17 de julho de 2017

Entrevista exclusiva com o Pastor José Gonçalves



Por Everton Edvaldo 

O blog Esquina da Teologia Pentecostal entrevista hoje o pastor José Gonçalves. Ele é pastor da Assembleia de Deus de Água Branca (PI), escritor, articulista e comentarista de Lições Bíblicas de Adultos da CPAD. 

01) Esquina da Teologia Pentecostal: A sua trajetória como escritor, pastor e expositor da Palavra de Deus é bastante notória entre os pentecostais. Já faz muitos anos que o senhor tem se dedicado à essa tarefa que apesar de ser trabalhosa, é realizada com tanta dedicação. Acredito que no início da sua caminhada cristã, tenha enfrentado vários desafios para chegar até aqui. Pode nos revelar, quais desses desafios o senhor teve que enfrentar por causa do Evangelho de Cristo? 

Pastor José Gonçalves: Antes de ingressar no ministério pastoral de tempo integral eu era um funcionário público da esfera Federal. Nunca havia imaginado ser um pastor, nem mesmo gostava de pensar nessa ideia e mais, sentia-me desconfortável quando alguém insinuava isso! Todavia, mesmo tendo o tempo limitado pela função pública que exercia, sempre procurei ser dedicado na obra de Deus. Foi querendo aprender mais da palavra de Deus que ingressei no Seminário Batista de Teresina, onde bacharelei-me em Teologia e sendo considerado o melhor aluno de grego bíblico da história do Seminário até então. Na sequência ingressei na faculdade de Filosofia na Universidade Federal do Piauí, onde formei-me com Laura Universitária.

A minha chamada pastoral e o meu ingresso no ministério pastoral de tempo integral foi algo que o Senhor tratou diretamente comigo. Certo dia eu estava orando no templo da igreja na qual me congregava e enquanto orava em línguas, veio-me a interpretação: EU TENHO UMA ALIANÇA MINISTERIAL COM VOCÊ. Oito anos depois fui procurado por meu pastor que me informou estar sentindo de Deus apresentar-me na Convenção para o ministério de evangelista. Dias depois, enquanto eu orava buscando uma resposta de Deus acerca daquela proposta, perguntei ao Senhor sobre esse convite. Imediatamente Ele me perguntou: “Você me ama?” – “Sim, Senhor!” Respondi. Então Ele falou: “Vá para a Convenção”. Naquela semana eu estava sendo consagrado ao ministério. Dias depois dirigi-me ao órgão público no qual trabalhava para pedir desligamento. 

02) Esquina da Teologia Pentecostal: Como autor de tantos livros e uma referência entre os pentecostais brasileiros, você sempre procura trazer em seus trabalhos, um conteúdo que além de ser bíblico, seja acessível e de qualidade para seus leitores. Podemos constatar tais características em cada livro que você publica. Na sua perspectiva, quais são as características que um pregador/escritor pentecostal deve possuir? 

Pastor José Gonçalves: A minha caminhada como escritor coincide com a minha chamada pastoral. Logo após ingressar no ministério pastoral de tempo integral, e abandonar o serviço público Federal, veio-me o desejo de escrever aquilo que eu achava ser relevante para a vida cristã. Em 2002 lancei o meu primeiro livro, intitulado: Missões: o mundo pede socorro (Ed. Halley) com o propósito de angariar fundos para o departamento de missões de nossa igreja do qual eu era o secretário. O livro foi bem aceito e motivou-me enviar para a CPAD outros textos que, concomitantemente, eu havia escrito nessa época. Foi nesse período também que fui convidado para escrever o meu primeiro artigo em um periódico da CPAD. Algum tempo depois fui informado por essa editora que o livro: Por que Caem os Valentes? havia sido aprovado e que seria publicado posteriormente, o que de fato, ocorreu em 2006.  A aceitação desse livro foi surpreendente, fato que levou a editora produzir outras edições. Depois do lançamento desse livro fui convidado para ser comentarista das Lições Bíblicas da EBD, estreando com a revista: Davi: vitórias e derrotas de um homem de Deus em 2009. Outras obras se seguiram a essa. 

Para mim a escrita é um ministério. Na verdade, o Senhor falou, muito antes de começar a publicar o que escrevi, que eu iria até mesmo admirar-me da forma como Ele me usaria no ministério da escrita. Portanto, sou consciente que administro uma graça de Deus que me foi dada e que nada posso por mim mesmo. Procurou fazer com qualidade aquilo que o Senhor me confiou e para isso aprendi a investir em qualquer coisa que possa trazer aprimoramento a esse ministério. 

03) Esquina da Teologia Pentecostal: Representando a maioria do evangelismo brasileiro, os pentecostais são muitas vezes taxados como cristãos que não gostam de estudar as Escrituras e que valorizam a experiência em detrimento da Palavra de Deus. Como pastor há tantos anos, de um rebanho composto por pentecostais, poderia nos dizer se isso é verdade? O Pentecostalismo supervaloriza as experiências em detrimento do estudo sério e contínuo das Sagradas Escrituras? 

Pastor José Gonçalves: O termo “pentecostal” é muito abrangente, envolvendo pentecostais clássicos, carismáticos e mais recentemente a terceira onda. Dentro desse universo há tradições pentecostais que se distanciaram da cultura e desenvolveram uma atitude de reserva quanto a mesma. Isso tinha uma razão de ser – os pentecostais, na sua grande maioria, vieram de movimentos periféricos, que não tinham muita aceitação dentro do que comumente se denominou de protestantismo histórico. Por outro lado, os pentecostais viam também com reserva muitas dessas igrejas históricas, achando que as mesmas haviam se mundanizado e se secularizado, o que eles associaram à cultura. O que era uma verdade. Todavia, isso não é uma verdade absoluta quanto a todo o movimento. Os pentecostais clássicos logo viram a necessidade de buscar um aprofundamento no estudo sistemático da palavra de Deus. Esse fato foi favorecido pela conversão ao pentecostalismo de muitos líderes pertencentes ao protestantismo histórico. Esses líderes, que possuíam formação acadêmica fomentaram o estudo das Escrituras levando em conta as ferramentas da teologia. Gunnar Vingren, fundador das Assembleias de Deus no Brasil, por exemplo, já havia obtido formação em Teologia quando aqui chegou.  

04) Esquina da Teologia Pentecostal: Desde o avivamento da Rua Azuza, a chama pentecostal ganhou o mundo e tem produzido frutos incontáveis. Desde então, milhares de vidas são impactadas com Evangelho da graça, são libertas do pecado, salvas, batizadas com o Espírito Santo, discipuladas e fortalecidas no corpo de Cristo. Por outro lado, as estratégias malignas estão sendo constantemente intensificadas contra a igreja de Cristo. As seitas estão crescendo e muitos "evangelhos" estão sendo fabricados disfarçados da verdade. No meio dessas duas realidades, há quem diga que Jesus voltará quando a igreja estiver em apostasia e na mente delas, já que a apostasia é um sinal de que a volta de Jesus está próxima, não precisamos se preocupar com tais acontecimentos pois tudo não passa de um cumprimento da Palavra de Deus. Como o senhor enxerga essa questão? Devemos nos preocupar com os males que assolam a igreja? 

Pastor José Gonçalves: Por ocasião do dia de Pentecostes, o apóstolo Pedro falou que aquele evento fazia parte dos “últimos dias” (At 2.17). A vinda do Messias, e sua consequente morte e ressurreição, provocou a entrada da igreja na era escatológica. O tempo do fim, portanto, estava inaugurado. O relógio de Deus está em contagem regressiva. Não temos como fugir dessa realidade. O que vemos a partir de então é um crescimento da iniquidade e apostasia. Todavia, a igreja foi capacitada no Pentecostes para enfrentar essa “era”. O problema surge quando a igreja perde o foco e começa a miliar fora do seu curso. Parece que é o que estamos vendo hoje. Muitas vezes parece que a igreja quer mudar o Sistema através do Sistema. Outras vezes, há uma espécie de fogo amigo. Muitos cristãos, por exemplo, usam as redes sociais para se digladiarem, não sabendo que seu inimigo não é um outro cristão, mas o diabo. É momento de nos unirmos para enfrentarmos um inimigo, que apesar de já está sentenciado, ainda não foi aprisionado.   

05) Esquina da Teologia Pentecostal: Certamente, é preciso ser sábio para conciliar o trabalho, com a igreja e com a família. É um desafio! Então, como você tem feito para administrar seu tempo sem negligenciar uma dessas três áreas?  

Pr José Gonçalves: No meu caso eu renunciei a carreira pública para me dedicar ao ministério de tempo integral. Ninguém me mandou, nem mesmo fui encorajado para isso. Foi uma decisão pessoal. Todavia nunca me arrependi dessa escolha. Em tudo tenho sido abençoado pelo Senhor. No ministério de tempo integral passei a ser pastor, escritor (mestre) e também palestrante (pregador). Esse fato fez com que eu montasse uma equipe forte que me dá sustentação. Para que a igreja não seja sacrificada atendo um ou no máximo dois convites por mês. 

06) Esquina da Teologia Pentecostal: Tenho a impressão de que a pergunta que farei agora, é curiosidade de qualquer pessoa que admira e lê suas obras. Em média, você passa quanto tempo escrevendo um livro?   

Pr José Gonçalves: Isso é relativo. Rsrsrs. Tenho livros que escrevi em 15 dias, enquanto outros levei anos para escrever. O fato é que costumo trabalhar rápido e quando sob pressão mais rápido ainda. 

07) Esquina da Teologia Pentecostal: Nos últimos anos, muito se tem investido na tradução de obras de autores carismáticos, pentecostais e continuístas. Como sei que o senhor é atualíssimo quando o assunto é pneumatologia, gostaria de saber se tem acompanhado esse processo. O senhor tem lido/avaliado essas obras? O que tem a nos dizer?

Pastor José Gonçalves: Sim. Alegro-me por esse despertar para a teologia pentecostal. Nossa editora (CPAD) tem feito um esforço gigantesco para colocar nas mãos de nosso povo obras de qualidade e que representem o pensamento pentecostal clássico. Outras editoras têm feito o mesmo.  Fico feliz porque tenho o prazer de ver traduzidas em português obras que já há algum tempo eu dispunha em inglês. Esse fato merece ser louvado. 

08) Esquina da Teologia Pentecostal: Quais benefícios um cristão desfruta quando é aluno assíduo da Escola Bíblica Dominical? 

Pastor José Gonçalves: Muitos! Uma estatística feita entre grandes líderes cristãos na América do Norte, constatou-se o fato que 94% deles foram alunos da Escola Dominical. A EBD é o grande Seminário da igreja. É nela que os crentes aprendem de forma sistematizada as doutrinas bíblicas e consequentemente fundamentam a sua fé. Vejo com desconfiança o discipulado de igrejas que aboliram a EBD. 

09) Esquina da Teologia Pentecostal: Por fim, gostaria que falasse o que lhe atraiu na Teologia Pentecostal Clássica e que faz você vivê-la com tanto amor e empenho.  

Pastor José Gonçalves: Converti-me em 1983 nas Assembleias de Deus e todo esse tempo convivi com a doutrina pentecostal clássica. Tive minha experiência pentecostal com o Espírito Santo, falando em línguas, ainda nos primeiros anos de minha conversão. Fui ensinado a ter um zelo pela santificação, dons espirituais e evangelismo. Para mim é muito tarde para alguém me dizer que os dons espirituais não são para hoje. Todos esses anos vi eles sendo exercitados e ainda continuo vendo. Vou contar apenas um fato para ilustrar a praticidade dos dons na vida da igreja. Certa vez eu visitava uma irmã e quando já me despedia para ir embora, ela solicitou que fizéssemos uma oração. Enquanto orávamos eu vi uma grande porta na minha frente que se encontrava fechada e com uma trave (um tipo de tramela usada em portas aqui no Nordeste) que a fechava. Quando terminamos a oração eu disse: “irmã eu vi uma porta grande fechada”. Aquela irmã começou a chorar e disse: “É a aposentadoria do meu marido que já veio negada três vezes”. Eu percebi que eles iriam desistir de orar em prol daquele objetivo. Então o Senhor falou comigo naquele momento: “Diga pra ela que continue orando que a tramela vai quebrar e a porta vai abrir”. Foi o que aconteceu. Pouco tempo depois aquele irmão estava aposentado.! Glória Deus. 

Atenciosamente, Esquina da Teologia Pentecostal.  

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