25 de dezembro de 2016

O extraordinário Jesus




Por Everton Edvaldo

"Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz." (Isaías 9:6).

Há dois milênios, nasceu numa manjedoura aquele que foi prometido desde a queda do primeiro homem no Éden: Jesus, o Cristo. Considerado por muitos uma figura emblemática, Jesus entrou para a história como alguém que dividiu a própria história. O homem mais pintado de todos os séculos também é o mais odiado entre os homens. 

Jesus, o homem que fazia das casas dos seus conhecidos o púlpito e nos campos livres e verdejantes das cidades, anunciava a mensagem do amor e da salvação. Ensinou a amar, amando. Era intrépido, não tinha medo de se posicionar e quando fazia isso deixava seus ouvintes surpreendidos. 

Ele mudou as nossas vidas. Depois dele, o mundo nunca mais foi o mesmo. Veio como rei e durante toda sua vida não usou coroa alguma a não ser aquela que lhe colocaram na cabeça, cheia de espinhos. 

Morreu mas ressuscitou e está vivo, à destra de Deus. Um amigo de todas as horas. Somente nele a nossa alma encontra repouso e alegria. Sua ternura nos contagia. É compreensivo, misericordioso e zeloso com os seus. Está voltando e irá dividir a história novamente. 

Que nesta data possamos celebrar o Rei dos reis pela sua vinda, pois sem Jesus, não faz sentido comemorar o natal. 

Deus abençoe a todos! 






15 de dezembro de 2016

EM DEFESA DE PRISCILA ALCÂNTARA


Por Everton Edvaldo


Introdução: Recentemente, a cantora gospel Priscila Ancântara tem sido alvo de severas críticas, deboches e xingamentos por conta de um vídeo onde a mesma entrega uma mensagem 40 segundos às pessoas que estavam em seu show. Alcântara foi acusada de cometer heresia por conta das suas declarações durante a mensagem. Muitos críticos, sem ao menos assistir o vídeo cuidadosamente, estão afirmando que ela negou que cometemos pecado, ou que ela afirmou que não nascemos no pecado.  Será que é isso mesmo que ela está dizendo no vídeo?  

Vamos analisar em forma de texto o que ela falou no vídeo, porém antes disso, gostaria de deixar claro, que não tenho nenhuma ligação afetiva com a pessoa de Priscila, muito menos ouço suas músicas. Digo isso para que ninguém pense que estou sendo partidário.

Segue abaixo o texto da cantora:

"O meu Pai é Santo e Perfeito, eu nasci pra ser santo e perfeito, vocês são santos, vocês são perfeitos, vocês podem estar talvez em pecado, nós podemos estar muitas vezes em pecado mas não somos pecadores não,  somos filhos de Deus. E essa é uma verdade que muitas vezes a religião encobre de você. A religião diz que você nasceu no pecado, então você é um pecador. Eu nasci no pecado mas eu não sou pecador a,  você também não,  porque quando nós em Cristo, nós temos o nosso pecado retirado e nós nos tornamos de novo imagem e semelhança de Deus que é perfeito. Quantos entendem essa mensagem?" (Priscila Alcântara).

É verdade que Priscila poderia ter se expressado de uma forma melhor, porém o que ela disse (quando entendida de forma correta) de maneira alguma é contrário ao que ensina as Sagradas Escrituras. 

Também é verdade que existe uma diferença entre o que foi dito e o que ela quis dizer, no entanto, o que vai determinar a mensagem geral do vídeo, não são frases isoladas e julgadas separadamente, mas sim o seu contexto.

Primeiro,  Priscila começa dizendo: "O meu Pai é Santo e Perfeito, eu nasci pra ser santo e perfeito." Bem, até aqui não temos nenhuma declaração polêmica visto que a Bíblia  nos exorta constantemente a sermos santos e perfeitos (Levítico 19.2; Mateus 5.48; 1 2 Coríntios 7.1; Colossenses 1.28; Pedro 1.16). É claro que Priscila não está dizendo que somos perfeitos e santos na mesma intensidade e medida de Deus. O que ela está fazendo é um contraste entre os termos para explicar o porquê que somos santos e perfeitos. Somos santos e perfeitos porque um Deus Santo e Perfeito exige que sejamos assim. Leia os versículos que citei acima. 

Uma observação que gostaria de fazer é que quando o termo "santo" é aplicado aos crentes na Bíblia, significa "separação" e o termo "perfeito" aponta para  "maturidade", "integridade", etc. Sendo assim, quando a Bíblia diz que devemos ser perfeitos porque Deus é perfeito, significa que devemos ser íntegros porque Ele é íntegro. Alcântara não fez uma declaração antibíblica.

Também é importante levarmos em consideração, que Priscila está dirigindo sua mensagem a um público que em geral é evangélico. Sua mensagem está voltada claramente para aqueles que já são filhos de Deus. Qualquer tipo de interpretação fora dessa informação, poderá nos conduzir  a uma interpretação errada do que está sendo dito.

Segundo,  não é verdade que Priscila afirma que nós não pecamos, muito pelo contrário, ela diz: "... vocês podem estar talvez em pecado, nós podemos estar muitas vezes em pecado..." Consegue enxergar que ela admite que pecamos? Guarde bem essa informação, pois ela será muito importante para o nosso próximo ponto.

Continuando, Priscila diz: "...mas não somos pecadores não,  somos filhos de Deus." É nessa frase que as pessoas estão polemizando.

Pois bem, todo bom intérprete sabe que não podemos pegar uma palavra isoladamente e atribuir a ela um único signicado para todas as ocasiões em que ela for usada. Um dos princípios essenciais da semântica é que "O significado de uma palavra numa frase será determinado pelo seu contexto." Isto signica que a expressão "pecadores" pode ter diversos significados, dependendo da sua aplicação. 

Neste artigo, tentarei classificar pelo menos dois sentidos em que o termo "pecador" aparece na Bíblia. 

I- Pecadores são aqueles que cometem pecado (Neste sentido, todos nós somos pecadores, por natureza).

II- Pecadores são aqueles que VIVEM NA PRÁTICA CONSTANTE  DO PECADO (Nesse sentido, nem todos são).

Cabe a nós descobrirmos através do contexto,  em que sentido Priscila Alcântara afirma que não somos pecadores. Uma rápida lida no que foi dito anteriormente por ela, logo nos dará a resposta. Assim fica fácil de entender que o que Priscila está dizendo é que não somos pecadores, no sentido de que não vivemos mais na prática constante do pecado. E porque não vivemos mais na prática constante do pecado? Priscila justifica o porque alegando que "somos filhos de Deus." Ora, isso não vai de encontro com o que a Bíblia ensina.

Vejamos o que a Bíblia diz em 1 João 3.5-10:

"E bem sabeis que ele se manifestou para TIRAR OS NOSSOS PECADOS; e nele não há pecado. Qualquer que permanece nele NÃO PECA; qualquer que peca não o viu nem o conheceu.
Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo. QUEM COMETE O PECADO é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo. Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus. NISTO SÃO MANIFESTOS OS FILHOS DE DEUS, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus."

Veja que quem está falando que um cristão não PECA e que quem PECA não viu a Deus não é Priscila, mas sim o apóstolo João e nem por isso o chamamos de herege, pois bem sabemos que ele se refere à prática constante do pecado que é algo incoerente para quem é filho de Deus.  

Outra coisa que deve ser ressaltada é que Priscila não está afirmando que todas as pessoas do mundo são filhas de Deus (conforme muitos na Internet tem afirmado). Não,  o que ela está dizendo é que as pessoas que estavam ali,  eram filhas de Deus, algo totalmente normal, visto que seu público era evangélico. 

Biblicamente, uma pessoa só se torna filha de Deus quando crê em Jesus Cristo e experimenta o novo nascimento.  (João 1:12; João 11:52; Romanos 8:16; 1 João 3:1-10). Até lá, esse alguém é apenas criatura dEle.

Alcântara continua: "E essa é uma verdade que muitas vezes a religião encobre de você." O que ela chama de "verdade" é exatamente o que defendeu anteriormente e informa que muitas vezes, a religião quer encobrir isso das pessoas. 

Ela finaliza dizendo: "A religião diz que você nasceu no pecado, então você é um pecador. Eu nasci no pecado mas eu não sou pecadora,  você também não,  porque quando nós em Cristo, nós temos o nosso pecado retirado e nós nos tornamos de novo imagem e semelhança de Deus que é perfeito."

Não interpretemos mal o que está sendo dito. Priscila não está negando que nascemos no pecado. Pelo contrário, ela enfatiza isso quando diz: "Eu nasci no pecado." Nessa primeira cláusula, Priscila não discorda da religião.

Quando ela diz que nasceu no pecado mas não é pecadora, deve ser entendido à luz de tudo que foi dito anteriormente. Ela não é pecadora, no sentido que não vive mais na prática constante e deliberada do pecado. Ela peca?  Peca, mas não se entrega à uma vida de iniquidade. 

Antes de concluir, gostaria de reforçar que a frase "não sou um pecador" (quando usada por alguém que é salva) não vai de encontro com que Bíblia diz. Devemos analisar o sentindo da frase e a partir disso taxarmos como certa ou errada. É o contexto e o sentido da frase quem determinará a nossa conclusão e no caso de Priscila Ancântara, não chega ao ponto de ser uma heresia.

Vejamos dois exemplos bíblicos que ilustram essa verdade:

Em 1 Timóteo 1.15, Paulo se intitula como sendo um pecador mesmo depois de salvo: 

"Esta afirmação é fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior."

Por outro lado, o mesmo apóstolo em outra Epístola, revela que  ÉRAMOS PECADORES:

"Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores." (Romanos 5.8).

Ou seja, entendemos que Paulo está  usando a mesma palavra com dois sentidos diferentes, caso contrário, ele estaria em contradição, o que não é verdade.

10 de dezembro de 2016

"Perda da salvação." Uma perspectiva pentecostal


Por Everton Edvaldo

Introdução: Graças ao avanço dos estudos na área da soteriologia bíblica, podemos consultar com rapidez e facilidade a visão pessoal de vários teológos. Quando se trata do tema: "segurança da salvação" concluiremos que existem claras divergências entre eles.  Essa falta de unanimidade teológica, proporcionou ao longo do tempo, um desenvolvimento amplo desse assunto pelos movimentos que se propagaram durante e depois da Reforma Protestante. Atualmente, temos um universo de conteúdo teológico falando sobre a segurança da salvação. Neste artigo, pretendo expor a visão pentecostal acerca da famosa frase: "uma vez salvo, salvo para sempre." É importante deixa claro que o objetivo desse artigo não é de analisar ou expor exaustivamente a pespectiva pentecostal, porém de introduzir o assunto de maneira breve e condensada. Ao longo do artigo,  o autor também dará sua própria pespectiva quando for preciso. Boa leitura! 

Você já ouviu ou leu a famosa frase: "uma vez salvo, salvo para sempre?" Ela tem sido uma das frases que mais geram polêmicas dentro do cristianismo atual. Algumas pessoas pensam que só os calvinistas acreditam nela, entretanto, isso não é verdade. Existem cristãos das mais diversas  confissões teológicas que acreditam que nenhum daqueles que foram regenerados por Deus, perderão a salvação. Há até mesmo arminianos que partilham desse entendimento, como por exemplo: os arminianos de quatro pontos.

Pois bem, embora a questão pareça simples, é um desafio falar sobre esse assunto; principalmente quando ele já foi tratado por teólogos piedosos e eruditos nas Escrituras. 

Primeiramente, vamos tratar da possibilidade da perda da salvação. Muitos não conseguem aceitar essa doutrina porque imaginam que ela afeta negativamente a segurança dos crentes. Porém, isso não é verdade! A Bíblia nos assegura com precisão a segurança eterna do crente desde que este permaneça no evangelho e persevere em Cristo. Contudo,  ela também nos alerta quanto ao perigo de viver uma vida incoerente como evangelho. Vejamos como mais detalhes como o Pentecostalismo enxerga essa questão.

POSSIBILIDADE, CONCRETIZAÇÃO E SEGURANÇA:

A "Impossiblidade da perda da salvação" não faz parte do Pentecostalismo  Clássico. Em geral, os pentecostais acreditam que a possibilidade da perda da salvação é real para todos os salvos. Segundo Raimundo de Oliveira:

"Um maiores argumentos bíblicos, segundo o qual o crente pode perder a salvação, é a frequente menção do condicional "se", com respeito à salvação."(OLIVEIRA, p. 239). 
"O escritor da epístola aos Hebreus advertiu que é possível deixar o coração encher-se de descrença, ao ponto de perder a salvação: 'Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer um de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo'." (OLIVEIRA, p. 240).
"Há uma exortação severa de João, que não deixa dúvida alguma quanto à possibilidade de alguém perder a salvação: 'O vencedor, de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte.' 'Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa'." (OLIVEIRA, p. 240).

A Bíblia de Estudo Pentecostal comenta que:

"A Bíblia adverte fortemente quanto à possibilidade da apostasia, visando tanto nos alertar do perigo fatal de abandonar nossa união com Cristo, como para nos motivar a perseverar na fé e na obediência. O propósito divino desses trechos bíblicos de advertência não deve ser enfraquecido pela ideia que afirma: 'as advertências sobre a apostasia são reais, mas a sua realidade, não.' Antes, devemos entender que essas advertências são como uma realidade possível durante o nosso viver aqui, e devemos considerá-las um alerta, se quisermos alcançar a salvação final." (STAMPS, p. 1903).

Também falando sobre a possibilidade da apostasia, Daniel B. Pecota comenta: 

"Não é possível somente apenas a apostasia formal, mas também a real (Hb 6.4-6; 10.26-31). A palavra grega apostasia ("apostasia", "rebelião") provém de aphistêmi ("partir", "ir embora") e transmite o conceito de modificar a posição em que a pessoa está de pé." (HORTON, p. 377).

Certamente, aqueles que negam  a possibilidade da perda da salvação e que consideram-na apenas como hipotética ficam conturbados quando se deparam com as diversas advertências bíblicas endereçadas aos salvos. Pecota propõe uma analogia para isso:

"Vamos imaginar que estamos dirigindo nosso carro pela estrada, à noite. Em diferentes trechos, passamos por sinais de advertência: 'Curva fechada!' 'Ponte caída!' 'Deslizamento!' 'Estrada estreita e sinuosa!" "Declive forte! 'Obras na estrada!' E nenhum desses perigos acabam surgindo. Iremos pensar que foi uma brincadeira de mau gosto, ou algum louco colocou aqueles sinais.  De que maneira seriam advertências, se não correspondessem à realidade?" (HORTON, p. 378). Antonio Gilberto explica:

"Um cristão salvo pode vir a se perder; pode, sim, desviar-se, cair em pecado e perecer, caso não se arrependa ante a insistência do Espírito Santo (Ez 18.24,26; 33.18; H b 3.I2-I4; 5.9; I Tm 4.1; 5.15; 12.25; 2 Pe 3.17; 2.20-22; Rm 11.21,22; IT s 5.15; D t 30.19; I Cr 28.9; 2 Cr 15.2; I Co 10.12; Jo 15.6). Essa verdade fica ainda mais evidente quando consideramos o “se” condicional quanto à salvação (H b 2.3; 3.6,14; Cl 1.22,23), bem como a condição: “ao que vencer”, que aparece sete vezes em Apocalipse 2 e 3." (GILBERTO, p. 371).

É importante frisar que acreditar na possibilidade da perda da salvação não implica um ataque à certeza da salvação ou à segurança em Cristo. Precisamos entender que a Bíblia nos alerta quanto ao perigo, mas fornece todos os recursos necessários para os salvos perseverarem até o fim. Todas as vezes que a Bíblia se refere à perseverança dos crentes, ela não a define como algo inevitável que irá acontecer com todos os salvos. Pelo contrário, ela atribue ao ato de perseverar, um aspecto condicional. 

Outra coisa que deve ser pontuada é que a possibilidade da perda da salvação não signica que um salvo pode perdê-la a qualquer instante, quantas vezes quiser e por qualquer motivo. Isto é um mito! 

Se por um lado, a possibilidade é real para todos os salvos, a concretização não é. Isto porque não são todos que perdem a salvação. Muitos perseveram até o fim. Já outros a perdem quando se desviam definitivamente de Cristo. 

"Perder a salvação" não é a única expressão usada para se referir a esse assunto que estamos abordando, "cair da graça", "apostatar da fé" e "naufragar na fé" são outros tipos de expressões usadas para se referir a alguém que não está mais em Cristo. 

Raimundo de Oliveira dá exemplos na Bíblia de pessoas que perderam por completo a comunhão com Deus como por exemplo: Saul, Judas, Himeneu, Alexandre e Demas. (Cf OLIVEIRA, p. 240, 241). Tais pessoas caíram não porque não houvesse segurança para elas, mas sim porque não permaneceram em Cristo. É nele que repousa nossa segurança eterna. Como bem disse Frida Vingren: "Só em Jesus Cristo a nossa alma é segura e salva." (MESQUITA, Vol 1, p. 109).

Vamos tratar agora da segurança da salvação em Cristo. É possível crer que alguns salvos apostatarão sem comprometer a doutrina da segurança em Cristo? No Pentecostalismo sim! 

De acordo com o Pastor Antonio Gilberto: 

"O crente está seguro quanto à sua salvação enquanto permanecer em Cristo (Jo 15.1-6). Não há segurança fora de Jesus e do seu aprisco. Não há segurança espiritual para ninguém, estando em pecado (cf. R m 8.13; H b 3.6; 5.9). Jesus guarda o crente do pecado; e não no pecado. Somos mantidos em Cristo pelo seu poder, mediante a nossa fé nEle (I Pe 1.5; Jd v.20; 2 Co I.24b). A salvação é eterna para os que obedecem ao Senhor (H b 5.9; I Co 15.1,2). Estamos em pé pela fé em Cristo, e não pela predestinação: “tu estás em pé pela fé” (Rm 11.20); “se é que permaneceis firmes e fundados na fé” (Cl 1.22,23); “Deus é salvador de todos, mas principalmente dos fiéis [lit. “dos que crêem”]” (I T m 4.10). (GILBERTO, 373).

Ciro Sanches Zibordi tem uma visão bem próxima de Gilberto:

"Deus nos concede graça para perseverarmos até aquele grande Dia. No entanto, o Senhor Jesus nos manda vigiarmos para continuarmos em pé (Lc 21.36). E a Palavra de Deus menciona pessoas que cairão e irão para o Inferno (Mt 7.21-23). O irmão citou 1 Pedro, mas é preciso ler também as partes em que esse apóstolo fala da vigilância, em sua primeira carta. Além disso, ele próprio a quem Deus usou para nos alertar quanto ao perigo de voltarmos às corrupções do mundo (2 Pe 2.20-22). Portanto, a salvação é pela graça, sem dúvidas. Mas precisamos atentar para textos como 1 Coríntios 15.1,2: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis, pelo qual sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão” (http://cirozibordi.blogspot.com.br/2009/07/e-possivel-perder-salvacao-se-ela-nos_17.html?m=1).

Elinaldo Renovato afirma que: "Deus garante a salvação. Mas o salvo tem que se esforçar para fazer a sua parte, como regenerado e justificado; precisa santificar-se." (LIMA, p. 144).

APOSTASIA: REVERSÍVEL OU IRREVERSÍVEL? 

Primeiramente, precisamos definir o que é apostasia. "O termo grego [aphistemi] é definido como decaída, deserção, rebelião, abandono, retirada ou afastar-se daquilo a que antes se estava ligado." (STAMPS, p. 1903). Entende-se como desvio consciente do evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Ela é o oposto da perseverança e sua trajetória não é o céu. 

Muitas vezes, alguém afirma: "Nenhum salvo perde a salvação, se perdeu é porque nunca teve."  Ora, como eu posso perder algo que nunca tive? É como dizer a um mendigo que ele perdeu uma fortuna que nunca foi sua. A gente só perde o que tem. A parábola da dracma perdida ilustra bem essa analogia (Lucas 15.1-10). Outros dizem que a apostasia a qual a Bíblia se refere é aquela praticada pelos ímpios. Pensar dessa forma é dar um tiro no próprio pé! Por acaso, pode um ímpio se afastar ou abandonar algo que nunca teve ou viveu? Os ímpios já estão longe do evangelho, e seguem seu percurso profano naturalmente. A Bíblia de Estudo Pentecostal explica que:

"...a apostasia individual é possível somente para quem já experimentou a salvação, a regeneração e a renovação pelo Espírito Santo  (cf. Lc 8.13; Hb 6.4,5)." (STAMPS, p. 1903).

Porém, a pergunta que muitos fazem é: "pode alguém que perdeu a salvação, recebê-la novamente?" Bem, a Bíblia ensina que há perdão para aqueles que se arrependem sinceramente dos seus atos, entretanto, existe um ponto extremo da apostasia em que o indivíduo peca irrefreadamente, constantemente e deliberadamente a ponto de não atender mais à voz do Espírito Santo. É o que chamamos de apostasia irreversível ou imperdoável (Hb 6.4-6). Não é verdade que os pentecostais ensinam que a perda da salvação pode ocorrer por qualquer motivo. Ela é o resultado do constante e deliberado pecar contra a voz do Espírito Santo. Durante a trajetória cristã, muitos salvos esfriam na fé e em casos mais extremos, chegam a afasta-se por um tempo da igreja e de Deus, entretanto, se reconciliam com Jesus e voltam-se para Ele assim como o filho pródigo. Essa é uma das evidências de que tais crentes não cometeram a apostasia irreversível. As vítimas da apostasia irreversível são aqueles salvos que se afastaram de Deus, nunca mais voltaram e morreram eu seus próprios pecados. Tais pessoas negam o Senhor que os resgatou (2 Pedro 2.1), trazendo para si ruína e condenação.

Conclusão: A vertente clássica do Pentecostalismo nunca adotou para si o conceito de que uma vez salvo, alguém nunca perderá a salvação. Embora creiam na possibilidade da perda, os pentecostais não diminuem a segurança dos salvos ensinada pela Bíblia. O objetivo dela nunca foi lançar dúvida na mente dos cristãos sobre sua salvação, mas de alertar acerca de um perigo real. Graças a Deus que podemos estar convictos da nossa salvação já que estamos Nele e Ele em nós. A capacidade de perseverar continua sendo de Deus e também é Ele quem opera poderosamente nos salvos, mas não de forma irresistível conforme alguns defendem. No Pentecostalismo, não há compulsão na perseverança, antes, a perseverança é sincera e voluntária da parte do salvo. Os salvos que, com os poderes fornecidos pelo Espírito Santo, vencem as barreiras espirituais, são aqueles que têm seus nomes escritos no livro da vida. Sendo assim, vale a pena continuarmos nos pés do Senhor, prosseguindo com justiça, andando em verdade e praticando a santidade até que um dia, o Senhor nos chame para seu lar celestial. 

Deus abençoe a todos! 

BIBLIOGRAFIA

GILBERTO, Antonio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.

LIMA, Elinaldo Renovato de. Salvação & Milagres- o poder do nome de Jesus. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

MESQUITA, Antonio Pereira de. Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

OLIVEIRA, Raimundo de. As grandes doutrinas da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

Site consultado:

http://cirozibordi.blogspot.com.br/2009/07/e-possivel-perder-salvacao-se-ela-nos_17.html?m=1. Acesso dia: 09/12/2016 às 12:30.


23 de novembro de 2016

Série: Tesouros do Jardim do Éden



 Por Everton  Edvaldo 


É incrível como somos abençoados quando meditamos nas Escrituras. Não é à toa que cada narrativa bíblica tenha tanta coisa para nos ensinar. O jardim do Éden é um desses casos. Lá aconteceram episódios marcantes que muitas vezes deixamos de notar por negligenciar o estudo e a meditação bíblica. É verdade que a Bíblia não revela muita coisa que aconteceu no jardim do Éden, porém aquilo que foi registrado já é suficiente para nossa edificação. A Bíblia pode até não satisfazer todas as nossas curiosidades, mas certamente, dará pistas para nossas indagações. Nesse artigo, vamos meditar sobre um dos tesouros desfrutados por Adão no Jardim do Éden, a saber: a voz de Deus! Espero graciosamente que você seja edificado por Deus através desse artigo. Boa leitura!

Ao criar o homem, Deus lhe deu condições físicas e espirituais afim de relacionar-se com a humanidade. Podemos constatar essa verdade logo nos primeiros capítulos do livro de Gênesis.

Porém, antes disso, Deus traz à existência (pelo poder da sua palavra), o universo, nosso planeta e tudo quanto existe nele. No momento em que fez o homem do pó da terra, soprou em suas narinas, o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (Gênesis 2.7).

É interessante a forma como Deus faz as coisas. Ele poderia ter colocado Adão em qualquer outro lugar, porém decidiu fazer algo ainda mais glorioso, isto é, o jardim do Éden! É lá que Deus põe o homem  que havia formado (Gênesis 2.8). Colocou Adão ali para cultivar e guardar este lugar tão belo. Esta era a missão de Adão!

Prosseguindo com a leitura bíblica de Gênesis 2.16,17 Deus fala com Adão as seguintes palavras: "De toda árvore do Jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comerdes, certamente, morrerás."

Que cena gloriosa, a criatura ouvindo a voz do seu Criador!  Embora não saibamos exatamente em que lugar do Jardim, Adão estava, muito menos a distância entre ele e Deus, uma coisa é certa: ele ouviu a voz de Deus e a compreendeu.

Desconhecemos a reação que Adão teve com tal experiência, porém cremos que lhe marcou por todos os dias da sua vida.

Existem boas razões para afirmar que Deus falava constantemente com Adão. A Bíblia não revela quantas vezes foram, nem o conteúdo dessas conversas. Entretanto, isso não significa que aquilo que Deus disse a Adão se limitou apenas ao que foi escrito por Moisés. Temos que entender que o autor do Gênesis não tinha como objetivo relatar todos os detalhes do dia a dia de Adão.

Por outro lado, podemos depreender a partir de Gênesis 3.8 que Deus falava frequentemente com Adão pela viração do dia. Era dessa forma que a voz de Deus ecoava no jardim! As Escrituras nos permite concluir que a voz de Deus é algo majestoso! Imagine conversar com Deus sem nenhuma barreira? Isso não é fantástico? 

É provável que Deus tenha revelado coisas gloriosas para Adão, como por exemplo, a criação dos céus e da terra. A pergunta que devemos fazer é: quem contou a Moisés que os céus e a terra foram criados por Deus? Alguém dirá: "foi pura revelação." Bem, os que creem dessa forma não apresentam bons argumentos para fundamentar tal visão. O livro de Gênesis é um documento histórico e bem formulado. Acredito particularmente que Moisés recebeu tais informações a partir de uma fonte segura em sua época. Se ela foi escrita, oral ou até mesmo as duas, é um assunto digno de investigação. Antes mesmo de Moisés existir, seus ancestrais e parentes conservavam vivos a crença de que Deus é o criador dos céus e a terra. Isto significa que Moisés não foi o primeiro a saber disso. Antes dele, outros já acreditavam nessa verdade. Mas, quem revelou aos seus ancestrais que Deus é o criador dos céus e da terra? Retrocedendo no tempo, a família piedosa que viveu antes de Moisés, também mantinha acesa o conhecimento das coisa Deus, a saber: os descendentes de Abraão. José aprendeu com seu pai Jacó. Jacó aprendeu com Isaque. Isaque  com Abraão e Abraão com os descendentes de Noé. Noé aprendeu com a descendência de Sete e Sete com Adão. Sim, enquanto viveu, Adão ensinou aos seus descendentes que Deus é o criador dos céus e da terra. Novamente deve-se fazer a pergunta: quem revelou isso a Adão? Quem lhe relatou os acontecimentos registrados em Gênesis capítulo 1? Ele estava lá?  Não!  Será que ele inventou tudo isso? Também não!  E quem lhe contou? Quem mais poderia lhe contar a não ser o próprio Deus? Creio que Deus não escondeu de Adão  esse acontecimento tão incrível. Deve ter sido uma cena magnífica ouvir a voz de Deus contando como criou todas as coisas através da sua Palavra.

Bem, diversas coisas aconteceram no jardim do Éden e entre elas, o hábito de ouvir a voz de Deus. Adão não ouvia qualquer voz! Era a voz do Todo-Poderoso!  Em qual idioma eles conversavam?  Não sabemos! Eles mantinham um tipo de diálogo peculiar e pelo que entendemos,  Deus se agradava muito. Sim, Deus se agradava de conversar com Adão. Provavelmente lhe dava instruções de como cuidar do jardim, dos animais, das árvores, o clima, e etc.

Refletindo sobre as coisas que vimos acima, aprendemos que a voz de Deus é algo essencial para quem depende totalmente Dele. O SENHOR procura homens e mulheres para ter um relacionamento especial e íntimo. Será que somos sensíveis à voz de Deus? Bem sabemos que Deus fala de diversas formas e de várias maneiras e nestes últimos dias, ele tem nos falado através do seu filho, Jesus Cristo. Através do verbo, o Pai tem feito uma grande obra entre nós.

Por fim, embora não tenha sido o único, o jardim do Éden era um lugar propício para que Deus falasse com o homem. Na atualidade, será que Deus tem encontrado lugares propícios para ouvir a sua voz?  Infelizmente, até mesmo algumas igrejas já fecharam os ouvidos para a voz de Deus.  Ali, há tempo e espaço para tudo, menos para a voz do Criador. No lugar onde estamos, há espaço para a voz de Deus? Muitas vezes, existem determinados lugares que nos impedem de ouvir o Senhor e de ter um relacionamento com Ele. São coisas que roubam nossa atenção, trazem entretenimento e que são nocivas à nossa sensibilidade espiritual.

Sendo assim, não podemos deixar que isso venha acontecer. Que estejamos sempre atentos à voz do SENHOR!

Que Deus abençoe a todos!

18 de novembro de 2016

Calvinista ou Arminiano? Uma palavra de A.W. Tozer


Por Everton Edvaldo 

Não é de hoje que a soteriologia bíblica tem sido alvo de estudo e interesse pelos cristãos. Desde a igreja primitiva, controvérsias em torno da mecânica da salvação foram se avolumando ao longo da história. No calor das concordâncias e discordâncias, aparecem aqueles que são corajosos e se rotulam como isto ou aquilo. 

Isto não significa que a interpretação do sistema A ou B seja  ausente de erros, mas sim que a pessoa acredita que a interpretação de determinado sistema está mais próximo daquilo que a Bíblia defende e ensina. Quando se trata da mecânica da salvação, encontramos aqueles que se definem como calvinistas ou arminianos. 

Por outro lado, existem aqueles que preferem não se rotular como nem um, nem outro. Por exemplo, embora tenham crenças comuns com o arminianismo, alguns não gostam de ser chamados de arminianos, porém de "bíblicistas", ou simplesmente de "não calvinistas."

Ao longo do tempo, grandes teólogos vivenciaram essas tensões teológicas e se posicionaram como  simpatizantes do arminianismo ou calvinismo. Outros escolheram a neutralidade quando se tratava de responder a pergunta: "Você é calvinista ou arminiano?" Bem, essa pergunta tem sido feita intensamente na atualidade. Esse tipo de pergunta, exige uma resposta, seja ela satisfatória para nós ou não.

Neste artigo, pretendo apresentar a visão de A.W. Tozer acerca de tudo quanto vimos acima. Tozer, que foi considerado por muitos, como "o profeta do século XX", é uma referência piedosa para milhares de cristãos.

Antes de desenvolver o artigo, gostaria de disponibilizar uma breve introdução sobre quem foi este homem de Deus.

"Aiden Wilson Tozer nasceu em Newburg (então conhecido como La Jose), Pensilvânia, a 21 de abril de 1897. Em 1912 a família mudou-se da fazenda de Akron, Ohio; e em  1915 ele converteu-se a Cristo, entrando imediatamente numa vida de grande intensidade devocional e testemunho pessoal. Em 1919 começou a pastorear a igreja da Aliança em Nutter Fort, em West Virgínia. Também serviu em igrejas nas cidades de Morgsntown, West Virginia; Toledo, Ohio; Indianapolis, Indiana; e em 1928 iniciou seu trabalho na igreja da Aliança em Chicago (Southside Alliance Church). Ali serviu até novembro de 1959, quando tornou-se pastor da igreja Avenue Road em Toronto. Um repentino ataque cardíaco a 12 de maio de 1963 pôs fim a esse ministério e Tozer foi introduzido na glória".[http:awtozerbrasil.blogspot.com.br/2000/11/quem-foi-awtozer.html?m=1].

Ao explanar o capítulo seis de Hebreus e reconhecer que este seja talvez  um dos mais difíceis da Bíblia, Tozer explica que "se tomarmos Hebreus 6 em seu contexto verdadeiro, muito será desvendado. Acredito piamente que a Bíblia não deve ser moldada para se encaixar em posição teológica alguma." (Tozer, 95).

É interessante notar que essas questões teológicas também foram sentidas pelo profeta do século XX e ao que tudo indica, ele estava ciente da controvérsia envolvendo arminianos e calvinistas de sua época. Tozer explica:

"Já me perguntaram se eu sou um calvinista ou um arminiano. Essa é uma questão crucial para algumas pessoas,  e muitas delas precisam saber de que lado da velha cerca doutrinária alguém se encontra. A pressão chega a tal ponto que todos precisam escolher que caminho tomar.  Calvinismo ou arminianismo? Se você decidir ser calvinista, certamente não poderá concordar com o pensamento arminiano. Por outro lado, sendo arminiano, não poderá tolerar qualquer argumento calvinista." (Tozer, 96).

Primeiramente, Tozer explica que já lhe perguntaram se ele era calvinista ou arminiano. Ele afirma corretamente que esta é uma questão crucial para algumas pessoas e é mesmo. Ele acentua essa tensão como a  "velha cerca doutrinária."

Apesar de muitos arminianos e calvinistas considerarem a opinião de Tozer irrelevante para os nossos dias, a verdade é que ela foi bastante útil para sua época. Tozer e muitos dos seus contemporâneos estavam tão envolvidos na obra do Senhor que se sentiram pressionados com tais questões teológicas. Tozer continua:

"Tudo isso, na verdade, é muito perigoso. Seria como se alguém lhe pedisse que escolhesse entre a sua mão direita e a sua mão esquerda. Se você escolher a direita, terá de se livrar da esquerda. Que tipo de contrassenso seria esse? Minhas mãos trabalham muito bem juntas." (Tozer, 96).

Estaria Tozer, propondo um "calminianismo?" De forma alguma! O desejo dele era de extrair aquilo que é proveitoso dos dois lados, ou seja, aquilo que é comum a ambos.

Tozer coloca os dois sistemas como ferramentas que podem ser úteis para o evangelho quando ambas trabalham juntas pela mesma causa. Isto não significa que ele abraçava os dois sistemas como plenamente legítimos e bíblicos. Ele continua:

"Quando alguém aborda esse assunto comigo, costuma me lembrar de um famoso pregador inglês que disse: 'Quando prego, sou arminiano. Quando oro, sou calvinista.' Sempre apreciei essa resposta e creio que ela seja a definição mais correta de mim mesmo e de muitos outros evangélicos convictos. Talvez ele fosse um calvinista duvidoso e um arminiano apologético. No entanto,  minha pergunta  é a seguinte: o que as pessoas eram antes de João Calvino nascer?  Porque não podemos ser simplesmente cristãos?" (Tozer, 96, 97).

É assim que Tozer se define: como um arminiano pregando e um calvinista orando. O desejo do mesmo era simplesmente ser chamado de cristão.

"Faço parte da junta de missões da Christian and Missiony Alliance [Aliança Cristã e Missionária] há muitos anos. Dois dos meus melhores amigos também fazem parte dela. Nós três nos conhecemos há muito tempo. Trilhamos caminhos diferentes, mas nos tornamos bons amigos ao longo dos anos. Um deles é calvinista convicto. Se você for à igreja dele em um domingo qualquer, vai se banquetear com um maravilhoso sermão calvinista. O outro é arminiano- de igual convicção. Se você for à igreja dele em um domingo qualquer, ouvirá um sermão arminiano maravilhoso. Embora meus dois amigos abracem posições doutrinárias diferentes, quando nos encontramos na junta de missões, estamos em completa harmonia. Ambos deixam suas preferências teológicas à porta e unem corações, buscando a mente do Senhor para aquele propósito." (Tozer, 97).

Infelizmente, não tem sido fácil encontrar comunhão e fraternidade na geração de calvinistas e arminianos da atualidade. Não estou querendo censurar o debate sadio nem reprimir aqueles que defendem suas posições teológicas. A questão é que a comunhão cristã tem sido afetada e isso não é bom. Tanto de um lado quanto de outro, há cristãos piedosos e servos de Cristo. Entretanto,  boa parte da  geração atual de calvinistas e arminianos vivem se degladiando mutuamente, sem respeito algum. É muito comum ver esse tipo de comportamento nas redes sociais, inclusive com a utilização de xingamentos contra aquele que pensam diferente. Quando iremos baixar a guarda?  Precisamos combater essa geração que recusa o diálogo em detrimento de ataques abertos contra instituições, pessoas e teólogos.

Tozer prioriza a comunhão! Segundo ele:

"Quando permitimos que nossas preferências doutrinárias determinem com quem teremos comunhão, somos culpados de distorcer e adulterar as Escrituras. Não precisamos fazer isso. Ao examinar a história da Igreja, encontramos grandes cristãos dos dois lados dessa discussão, e isso me leva a crer que esse debate não deva ser tão importante. Não creio que precisemos escolher entre sermos calvinistas ou arminianos. Se assim fosse, um lado estaria errado. Qual deles?" (Tozer 97, 98).

Tozer deixa claro que reconhece ambos os sistemas como cristãos, embora em seus escritos, o escopo teológico se distancie bastante do calvinismo e suas vertentes. Para ele, esse debate não é tão importante como alguns enxergam.

Para fundamentar seu entendimento, ele cita um episódio que aconteceu com John Wesley. Vejamos:

"John Wesley, o fundador da igreja Metodista, era um arminiano irredutível. Ele não tinha tempo para 'tolices calvinistas', como ele mesmo costumava dizer. Li alguns dos seus sermões; ele realmente era um arminiano. Entretanto, a história não termina aí. Em seu leito de morte, sua família e seus amigos estavam reunidos ao seu redor. Então,  eles o ouviram cantar algo bem baixinho. Quando um dos familiares se abaixou para tentar ouvi-lo, ele murmurava um hino. O que você acha que John Wesley estava cantando?
'Louvarei o meu Criador enquanto tiver fôlego. E quando minha voz se perder na morte, Toda minha força será empregada no louvor; Meus dias de louvor jamais cessarão. Enquanto minha vida, meus pensamentos, e meu ser perdurarem,  ou enquanto durar a imortalidade'." (Tozer, 98).

Tozer comenta:

"Quem você acha que escreveu esse hino? Isaac Watts, que era calvinista. Aquele arminiano doente  encerrou seus últimos momento da sua vida com o coração unido ao de um calvinista, cantando: 'Louvarei ao meu Criador enquanto tiver fôlego.' Quando se trata de adorar ao nosso Deus, não há calvinismo ou arminianismo. Tais distinções caem por terra no coração que pulsa em adoração." (Tozer, 99).

Isso é simples de entender. Em seu leito de morte, Wesley não deixou adorar a Deus com um hino de alguém que era calvinista, só porque   o compositor do hino, discordava da posição teológica dele. A unidade cristã está acima daquilo que é incomum a A ou B. Pelo contrário, a unidade se satisfaz naquilo que é comum, bíblico e louvável a Deus.

"Tenho quase certeza de que no Céu não haverá qualquer separação entre calvinistas e arminianos. Isso não será permitido além das portas peroladas. Amigos meus da Pensilvânia costumam brincar comigo quando eu estou lá, dizendo que haverá apenas uma denominação no Céu- a dos irmãos em Cristo. É difícil argumentar contra isso." (Tozer, 99).

Eu gostaria de pegar a primeira frase  de Tozer e lançar uma perspectiva pessoal em cima dela. Se no céu não haverá separação entre calvinistas e arminianos, porque aqui na terra nos cercamos  com trincheiras teológicas e deixamos de cultivar a harmonia? Por acaso, não estamos caminhando para o mesmo céu?  Se não conseguimos viver pacificamente com os que pensam diferente de nós, aqui e agora, o que faremos quando chegarmos lá em cima? Às vezes, vejo alguém nas redes sociais afirmando que no Céu,  todos seremos calvinistas. Que pensamento tolo! No céu, todos seremos um com Cristo e tudo que aqui neste tempo presente está obscuro, lá será revelado.

Tozer ainda afirma que: "Se o pregador for um calvinista, você encontrará um bocado de distorções e adulteração em seus sermões. O mesmo se aplica aos arminianos. A minha pergunta é: por que não nos colocamos acima das tentativas de fazer com que as Escrituras apoiem uma ou outra posição doutrinária?  Por que não acreditamos simplesmente na Bíblia? Creio que a fé em Jesus Cristo nos faz suplantar qualquer mesquinhez que encontremos ao nosso redor." (Tozer, 99).

Em seguida, Tozer faz uma explanação de Hebreus 6.4-6, mostrando as distorções que muitos fazem desse capítulo e traz uma boa explicação que em geral, também é dada pelos arminianos clássicos a respeito dessa passagem. Finalizando seu ponto de vista, Tozer alerta para o perigo relacionado à distorção das verdades bíblicas. Com base nisso, ele argumenta:

"Outro perigo associado à distorção das verdades bíblicas é que,  muitas vezes, ela segrega os cristãos. Se você for calvinista, por exemplo, será constantemente admoestado a manter-se longe dos arminianos e vice-versa: 'Sou calvinista porque esse é o único caminho verdadeiro'. Todavia, se o calvinismo é a verdade absoluta, os arminianos devem ser hereges de primeira ordem. Qualquer coisa que divida a comunhão dos cristãos é nossa inimiga. Tudo aquilo que se levanta em nosso meio precisa ser renunciado pelo que é entregue aos Senhor. De modo algum estou sugerindo que não devemos ter opiniões pessoais, no entanto, se isso nos divide e nos afasta do bom convívio fraternal, algo está errado. Precisamos colocar nossas opiniões nas mãos do Senhor." (Tozer, 107).

O argumento final de Tozer é um apelo à fraternidade e a paz. Nenhum tipo de segregação teológica era vista com bons olhos por ele. Nas últimas linhas, é notável o desabafo deste homem de Deus:

"Acredito que o pior perigo disso se reflita em nossa projeção para o mundo. Em vez de pregarmos o Evangelho para alcançar os perdidos,  somos tentandos a desenvolver uma ou outra linha teológica. De que adianta isso? O mundo não precisa do arminianismo ou do calvinismo; ele precisa de Jesus. Portanto,  qualquer assunto que desvie o foco da nossa atenção e das nossas energias para exaltar Cristo, precisa ser encarado de imediato." (Tozer, 107).

O conselho de Tozer deve ser entendido de forma correta. Se a controvérsia arminiana x calvinista não tem como propósito principal glorificar a Cristo e fazer sua obra, ela se torna um empecilho para o evangelho. Muitos tem deixado a praticidade bíblica para se esconder atrás das redes sociais e cultivar contendas e intrigas. Ora, essas coisas não devem ser encorajadas por nenhum cristão. Nossas forças e energias devem ser aplicadas prioritariamente na obra de Deus. Vidas estão precisando do evangelho e  será que Deus pode contar conosco, assim como contava com A.W. Tozer?

"Cristo não sofreu na cruz para que pudéssemos brigar por causa de nossas posições doutrinárias. Ele não ressuscitou dos mortos para que nos gabássemos frente a outros irmãos." (Tozer, 108).

É interessante a forma como Tozer se posicionou diante de toda essa questão. Ele só queria fazer a obra de Deus em paz, sem precisar se rotular. Embora não se defina como um arminiano, as obras de Tozer revelam claramente que ele não se simpatizava com o calvinismo e tinha uma visão muito próxima daquilo que o arminianismo ensina. Tozer não está sozinho nessa. Essa foi uma prática comum no passado e ainda hoje é repetida por certos cristãos. Muitos preferem ser conhecidos como biblicistas e recusam os rótulos.

Por outro lado, outros gostam de rotula-se e nós temos que respeitar isso. Tanto aqueles assumem uma posição teológica explicitamente quanto aqueles que não fazem isso, merecem nosso respeito e compreensão.

Por fim, o que aprendemos com Tozer é memorável e digno de crédito. Para ele, não faz muito sentido alguem se dizer calvinista ou arminiano se esse alguém não se comporta como um cristão. Que possamos encher o nosso coração das coisas de Cristo e que Deus nos ajude em tudo. Amém  

Referência bibliográfica:

TOZER, A.W. Fé transformadora: permita-se ser impactado por Deus. Rio de Janeiro Rio: Graça,  2015.

27 de outubro de 2016

A IMPORTÂNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO


por Everton Edvaldo


Texto Bíblico: "Eu, na verdade, vos batizo em água, na base do arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo, e em fogo." (Mateus 3.11)

Introdução: O batismo no Espírito Santo é um dos assuntos mais discutidos dentro da cristandade atual. Desde o advento do Movimento Pentecostal, esta doutrina tem sido ensinada com bastante ênfase pelos pentecostais. Porém, podemos notar que muitas igrejas, ditas pentecostais, já não estão no mesmo ritmo em que começaram. Alguns crentes não têm o entendimento correto sobre o que é o batismo e por que devemos buscá-lo. Com isso, ele acaba sendo confundido com outras coisas ou distorcido. Neste artigo, pretendo abordar a importância do batismo no Espírito Santo para os nossos dias, dentro de uma perspectiva bíblica e pentecostal. Boa leitura!

I- O QUE É O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO.

A expressão "batismo no Espírito Santo" é frequentemente usada nas igrejas pentecostais. Porém, o que é o batismo no Espírito Santo?

É uma doutrina bíblica. Antes de tudo, é preciso dizer que é uma doutrina bíblica. A alusão a esse batismo, pode ser constatada nas Escrituras tanto direta quanto indiretamente. Por exemplo, discorrendo acerca de Jesus aos judeus, João Batista declarou: "...ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo." (Mt 3.11; cf. Mc 1.8; Lc 3.16). O próprio Jesus disse em Atos 1.5: "Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias." Vale salientar que "a preposição 'com' é a partícula grega ‘en’, que pode ser traduzida como ‘em’ ou ‘com’. Por isso, muitos preferem a tradução 'sereis batizados no Espírito Santo." (STAMPS, p. 1626). A expressão ainda aparece em Atos 11.16 por intermédio do apóstolo Pedro.

Existem várias outras expressões na Bíblia que se referem a essa experiência incomparável com o Espírito Santo, porém, "batismo no Espírito Santo" é a mais comum dentro do Pentecostalismo.

O batismo no Espírito Santo é um presente de Deus para os salvos, capacitando-os para fazer sua obra e revestindo-os de poder espiritual. Segundo o pastor e teólogo Antonio Gilberto: "O batismo com o Espírito Santo é um revestimento de poder, com a evidência física inicial das línguas estranhas para o ingresso do crente numa vida de profunda adoração e eficiente serviço a Deus (Lc 24.49; At 1.8; 10.46; 1 Co 14.15,26). (GILBERTO, p. 29).

Diferente do que muitos pensam, o batismo no Espírito Santo não é a mesma coisa que conversão. Conforme pontua a Bíblia de Estudo Pentecostal: "O batismo no Espírito Santo é uma obra distinta e à parte da regeneração, também por Ele efetuada. Assim como a obra santificadora do Espírito é distinta e completiva em relação à obra regeneradora do mesmo Espírito, assim também o batismo no Espírito complementa a obra regeneradora e santificadora do Espírito. [...] Ser batizado no Espírito significa experimentar a plenitude do Espírito (cf. At 1.5; 2.4). Este batismo teria lugar somente a partir do dia de Pentecostes. Quanto aos que foram cheios do Espírito Santo antes do Pentecostes (e.g. Lc 1.15, 67), Lucas não emprega a expressão 'batizados no Espírito Santo'. Este evento só ocorreria depois da ascensão de Cristo (At 1.2-5; Lc 24.49-51, Jo 16.7-14)." (STAMPS, p. 1627).

É bem verdade que no momento da conversão, o Espírito Santo vem habitar dentro do crente, porém o batismo é uma experiência distinta do novo nascimento. O livro de Atos dos Apóstolos confirma este entendimento. Quando foram batizados no Espírito Santo, os discípulos que ali estavam reunidos, já eram salvos (cf Atos 2.1-18). Os pentecostais acreditam que esse batismo ocorre geralmente após a regeneração e sempre acompanhado pela evidência inicial do falar em outras línguas. Essa é a posição pentecostal tradicional de teólogos como José Gonçalves, Gunnar Vingren, Samuel Nyström, Nemuel Kessler, Gilberto Malafaia, Raimundo de Oliveira, Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Eurico Bergstén, Stanley Horton, entre outros.

O batismo é um mergulho glorioso! O teólogo Eurico Bergstén afirma que: "Ser batizado com o Espírito Santo significa ser imerso na plenitude do Espírito." (BEGSTÉN, p.16). O pastor Elienai Cabral também compartilha desse entendimento: "Ser batizado no Espírito é uma experiência distinta que equivale a ser mergulhado na fonte do Espírito." (MESQUITA, v. 3, p. 35-36).

II- PODER DO ALTO PARA FAZER A OBRA DE DEUS.

De acordo John W. Wyckoff: "Os pentecostais acreditam firmemente que o propósito primário do batismo no Espírito Santo é o poder para o serviço." (HORTON, p. 457). A História do Cristianismo está repleta de relatos de homens e mulheres que eram comprometidos em fazer a obra de Deus. Fazer a obra de Deus exige esforço, tempo e dedicação daquele que se dispõe a fazê-la, porém, aquele que se dispõe a fazê-la, necessita de poder do alto para desenvolvê-la. Em João 15.5, Jesus revela que sem ele nada podemos fazer. Que fique claro que Ele é o principal arquiteto desta obra. Aleluia!

O Pastor José Wellington Bezerra da Costa nos informa que "... quando um repórter perguntou a Daniel Berg quando esteve no Brasil pela última vez, antes de passar para o Senhor, qual o segredo do crescimento das Assembleias de Deus no Brasil, ele simplesmente respondeu: "É o Espírito Santo. É o Espírito Santo que batiza crentes e eles saem pregando o Evangelho e ganhando almas para Jesus. É esse o segredo." (MESQUITA, v. 3, p. 219). Ou seja, o batismo é uma capacitação divina para trabalharmos para Jesus.

Segundo Eurico Bergstén: "O grande objetivo do batismo com o Espírito Santo é suprir os crentes de poder do alto para serem testemunhas do Senhor." (BEGSTÉN, p. 41). Os discípulos foram revestidos de poder para pregar o evangelho com mais ousadia e autoridade.

Essa foi uma promessa feita pelo próprio Senhor Jesus: "Eis que envio sobre vós, a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder." (Lucas 24.49).

Conforme escreveu Elienai Cabral: "...O Espírito reveste o crente com poder para que este faça a vontade de Deus; para fazer a sua obra. Que podemos fazer sem o "poder do Espírito"? Nada! Precisamos do poder de encorajamento, de renúncia, de amor, para fazermos a obra de Deus. Os discípulos de Jesus, enquanto não foram revestidos do poder, estavam medrosos, assustados, com medo de morrer e acovardados. (...) Este poder capacita o crente a fazer bem a obra de Deus. Dá-lhe condições de vencer os obstáculos morais, físicos, materiais e espirituais." (MESQUITA, v.3, p. 35-36).

É necessário deixar claro que a extensão desta promessa não se limitou apenas aos discípulos, mas a todos os salvos. Foi exatamente isso que ensinou o apóstolo Pedro em seu sermão no dia do Pentecostes: "Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar." (Atos 2.39).

Nesse ponto contribui Francisco Pereira do Nascimento: "A promessa do batismo no Espírito Santo, não é uma promessa limitada, como o Inimigo tem espalhado, porém é uma promessa que se estende de geração em geração sobre aqueles que aceitam Jesus como único e suficiente Salvador." (MESQUITA, v. 2, p. 27).

III - MANIFESTAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS.

Sim, o batismo no Espírito Santo promulga a manifestação da multiforme sabedoria de Deus no meio da sua igreja. Segundo o pastor Antonio Gilberto: "O batismo com o Espírito Santo abre caminho para a manifestação dos dons espirituais, segundo a vontade e propósitos do Senhor." (GILBERTO, p. 7).

Deus capacita seus servos com dons para atender todas as necessidades eclesiásticas. De acordo com Carl Henry: "Negligenciar a doutrina da obra do Espírito... cria uma igreja confusa e incapacitada." (HORTON, p. 462).

Uma igreja onde não existe a atuação do Espírito Santo é uma igreja morta. Lamentavelmente, a Igreja tem vivido dias difíceis, onde muitos cristãos têm desprezado os dons espirituais. Uma geração incrédula pode ser percebida não só nas igrejas como também nas redes sociais. Todos os dias, os opositores do Pentecostalismo ridicularizam, zombam e desrespeitam as manifestações carismáticas.

Entretanto, não devemos desanimar! Não é do desejo de Deus que a chama pentecostal se apague. Através dos dons espirituais, o Nome Dele tem sido engrandecido e glorificado em nosso meio. Diariamente, muitas pessoas têm sido abençoadas com curas, libertações, batismo, salvação, sabedoria, etc. Por que essas coisas têm acontecido? Porque Deus não mudou! Ele operou no passado e também opera no presente. A maneira como Deus age no meio do seu povo é contagiante! Ele pode fazer coisas gloriosas através dos seus instrumentos!

Se as nossas igrejas deixarem de se interessar pelas bênçãos do Espírito Santo, o mundanismo irá prevalecer sobre nós.

Sendo a Igreja um corpo, é de se esperar que nela haja vida e dinamismo. O batismo no Espírito Santo concede essa bênção! John W. Wyckoff pontua uma coisa interessante acerca das pessoas batizadas:

"As pessoas batizadas no Espírito Santo e revestidas pelo seu poder afetam o restante do corpo de crentes. Menzies afirma que 'o batismo no Espírito Santo fica sendo a entrada para um modo de adoração que abençoa os santos de Deus reunidos. Esse batismo é a entrada para numerosos ministérios no Espírito, chamados dons do Espírito, inclusive muitos ministérios espirituais." (HORTON, p. 458).

IV- FORÇA PARA RESISTIR AOS ATAQUES DO MALIGNO.

Diariamente, a Igreja é bombardeada com investidas malignas. O diabo trabalha para esfriar as igrejas, apagar o fogo do Espírito, destruir famílias, proclamar pregações antropocêntricas e desviar os fiéis. Diante disso, precisamos estar revestidos pelo Espírito Santo a fim de sairmos vitoriosos!

Segundo Eurico Begstén: " A necessidade de poder divino continua a mesma, pois o poder do Maligno não mudou, nem ficou mais brando. Pelo contrário, a Bíblia diz que nos últimos dias o inimigo '...tem grande ira, sabendo que já lhe resta pouco tempo' (Ap 12.12b). Nos tempos do fim, as doutrinas dos demônios teriam mais adeptos (1 Tm 4.1).

Os discípulos na Igreja Primitiva resistiram e venceram as forças do mal com o poder recebido através do batismo com o Espírito Santo, e dos dons espirituais que o acompanhavam (At 8.9-12; 13.8-12; 16.17-18; 19.13-17). Os salvos têm hoje a mesma necessidade de poder." (BEGSTÉN, p. 21).

Deus quer nos dar poder para repreender as tempestades espirituais! Deus quer nos dar poder para expulsar os demônios! Ele também quer nos dar poder para colocar as mãos sobre os enfermos e eles serem curados!

Conclusão: Embora muitos tentem distorcer a doutrina do batismo no Espírito Santo, a Bíblia é bem clara quanto ao assunto, isto é, Jesus quer batizar todos os salvos no Espírito Santo, porém essa bênção precisa ser buscada. O Senhor está com as mãos estendidas, assim como no dia de Pentecostes. É Ele quem batiza o crente. Que possamos buscar essa dádiva com sinceridade e de todo coração, em nome de Jesus. Amém!

BIBLIOGRAFIA:

BEGSTÉN, Eurico. Lições Bíblicas- A pessoa e a Obra do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
GILBERTO, Antonio. Lições Bíblicas- As Doutrinas Bíblicas Pentecostais. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática. 9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
MESQUITA, Antônio. Mensageiro da Paz- Os artigos que marcaram a história e a teologia do movimento Pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.

26 de outubro de 2016

A Assembleia de Deus em Pernambuco proibiu seus membros de ler livros Reformados?



Por Everton Edvaldo

Não é de hoje que a Assembleia de Deus (IEADPE) tem sido alvo de ataques pelas redes sociais. Dessa vez, a informação é de que a Igreja proibiu seus membros de ler e comprar livros reformados. A crítica foi feita por Cristielson A. Santos e foi publicada na página “Evangelho Puro&Simples”, o que gerou vários compartilhamentos e comentários sobre o assunto. Antes de analisar a crítica gostaria de disponibilizar o texto original logo abaixo:

“Como não tenho rabo preso com denominação alguma, tenho liberdade de expressar o que penso. É lastimável e deplorável a posição que a ‘empreja’ pentecostal Assembleia de ‘Deus’ Pernambuco está tendo com os membros de algumas cidades, estão com tanto medo que seus membros conheçam o Calvinismo, que estão proibindo os irmãos de comprar e estudar qualquer livro que seja de linha reformada. É o cabresto da religião que quer limitar o conhecimento do povo de Deus, é a maldita religião cega pelo sistema dos ‘coronéis’ que usam o poder para fazer do povo massa de manobra, o que a Assembléia tem é medo de perder membros, medo da receita cair, medo de que o povo mude. Por isso incentivo aos irmãos, não se intimidarem com pressões psicológicas infundadas em achismos religiosos, sejam livres em Cristo, estudem, leiam, comprem livros, estudem a Bíblia, o conhecimento os libertará do engano religioso.”  (Cristielson A. Santos, dia 09/10/16, às 23.10).
O texto causou revolta em muitos leitores que passaram a xingar e a criticar a IEADPE com as palavras mais rígidas possíveis. Primeiramente, vamos analisar a veracidade dessa informação. Não podemos criticar algo sem fundamento ou compartilhar determinada publicação só porque está na internet. Nem toda informação que circula na internet é verdadeira. 

Cristielson não revela de onde tirou a informação de que a IEADPE tem proibido seus membros de comprar e estudar livros de linha reformada. Existe algum documento, pronunciamento, pregação, vídeo ou algo que possa provar o que ele disse? Se sim, então sua crítica é digna de crédito. Se não, (como esse é o caso), então a informação não pode ser tida como verdadeira. Tanto o Cristielson quanto a página “Evangelho Puro&Simples”, não descrevem como ficaram sabendo disso. 

Porém, observando os comentários na página “Evangelho Puro&Simples” notei algo interessante. Uma internauta comentou nessa postagem o seguinte:

O engraçado é que essa proibição não existe. Os membros são livres para lerem o que quiserem. Se não lêem é porque não querem, ou falta de interesse. Não há um cabresto sobre nós, meu irmão. O que há é uma doutrina forte e pessoas convictas do que crêem nas Sagradas Escrituras. Fique na paz do Senhor Jesus.”

Então a página responde à ela com a frase:

“Só se não existe na sua denominação, porque pelo menos 3 membros da ADPE já vieram conversar comigo.”

Seriam essa três pessoas, as responsáveis por essa informação? Também não sabemos.  O que quero especificar é que não é uma atitude inteligente veicular uma informação dessas, baseando-se  no que disseram três membros da Igreja. A IEADPE tem milhares de membros e congregados, e não são duas ou três pessoas que vão falar pela denominação inteira. Jogar algo na internet por que fulano ou ciclano disse, qualquer um faz, difícil é provar o que se afirma. Mas, vamos dar continuidade à nossa análise. 

Baseado nessa suposta informação, o Cristielson, diz que “É lastimável e deplorável a posição que a ‘empreja’ pentecostal Assembleia de ‘Deus’ Pernambuco está tendo com os membros de algumas cidades.”  Podemos perceber que a crítica já começa com um tom depreciativo em cima da IEADPE. Primeiro ela é caracterizada como “empreja” e depois a palavra “Deus” é colocada entre aspas. Eu diria que lastimável é a maneira desrespeitosa como ele se refere à instituição. Ao que parece, o Cristielson desconhece totalmente o trabalho centenário realizado pela IEADPE.

Depois ele diz: “estão com tanto medo que seus membros conheçam o Calvinismo, que estão proibindo os irmãos de comprar e estudar qualquer livro que seja de linha reformada.”  

Na verdade, a liderança da IEADPE nunca proibiu seus membros de comprar ou estudar qualquer tipo de livro. O que a liderança tem enfatizado é que deve-se ter cautela nas leituras que os membros estão fazendo. Isso é totalmente compreensível, visto que muitas pessoas não tem maturidade bíblica e literária e podem correr o risco de acreditarem em tudo quanto leem ou ouvem. Isso não se constitui uma proibição, porém um zelo do ministério com as ovelhas do nosso Senhor Jesus Cristo. Vale também salientar que a liderança da IEADPE não está com medo do Calvinismo, embora tenha todos os motivos para isso. Todos podemos perceber que por onde o calvinismo passa, deixa um rastro de contenda, intolerância e pertubação no meio do corpo de Cristo. Por acaso, estaria errada a IEADPE por se preocupar com seus membros? De forma alguma!

Em seguida ele continua :"É o cabresto da religião que quer limitar o conhecimento do povo de Deus, é a maldita religião cega pelo sistema dos ‘coronéis’ que usam o poder para fazer do povo massa de manobra, o que a Assembléia tem é medo de perder membros, medo da receita cair, medo de que o povo mude.”

Mais uma sessão de ataques é direcionada à instituição e aos seus líderes. O autor do texto dá a entender que os assembleianos precisam de livros reformados para não terem um conhecimento limitado e afirma que a Assembleia tem medo de perder membros, medo da receita cair e medo de que o povo mude.

Sem dúvida, é ilusório pensar dessa forma. A IEADPE é uma das igrejas que mais crescem no país. Ela tem se comprometido seriamente com o Evangelho de Cristo e não depende de nenhum sistema teológico criado por A ou B para crescer. O crescimento da Assembleia de Deus é um presente dado pelo próprio Espírito Santo, fruto de um intenso trabalho de evangelismo e ensino bíblico. Por incrível que pareça, as igrejas que têm perdido seus membros são justamente aquelas que se dizem detentoras da verdade e do "verdadeiro evangelho". Essas, não crescem, pois não investem tanto no evangelismo e precisam ficar “pescando” membros de outras denominação enquanto criticam todas elas.

O que o Cristielson chama de “medo de que o povo mude”, eu chamo de zelo pelas pessoas. A verdadeira mudança  não é aquela que vem através de livros reformados, mas pela Palavra de Deus. Sendo assim, os salvos que fazem parte da membresia da IEADPE já estão transformados pelo poder do Evangelho de Cristo. Dessa forma, é de se esperar que os líderes ensinem suas ovelhas a se protegerem de teologias que em algum sentido sejam nocivas à elas.

Ele termina seu texto dizendo: “Por isso incentivo aos irmãos, não se intimidarem com pressões psicológicas infundadas em achismos religiosos, sejam livres em Cristo, estudem, leiam, comprem livros, estudem a Bíblia, o conhecimento os libertará do engano religioso.”

Para finalizar, eu gostaria de pontuar algumas coisas:

Primeiro, as pessoas devem sim estudar, ler e comprar livros. Contudo, deixo claro que as Escrituras por si só são suficientes e essenciais para o nosso entendimento acerca das coisas de Deus. Os livros reformados não estão no mesmo patamar que a Bíblia e por isso estão sujeitos à falhas e erros.

Segundo, de forma alguma devemos pensar que aqueles que não conhecem os livros reformados são inferiores aos que conhecem ou que eles não estão livres em Cristo.

Terceiro, os livros reformados são algumas das ferramentas para se estudar a Bíblia e não as únicas. Existem outras visões que são dignas de crédito e também merecem ser estudadas.

Meu quarto posicionamento é em relação aos reformados que atuam na internet. Não admiro muito a geração de reformados de internet. Leem dezenas de livros reformados, sem nunca terem lido a Bíblia toda. Aprendem sobre Deus com as lentes de Piper, Sproul, Calvino, Spurgeon, Nicodemus, MacArthur, Pink, Owen e já se acham preparados para criticar todos os que pensam diferente. Me parece que a "Sola Scriptura" está faltando na prateleira da maioria deles.

E quinto, a IEADPE não se sente intimidada, nem ofendida pelos ataques planejados com o objetivo de denegrir a imagem da instituição e de trazer IBOPE para as páginas reformadas, pois bem sabemos que a mentira nunca prevalecerá contra a verdade.

Que Deus abençoe a todos!

20 de outubro de 2016

O Egito na época de Moisés: do nascimento ao Faraó do Êxodo.


Por Everton Edvaldo

Leitura Bíblica: (Êxodo 2.2; 2.23; 4.19)

Introdução: A Bíblia está repleta de crônicas localizando nações, reis e governantes. Todos os fatos nela descritos podem ser provados historicamente, entre eles no Egito. Você sabia que o Egito é a segunda nação mais mencionada na Bíblia? Nesse estudo regressaremos à época de Moisés, há 3525 anos. Esse estudo gira em torno de como era o Egito na época de Moisés e a localização do Êxodo dentro da narrativa bíblica. A Bíblia é histórica e os fatos são reais. O Êxodo realmente ocorreu! Os faraós existiram. Nesse estudo responderemos a algumas perguntas, por exemplo: "Como era o Egito na época de Moisés? ",  " Como eram as cidades, e a cultura, a escrita, e a educação?", "Quem foi o Faraó do Êxodo?", "Quem foi a princesa que salvou Moisés do Nilo?". Iremos responder a essas perguntas na medida em que o estudo for sendo desenvolvido. Boa leitura!

COMO ERA O EGITO NA ÉPOCA DE MOISÉS.

Moisés nasceu por volta do ano 1525 a.C. Na época de Moisés, o Egito era a maior potência mundial. Um país rico e poderoso capaz de construir grandes monumentos,pois era cheio de prosperidade material e territorial. Era o centro mundial da engenharia, matemática e astronomia. Na época de Moisés atingiu o seu apogeu militar e econômico. Conforme  escreveu André Daniel Reinke: "Enfim, foi o maior e mais rico império de seu tempo, avançado em muitos aspectos."

Origem do Egito. De acordo com Antônio Gilberto: " O Egito foi fundado por Mizraim, filho de Cão, logo após o dilúvio (Gn 10.6,13)."

A cultura egípcia. O Egito era repleto de cultura. Cheio de artes, retratava nelas a sua vida cotidiana, suas crenças, e sua inteligência. Sobre isso nos diz Charles R. Swindoll: "Pode-se dizer que eram a ‘classe nobre’ daquela época. Na área educacional eles haviam chegado ao ponto máximo." Eles tinham as melhores universidades, a mais alta economia e a cultura mais rica.

As pirâmides. De acordo com André Daniel Reinke: "No tempo do Êxodo, as pirâmides já eram construções muito antigas. As famosas Queóps, Quéfren e Miquerinos já existiam havia mais de 1.300 anos (foram por volta de 2.160 a.C). Todas elas, em qualquer tempo, foram túmulos reais. Nelas estavam enterrados os faraós do Egito, cujas múmias eram acompanhadas de tesouros e jóias, estátuas, máscaras mortuárias de ouro e outras preciosidades." Foi nesse ambiente que Moisés nasceu, cresceu e contemplou dia após dia. Certamente ele conheceu muitas pirâmides.

As jóias egípcias. Os egípcios gostavam de se vestir elegantes, pintados e bem produzidos. Se preocupavam com a beleza externa do seu corpo. Segundo André Daniel Reinke: "Os egípcios produziram jóias fantásticas, lindas e muito bem acabadas, fabricaram todo tipo de pingentes, colares, braceletes, e assim por diante. Eles se preocupavam muito com a aparência, usavam maquiagem para o rosto e adereços com enfeite."

A escrita egípcia. A escrita que ficou mais conhecida no Egito foi a Hieroglífica. De acordo com André Daniel Reinke: "Era baseada em sinais, desenhada sobre pergaminhos feitos de papiro uma planta muito comum no rio Nilo, cujo caule era aberto e suas fibras unidas, formando essa folha sobre a qual se podia escrever." Sobre isso escreveu Severino Pedro: "A escrita hieroglífica era também considerada sagrada (hieros, "sagrado" e glyphein, "gravar."). Os antigos egípcios chamavam seus textos escritos de "palavras dos deuses". [...] Havia três modalidades básicas: Hieroglífica, a escrita sagrada dos túmulos e templos; a hierática, uma simplificação da anterior; e a demótica, a escrita popular, usada nos contratos redigidos pelos escribas."

A educação de Moisés no Egito. Moisés recebeu a melhor educação existente nos seus dias. Sobre isso escreveu o erudito Matthew Henry: "Embora seja certo que ele estivesse a desfrutar tudo o que a corte tivesse de melhor no momento devido, neste ínterim Moisés teve a vantagem de receber a melhor educação e o melhor desenvolvimento que a corte podia oferecer. Este preparo, aliado a uma grande capacidade pessoal, fez com que Moisés se tornasse mestre em todo o conhecimento legítimo dos egípcios, At 7.22." Moisés se tornou um dos homens mais educados de sua época, vejamos o que diz o erudito W. W Wiersbe: "O que fazia parte dessa educação? Os egípcios eram uma civilização extremamente desenvolvida para sua época, especialmente nas áreas de engenharia, matemática e astronomia."

O rio Nilo. Esse rio bastante conhecido na história é o segundo maior rio do mundo, só perde para o Amazonas. É importante falar sobre esse rio, pois sem o Nilo o Egito não existiria. O Egito depende dele para sobrevivência. De acordo com Severino Pedro: "O Nilo movia a economia. Era adorado e venerado como sendo a origem de toda a felicidade do povo egípcio. Assim, tanto na adoração como no louvor se dizia: ‘o Egito é uma dádiva do Nilo.’ Alimentava milhares de pessoas numa área de 3.000 quilômetros de comprimento por 15 quilômetros de largura. Garantia unidade à civilização egípcia, mas trabalho, como a construção de diques e canais de irrigação, o que exigia um poder forte e centralizado." O rio Nilo é um dos rios mais extensos do mundo com 5.607 Km. Fora do Nilo o Egito possui poucos acúmulos naturais de água potável. Segundo André Daniel Reinke: " Todas as comunidades egípcias se desenvolveram às margens do Nilo, que irrigava o solo para plantações, e os transportes eram feitos por via fluvial." Moisés cresceu vendo canoas de junco, barcos e até navios de carga navegando pelo Nilo. Vale salientar que foi nesse rio que Joquebede colocou o menino Moisés. Deixo aqui também as palavras do pastor Antônio Gilberto: "Foi no seu delta (terra de Gósen) que o povo Israelita permaneceu no Egito (Gn 47.6). Foi nas águas deste rio que o pequenino Moisés flutuou (Êx 2.3). É portanto um rio ligado à História do povo escolhido."

         As cidades egípcias. De acordo com A. Daniel Reinke: "As cidades egípcias eram grandes, possuíam mercados, escolas, magníficos templos e construções ricamente ornamentadas, estátuas e colunas colossais, oficiantes de charretes, artesãos, ourives, fabricantes de vinho e cerveja, enfim, as mais diversas atividades. Os egípcios eram avançados na medicina: tinham bons ortopedistas, obstretas e até  oftalmologistas. Conheciam muito bem o corpo humano por causa da mumificação que faziam em seus mortos- os nobres, claro."

Religião egípcia. Não quero me deter aqui nesse ponto, por isso serei breve e claro. Até porque a religião egípcia é um assunto extenso e não tenho por objetivo me prender nesse assunto. Bem, na época de Moisés a religião egípcia já era Politeísta, ou seja, eles serviam e acreditavam em vários deuses. Eles eram bem religiosos, mexiam com ocultismo, misticismo e magia. No panteão dos deuses, os mais conhecidos eram Ísis, Osíris, Hórus, Anúbis, Rá, Seth, Toth e etc. Esses deuses assumiam formas humanas, animais e naturais. Adorava-se o Nilo, o Falcão, o Sol e até o próprio Faraó. Enfim, a religião egípcia era totalmente pagã e impura.

O GOVERNO DO FARAÓ NO TEMPO DE MOISÉS:

De acordo com o Pastor Ezequias Soares: "O termo "Faraó" é uma deformação grega de (Pharao) vinda da palavra egípcia Per aa  "a grande casa", empregada para indicar o palácio real. A partir de 1580 a.C; veio a ser usada para designar o próprio soberano. O Egito foi sempre uma monarquia absoluta, cujo topo era ocupado pelo Faraó, que detinha o poder político, religioso e militar. Considerado deus, ostentava o título de filho do Sol."

O Faraó era o poder máximo no Egito. Conforme Severino Pedro: "Tinha por título "filho do Sol", e representava o poder religioso, político e militar de todo o Egito. O nome "Faraó", na realidade é uma deformação grega de uma palavra egípcia que indicava o palácio real. Somente durante o Império Novo é que a palavra "Faraó" passou a designar a pessoa do soberano. Tinha várias mulheres, mas só a primeira podia usar o título de rainha."

O Faraó também era cultuado. Randall Prince em trabalhos de arqueologia egípcia descobriu que o Faraó também era considerado deus. Ele diz: "O que descobrimos é que Faraó era considerado como a encarnação do deus sol Rá e Horus - Osíris, os deuses mais importantes do Egito. Assim, ele era visto como o principal deus do mundo."

O NOVO IMPÉRIO E A DINASTIA:

Qual família real governava na época de Moisés? Bem; a época de Moisés se situa no Novo Império egípcio, uma época de crescimento e apogeu do Egito. Vejamos agora como se desenvolveram esses fatos.

De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe: "O Novo Reino ou Império (Dinastias XVIII-XX; 1580-1090 a.C.) representou o ponto alto da expansão territorial egípcia, uma era de conquistas e de prosperidade material. Agora, o objetivo real estava dirigido à destreza física do divino rei, para fazer dele um homem de força insuperável e um habilidoso atleta. Dentre os governantes desse período podemos destacar os seguintes (Dinastias XVIII) Hatshepsut, a mulher rainha, possivelmente a princesa que encontrou o bebê Moisés (Êx 2.5-10), bastante conhecida por seu belíssimo templo mortuário em Deir el - Bahri (...)."

Cronologia dos Faraós 18 Dinastia.: (É importante lembrar que as datas são aproximadas, e que essa cronologia não é fixa, nem tampouco definitiva)



1º Amósis I


8° Tutmósis IV


2º Amenotepe I (1546-1525 a.C.)


9° Amenotepe III


3º Tutmósis I [O Faraó que governava quando Moisés nasceu] (1525-1508 a.C.)


10° Amenotepe IV (Akhenaton)


4º Tutmósis II (1508-1504 a.C.)


11° Smenekhare


5° Hatshepsut [a princesa que provavelmente salvou Moisés do Nilo] (1504-1482 a.C.)


12° Tutancâmon


6º  Tumósis III [o Faraó da Opressão da qual Moisés foge. A morte dele está descrita em Êxodo 2.23] (1482-1450 a.C.)


13° Eje


7° Amenotepe II [O Faraó do Êxodo, que perseguiu o povo até o mar.] (1450-1425 a.C.)


14° Horemheb


FARAÓ TUTMÓSIS I.

 Muitos fazem a seguinte pergunta: "Quando Moisés nasceu, qual era o Faraó que governava?", ou então " Qual o nome do Faraó que mandou jogar os bebês no rio Nilo?". Esse tópico pretende localizar essas respostas dentro da História.
Já vimos que Moisés nasceu por volta do ano 1525 a.C, no mesmo ano em que Tutmósis I assumiu o trono. Logo, ele era o Faraó que governava na época em que Moisés nasceu.

Era um homem que assim como Amenotepe I (seu sogro) e Amósis I preocupou-se em expandir o Egito, e ele fez isso dedicando -se a conquistas e expedições militares. Seu sogro Amenotepe I quando morreu deixou o Egito como o país mais rico e mais poderoso do mundo. Amenotepe I era casado com sua irmã, (acreditava-se que casando-se os parentes a linhagem real seria preservada, porém na prática isso falhou.)  Amenotepe I não teve filhos do sexo masculino para sucedê-lo no trono, então Amósis sua filha primogênita casou com um militar chamado Tumósis I. Após a morte de Amenotepe I, o militar Tutmósis I herdou o trono.

 Esse Tutmósis I, foi o Faraó que mandou jogar os bebês hebreus no rio Nilo. Ele não teve filho homem com sua mulher legítima para subir no trono. Ele foi Pai de Hatshepsut, a princesa que salvou Moisés do rio Nilo (Êx 2.5-10). Tumósis I também teve uma mulher no harém chamada Mutnofre, e teve com ela um filho que se chamava Tutmósis II. Hatshepsut filha de Tumósis I  foi destinada a casar com seu meio-irmão Tutmósis II. Tumósis I morreu quando Moisés tinha mais ou menos 17 anos. Sendo assim Tutmósis II assumiu o trono.

Sobre tudo isso comentou Merril F. Unger: "Visto que Tumósis I não deixou herdeiro legítimo do sexo masculino que ocupasse o trono, sua filha Hatshepsute era herdeira presuntiva. Sendo impedida, contudo, devido ao sexo, de sucedê-lo, a única solução que lhe restava era transmitir a coroa a seu marido, através do casamento, e assegurar a sucessão para seu filho. Afim de frustar um dilema para a dinastia, e impedir a perda da coroa em favor de outra família, Tutmósis I foi obrigado a casar sua filha com seu meio-irmão mais novo, filho de um casamento menos importante, que assumiu o trono como Tutmósis II."

 HATSHEPSUTE, A PRINCESA QUE ADOTOU MOISÉS:

Tutmósis II não ficou tão conhecido na história, o que se sabe é que ele teve um reinado curto de apenas 4 anos. Teve apenas uma filha com Hatshepsute. E possuía uma amante da qual lhe nasceu um filho. Antes de morrer legitimou o filho (que não possuía sangue real) ao trono. Sobre isso escreveu Ezequias Soares: "Hatshepsut e Tutmósis II governaram juntos o país, mas ele sofreu morte prematura.

O casal teve só uma menina, mas ele moribundo, se apressou em legitimar um filho que havia tido com uma concubina do harém, para que herdasse o trono como Faraó. Esse futuro Tutmósis III era enteado e ao mesmo tempo sobrinho de Hatshepsute. Era ainda criança quando ela assumiu o trono. De fato, foi ela quem governou o Egito. Embora ela não quisesse ser rainha, mas o próprio Faraó e conseguiu isso com o apoio dos sacerdotes do deus Amom, de Tebas. Ela assumiu características e atributos masculinos, usou vestes reais masculinas e barbas postiças comum ao Faraó."

 Hatshepute era uma mulher de punho forte, inteligente, rejeitou ser rainha. Ela era o próprio Faraó. Foi a única mulher na história egípcia a se tornar Faraó. Quando ia se pronunciar em público vestia vestes masculinas, e até foi enterrada como Faraó. Nunca deixou de ser mulher, nem mãe, mas tinha um espírito aventureiro, de governo, domínio e astúcia. Sobre ela escreveu Severino Pedro: "Neste período se destaca a rainha Hatsepsut, que se proclama regente do trono egípcio após depor seu sobrinho Tutmósis III e reina 22 anos, usando barba e vestindo trajes de homem.

 De acordo com Merril F. Unger: "Hatshepsut, (...) não apenas assumiu o reinado durante a minoridade de Tutmósis III, mas recusou-se a entregar-lhe a regência, mesmo depois da sua maioridade." E ele continua: "Logo de começo, a enérgica rainha anunciou sua intenção de reinar como homem. Seu brilhante reinado foi caracterizado por notável prosperidade e grandes construções, e não chegou ao fim antes de cerca de 1486 a.C., quando em seguida à sua morte, o impaciente e invejoso Tutmósis III subiu ao trono e, imediatamente, destruiu ou obliterou todos os monumentos dela." De acordo com Severino Pedro: "Depois de sua morte, Tutmósis III recuperou o trono e ordena que sejam apagados todos os monumentos que continham o nome de Hatshepute, reinando então por 34 anos." Segundo Ezequias Soares: "Só depois da morte de Hatshepute é que Tutmósis III finalmente conseguiu assumir o trono do Egito."

TUTMÓSIS III, O FARAÓ DA OPRESSÃO.

Muitas pessoas perguntam: "Quem foi o Faraó da Opressão, de quem Moisés fugiu?" e "Quem foi o Faraó do Êxodo?". Atualmente há duas posições sobre quem seria o Faraó do Êxodo. Uma é mais conservadora e mais antiga, a outra moderna. Apesar de tantas discussões em torno disso, não há nenhum indício fiel, sério e definitivo que prove que Ramsés II e Mernepta são os Faraós descritos em Êxodo. Creio que a posição mais conservadora é convincente quando o assunto é datas, cronologia, Dinastias, etc. Por isso creio que o Faraó da Opressão foi Tutmósis III e o do Êxodo: Amenotepe II. Vejamos agora alguns indícios:

Vejamos agora alguns indício segundo Merril F. Unger: " A História contemporânea Egípcia permite calcular a data do Êxodo em torno de 1441 a.C. esta data cai bem provavelmente, nos primeiros anos do reinado de Amenotepe II (1450-1425 a.C), filho do famoso conquistador e imperador Tutmósis III (1482-1450 a.C). Um dos mais notáveis dentre os Faraós da Opressão.

De acordo com o registro Bíblico, Moisés esperou a morte do grande opressor para voltar ao Egito, de seu refúgio em Midiã (Ex 2.23). O Êxodo teve lugar não muito depois, no reinado de Amenotepe II, que era, evidentemente, o rei que endureceu o coração e não queria deixar os filhos de Israel saírem. A morte de Hatshepsut e a ascensão de Tutmósis III inaugurou, sem dúvida, a última e mais severa fase da opressão de Israel. O novo monarca foi um dos maiores conquistadores da história do Egito."

Ele ainda fala: "A descrição de Tutmósis III como o grande opressor dos Israelitas, é plenamente digna de crédito. Ele era um grande construtor, e empregava cativos semitas em seus vastos projetos de construções."

De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe: "A combinação de Tutmósis III e de Amenotepe II ajusta-se bem às exigências do Faraó da Opressão e às do Faraó do Êxodo, respectivamente. Tutmósis seria o governante cuja morte está registrada em Êxodo 2.23, o mesmo de quem Moisés fugiu em 2.15 (cf 4.19). Ele reinou sozinho por 34 anos (1483-1450 a.C). Em outra parte do dicionário está escrito que: " Tutmósis (1504-1450 a.C) foi um hábil veterano cujas 17 expedições para a Palestina-Síria serviram para realmente estruturar o império." Severino Pedro diz: " Durante seu reinado, o Egito experimentou um período de maior esplendor e prosperidade."

Vale salientar que Moisés cresceu convivendo com Tutmósis III. Imagine agora Moisés criado como um príncipe, com a melhor educação. Fazia parte da Nobreza. Havia possibilidade de Moisés herdar o trono do Egito, caso Tutmósis II o legitimasse. Imagine: "Faraó Moisés". Mas os planos de Deus eram outros. De acordo com Matthew Henry: "A tradição dos judeus diz que a filha de Faraó não tinha filhos, e que era filha única de seu pai, de forma que quando ele foi adotado como seu filho, passou a ter direito à coroa."

Já Lawrence O. Richards diz que: "(...) Moisés, achado por uma princesa, foi adotado pela família real do Egito. Como filho da princesa, Moisés pode até mesmo ter reivindicado o trono do Egito!" Isso só seria possível enquanto Hatshepsut estivesse viva.

De acordo com Ezequias Soares: "Enquanto viveu, Hatshepsut conseguiu inutilizar Tutmósis III. Parece que Moisés representava uma ameaça para o enteado e sobrinho da rainha. É estranho que o Faraó estivesse procurando matar Moisés, um príncipe do Egito, por causa da morte da morte de um egípcio, a ponto de fazê-lo fugir para Midiã (Ex 2.15). Era algo pessoal, pois o Faraó tentava se livrar de Moisés. A essa altura, Hatshepute era a única pessoa do Egito capaz de quebrar as regras e colocar o trono do Egito ao alcance de Moisés."

Essa perseguição com Moisés era motivada por inveja, Tutmósis III tinha inveja de Moisés. A Bíblia diz que Moisés era instruído em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em suas palavras e obras (At 7.22).

No período em que ele governou Moisés fugiu para o Egito, após a sua morte, Moisés regressa ao Egito após obedecer à chamada de Deus. Tutmósis morre por volta de 1450 a.C. Conforme escreveu Ezequias Soares: "Tutmósis III é o único Faraó do período que reinou tanto tempo desde a fuga de Moisés do Egito até a Teofania do Sinai."

Segundo Antônio Gilberto: "Totmés III foi um dos maiores reis do Egito. Seu túmulo está em Tebas e sua múmia no museu do Cairo." Após a morte de Tutmósis III, seu filho Amenotepe II assumiu o trono e se tornou o novo Faraó.

AMENOTEPE II O FARAÓ DO ÊXODO.

 Esse tópico não tem como objetivo ser extenso, nem de expor todas as provas existentes que afirme a veracidade de Amenotepe II ter sido o Faraó do Êxodo. Também não tem por objetivo discorrer sobre todas as informações desse Faraó, nem entrar no assunto das pragas ou derrota no mar vermelho.

 A maioria dos teólogos afirmam que o Faraó do Êxodo foi Amenotepe II, ou põem o Êxodo em 1445 a.C, que é uma data bem confiável. Entre eles estão: Alexandre Coelho, Silas Daniel, Severino Pedro, Claudionor de Andrade, Antônio Gilberto, W.W. Wiersbe, Lawrence O. Richards, Randall Price, Merril F. Unger.

Governou o Egito por cerca de 25 anos. O Dicionário Wycliffe afirma: "De acordo com a data inicial que se assume para o Êxodo (cerca de 1445 a.C.) ele [Tutmósis III, grifo meu] teria sido o Faraó da Opressão (Êx 2.15,13). e seu filho Amenotepe II, teria sido o Faraó do Êxodo (Êz 5-14)." Ou seja, em Êxodo do capítulo 5 ao 14 o Faraó foi Amenotepe II. Ezequias Soares confirma isso quando escreveu: "O Faraó do Êxodo, que experimentou as dez pragas e mais a derrota no mar vermelho, foi seu filho, Amenotepe II, cuja múmia se encontra ainda hoje no museu do Cairo, Egito."

 Seu filho primogênito morreu na 10° praga do Egito, cedendo espaço assim para Tutmósis IV, seu filho mais novo. O Dicionário Bíblico Wycliffe diz: "Tutmósis IV ( 1425-1417 a.C), filho e sucessor de Amenotepe II, deixou uma impressionante estela entre as pernas da esfinge de Gizé. Em um sonho, foi-lhe dito que ele receberia o reino (ANET, p. 449). Se ele fosse o primogênito do seu pai, não teria sentido uma promessa divina de que ele seria rei um dia. Podemos inferir que o filho mais velho de Amenotepe deva ter morrido antes de seu pai, deixando assim a sucessão para seu irmão mais novo. Isto está de acordo com a morte dos primogênitos, na última praga (Êx 12.29)."


Conclusão: Em meio à tanta especulação no terreno da história bíblica, precisamos de fatos convincentes que nos levem a ter em mente que o livro do Êxodo é um livro histórico. O Egito foi palco de uma boa parte do crescimento de Israel. Enquanto o povo de Deus vivia nele, o Egito alcançou poder , glória, e força. Depois do juízo de Deus sobre o Egito com as dez pragas e a derrota de Amenotepe II no mar vermelho, o Egito perdeu seu status mundial. Segundo Ezequias Soares: "Depois do Êxodo, o Egito nunca mais conseguiu manter a sua glória passando a ser uma potência de segunda categoria."