A nossa entrevista hoje é com o Pastor Artur Eduardo. Graduado em Teologia e Filosofia. Pós graduado em Doc. do Ensino Superior, Teologia Bíblica e Psicopedagogia (FATIN). Mestre em Filosofia (Univ. Federal de Pernambuco). Doutorando em Filosofia (Univ. Federal de Pernambuco). Diretor do IALTH (Inst. Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades). Pastor da IEVCA (Igreja Ev. Aliança). Casado com Patrícia, com quem tem uma filha, Daniella.
01) Pastor Artur, ao longo dos anos, o senhor tem batalhado para levar a qualidade do ensino bíblico para diversas classes de pessoas, mas conte-nos, como foi a sua experiência com a Bíblia. Quando começou o interesse pelo estudo das Escrituras e o que levou o senhor, a investir na área da educação cristã?
R – O interesse, na verdade, vem desde que eu me lembro de quando sou convertido à fé cristã. Tornei-me professor de formação teológica em 1998, cerca de 2 anos antes de me tornar pastor, no ano 2000. Depois de lecionar em alguns seminários e faculdades no Grande Recife, o Senhor Deus nos orientou a fundar o IALTH – Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades, que tem crescido e se fortalecido na região. No IALTH temos podido implementar melhor nossa visão acerca da educação teológica, filosófica e das humanidades, aliando o viés ministerial ao acadêmico.
02) Há mais de 20 anos, o senhor tem lidado com milhares de alunos, das mais variadas igrejas e crenças, de modo que acumulou ao longo dos anos, um vasto conhecimento sobre o perfil geral dos alunos. Sendo assim, nos responda: quais os perfis, motivações e expectativas dos alunos que entram num Seminário hoje?
R – É muito diferente, hoje, de há 20, 30 anos. Lembro-me que quando fiz seminário, na década de 90, a quase totalidade dos alunos era composta de pessoas com ciência de uma vocação ministerial. Eram menos cursos: havia o de bacharel em teologia, o de missiologia e o de educação religiosa. Normalmente, eram esses três nos seminários. As pessoas que estudavam, tinham aspirações eclesiais em áreas nas quais era exigida a formação em um dos tais. Hoje, vemos alunos destes e de outros cursos que surgiram ao longo dos anos, que estão fazendo para aumentarem conhecimento, por uma questão de complementação de formação. Há os que também fazem por vocação ministerial, mas posso lhe assegurar que são bem menos do que há anos. O perfil do aluno de teologia, de um modo geral, mudou.
03) Todos nós sabemos que cada momento da história da igreja, teve seus próprios desafios tanto no âmbito intra-eclesiástico quanto no extra-eclesiástico. Desafios, que por vezes, tiraram o sossego de muitos homens de Deus. Que tipo de desafios, um teólogo do século XXI enfrenta, e de que forma, ele pode lidar com eles.
R – Muitos. Temos “teologias”, se é que podemos chamá-las assim, que são verdadeiros desafios à fé cristã conservadora e à teologia ortodoxa. Temos “teologias feminista, negra, gay”, as muitas formas de “evangelho social” (esquerdismo evangélico) e outros movimentos supostamente acadêmicos, no âmbito eclesiástico, cujo intento principal não é outro senão seu próprio nicho ideológico. Concomitantemente, temos observado uma grande apatia em relação à massa da Igreja, quanto à teologia. As pessoas acham “bonito” esse ou aquele aspecto teológico, mas a tendência é não se interessarem seriamente por questões teológicas, preocupando-se, no mais das vezes, com aspectos mais triviais da fé. Isto é muito ruim, porque as principais doutrinas não são bem compreendidas pela grande maioria dos cristãos, hoje, que tende por conseguinte a viver uma vida espiritual puramente intuitiva, baseada naquilo que se consolida em sua experiência de fé e espiritualidade, confundindo isso com o cristianismo e a própria vontade de Deus. De igual forma, temos também uma crescente tensão entre aspectos dogmáticos da fé cristã que se opõem em confrontos, ora velados, ora mais abertos. Isso mostra que estamos longe de termos uma unidade teológica, porque lá atrás no tempo, as fissuras que resultariam nos movimentos eclesiais que vemos hoje não foram fechadas, pelo contrário, foram abertas, expostas e muito malcuidadas pela Igreja. O resultado são alas do evangelicalismo mundial disputando entre si o status de “ortodoxo”, às vezes mais baseadas em ícones de seus próprios movimentos do que na fé bíblica que alegam defender.
04) Atuando também na área da Filosofia, certamente o senhor já ouviu dizer que "um teólogo não precisa ter um conhecimento de Filosofia para ser um bom teólogo." Isso é verdade ou uma falácia? Qual a importância da Filosofia para os estudos teológicos e em que momento, ela anda junto com as principais disciplinas de um estudante de Teologia?
R – Quanto à primeira pergunta, é uma falácia. Quanto à segunda, a resposta é muito simples: ninguém pode falar nada sobre algo como arbítrio e determinismo, por exemplo, sem as devidas considerações acerca de todos as nuances que algo como esses temas envolvem. E quanto a nuances, refiro-me aos aspectos morais, lógicos e teológicos que assuntos como aquele suscitam. Esta reflexão, em si, é filosófica. A filosofia lida e auxilia a teologia com esses temas, uma vez que impele a razão a desdobramentos que, do contrário, não seriam possíveis. Raciocinar e deduzir que não é necessário filosofia é, em si, o uso da filosofia!! Observou? Até para excluí-la da atividade teológica, deve-se usá-la.
05) A Teologia é um campo vasto, que pode ser explorada em seus diversos aspectos. Por exemplo, existem obras de Teologia Histórica, Introdução à Teologia, Teologia Bíblica, e por aí vai... Queremos saber do senhor, qual ou quais as diferenças básicas entre Teologia Bíblica e Teologia Sistemática e qual o espaço, papel e importância que cada uma ocupa dentro do contexto cristão.
R – A teologia bíblica, grosso modo, é aquela que se relaciona diretamente aos livros ou excertos bíblicos. É claro que o livro de Salmos, por exemplo, contém aspectos teológicos gerais, uma vez que, por mais diferentes que sejam, os salmos têm algo mais forte que os une, do que o que os separa; caso contrário não estariam agrupados num mesmo livro. Mas, sabe-se, por exemplo, que há grupos de salmos mais iguais entre si. É por isso que os teólogos dividem o livro de salmos em livros menores, com grupos de salmos que compartilham algumas características mais notáveis. Quando falamos de uma teologia bíblica do livro de Salmos, temos de levar em consideração os temas e semelhanças linguísticas e literárias desses grupos menores, o que, quando feito, nos dá um quadro mais abrangente da teologia do livro de Salmos. Isto é, de modo geral, a teologia bíblica. O mesmo pode ser feito com todos os livros da Bíblia. Por exemplo: por que há quatro evangelhos canônicos, sendo que três são “sinóticos” (“semelhantes”): Marcos, Mateus e Lucas? Por que, mesmo sinóticos, os evangelhos contêm diferenças? É óbvio há algo mais do que a mera personalidade literária de cada autor. Há uma teologia própria de cada livro, com suas especificidades que lhe são próprias.
Em relação à teologia sistemática, podemos dizer que é um determinado agrupamento de temas bíblicos, que são dispostos e trabalhados por teólogos, cujo intuito é formar um panorama abrangente de como a Bíblia fala sobre os mesmos, os quais são cruciais à fé teísta. Temas como a doutrina de Deus, de Cristo, do Espírito Santo, da Igreja, o homem, do pecado, dos anjos e demônios, do fim etc. Teologia sistemática lida com temas bíblicos. Teologia bíblica lida com as teologias dos livros da Bíblia.
06) Numa época em que o cristianismo tem sido confrontado por ideologias satânicas, imorais e insanas, a Apologética deveria ocupar um papel importante na vida do cristão. Entretanto, a realidade tem sido outra, pois, poucos cristãos estão preparados para fazer essa defesa consistente do cristianismo fora dos âmbitos eclesiásticos. Pela experiência que o senhor tem nessa área, quais apologistas que têm lutado para mudar esse quadro, o senhor indica para nós e que são influentes e respeitados não só no ambiente acadêmico-teológico, mas também no acadêmico-secular?
R – A lista é razoavelmente grande, pois há dois mil anos que há apologistas na Igreja, lutando cada um suas respectivas lutas, atreladas aos seus tempos. Desde os primeiros “apologistas” patrísticos, nos primeiros séculos da Igreja, aos trabalhos de teologia, filosofia e teologia natural de nomes medievais, todos deveriam ser estudados no âmbito acadêmico eclesiástico. Infelizmente, são nomes em grande parte desconhecidos do público evangelical, de um modo geral. Não é à toa que muitos desses são estudados nos centros de filosofia mundo afora, e são respeitados como filósofos, pois seu trabalho gerou importantes contribuições à história das ideias. O curioso é que estes homens, em particular, criaram suas obras “filosóficas” à luz da teologia, e normalmente aquelas contribuições filosóficas são eminentemente cristãs. Por isso, creio que nomes como Agostinho, Boécio, Anselmo, Duns Scottus, Tomás de Aquino, Scotus Erígena e Guilherme de Ockam são fundamentais para quem quer estudar os temas abordados em apologética.
Nas eras moderna e contemporânea, nós temos nomes de peso, que vieram da academia e nos legaram suas contribuições. É impossível você falar de apologética cristã no período moderno sem mencionar Lutero e o momento de ruptura em que ele viveu. O pensamento de Lutero, cristalizado em seus escritos, revela-nos bem um aspecto da apologética cristã que se levantou contra os desvarios romanos, aceitos como se fossem revelações bíblicas. A partir daí, temos inúmeros homens que deixaram valiosas contribuições à apologética, às vezes em áreas muito específicas, mas não menos importantes. Leibniz foi um desses homens. Cito Leibniz pela sua tentativa de explicar a justiça de Deus, relacionando-a com o mal no mundo e a pergunta sobre se esse mundo é de fato o melhor mundo possível. Seu livro “Teodiceia” é um marco para a apologética cristã, ainda que não se concorde com todas as ideias do filósofo. Em tempos mais recentes, temos nomes de peso no cenário acadêmico mundial, como Josh McDowell, Ravi Zacarias, J. P. Moreland, Peter Bochino, Dinesh D´Souza (católico) e mais atuante em história e política, Michel Lincona, Alister McGrath, Norman Geisler, Paul Copan, Frank Turek, Gary Habermas e William L. Craig. Todos com grandes contribuições apologéticas nas áreas de história, filosofia da religião e teologia.
07) Nos últimos anos, muitos cristãos se interessaram pelo debate soteriológico que foca nas questões relacionadas com a Mecânica da Salvação, Providência Divina, Livre-Arbítrio, etc. Embora não se resuma a isso, a massa dos cristãos se define como Calvinistas e Arminianos. Nesse meio, outro grupo tem ganhado espaço, crescido e se destacado por suas explicações sofisticadas e bem fundamentadas, inclusive o senhor faz parte dele; são os Molinistas. Baseado nisso, queremos saber o porquê o senhor se define como Molinista e porquê a maioria dos que se definem como Molinistas são Filósofos ou têm interesse por ela?
R – Antes de responder, é preciso ressaltar que calvinistas e arminianos têm suas linhas norteadoras de pensamento que, querendo eles ou não, moldam e guiam suas perspectivas bíblicas. O grande desafio, para calvinistas, arminianos e molinistas, é desvencilhar as linhas de pensamento que seguem dos homens que lhes emprestaram seus nomes: Calvino, Armínio e Molina. É por isso que, particularmente, não gosto destes rótulos e os uso mais por efeito didático do que por qualquer outro motivo, embora veja, com pesar, como o partidarismo soteriológico é emotivo e segregador em nosso meio. Dito isso, penso ser o molinismo uma melhor explicação quanto ao processo da “mecânica da salvação”, uma vez que se destaca por apresentar, a partir da Escritura, uma série de deduções sobre Deus que fazem sentido, ante problemas que se nos parecem insolúveis nos outros sistemas soteriológicos.
No calvinismo, por exemplo, se aceitarmos que Deus é soberano como nos moldes que foram apresentados por Calvino, então temos uma série de problemas incontornáveis: Deus é o autor do mal (e quando dizem os calvinistas que não é, afirmam que Deus decretou que o homem livremente escolhesse pecar, o que é um contrassenso); Deus decide quais homens vão incondicionalmente ao céu ou ao inferno, para sempre, repassando-nos a ideia de uma arbitrariedade que, quando questionada, esquiva-se para o “inefável”, o “inescrutável”, o “inalcançável”.
No arminianismo, temos uma linha de destino, que é a que Deus previu e a partir da qual ele decidiu um monte de coisas, inclusive a salvação de quem ele sabia que iria crer no Evangelho. Ok. A grande questão é que, neste sistema, se tudo é exclusivamente em função da absoluta presciência simples de Deus, então ele faz as coisas porque previu e, portanto, o “futuro causa o passado”, o que se apresenta também como um problema obscuro e incontornável.
Na proposta molinista, que leva o nome do padre jesuíta do século XVI, Luís de Molina, há uma tentativa (filosófica e teológica) de concordância dos aspectos aparentemente inconciliáveis do livre-arbítrio e da predestinação divina. As bases formais estruturais estão lançadas em um livro de 1588, intitulado “Liberi arbitrii cum gratiae donis, divina praescientia, providentia, praedestinatione et reprobatione concordia” ou como é mais comumente conhecido, “Concórdia”. Neste livro, Luis de Molina nos mostra a sua ideia do conhecimento de Deus a partir de uma divisão lógica. É a dinâmica molinista da onisciência de Deus, seu sumo poder e a liberdade humana, que se constitui um avanço formidável no entendimento da “harmonia” (“concórdia”) entre a ação livre do homem em consonância com a soberania divina.
É, no meu ponto de vista, uma percepção sofisticada porque, além de preservar a liberdade humana, base de sua racionalidade, entende que Deus como conhecedor de todas as possibilidade factíveis (denominadas contrafactuais), atualiza ou estabelece aquelas em que a liberdade humana coaduna-se da melhor forma possível ao ponto em que a vontade de Deus se cumpra e o maior presente dado ao homem não seja violado, ou seja, seu livre-arbítrio.
08) Temos acompanhado diariamente a adesão de cristãos por interpretações que não se coadunam com as doutrinas bíblicas. Entre essas interpretações, temos duas que estão em ascensão: calvinismo e cessacionismo. Boa parte dessa adesão se dá por cristãos que não tem acesso aos conhecimentos básicos de hermenêutica e de exegese e que são influenciados pelas redes sociais e por teólogos que tendo a “aparência de erudição” acabam convencendo esse tipo de público. Como o senhor enxerga tudo isso? Calvinismo e cessacionismo são interpretações nocivas para o cristianismo? Qual o impacto da crença nessas duas interpretações para uma congregação, por exemplo?
R – Somos um povo passional e é normal que defendamos as posições que nos são atraentes de maneira apaixonada. Isto é de certa forma comum nos povos latinos. Contudo, aqui, não quero que minhas posições sejam interpretadas pelo viés da pessoalidade. Nada tenho contra calvinistas e tenho bons amigos que o são. Destarte, penso que o calvinismo é um sistema que, por destoar muito do que diz a Bíblia, pode sim ser nocivo, se as pessoas que o defendem não compreenderem que o que se chama “calvinismo” é UMA forma de interpretação de vários aspectos da teologia bíblica, a partir principalmente da ótica do reformador genebrino João Calvino, e não o evangelho em si.
A dinâmica da teologia calvinista, que é baseada em uma aspecto federal, ou seja, de aliança, é complicado, pois para que funcione no período da Igreja, algo teria de substituir o selo da aliança veterotestamentária, que é a circuncisão, e os calvinistas, encontram no batismo este selo. Como um selo da nova aliança, o batismo é visto como “sacramento” e, portanto, decisivo no processo salvífico. Não estou dizendo que os calvinistas defendem que o batismo salva, mas é exatamente por isso que os calvinistas batizam crianças, pois é um modo de fazer o infante ingressar na promessa do Novo Pacto, a partir de Cristo.
A mecânica da salvação calvinista também é complicada, pois, como já disse, Deus acaba por se tornar o autor do mal e, portanto, pior do que o Diabo, uma vez que é ele que – segundo os calvinistas -, guia a as ações dos homens, boas ou más, afim de que as mesmas adequem-se a um “decreto inescrutável” de Deus; onde o mesmo ordena as ações dos homens, boas ou más, e é responsável apenas pelas boas, enquanto estes são responsáveis pelas más. Isto é inaceitável, não apenas porque é realmente um malabarismo muito grande para se evidenciar a soberania de um Deus que está no controle do universo, mas principalmente porque não é isso que a Escritura sugere ou explicita. “A alma que pecar, essa morrerá”, diz-nos o profeta Ezequiel (18:20-24), em um contexto onde os sacerdotes e sábios de Israel, no exílio babilônico, deveriam aprender que o homem é responsável por seus atos perante Deus, como aquela geração, que estava sendo castigada por seus próprios pecados, os quais superavam os de seus antepassados ou, no máximo, perpetuavam-se naqueles.
O cessacionismo é um engodo, um engano, algo de muito, muito nocivo para a Igreja como um todo. Os dons espirituais são um modo de a multiforme sabedoria de Deus revelar-se ante o mundo, através da Igreja. São sinais que nos remetem a um Reino espiritual, que se mostra real, ainda que desconhecido da maioria dos homens. É a ação do Espírito Santo na Igreja que a mantém viva e atuante em um mundo que clama pelas trevas do caos e do abandono de Deus. Retirar da Igreja os dons, atrelando-os exclusivamente ao passado, é tornar a Igreja manca e suscetível a ações espirituais malignas, além da secularização e acomodação aos valores culturais que vemos hoje, na sociedade, muitos dos quais são francamente antibíblicos. Não é de admirar que seja no seio de muitas igrejas cessacionistas, onde vemos sinais de apostasia espiritual e prática, há séculos. Estas igrejas mantêm-se em pé por causa de tradição, mas espiritualmente estão mortas, com práticas abomináveis à luz da Escritura. É delas que vêm a liberalização do homossexualismo, a aceitação de clérigos gays, o aumento do feminismo e inclusive a defesa do aborto, etc. Não é admirar que o evangelho tenha praticamente morrido na Europa, no contexto das igrejas históricas, muitas delas cessacionistas.
09) Agora, saindo um pouco do contexto teológico, queríamos saber qual a visão que o senhor tem acerca do cenário político do Brasil?
R – O pior. O Brasil é um país, cuja situação política é sui generis: acostumamo-nos com a corrupção, ao mesmo tempo em que expomos, denunciamos e nos horrorizamos com a mesma. Como assim? Como podemos ser tão complacentes com homens e mulheres corruptos, com políticos que, respondendo processos ou condenados, têm contra si milhares de evidências de suas transações sujas, seu legado maldito, cujo rombo nos cofres públicos é causador direto de cortes de serviços públicos essenciais, que por não existirem, ceifam as vidas de milhares de Brasileiros anualmente? Como podemos levar a sério a classe política no Brasil, para o que quer que seja? Mesmo assim, levamos. E seguimos, como se não nos acontecesse nada.
10) Como o senhor vê a recente legalização do aborto em alguns países, e a aprovação de casamento entre pessoas do mesmo sexo dentro das igrejas?
R – O resultado natural de décadas de influência anticristã no mundo. O aborto é um caso de classificação seletiva: por “vida”, entende-se tudo o que possui processos biológicos autônomos. Assim, ovos de tartaruga marinha contêm vida e mulheres em gestação aos 2, 3, 4 meses também. A questão é a mudança de percepção do status da vida. Em relação aos ovos de tartaruga, que contêm uma tartaruga marinha em potencial, as quais estão ameaçadas de extinção, um ativista esquerdista, por exemplo, defender com todas as forças a preservação daqueles ovos, enquanto poderá fazer piquetes, vigílias e protestos diversos pela liberação do aborto. O status desta vida, a humana, é inferior ao daquela, a reptiliana. Não é à toa que, em tempos de ecorreligião, haja pessoas “se casando com a terra” e, para posturas menos radicais, vejamos governos promovendo a proteção de “santuários” naturais, onde ninguém pode pescar um peixe, enquanto seres humanos morrem à espera de tratamento em filas de hospitais que caem aos pedaços.
O caso dos homossexuais é o mesmo. A lógica que defende esse movimento, o LGBT, é a mesma que o vê como um veículo de desconstrução. O que se tenta desconstruir? Os paradigmas que construíram a civilização ocidental. E tais paradigmas passam pela cosmovisão judaico-cristã. Esta é baseada na confirmação dos preceitos bíblicos, os quais mantêm um código de liberdade civil institucional intrínseca à própria mensagem do evangelho. Todos os países genuinamente cristãos defendem a liberdade civil, com os direitos essenciais preconizados na Bíblia, assegurados nas constituições dos mesmos, que normalmente são repúblicas federativas. Tais repúblicas são o resultado direto da ideia de estados nacionais, soberanos, autônomos, que podem (e devem) coexistir uns com os outros, através de alianças comerciais e culturais, intercâmbios, promovendo a liberdade de locomoção e, internamente, garantindo a seus respectivos habitantes os direitos que lhe são naturais e inalienáveis, como o direito à liberdade de expressão, de pensamento, de religião, direito à propriedade privada, etc.
O que pensa a elite globalista anticristã e extremamente rica, com uma agenda própria e que tem sua própria ideia de civilização? Pensa o que aparece nas ações de homens e mulheres de influência, no cenário geopolítico, que são contra a propriedade privada e creem piamente que o mundo “só” pode alcançar um status melhor quando for governado por eles próprios. Nada, que não seja esse cenário, é satisfatório e, portanto, vale tudo. Vale destruir os paradigmas civilizacionais que nos criaram e, em cima dos escombros, construir outros. Isso leva tempo e é exatamente aí que entram os grupos que chamo de “cavalos-de-batalha” sociais, que apregoam conceitos estranhos de comunidade, liberdade, igualdade e da própria sociedade: uma comunidade em que as pessoas são niveladas por baixo; uma liberdade que consiste em não se ter liberdade alguma; uma igualdade que é mais igualdade para os que estão nas massas e uma diferenciação de modo de vida para os que estão na elite dominante e, enfim, uma sociedade rigidamente hierarquizada, controlada e dirigida como uma grande manada em direção ao curral.
11) Há anos estamos vendo a ascensão de movimentos de esquerda, dentro das universidades, como por exemplo Marxismo, Feminismo, etc. Nesse contexto, estão inseridos jovens cristãos que são pressionados a abandonarem sua fé em Deus e aderirem a tais ideologias. Na internet, tem crescido o número de jovens de cada vez mais são seduzidos por tais movimentos e se autoproclamam: “cristãos de esquerda’”. Diga-nos, é possível ser cristão e ainda assim ser adepto desse tipo de ideologia? Se não, porquê?
R – Pra mim, não é possível. Porque o marxismo é, desde sua origem, anticristão. Aliar marxismo ao cristianismo é o mesmo que querer que judeus sejam amigos dos nazistas. Marxistas se comprometeram com uma visão de mundo em que o que vale, na verdade, é transformar o mundo, custe o que custar, afim de se chegar àquele ideal que foi vaticinado por Marx e Engels, no século XIX. Já está dado no Manifesto Comunista, que um dos meios para que este fim, a utopia comunista, fosse alcançada, era que na luta de classes, o proletariado destruísse todos os valores de sua classe inimiga, a “burguesia”, que por sua vez era a protetora do cristianismo.
Assim, o cristianismo, como qualquer religião, era o “ópio” do povo. O esquerdismo mundial sofreu inúmeras variações em várias áreas do saber, mas o ideal do comum permaneceu, levando agentes políticos e militares a produzirem as maiores atrocidades que o mundo já vira, e tudo para que se concretizasse aquele ideal imagético do século XIX. Na verdade, as sociedades totalitárias esquerdistas, como a russa e a chinesa, aderiram a um sistema em que o poder é um fim em si mesmo e que deve se perpetuar a qualquer custo. O resultado é a supressão das liberdades, o controle social rígido, com fortíssimas doses de engenharia social comportamental, o ateísmo e a propaganda megalômana de líderes que vendem um peixe podre à civilização. Agora, me pergunto: como pode um cristão, sabedor de toda essa desgraça em que se convertem as sociedades esquerdistas, radicais ou moderadas, ainda assim defender o esquerdismo?
12) Não poderíamos encerrar essa entrevista sem deixar de falar sobre suas contribuições tanto no meio acadêmico, quanto no eclesiástico. Como diretor e professor do Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades, nos fale um pouco sobre o trabalho que essa instituição tem feito ao longo dos anos. O que ela tem a oferecer, quais projetos estão em desenvolvimento e quais avanços a instituição tem em andamento para o futuro?
R- O IALTH é um instituto que veio para deixar uma marca no cenário evangélico atual. Tem como missão, aliar o viés de formar obreiros para a Seara do Senhor Deus ao viés de instrumentalizá-lo academicamente, com o leque de informações necessárias para que o(a) aluno(a) tenha condições de dialogar com o nosso tempo. Isto em seus cursos-chaves, que são: Teologia, Missiologia e Capelania. O IALTH, hoje, Deus seja louvado, é o instituto de formação teológica que mais cresce na região do Grande Recife. Não tenho a menor dúvida de que este crescimento e fruto da bênção de Deus, pois há muito que o Nordeste do Brasil precisava de um centro de formação que teológica, interdenominacional e interconfessional, com um sólido propósito de fazer com que o(a) obreiro(a) aluno(a) seja uma bênção para seus líderes, sua igreja, sua comunidade. Além de munir o aluno de qualquer um desses cursos, que queira instrumentalizar-se no âmbito ministerial ou apenas “crescer no conhecimento”, fazendo todavia com o objetivo de, se forem chamados pelo Senhor, poderem afirmar que foram capacitadas pelo IALTH.
Atenciosamente, Esquina da Teologia Pentecostal
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