5 de outubro de 2016

Como o Arminianismo vê a extensão da Expiação de Cristo


Por Everton Edvaldo


Introdução: A Bíblia apresenta a expiação como sendo uma obra divina em favor dos perdidos. Isto é, a doutrina da expiação é bíblica e verdadeira. Curiosamente alguém pode perguntar: essa expiação foi feita em prol de quem? De apenas um grupo de pessoas ou em favor de todas? Ao longo dos séculos , várias respostas foram dadas a essas indagações. Muitos distorceram a Bíblia para apoiarem suas ideias, alguns usaram simplesmente a lógica e o raciocínio para interpretarem determinados versículos. Já outros, preferiram recorrer ao ensino genuíno e honesto das Escrituras. O objetivo desse breve texto não é de se debruçar sobre os textos bíblicos afim de explicá-los exegeticamente, mas apenas expor como o arminianismo vê a doutrina bíblica da expiação.

I- QUE ENSINAM OS ARMINIANOS?


Em geral os arminianos ensinam que a expiação é universal (ou ilimitada). Isto é, Jesus ofereceu-se na cruz afim de propiciar a salvação ao mundo inteiro. "...Os arminianos acreditam que a morte de Cristo na cruz concedeu possibilidade de salvação a todos; mas ela é, de fato, concretizada quando os humanos a aceitam por intermédio do arrependimento e fé." (OLSON, 2013, p. 289).


É importante deixar claro que Armínio não foi o primeiro teólogo a ensinar que Jesus morreu por todas as pessoas do mundo sem exceção. A doutrina da expiação universal, além de ter fundamentação bíblica, era amplamente pregada e defendida pela igreja primitiva. Como se isso não bastasse, os principais pais da igreja nunca a negaram.


Tais evidências mostram que esse entendimento da expiação universal não tem origem em Armínio, mas sim na própria Bíblia. Os que negam que Jesus morreu por todas as pessoas do mundo, são forçados a desprezar toda crença vivida pela igreja primitiva. Pregar a doutrina da expiação limitada soaria nos ouvidos do apóstolo Paulo como uma infeliz blasfêmia.

II- EXPIAÇÃO UNIVERSAL LEVA AO UNIVERSALISMO?


Se for entendida corretamente, não. Muito entendem que se Cristo morreu por todas as pessoas do mundo, todas serão salvas. A maioria dos que creem assim, são chamados de universalistas. Porém, os arminianos não ensinam isso. Alguém pode perguntar: Qual a diferença entre expiação universal e universalismo? Ora, diferente dos universalistas, afirmamos que só os que creem serão salvos.

Universalismo: Cristo morreu por todos, todos serão salvos.

Arminianismo: Cristo morreu por todos, mas a salvação é dada aos que creem.


Mesmo sabendo disso, existem grupos que insistem em dizer que a expiação universal leva ao universalismo. Isto é verdade? Não! A expiação ilimitada não leva ao universalismo. Dizer que Cristo morreu por todos, não quer dizer que todos serão salvos automaticamente. Porque? Porque entre o "deu sua vida por todos" e "ter a vida eterna" existe uma condição. A condição é se arrepender dos pecados e crer no Evangelho. Essa condição foi estabelecida pelo próprio Deus. Tal visão é plenamente coerente com João 3.16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna."

III- VIDA ETERNA PARA OS QUE CREEM!


Deus concede a vida eterna para aqueles que creem. É por isso que muitos não são salvos. Sobre isso Roger Olson comenta: "Os arminianos de fato, acreditam que Cristo morreu por todos, mas o benefício de sua morte (colocando de lado a condenação por pecados reais, em contraste ao pecado adâmico) é aplicado por Deus apenas aos que se arrependem e creem." (OLSON, 2013, p. 289).

Ele continua:
"Se a morte de Cristo satisfez a justiça de Deus para todos, por que todos não são salvos? Armínio responde: 'Pois os pecados dos que por quem Cristo morreu estavam de tal maneira condenados na carne de Cristo, que eles, por este fato, não estão livres da condenação, a menos que, de fato, creiam em Cristo.' Em outras palavras, Deus decidiu que os pecados de todas as pessoas fossem expiados pela morte de Cristo, de tal maneira que somente se as pessoas acreditarem em Cristo os seus pecados serão, de fato, perdoados." (OLSON, 2013, p. 294).
IV- DEUS QUER QUE TODOS SEJAM SALVOS?


Sem dúvida alguma! Ele deseja isso de forma sincera e clara. O desejo Dele é que todos creiam no evangelho e sejam salvos. Ele não quer que ninguém pereça, muito menos tem prazer na morte do ímpio. Deus enviou seu filho ao mundo para resgatar o homem perdido.


Certa vez me disseram que se Deus quisesse salvar a todos, todos seriam salvos, pois a vontade Dele não pode ser frustrada. Logicamente, essa mesma pessoa afirmou que aqueles que estão no inferno, estão lá pela vontade de Deus. Sem querer entrar em discussões desnecessárias eu respondi à tal pessoa dizendo que só conhecia um "deus" que tem prazer na perdição das pessoas, e este se chama Diabo.

Vejamos o que a Bíblia diz:


"O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se." (2 Pedro 3.9).

Deus não se alegra na perdição do ímpio.

V- JESUS MORREU APENAS PELOS ELEITOS?


Não! A Bíblia diz: "E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo." (1 João 2.2). Sobre isso Armínio escreveu:
"É manifesto, tanto a partir destas passagens como da utilização da Escritura, que a palavra "mundo" nestas passagens significa simplesmente todo o corpo da humanidade. Mas, em minha opinião, não existe um único lugar em toda a Escritura na qual possa ser apresentado, sem controvérsias, que a palavra mundo signifique os eleitos. A Bíblia diz que Cristo morreu por todos (Hb. 2.9 e em outras pessoas). Ele é chamado de "o Salvador de todos os homens, principalmente dos que creem" (1 Tm 4.10); cujo sentido do versículo não pode, sem distorção e dano, ser explicado em relação à preservação nesta vida." (Citado em OLSON, 2013, p. 293).
Muitas pessoas acreditam que Jesus morreu apenas e exclusivamente pelos eleitos. Isto não é ensinado em lugar nenhum das Escrituras. É verdade que a Bíblia ensina que Jesus morreu pelos eleitos, igreja, ovelhas, porém sua morte não se limitou a estes. Olson esclarece que Armínio tinha esse mesmo entendimento quando diz:


"Da opinião que Cristo representou na cruz apenas os eleitos, Armínio escreveu: 'A Escritura em nenhum lugar diz isso, não, ela diz o contrário em inúmeras passagens.' (OLSON, 2013, p. 293). Outras pessoas são mais ousadas. Além de não crerem na expiação universal de Cristo, ensinam que a maioria dos homens foi predestinada ao inferno. Afirmar isso é como dizer que a natureza do criador é tão má quanto a do diabo.


Na Bíblia podemos ver que através da queda de Adão a desgraça foi derramada sobre toda humanidade. A mesma Bíblia mostra que através da morte de Cristo a graça é comunicada a toda humanidade. Todos precisam do remédio! E ele não negou a ninguém. Quem tiver sede que venha!

VI- ARMÍNIO ENSINOU EXPIAÇÃO UNIVERSAL?


Sim. O teólogo arminiano Roger Olson trata acerca da visão da expiação ensinada por Armínio. Ele diz:
"Armínio explicou sua própria visão da expiação em seu tratado 'Examination of. Dr. Perkins's Pamphlet of Predestination' (Exame do Panfleto do Dr. Perkins Sobre a Predestinação). No documento ele defendeu que, de acordo com as Escrituras, Cristo morreu por todas as pessoas sem lesar uma única pessoa sequer e que sua morte satisfez as exigências de justiça para os que creem. Ele deu muita atenção a 2 Coríntios 5.19, onde Paulo escreveu que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo. Armínio também escreveu sobre muitas outras passagens onde 'mundo' é mencionado como objeto de amor e vontade de redenção de Deus em Cristo: João 1.29; 3.16; 4.42; 1 João 2.2; 4.14." (OLSON, 2013, p. 293).
VII- O POSICIONAMENTO DA REMONSTRÂNCIA:
"Depois da morte de Armínio, quarenta e seis ministros e leigos holandeses respeitados redigiram um documento chamado “Remonstrância” que resumia a rejeição, por Armínio e por eles mesmos, do calvinismo rígido em cinco pontos." [01]
Artigo II da Remonstrância:
"Em concordância com isso, Jesus Cristo, o Salvador do Mundo, morreu por todos e por cada um dos homens, de modo que obteve reconciliação e remissão dos pecados por sua morte na cruz; porém, ninguém é realmente feito participante dessa remissão exceto os crentes, segundo a palavra do Evangelho de João 3.16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele não pereça, mas tenha a vida eterna" e Primeira Epístola de João 2.2:" E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas pelos de todo o mundo." (MARIANO, 2015, p.19).
Conclusão: Um dos pontos mais fortes e amplamente fundamentados do arminianismo é expiação universal. Primeiro, ela era a crença comum da igreja primitiva, segundo, a negação da mesma traz uma série de implicações diante da Bíblia e terceiro, ao longo dos séculos muitos teólogos reformados a ensinaram claramente. Inclusive nem mesmo Calvino chegou a negá-la. Qualquer arminiano pode dizer sem dúvidas a qualquer pecador que Deus o ama, quer salvá-lo e morreu por ele. Que Deus abençoe a todos!

BIBLIOGRAFIA:

-MARIANO, Wellington. O que é teologia arminiana? São Paulo: Reflexão, 2015.

-OLSON, Roger. Teologia arminiana, Mitos e Realidades. São Paulo: Reflexão, 2013.

[01]- http://googleweblight.com/…