7 de outubro de 2016

A PLENA HARMONIA ENTRE O AMOR E A JUSTIÇA DE DEUS



por Everton Edvaldo

Em tempos de disputas teológicas, parece que colocaram um antagonismo entre a justiça e o amor de Deus. Ninguém afirma com clareza que a justiça e o amor de Deus agem de forma independente um do outro, mas é justamente isso que tem se passado na mente de alguns. A má representação não tem sido deles em si, mas da forma como ambos se relacionam.

Justiça e amor andam juntos? Sim! Até mesmo quando Deus exerce sua justiça, o amor está interligado. Algumas pessoas imaginam que ora Deus age com amor, ora com justiça, como se ambos estivessem desligados um do outro.

Biblicamente falando Deus é amor. A natureza de Deus é amorosa e isso está entrelaçado na sua essência. Em essência esse amor é uno. No que se refere à manifestação, ele é duplo. Ou seja, Deus manifesta seu amor de duas formas (duplex amor Dei). Primeiro, o amor de Deus pela sua justiça pela qual ele reprova e não tem prazer em nada que seja contrário à sua natureza santa, boa e perfeita. Segundo, o amor pela sua criatura, isto é, o homem. O teólogo holandês Jacó Armínio expressou esse entendimento do duplo amor de Deus em seus escritos.

Analisando Armínio nesse ponto, William den Boer diz que:
"Arminius identifica a dupla natureza do amor de Deus como a fundação da religião em geral, e do cristianismo em particular. O primeiro e mais importante amor é o pela justiça, o segundo e subordinado amor é pela humanidade. O último é subordinado porque existe algo que o limita: o amor de Deus pela justiça. Em outras palavras, Deus pode amar uma pessoa apenas quando Sua justiça for satisfeita em respeito àquela pessoa. E quando este é de fato o caso, Deus irá também amar aquela pessoa. Arminius vai ao ponto de afirmar que toda e qualquer forma de religião é impossível se não mantiver o duplo amor de Deus, nesta ordem, e com tal relacionamento mútuo." [01].
Como podemos ver, esse amor não anula a justiça. Pelo contrário, a justiça de Deus reflete-se no seu amor.

Quando compreendemos dessa forma algumas passagens da Bíblia, (principalmente no Antigo Testamento) onde dão a entender aparentemente que Deus está sendo "carrasco", entenderemos facilmente que até mesmo quando Deus disciplina seu povo, o Seu amor está envolvido. Deus ama a sua justiça e é por isso que a maldade não pode ficar impune.

Em Ezequiel 20.8,9 Deus revela algo interessante:
"...Então eu disse que derramaria sobre eles o MEU FUROR, para cumprir a MINHA IRA CONTRA ELES, no meio da terra do Egito. O que eu fiz, porém, foi POR AMOR AO MEU NOME..."
Viu como justiça e amor andam juntos? Não são incompatíveis; muito menos, estão em desarmonia (cf. 2 Reis 19.34).

NOTAS:

[01] William den Boer, “Jacobus Arminius: Theologian of God’s Twofold Love,” in Arminius, Arminianism, and Europe, eds. Th. Marius van Leeuwen, Keith D. Stanglin and Marijke Tolsma (Leiden: Brill Publishing, 2009), 40.