que parece, ele estava sozinho, destemido de qualquer perigo, porque estava seguro da proteção divina. Lá, ele estava (alguns pensam) meditando e orando. E àqueles que estão envolvidos dessa forma, Deus freqüentemente se manifesta de maneira graciosa. Ou talvez ele lá estivesse dando uma olhada na cidade, para observar suas fortificações e planejar como atacá-la. E talvez ele estivesse absorvido em como conquistar a cidade, quando Deus veio e o orientou." (HENRY, p. 22).

No tempo presente, enfrentamos batalhas e dificuldades todos dias. Todavia, ter coragem é imprescindível para quem deseja chegar no fim da luta tendo êxito. Quem é corajoso tem outra visão acerca dos problemas! Ele não se sente intimidado e desesperançado diante das barreiras, mas constantemente, tem a percepção de que a solução está no SENHOR. Na caminha com Deus, a coragem nos leva para novos horizontes.

Continuando, quando Josué soube quem era o ser que havia aparecido a ele, pergunta: Que mensagem o meu senhor tem para o seu servo?" (v. 14). Ao dizer isto, fica claro que além de corajoso, Josué tinha outras virtudes como: humildade e submissão. Era ele que naquele momento era o líder de Israel, o seu general. Contudo, não demorou muito para perceber que acima de si, havia um comandante supremo. O general da terra tinha um general do céu ao seu favor. Isso faria toda a diferença no futuro da nação de Israel.

II. DEUS DÁ AS COORDENADAS.

1. Jericó estava fechada.

Em Josué 6.1, o autor do livro começa descrevendo que Jericó estava rigorosamente fechada. O motivo era por causa dos filhos de Israel e como resultado, ninguém saía nem entrava.


Segundo o Comentário Bíblico Beacon, Jericó "operava na base de que se os portões fossem cuidadosamente guardados, Israel seria incapaz de entrar na cidade. Cerrada tem o sentido de “fechada”. O termo abrange a ideia de que os portões estavam fortemente trancados." (BEACON p. 40).


Imagine a cena: O rei manda os soldados trancarem a cidade. Os habitantes se desesperam! Quem está fora não entra, e quem está dentro não sai. Só restava uma esperança: ficar debaixo da proteção dos muros da cidade. Eles tinham certeza de que enquanto elas estivessem de pé, a segurança estaria garantida. Isto significa que toda expectativa de salvação havia sido projetada na força das suas muralhas. Ao fechar a cidade, o rei pensou que evitaria um possível e futuro "desespero público".


Champlin comenta: "Ninguém podia entrar ou sair da cidade, a fim de dificultar ao máximo a conquista por parte dos filhos de Israel. A defesa da cidade era tão absoluta que somente a perda de um grande número de vidas poderia resultar na conquista da cidade fortificada. (...) Os Targuns dizem-nos que os portões de Jericó eram fortificados com barras de ferro e de bronze." (CHAMPLIN p. 920).


2. Deus entrega Jericó a Josué.

"Então o Senhor disse a Josué: "Saiba que entreguei nas suas mãos Jericó, seu rei e seus homens de guerra." (v. 2)


Vejamos o que Deus entregou a Josué:


a) "Jericó". A cidade onde está o povo e as muralhas.


b)"o rei". A maior autoridade, liderança e poder da cidade e do povo.


c) "os seus guerreiros", isto é, o exército, a força física e militar da cidade.


Podemos perceber que o rei e o exército de Jericó compunham as "defesas humanas e físicas", enquanto que as muralhas representavam as "defesas materiais". Juntos, eles formavam "a cidade de Jericó". Ao dizer que estava entregando  nas mãos de Josué, Jericó, o rei e seus guerreiros,  Deus estava dando a certeza de que a vitória seria completa/total e não parcial, isto é, nenhum tipo de defesa, recurso e socorro da cidade resistiria ao poder de Deus.


Outro detalhe interessante que podemos notar aqui é que a vitória já estava entregue à Josué, todavia, efetivamente, eles só iriam desfrutá-la depois de 7 dias, ou seja, no tempo determinado pelo SENHOR. Isto significa que embora o resultado não viesse de imediato, a vitória já era certa! Na vida cristã, muitas vezes não vemos de imediato, o resultado, a concretização das bençãos e vitórias do SENHOR na nossa vida, porém, isso não se constitui um motivo para desanimarmos e desfalecermos na fé. Devemos entender que embora Deus seja atemporal, (ou seja, esteja fora do tempo humano e de forma alguma está sujeito à ele), não abre mão de utilizar o tempo humano para  cumprir seus  objetivos e propósitos. Se Deus disse que a vitória só seria desfrutada após "7 dias", não espere que isso seja cumprido no "terceiro, quarto ou quinto dia". O SENHOR sabe como trabalhar na vida dos Seus e também costuma usar o tempo para moldar e amadurecer a nossa paciência. Se Deus desse resposta imediata a todos os nossos problemas, certamente, o nosso íntimo cairia numa mesmice de vida com prejuízos irreparáveis e incalculáveis, difíceis até mesmo de enumerar aqui. Por isso, fiquemos cientes de que Deus trabalha no mínimo, com três tipos de resultados no tempo: a curto prazo, médio prazo e longo prazo. Seja lá qual seja o prazo que Deus determinou para que você desfrutasse de uma benção, o importante é que: "... em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou." (Romanos 8.37).


Continuando, o príncipe do exército do SENHOR começa a dar as coordenadas a Josué um dia antes da investida. Todas as recomendações, instruções e estratégias necessárias são transmitidas a Josué para que este repassasse ao povo (4). Não havia muito tempo para que o povo de Israel se preparasse fisicamente, psicologicamente e espiritualmente. Entretanto, o Deus que já havia garantido a vitória estava cuidando de tudo. Aqui podemos extrair uma lição para nós: Deus não costuma ordenar para irmos à guerra, sem antes nos dá instruções, estratégias e planos. Existe uma ação prévia de Deus em nós! Uma das piores coisas que pode acontecer na vida de um militar, é entrar num confronto sem um plano, ou aplicar na batalha um plano próprio (
que pode ter falhas e na maioria das vezes, é projetado apenas para si próprio e não traz resultado para todos os guerreiro) e não do seu superior (que tem uma visão bem mais abrangente e corporativa). Por isso, bom é entrar na guerra com os planos do SENHOR!

III- RODEAR A CIDADE CONTORNANDO-A UMA VEZ POR DIA, DURANTE 6 DIAS:


"Marche uma vez ao redor da cidade, com todos os homens armados. Faça isso durante seis dias. (v 3).


Agora são dadas as recomendações diretas (5). Neste versículo, Deus diz o que Seu povo deveria fazer. Veja que interessante, Deus poderia ter destruído Jericó sem exigir nada de Seu povo, porém, Ele não fez assim. Existia uma pluralidade de possibilidades onde Deus acabaria com Jericó (sem precisar de Israel) num piscar de olhos. Por exemplo: 


- Deus podia ter matado o rei

- Deus podia ter matado o exército do rei e o povo

- Deus podia ter incendiado a cidade

- Deus podia ter feito com que o terremoto destruísse tanto as muralhas, quanto matasse toda a população de Jericó.

Contudo, a realidade foi totalmente outra, pois Deus não fez nada disso, pelo contrário, Ele contou com a participação do Seu povo. Isso evidencia que não existe uma fórmula a qual Deus está preso na qual tenha que trabalhar sempre de uma única forma/maneira. Ele também usa Seu povo para manisfestar a sua própria glória. (6)

Outra coisa que podemos observar é que Deus não pede algo que esteja além das forças dos israelitas. Isto é, tudo que Deus pede a nós, é porque podemos, temos estrutura e condições de fazer. Sim, Deus só exige de nós o que podemos fazer. O impossível fica com Ele!

Prosseguindo com nosso estudo, uma das coisas que o povo deveria fazer era rodear a cidade (7), contornando-a por 6 dias. Conforme já vimos outrora, existe um tempo/ uma constante em que o povo deveria fazer isso. Esse tempo foi determinado pelo SENHOR. A participação do povo (especificamente dos homens de guerra) era em contornar a cidade e segundo o Comentário Bíblico Beacon, isso significa "cercar totalmente a cidade." (BEACON, p. 40). 


Observe: eles deveriam contornar o obstáculo que estava à sua frente. Esse é um dos primeiros passos, para quem deseja se apropriar da vitória do SENHOR. Se por enquanto não existem ou você não consegue visualizar as aberturas (como no caso de Jericó que estava totalmente fechada), a alternativa é contornar os problemas, dificuldades e desafios que estejam à sua frente. Esse tipo de atitude é um exercício que requer paciência, fé e coragem. Talvez você não tenha expectativa de chegar até o fim e de ter em suas mãos aquilo que Deus tem para você, porque acredita que a oportunidade não é real enquanto as portas estiverem fechadas, mas essa passagem de Josué nos mostra que contornar também é uma oportunidade! Aliás, são várias: oportunidade de não desistir/dar meia volta, de não se acomodar, de mostrar que confia no SENHOR, etc.



IV- O ENIGMA DOS QUATRO SETES:

"Sete sacerdotes levarão sete trombetas de chifre de carneiro adiante da arca; e no sétimo dia rodeareis a cidade sete vezes, e os sacerdotes tocarão as trombetas." (v. 4). (8)

Perceba que Deus diz:

• Quem deveria fazer isso (7 sacerdotes).

• O tempo (7 dias);

• A frequência (7x);

• O que eles deveriam levar (7 trombetas).

Ou seja, Deus diz o que eles vão levar, a quantidade, o que deveriam fazer e até o tempo. Este versículo está repleto de significados e aplicações. Por exemplo:

• Deus também tem Seus planos para nós

• Ele faz questão de revelar Seus planos para nós.

• Ele conta com nossa obediência para acatar o plano e executá-lo.

1- Os 7 sacerdotes:

Na época em que esse episódio aconteceu, haviam três grupos no meio do povo de Israel: os sacerdotes, os homens de guerra e o restante do povo. Os sacerdotes representam a liderança e a parte mais espiritual do povo, enquanto que os homens de guerra representam a força física de Israel. Interessante que Deus conta com todos os três grupos e tem um papel para cada um, mesmo não precisando efetivamente de nenhum deles.

Após ter dito qual seria o papel dos homens de guerra no versículo 3, Deus agora fala qual é o papel dos sacerdotes. Eles deveriam tocar as trombetas e levar  arca do SENHOR. (9)

Segundo Craig Keener:

"Os sacerdotes eram necessários para manter a santidade da arca. Seu papel era fundamental porque lembravam ao povo que a batalha era de Yahweh e não dos israelitas. ( KEENER p. 280).

Eles representavam a majestade divina diante do povo, e o povo diante de Deus. A presença de sacerdotes naquele contexto significava que Deus estava conduzindo Seu povo.

Porque "7"? A Bíblia não é clara nesta passagem quanto a isso, todavia inferimos a partir de outras passagens bíblicas, que nesta época, esse número já vinha ganhando um significado enorme entre o povo de Israel, e simbolizava a completude, a perfeição a exatidão divina.

Aqui as Escrituras nos mostra Deus trabalhando com a liderança do seu povo, em conjunto com eles.

2- As sete trombetas:

Segundo o Comentário Histórico-Cultural do Antigo Testamento:

"A trombeta mencionada aqui era feita de chifre de carneiro (shofar). O shofar era capaz de produzir uma variedade de sons, mas não tocava uma melodia; assim era usado primordialmente para emitir sons tanto na adoração como na guerra. O chifre de carneiro era amolecido na água quente, entornado e achatado para emitir sons diferentes." (KEENER p. 280-281).

Moody também explica:

" Sete trombetas de chifres de camelos. Literalmente, sete trombetas do jubileu. O hebraico yobel ("chifre de carneiro"), de origem incerta, foi usado pela primeira vez em Êx. 19:13, antes mesmo das referências feitas ao ano do jubileu (Lv. 25:8-54; 27:17-24; Nm. 36:4); parece ter um significado religioso-cerimonial, anunciando a chegada de Jeová como Rei, quer para o Seu povo a fim de completar Sua aliança ou para proclamar remissão e liberdade ..." (MOODY p. 20).

Já "James Millar destaca que “a verdadeira buzina de chifre de carneiro era reservada para certos propósitos. Ela possuía um sonido alto e penetrante, tinha uma extensão limitada e era totalmente inadequada para uma apresentação musical. Era usada para chamar a atenção do povo e para dar sinais”. Desse modo, todas as pessoas de Jericó ouviram o guincho agudo daquele instrumento e sabiam do seu propósito." (Apud BEACON p. 40, 41).

Ao rodear a cidade, tocando as trombetas, a presença física deles se tornaria um espetáculo de som e imagem. Assim como a trombeta era um recurso a ser utilizado naquela circunstância e para aquele propósito, em determinados momentos da nossa vida, Deus nos incumbe de "tocar trombeta" diante das adversidades. Esse ato significa que estamos fazendo alguma coisa, que estamos tendo atitude, etc.  

Detalhe: os sacerdotes deveriam fazer isso adiante da arca (10), ou seja, na frente dela. No versículo 7, a Bíblia vai dizer que além desses 7 sacerdotes, os homens armados também iam adiante da arca. Ao que tudo indica, a arca ficou no meio do arraial, entre os sacerdotes /homens armados (vanguarda) (11) e a retaguarda. Esse talvez seja um dos únicos casos da Bíblia, em que a arca foi conduzida pelo meio do povo, pois geralmente, a arca ia na frente, haja vista que não era costume ficar no meio, muito menos atrás. Isto tem uma aplicação profunda para nós! Partindo do pressuposto de que a arca simboliza a presença de Deus, assim como nesta passagem, a presença de Deus nunca deve estar em último lugar na nossa vida, mas constantemente na frente ou no meio/centro. Este é o segredo de quem quer ter uma vida vitoriosa.

3. No sétimo dia. Alguns judeus dirão que o sétimo dia, caiu justamente no sábado, todavia, isso é algo que não está explícito no texto bíblico. De qualquer forma, existe algo interessante aqui que é digno de nossa atenção. O sábado caiu em algum desses dias, seja no sétimo ou não, e o povo teve que executar as ordens de Deus mesmo no dia que caiu no sábado, ao qual deveriam descansar e guardá-lo segundo a lei. Todavia, aqui vemos um caso de exceção à regra, onde o próprio Deus determina que eles façam algo no dia que deveriam descansar. Só Deus tem esse poder, isto é, de nos pedir que façamos algo justamente num tempo em que não é favorável que façamos isso.

4. Sete vezes. Ou seja, eles deveriam rodear a cidade sete vezes no sétimo dia. Até lá, teriam que guardar fôlego para o último dia, onde a empreitada seria mais agitada e movimentada. O melhor, e neste caso, a parte mais trabalhosa estava no final. Refletindo sobre isso, podemos concluir que existem batalhas em que o final será mais trabalhoso e até lá, é bom que conservemos intacta a nossa fé e paciência. Geralmente, quanto mais perto chegamos de desfrutar da vitória, mais trabalhosa a nossa jornada fica.

Sobre essas coisas o Comentário Bíblico Beacon explica:

"A ordem dos eventos provavelmente não fazia sentido para os habitantes não arrependidos de Jericó. Diante deles passaram os homens de Deus armados, os sacerdotes com trombetas, a arca do concerto e a retaguarda muda (8-10). Mui provavelmente esses acontecimentos confundiram os defensores de Jericó, mas os obedientes israelitas sabiam o que faziam e para quem o realizavam. Talvez eles não tivessem plena compreensão da razão pela qual esse padrão deveria ser seguido e não havia demonstração de que desejavam saber as razões. Mas eles estavam convencidos de que o jeito de Deus seria vitorioso." (BEACON, p.40).

O jeito de Deus era justamente o plano divino que além de ser estranho à princípio, descartava muitos dos recursos que era esperado que se utilizasse numa invasão! Como disse Champlin:

"Eles não usaram aríetes, nem escadas de escalar, nem outra espécie de artifício. O divino plano de ação pode ter parecido uma tolice para os homens; mas a verdade é que aqueles quatro setes tiveram um efeito tremendo. Havia poder ali, porquanto o número sete simbolizava a presença e a intervenção de Yahweh." (CHAMPLIN, p. 920). 

Aqui podemos extrair mais uma lição: existem certas estratégias de Deus que aos nossos olhos podem parecer estranhas e não tão comuns, porém, devemos confiar que as estratégias de Deus, ainda que sejam estranhas e aparentemente frágeis, são melhores que as nossas. 

V-  O TOQUE DAS TROMBETAS:

"Quando as trombetas soarem um longo toque, todo o povo dará um forte grito; o muro da cidade cairá e o povo atacará, cada um do lugar onde estiver". (v. 5). (12)

No  sétimo dia, na sétima volta, quando ouvissem o som prolongado da trombeta, eles deveriam gritar, e como resultado, a muralha iria cair.  De posse de vitória, o povo deveria avançar e entrar na cidade. Aqui encerram-se as palavras do SENHOR. 


Nesse momento, 
quando transmite o plano divino ao povo, juntamente com seus respectivos papéis, o general Josué desenvolve um dos papéis de um profeta (13),  .  No versículo 7, ele encoraja os israelitas a prosseguir e rodear a cidade. E assim o povo fez: obedeceu a Josué e a Deus.  Agora começa a parte prática! O quadro fica mais ou menos assim:


  • Josué x rei de Jericó;
  • Soldados (vanguarda) e Sacerdotes x soldados de Jericó;
  • retaguarda x povo de Jericó.                                             
Podemos tirar uma lição deste quadro: o mundo tem seus protagonistas, mas Deus também têm os Seus. Todavia, é importante enfatizarmos que o fator indispensável para a vitória não estava essencialmente no povo, mas em quem comandava soberanamente cada um deles. A verdade é que Israel tinha Deus ao seu lado, enquanto que Jericó estava longe e afastada de Deus.

Continuando, a formação ficou como se descreve no versículo 9: os homens armados na frente, os sacerdotes que tocavam as trombetas e a retaguarda (14) que seguia atrás da arca. Então Josué dá uma ordem ao povo:  "Não deem o brado de guerra, não levantem a voz, não digam palavra alguma, até ao dia em que eu lhes ordenar. Então vocês gritarão! " (v. 10). O silêncio do povo nesse momento ilustra uma "força disciplinada". O silêncio em alguns momentos pertinentes é sinal de que somos fortes não só por fora, mas também por dentro. Quem não domina a arte de calar certamente não obterá êxito na arte de falar.

A rotina diária dos israelitas era contornar a cidade. À noite, eles entravam no acampamento e pela madrugada (15) se levantavam e faziam o mesmo percurso até o sétimo dia.


No sétimo dia, eles rodearam a cidade sete vezes (16) e Josué disse ao povo: "Gritai, porque o Senhor vos tem dado a cidade." (v. 16). Neste momento, duas ordens são dadas ao povo: 


- Quando entrassem na cidade, não deveriam tomar nada dela, exceto a riqueza que seria destinada ao tesouro do SENHOR. (vv. 17-19), pois a cidade seria anátema (17).



- Somente Raabe e sua família deveriam ficar vivos. (v. 17). Isso ilustra para nós que até mesmo os juízos divinos não são desprovidos de misericórdia. Ele irá derramá-la sobre todos aqueles que estão dispostos a quebrar seus compromissos com o mundo.

VI- O GRITO DO POVO E A QUEDA DAS MURALHAS:

1. Três características sobre o grito do povo.

"Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzinas; e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da buzina, gritou o povo com grande brado; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada um em frente de si, e tomaram a cidade." (v. 20).


Eu consigo localizar pelo menos três características a respeito desse grito.

• O grito dos israelitas foi de vitória e não de desespero.

• O grito dos israelitas foi um grito de fé.

• O grito dos israelitas foi de triunfo.

Quando gritaram, as muralhas caíram. Jericó que não queria render-se, nem negociar, viu cair por terra toda sua esperança visto que a maior confiança de Jericó naquele momento, eram seus muros.

Por outro lado, Israel depositou sua confiança em Deus, por isso, contemplou o poder de Deus. Em Hebreus 11.30, o autor fala que foi pela fé e não pela força física que os muros de Jericó caíram.

Fé e obediência andam juntos e quando executadas no tempo certo, contribuem para a manifestação da glória de Deus na nossa vida.

2. A queda das muralhas.

A Bíblia diz que as muralhas caíram (18). Após o grito houve uma intervenção poderosa e sobrenatural de Deus que fez com que as muralhas caíssem.

Sobre isso, Champlin comenta: " O som combinado das trombetas com os gritos dos homens de guerra resultou na destruição das muralhas de Jericó. As muralhas não foram engolidas por abismos que se teriam formado por baixo de seus fundamentos, conforme imaginaram alguns intérpretes judeus (...). A arqueologia tem demonstrado que a Jericó dos dias de Josué (perto da moderna cidade que tem esse nome) tinha uma muralha dupla (...) A muralha externa caiu principalmente colina abaixo, ao passo que a muralha interior, que era mais forte que a outra, ruiu dentro do espaço que havia entre as duas muralhas." (CHAMPLIN. p. 922).

Aquelas muralhas (19) que traziam uma aparente segurança para os habitantes de jericó estavam no chão. Então os israelitas entraram na cidade e destruíram tudo. Toda a cidade foi queimada (20), somente a prata, o ouro e os objetos de bronze e ferro colocados no tesouro da casa do SENHOR (21). Raabe e sua família foram poupados conforme a ordem de Josué. Por fim, ele amaldiçoa (22) o homem que reedifica-se Jericó (v. 26).

Segundo o Comentário Bíblico Beacon:

" A representação da impiedade não deveria ser revivida. Esconjurou tem o sentido de “mandar, fazer ou ordenar por juramento ou debaixo de pena de uma maldição”. A violação desta ordem custaria a morte de todos os filhos daquele que se atrevesse a reconstruir Jericó. De acordo com 1 Reis 16.34, essa afirmação se cumpriu no caso de Hiel, de uma região próxima a Betei, durante o reinado de Acabe. Evidências arqueológicas apontam para o fato de que Jericó realmente permaneceu em ruínas no período que vai desde a invasão israelita da Palestina até o século nono." (BEACON p. 42).

Aqui aprendemos que o nosso Deus é especialista em derrubar muralhas. Nenhum problema é difícil para ele.

Também podemos extrair a partir dessa passagem que existem conquistas que não vão acrescentar em nada na nossa caminhada, por isso, devemos abrir mão afim de glorificarmos ao SENHOR com este ato de renúncia. Tal atitude, por exemplo, revela se estamos apegado às coisas do mundo ou às coisas de Deus.

3. A presença do SENHOR com Josué. 

O SENHOR era com Josué, por isso sua fama corria por toda a região cananéia. Deus honrou Josué fazendo com que seu nome fosse conhecido tanto quanto o de Moisés. Esse ato trouxe ainda mais respeito do povo por Josué, pois, não só os israelitas viam Deus em sua vida, mas também outras cidades.

O Comentário Bíblico Beacon explica:  "Uma vida centrada em Deus não poderia ficar oculta. Raramente o mundo testemunhou uma pessoa que teve uma vida totalmente dedicada Deus. Contudo, aqui estava um homem que dava ao Senhor o crédito de todos os planos que executava. Ele não buscava o favor de ninguém acima da aprovação de Deus. Esta prática de ter uma existência santificada era tão incomum que fez com que sua fama corresse por toda a terra. O mundo ainda tem dificuldades para considerar pessoas que seguem esse padrão em suas vidas." (BEACON p. 43).

Conclusão: Certamente temos muito o que aprender com Josué 6. Esta é uma passagem que tem muito a nos dizer sobre o tempo passado, mas também ilustra como deveríamos proceder em situações de adversidades no presente. Ninguém gosta de obstáculos à sua frente, entretanto, na nossa trajetória será comum encontrar vários pelo caminho. Contudo, podemos contar com a ajuda de Deus para não só sobreviver, mais também para vencer todos eles. Assim como nesta passagem, a ajuda de Deus pode vir agora ou depois, mas é certo que virá seja sobrenaturalmente ou não. A Sua presença já está conosco, por isso, não devemos desanimar, mas reagir e lutar tendo em mente que Deus está no controle de tudo. Amém!

Deus abençoe a todos!

NOTAS:


1- "Faraó Tutmés III alista mais de cem cidades de Canaã." (KEENERp. 279).

2- "A ocupação de Jericó remonta ao nono milênio a. C., o que garante a ela o título de cidade mais antiga do mundo." (KEENER p. 280).                     


3- Alguns judeus entendem que aqui apareceu o anjo chefe (arcanjo) Miguel, enquanto que a tradição cristã de modo geral, acredita que foi uma teofania, ou seja, uma pré-aparição de Cristo antes de encarnar.              


4- "A mensagem trazida pelo comandante inclui a estratégia para a tomada de Jericó (cujo relato se inicia em 6.2). No antigo Oriente Próximo, considerava-se que as guerras geralmente eram dirigidas pelos deuses e seguiam os planos divinos. Porém, a aparição da divindade na véspera das batalhas não era comum na literatura do antigo Oriente Próximo. Em vez disso, a palavra divina ordenando a batalha era dada por meio de um oráculo, ao passo que a presença divina era vista na batalha em si. Na Epopeia ugarítica de Keret, entretanto, o deus El aparece ao rei Keret num sonho com instruções específicas sobre a batalha. Outro pararelo bastante semelhante é quando o rei babilônio Samsuiluna (século 18 a.C.) recebe mensageiros sobrenaturais de Enlil que dão instruções sobre uma série de campanhas contra Larsa e Eshnuna. Nenhuma dessas aparições divinas, entretanto, ocorreu na véspera da batalha - as tropas ainda tinham de ser reunidas." (p. 280) (N.P: Além de ser algo inédito na literatura antiga, e talvez na história, o fato de Deus anunciar uma batalha nas vésperas da mesma, aponta para a grandeza de Deus que apesar de se utilizar, por vezes, da força humana para obter algum fim, não precisa necessariamente dela para dar vitória a seu povo. Neste sentido, o de repente de Deus não deve causar espanto, surpresa e medo em ninguém, pois o Deus que anuncia a batalha, é o mesmo que assegura a vitória. (KEENER p. 280).


5- Nesse e nos próximos versículos "... a estratégia para a tomada de Jerico foi revelada em detalhes (2-5). (BEACON, p. 40).


6- Todavia, queremos deixar claro que a participação de um indivíduo, de algo ou de um povo como sendo utilizado para manifestar a glória de Deus não faz desta glória maior ou menor. Lembre-se que embora o povo participe da conquista de Jericó, é o poder de Deus que derrubará as muralhas. O mérito e a honra de forma alguma é de quem executa instruções, mas de quem ordena, planeja e faz o sobrenatural acontecer. Veremos isso com mais nitidez no final desse estudo.


7- A Bíblia não diz a que distância eles rodeavam a cidade. Provavelmente, eles rodearam a cidade a uma distância longe o suficiente para que as flechas dos inimigos não os atingissem.


8- Na Epopeia ugarítica de Keret (que provavelmente era conhecido pelos habitantes de Jericó), o exército de Keret chega à cidade de Udm e é instruído pelo deus El a permanecer em silêncio por seis dias e a não usar nenhuma arma; no sétimo dia, a cidade enviaria mensageiros e ofereceria tributos pedindo que eles se retirassem." (KEENER p. 280).


9- "Normalmente, cabia aos levitas transportar a arca. Porém, em uma guerra santa, os sacerdotes, descendentes diretos de Arão, eram os encarregados dessa tarefa. Os varais foram postos nas argolas da arca, e ela foi carregada pelos sacerdotes por esse intermédio.  (CHAMPLIN p. 921).


10- "A arca da aliança do Senhor ia atrás deles. Mencionada nove vezes em 6:6-13, a arca certamente simbolizava para Israel que Jeová estava com eles e os conduzia nessa manobra estranha." (MOODY, p. 22).

11- "A vanguarda, mui provavelmente, era formada por representantes das tribos de Rúben e Gade, e pela meia tribo de Manassés; seguiam atrás os sete sacerdotes que transportavam a arca (vs. 8), a qual ia à frente, porque manifestava a presença do Senhor." (CHAMPLIN, p. 921).


12- "Por meio desses dois grandes sons — o toque das sete trombetas e a gritaria dos guerreiros — as muralhas de Jericó haveriam de ruir, pelo menos aparentemente." (CHAMPLIN p. 920).

13- Profeta. Era alguém responsável por transmitir a Palavra de Deus aos homens. Geralmente, denunciava os pecados do povo, fazia predições, revelações e pelo poder de Deus realizava maravilhas.


14- " Talvez a retaguarda fosse formada pela tribo de Dã, visto que, nas perambulações pelo deserto, essa era a tribo que ocupava a última posição. Ver Núm. 2.31. Por isso mesmo, os Targuns situam os homens armados da tribo de Dã nessa posição. Entretanto, John Gill opinou que homens desarmados é que ocupavam a retaguarda. Todavia, convém não esquecer que temos aqui um plano de batalha, e não um mero cortejo, o que significa que não havia homens desarmados nessa marcha. “... o sentido é que a retaguarda era idêntica à vanguarda... somente os sacerdotes tocavam as trombetas (vs. 4), ao passo que os demais homens (vs. 10) tinham de permanecer em estrito silêncio" (John Bright, in loc.). (CHAMPLIN p. 921). 


15- "As horas matutinas são sempre as melhores para cuidar de tarefas difíceis." (CHAMPLIN p. 921).


16- "Pode-se facilmente contornar a elevação de 2,30 kms em quinze ou vinte minutos." (MOODY p. 22)


17- "...o anátema (hebr. hêrem; a raiz é "colocar de lado", especialmente como consagrado [cf. o árabe haram e o inglês "harem"]) era um componente teorético da prática da guerra santa de acordo como qual todos os espólios, animados e inanimados, animais e humanos, eram propriedade efetiva da deidade que tinha obtido a vitória. Propriedades materiais eram revertidas para o templo (ver v. 14) e as propriedades vivas eram mortas." (JERÔNIMO p. 265). O comentário Bíblico Beacon explica: "O termo “anátema” é usado para traduzir a palavra hebraica cherem, um termo que significa separado para a destruição ou passível de expulsão. Era um conceito religioso e não uma questão de pilhagem ou saque. Esta expressão envolvia morte para aquele que estava vivo, a queima de tudo que pudesse ser queimado e o ato de levar ao tesouro do Tabernáculo todos os metais e pedras preciosas." (BEACON p. 41)."

18- "As fábulas judaicas dizem que as muralhas de Jericó foram engolidas pelos abismos que se formaram debaixo dos seus alicerces, conforme tinha sucedido antes a Coré e seus apoiadores (ver Núm. 16.32,33)." (CHAMPLIN p. 921).

19- Muros da cidade. "As técnicas de fortificação foram desenvolvidas na Idade do Bronze Médio e continuaram a ser usadas na Idade do Bronze Tardio. Essas técnicas incluíam íngremes aclives aclives de terra (alguns chegavam a atingir  15 metros de altura) na base dos muros, rodeados por um profundo fosse que atingia o leito rochoso. Esses recursos serviam tanto para evitar a aproximação de instrumentos usados no cerco a cidades quanto para dificultar a escavação de túneis. Os muros, feitos de tijolos sobre fundações de pedra, eram de largura de 3 metros a 7,5 metros, com uma altura de aproximadamente 9 metros. Textos hititas também relatam, de modo bastante semelhante, a história de uma divindade que envia um castigo provocando a queda dos muros (no caso, tapumes de madeira). (KEENER p. 281).

20-  "A ordem dada no versículo 17 e depois obedecida nos versículos 21-24 era a de que todos os seres vivos que habitavam naquela cidade fossem totalmente destruídos (exceto a prostituta Raabe e sua família, que foram poupadas). Certos sacrifícios dedicados a Deus podiam ser compartilhados pelo sacerdote oficiante e pelo ofertante. Outros, no entanto, eram exclusivos do Senhor. Do mesmo modo, alguns despojos eram separados exclusivamente para o Senhor. A oferta queimada (holocausto), por exemplo, devia ser consumida totalmente no altar; assim também os inimigos deviam ser aniquilados. As batalhas eram comandadas por Yahweh e representavam seu juízo sobre os cananeus; os israelitas estavam em uma missão divina, numa batalha do Senhor. Logo, não só o mérito da vitória era de Deus mas também o espólio pertencia a ele. Embora o tema da divindade guerreira apareça em todo o antigo Oriente Próximo, o conceito de herem é mais limitado - a única ocorrência do termo está numa inscrição moabita de Mesa, ainda que a ideia de destruição total também se encontre em textos HITITAS. Em alguns lugares, como Gezer, há uma camada bastante peculiar de cinzas, relacionadas à Idade do Bronze Tardio. Quando as cidades eram sitiadas, as condições sanitárias se tornavam extremamente precárias, provocando doenças devastadoras. Assim, a prática de queimar tudo após derrotar a cidade também tinha um caráter sanitário. (KEENER p. 281).

21- "Os metais preciosos encontrados em Jericó foram dedicados ao Senhor (19,24). Ele tinha todo o direito sobre eles. Foi Deus quem delineou a prática para a conquista desta primeira fortaleza. Desse modo, os espólios eram dele por direito de conquista, mas eles também eram peculiarmente seus por direito de criação. Aquelas coisas que foram mal usadas seriam agora usadas por Deus. Israel deveria se lembrar daquele a quem pertencem todas as coisas." (BEACON p. 42).

22-  "Inscrições assírias geralmente expressam a intenção de que uma cidade destruída jamais deveria ser reconstruída, mas não são acompanhadas de um juramento como nesse caso." (KEENER p. 281).

APÊNDICE TEOLÓGICO:


"Explicações sobre a Queda das Muralhas:

1. Algum terremoto extremamente oportuno teria sido a causa do nivelamento das muralhas de Jericó, mais ou menos como sucedera por ocasião do represamento das águas do rio Jordão (ver sobre isso nas notas de Jos.3.16). Se algum milagre esteve envolvido, somente o elemento tempo foi miraculoso. Os céticos vêem aqui que o povo de Israel apenas teve muita sorte, pois, quando eles estavam prestes a aproximar-se da cidade (tendo tudo sido adredemente planejado), um terremoto facilitou as coisas. Para esses céticos, todo o resto do relato é apenas invenção bem imaginada. Para esses críticos, o mesmo terremoto que explica o “milagre” do rio Jordão também derrubou as muralhas de Jericó, facilitando assim a conquista.

2. Ou, então, o acontecimento deveu-se a um incidente muito incomum de ressonância, produzido pelo sonido das trombetas e pelos gritos dos soldados de Israel. Sabemos que certos sons, por meio da ressonância, podem ter grande poder destrutivo. Aquilo que ocorreu em Jericó, pois, de acordo com essa segunda explicação, seria um notável incidente histórico que ilustra esse raro fenômeno. Alguns céticos, críticos e até estudiosos conservadores têm aceitado essa teoria.

3. A maioria dos eruditos conservadores vêem em tudo isso uma intervenção divina, que não pode ser explicada simplesmente como um mito ou como um acontecimento natural. O povo cumpriu o seu papel, seguindo as ordens dadas por Josué, mas o colapso das muralhas requereu o poder de Yahweh. Ver as notas em Jos. 6.5, quanto a uma explicação de natureza sobrenatural, que dá apoio à idéia do teísmo, e não do deísmo.' (CHAMPLIN p. 922)."