10 de agosto de 2019

Uma abordagem histórica e teológica do ministério feminino no Movimento Pentecostal.


Por Everton Edvaldo

Introdução: Durante muitos anos, fui contra o ministério feminino ordenado, isto é, eu não concordava que mulher alguma ocupasse cargos ou desempenhasse funções clericais. Eu confesso que essa crença era mais orientada pela posição da minha denominação do que pelo estudo acurado do assunto, propriamente dito. Tudo mudou nos últimos 07 meses quando finalmente resolvi me aprofundar no estudo doutrinário, hermenêutico e histórico-cultural da Bíblia. De repente, me vi como um igualitarista sem nunca ter lido um material sobre o assunto sob esse ponto de vista. A mudança de crença não esteve sob o escrutínio da orientação teológica dos igualitaristas, mas quando me vi mais alinhado com eles, claro, passei a estudá-los afim de aprimorar minhas crenças. O desafio agora era outro: conviver com essa crença e aparentemente ser contrário ao que minha igreja pregava. Eu sempre fui ensinado que pastorado feminino era errado... E agora? Foi quando resolvi estudar melhor a história do Movimento Pentecostal e os resultados foram surpreendentes. Descobri que posso ter essa crença e ao mesmo tempo estar em paz com o Movimento ao qual faço parte! E mais... descobri que historicamente e teologicamente, o Movimento Pentecostal favorece mais o igualitarismo do que complementarismo. Que maravilha! Porém, como surgiu a ideia de escrever esse artigo? Bem... Eu estava cansado de ver na internet que quando alguns pentecostais se pronunciavam sobre o assunto, eles sempre associavam quem era favorável ao ministério feminino com ideologias políticas como o progressismo ou feminismo. Sem falar naqueles que veem as igrejas que possuem mulheres no ministério como um modismo teológico. Então esse livro surge para destruir alguns desses espantalhos. Meu objetivo é mostrar que: 

A emancipação da mulher na liderança das Igrejas Pentecostais, não tem nada a ver com Feminismo ou Progressismo político. Na verdade, suas raízes são motivações teológicas e não ideológicas. É algo que ganha força sem seguir nenhuma orientação político-partidária. 

A emancipação da mulher na liderança das Igrejas Pentecostais, jamais pode ser considerada um modismo, pois, desde o começo do Movimento, ela já está presente e faz parte da nossa história.

A emancipação da mulher na liderança das Igrejas Pentecostais, é completamente compatível com a Teologia Pentecostal, Lucana e por conseguinte, com a Bíblia.

O que esse artigo não é:

Não é um artigo para debater com teólogos pentecostais que são contra.
Não é um artigo para afrontar ou rebelar-se contra a visão da minha convenção, pois eu a respeito muito (IEAD-PE). 
Não é um artigo para forçar qualquer pentecostal a pensar como eu.

Esse artigo será dividido em duas partes. Num primeiro momento, vamos abordar a questão histórica. Depois vamos entrar na questão teológica (onde vamos dialogar com pentecostais que são a favor). Vamos lá?

I- DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO 

Historicamente, nenhuma outra religião valorizou tanto a mulher como o Cristianismo (nem mesmo o judaísmo). É nítido que na Bíblia, a mulher ocupa um papel crucial no propósito histórico-redentivo. Isto significa dizer que desde o nascimento do Cristianismo (quando a visão acerca da mulher já era elevada quando comparada à carga cultural da época) até os dias de hoje, a mulher tem desempenhado alguns papéis e funções com bastante maestria. Sendo assim, o que a história do Pentecostalismo tem a dizer sobre a emancipação da mulher na liderança da igreja? Como essa questão do ministério feminino ordenado e não ordenado foi encarada? 

Bem... eu também costumo dizer que nenhum outro Movimento da história promoveu a emancipação da mulher na igreja, como o Pentecostal. Isto, porque na práxis Pentecostal, todas as barreiras de gênero caem por terra, e todos (homens e mulheres) são capacitados pelo Espírito Santo para realizar empreendimentos incríveis, seja liderando, pregando ou realizando maravilhas pelo poder de Deus.

 Ao longo desses mais de 100 anos, as mulheres Pentecostais, contribuíram em todas as áreas, sempre constantes e empenhadas na obra de Deus. Elas pregaram o evangelho, fundaram e pastorearam igrejas, ensinaram e foram usadas nos dons espirituais e ministeriais. Elas foram literalmente “o catalisador do Movimento Pentecostal inicial.”

As raízes dessa liberdade maior para a atuação da mulher, começa ainda nos séculos XVII e XVIII   quando "as mulheres que alcançavam a experiência e possuíam os dons do Espírito eram reconhecidas como líderes mais que os ministros autorizados pela instituição tradicional. Essa era a realidade, principalmente nos primeiros anos do avivamento pentecostal, explicada em parte, pela presença dos ideais quacres e metodistas que permeavam a religião da América do Norte do século XIX, geralmente aperfeiçoados pelas mulheres." (SYNAN 2011, p. 319)

No Clássico: "O Século do Espírito Santo" (SYNAN), a Doutora Susan Stubss Hyatt  dedica um capítulo inteiro para falar sobre um pouco da história dessas mulheres incríveis. Ela aborda desde as mulheres entre os primeiros quacres, passando pelo metodismo, movimento de santidade, etc. 

     Segundo o escritor Sheri R. Benvenuti "O número de mulheres que fornecem um legado de liderança no Movimento pentecostal foi numeroso."  

     Porém, no Avivamento que varreu o mundo no início do século XX, havia espaço para todos trabalharem, até porque para os primeiros pentecostais, o Espírito Santo era o único “líder verdadeiro” do Movimento. Qualquer pessoa que participa dele, é apenas um vaso nas mãos do Espírito. Não havia uma “concepção estritamente clerical” como temos hoje em algumas igrejas pentecostais do Brasil, como por exemplo, nas Assembleias de Deus.

Para você ter ideia, no início do Movimento, o pastor Seymour (um dos pioneiros do Pentecostalismo) deu as boas-vindas às mulheres no púlpito da Rua Azusa, forneceu credenciais a mulheres e homens e os enviou como missionários e plantadores de igrejas. Ele publicou seu compromisso nas seguintes palavras:

“É contrário às Escrituras que a mulher não tenha sua parte na obra da salvação à qual Deus a chamou. Não temos o direito de colocar uma palha em seu caminho, mas de sermos homens de santidade, pureza e virtude, para sustentar o padrão e encorajar a mulher em seu trabalho, e Deus nos honrará e abençoará como nunca antes. É o mesmo Espírito Santo na mulher como no homem.” 

  A partir do Movimento Pentecostal, as mulheres passaram a desempenhar papéis cada vez mais proeminentes. O Doutor e historiador Eddie Hyatt afirma que:

"Embora Seymour tenha sido reconhecido como o líder do Reavivamento da Rua Azusa, foi uma mulher negra, Lucy Farrow, que forneceu a centelha inicial que deu início àquele renascimento. De acordo com Madre Cotton, uma das primeiras participantes do renascimento, ninguém falou em línguas até que Farrow chegou e começou a colocar as mãos sobre as pessoas e orou para que fossem cheias do Espírito Santo. Farrow, que era sobrinha do famoso abolicionista Frederick Douglas, foi pastora de Seymour em Houston, e foi através dela que ele ouviu falar pela primeira vez do batismo no Espírito Santo e o falar em línguas. O fato dela ter sido muito valorizada por Seymour é indicado pelo fato dele ter pedido especificamente que ela viesse do Texas para Los Angeles para ensiná-los sobre o batismo no Espírito Santo. Isso ocorreu enquanto eles ainda estavam se encontrando na casa de Asberry, na Bonnie Brae Street. Foi somente depois que ela chegou e começou a colocar as mãos nas pessoas que o grupo de oração experimentou um derramamento do Espírito Santo, com muitos falando em línguas e outros dons espirituais sendo manifestos. Um contemporâneo disse: "Ela tinha um dom incrível para colocar as mãos nas pessoas e elas receberem o batismo no Espírito Santo". Foi o exemplo de Farrow, sem dúvida, que resultou em mulheres tendo papéis no reavivamento. Muitas mulheres evangelistas, missionárias, plantadoras de igrejas e pastoras saíram do avivamento. A edição de janeiro de 1908 de A Fé Apostólica, a publicação oficial do reavivamento, trazia uma declaração sobre o papel das mulheres. Nele, lê-se: 'Antes do Pentecostes, a mulher só podia entrar na "corte das mulheres" e não na corte interna. Mas quando nosso Senhor derramou o Pentecostes, Ele levou todas aquelas mulheres fiéis com os outros discípulos para o cenáculo e Deus os batizou na mesma sala e não fez diferença alguma. Todas as mulheres receberam o óleo ungido do Espírito Santo e puderam pregar o mesmo que os homens. Ambos eram cooperadores no Éden e ambos caíram em pecado; então ambos têm que se unir e trabalhar pelo Evangelho.'"  

1. Na era Parham (1901-1907)

A história atesta que nos primeiros anos do avivamento pentecostal (1901-1907), muitas mulheres exerceram funções de liderança. A historiadora Susan Hyatt, destaca algumas, como:

          Marie Burgess Brown. Ela foi batizada no Espírito Santo numa das reuniões de Parham em Zion City e implantou mais tarde, o Tabernáculo Alegres Novas, em Nova York. "Em 1961, o tabernáculo pastoreado por ela foi considerado 'a igreja com maior orçamento missionário nas missionárias Assembleias de Deus.” (SYNAN 2011, p. 332)

         Jean Campbell Hall Mason. Batizada "no Espírito Santo em 18 de outubro de 1906, exerceu um poderoso ministério por todo o Canadá e nos Estados Unidos até sua morte, em 1964." (SYNAN 2011, p. 332)

         Berenice C. Lee. Batizada "no Espírito Santo em 30 de outubro de 1906, foi para a índia, onde estabeleceu diversas igrejas locais e treinou centenas de líderes nativos." (SYNAN 2011, p. 333)

         Susan também comenta que em "1905, os Parhams promoveram reuniões em Houston e nas vizinhanças da cidade, bem como uma escola bíblica temporária em 1906. Os grupos de obreiros que ministravam com os Parhams nessas cruzadas eram compostos de homens e mulheres, sem distinção. Entre os colaboradores, não havia segundo escalão nem subordinados. O nome de duas mulheres aparece com muita frequência: Mabel Smith e Lucy Farrow. Ambas foram enviadas por Parham, a pedido de William J. Seymour, para ajudar a obra na fase inicial do avivamento da Rua Azusa. Mabel também trabalhou no avivamento de Zion City; e seu nome aparece com regularidade nos primeiros relatórios pentecostais." (SYNAN 2011, p. 334)

         Susan ainda fala que as mulheres "também foram figuras proeminentes nas tarefas administrativas em torno do avivamento. Perto do final de 1905, quando o contingente de batizados no Espírito Santo já era significativo e pelo menos 50 obreiros, homens e mulheres, trabalhavam em tempo integral, Parham começou a ser pressionado para organizar o avivamento. Assim, o movimento que ele havia criado de maneira informal, conhecido como 'movimento da fé apostólica', foi oficializado em maio de 1906, com uma representação igualitária de homens e mulheres. Dos quatro colaboradores de Parham, dois eram mulheres: Rilda Cole, diretora para o Kansas, e Lillian Thistlethwaite, secretária geral. Todos os obreiros e evangelistas, homens e mulheres, eram igualmente credenciados, e muitos deles ajudaram a formar o núcleo das Assembleias de Deus, em 1914." (SYNAN 2011, p. 335)

É muito perceptível que as mulheres não estavam apenas na periferia do Movimento, elas estavam também na linha de frente juntamente com os homens, exercendo não apenas funções de liderança, mas também administrativas e missionais. Que coisa gloriosa, não?

2. Na era William Seymour  

          Segundo a Biografia de Seymour, enquanto ele "liderou a Missão da Rua Azusa, aderiu a uma mensagem igualitarista, mas alguns estudiosos questionam se isso foi verdade para as mulheres que estavam afiliadas a ela. Estrelda Alexander no livro "Women of Azusa Street" (Mulheres da Rua Azusa), argumenta que a partida antecipada de Florence Crawford da missão e do avivamento pode ter sido relacionado às restrições que Seymour colocou sobre ela como mulher. Doctrines and Discipline de Seymour faz uma distinção clara entre os papéis de homens e mulheres, insistindo que 'toda ordenação deve ser feita pelos homens e não pelas mulheres.' Embora Seymour não proibisse as mulheres de ministrar, não lhes era permitido batizar ou ordenar outros na Missão.' A política posterior de Seymour referente às mulheres no ministério obviamente não teve início de Azusa, já que seis dos doze líderes iniciais nomeados para lidar com finanças, comunicação, e ordenação eram mulheres. Essa mudança de política possivelmente contribuiu para que as mulheres saíssem da Missão." (SYNAN E FOX, 2017, p. 122, 123)

          Ou seja, nos primeiros anos do Avivamento da Rua Azusa, as mulheres participavam ativamente na liderança, mesmo havendo algumas restrições posteriormente. Seymour desenvolveu uma teologia de governo da Igreja bastante Pneumatológica. Nesse sentido, é possível traçar paralelos entre o pensamento dele e a intenção autoral Lucana, onde ambos convergem que o Espírito Santo é o verdadeiro Bispo da Igreja. Segundo ele:

"É função do Espírito Santo presidir toda a obra de Deus na Terra (Jo 10.3). Jesus foi o nosso Bispo na terra, mas agora Ele enviou o Espírito Santo, amém, para que ele ocupe seu lugar - não homens (Jo 14.16; 15.26; 16.7-14)." (SYNAN E FOX, 2017, p. 169)

       A princípio, Seymour não coloca limites de gênero como requisito para o governo da igreja. Para ele, o que realmente importava era se a pessoa estava cheia do Espírito Santo, tendo em vista que não é ela que dá vida ao Avivamento, mas o Espírito divino.  

      Naqueles dias, pouca atenção era dada à questão da autoridade. Na verdade, o único que era visto como possuindo autoridade absoluta e que detinha a condução de todo o Movimento, era o Espírito Santo ; os irmãos e irmãs eram apenas vasos/servos em suas mãos. E tendo em vista que para servir não há requisito algum (inclusive de gênero), logo, o Espírito Santo podia levantar tanto homens quanto mulheres para fazer a Sua obra e serem obreiros/obreiras de Deus.

      Nas palavras de Seymour, "Deus escolhe instrumentos para pregar a Palavra ao povo e o Espírito Santo dá luz a todos os que recebem de Cristo, o que significa o novo nascimento. Louvado seja nosso Deus, o Senhor produzirá filhos e filhas para seu governo." (SYNAN e FOX, 2017, p. 172).

      Em outro momento, ele diz:

"Quando homens e mulheres estão cheios do Espírito Santo, em todos os lugares que vão, as águas vivas fluirão. Este é o Espírito Santo" (SYNON e FOX, 2017, p. 172).

      Ou seja, a única validação para atuar na obra do SENHOR, não era o sexo, mas o "ser cheio do Espírito Santo."  Esse era o lema do início do Movimento, que fez com que tanto homens, quanto mulheres, atuassem no ministério, seja pregando, dirigindo, pastoreando, evangelizando ou servindo, pois naqueles dias, eles viam se cumprindo a profecia que prometia que "filhos e filhas profetizarão." (Atos 2.17)

      Tendo como base a Bíblia e principalmente os livros de Joel e Atos, o Pentecostalismo se transformou aos poucos, num movimento que derrubou barreiras raciais, étnicas, culturais, de gênero e faixa etária. Apesar das controvérsias, a verdade é que “a linha de cor foi lavada pelo sangue.” Negros, brancos, escolarizados e analfabetos, homens e mulheres, velhos e jovens... Todos estavam recebendo o Espírito Santo para servir e muitos desses ocuparam posições de liderança (incluindo mulheres), porque o ato liderar, não é outra coisa, se não o ato de servir. 

       Segundo Tim Challies, O Movimento Pentecostal era "distintamente igualitário. Desde o início, a Missão da Rua Azusa permitiu que homens e mulheres ocupassem todos os cargos de liderança, inclusive a pregação. O reavivamento também era racialmente igualitário, de modo que os brancos e as minorias adoravam juntos de uma forma que muitos na época consideravam escandalosa. Algumas das primeiras críticas do movimento escoam com o racismo malicioso enquanto espectadores expressam sua repulsa com homens negros que adoram ao lado de mulheres brancas. A multi-etnicidade dos primeiros pentecostais contribuiu para o que se tornaria o culto pentecostal, que absorvia elementos de várias tradições culturais. (Seymour mais tarde alteraria seus pontos de vista para permitir que apenas homens ocupassem certas posições de liderança).”  

       A historiadora Susan Hyatt deixa bem claro que muitas mulheres "exerceram cargos de liderança na Rua Azusa. Quando Seymour decidiu formar um conselho de anciãos para deliberar sobre os negócios da Missão da Rua Azusa, ele escolheu sete mulheres e quatro homens. São elas: Jennie Evans Moore, Irmã Price, senhora G.W. Evans, Clara Lum, Phoebe Sargent, Rachel Sizelove e Florence Crawford. (...) As mulheres do período inicial do pentecostalismo eram capacitadas experimental e teologicamente para as atividades de liderança. Todavia, à medida que os anos passavam e o avivamento se espalhava, o apoio e a confiança das mulheres foram diminuindo." (SYNAN 2011, p. 336)

3. Líderes femininas que protagonizaram intensamente no Movimento Pentecostal. 

As mulheres souberam bem aproveitar essa abertura que existia no início do Movimento Pentecostal para o protagonismo feminino na liderança. Para você ter ideia, foram mulheres que primeiro receberam o Batismo no Espírito Santo em duas ocasiões importantíssimas do Movimento.   A história registra várias delas, porém, vamos nos deter a algumas, com a finalidade de exemplificar.

Aimee Semple McPherson (1890-1944)

       Foi uma ministra Pentecostal, ordenada ao ministério por William H. Durham. Ela atuou como missionária por um curto período na China ao lado do seu marido que morreu em 1910. Em 1919, "Aimee foi ordenada pela Assembleia de Deus como 'evangelista', mas deixou a denominação em 1922. Nos anos seguintes, ela também foi ordenada pela Igreja Pentecostal Metodista na Filadélfia e por uma batista local em San Jose, Califórnia." (SYNAN, 2012, p. 109). Ela é fundadora da Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular, uma das denominações de tradição Pentecostal que mais cresce no mundo. Ela também foi responsável por popularizar o quadrilátero pentecostal: Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e em breve voltará. 

         "Depois de 10 anos de exaustivo trabalho evangelístico, McPherson decidiu estabelecer-se em Los Angeles em 1921. Ela comprou uma propriedade perto do Echo Park, projetou e construiu o Templo de Angelus, dedicando o novo edifício em 1 de janeiro de 1923. Aos trinta e três anos, Aimee Semple McPherson estabeleceu a primeira estação de rádio cristã nos Estados Unidos, um auditório de 5.300 lugares no qual milhares de pessoas foram salvas e curadas, uma Faculdade Bíblica e, finalmente, uma denominação, que ainda está em operação hoje. A Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular agora tem mais de 1,9 milhões de membros, com mais de 31.000 igrejas e locais de reunião em 72 países ao redor do mundo. (...) A própria McPherson não estava consciente do impacto que ela teria sobre as mulheres no ministério, e de fato encorajou outras mulheres a seguirem seu exemplo. Em uma palestra para uma de suas aulas da Escola Bíblica, ela declarou: Esta é a única igreja, dizem, que está ordenando mulheres pregadoras. Até mesmo os obreiros pentecostais, em alguns casos, disseram "não queremos nenhuma mulher pregadora". Mas estou abrindo a porta e, enquanto a irmã McPherson estiver viva, ela vai abrir a porta e dizer: "Senhoras, venham!" Ela era evidentemente fiel à sua palavra, pois em 1944, ano da sua morte, as mulheres representavam 67% do clero ordenado na denominação que ela fundou, a Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular."  

Alice Reynolds Flower (1890-1991).

       Foi uma ministra licenciada em 1910 e ordenada em 1913. Talentosa, ela escreveu mais de 17 livros, dezenas de lições para a Escola Bíblica Dominical e centenas de poemas. Casada com Joseph Flower, o secretário fundador da Assembleia de Deus, foi considerada "como uma figura de liderança na Assembleia de Deus durante décadas antes de sua morte, em 1991." (SYNAN 2012, p. 57) 

Jennie Moore (1883-1936).

       Foi a primeira mulher a falar em línguas em Los Angeles, antes mesmo de William Seymour. "Ela se tornou uma das primeiras evangelistas pentecostais ao difundir a mensagem do batismo no Espírito Santo e a evidência de línguas em várias igrejas de Los Angeles." (SYNAN, 2012, p. 120). Nos cultos da Rua Azusa, "Moore estava lá como auxiliadora capacitada, liderando os cânticos e atuando como obreira do altar. Em 1907 e 1908, viajou com duas outras mulheres ministrando cultos em Los Angeles e Chicago com William Durham." (SYNAN, 2012, p. 120)

       Em 1908, ela casou-se com Seymour e quando ele morreu, em 1922, "Jennie atuou como pastora da Missão da Rua Azusa, que na época era uma pequena congregação pentecostal negra." (SYNAN, 2012, p. 120).

Agnes Ozman (1870-1937).

       Considerada a primeira mulher a falar em línguas em Topeka, Kansas, Ozman foi uma das alunas de Charles Fox Parham. Foi uma mulher bem influente no Movimento Pentecostal, atuando por anos como missionária e levando a chama Pentecostal a muitos. Ela foi ordenada como pastora juntamente com seu esposo Filemon M. Laberg pelo Conselho Geral das Assembleias de Deus.  

       O Pentecostal Vinson Synan, diz que Deus a levantou "para ser catalisadora na divulgação do derramamento do Espírito Santo dos últimos dias." (SYNAN, 2012, p.126).

Lucy Farrow (1851-1911)

       Foi uma pastora de uma igreja de santidade (Holiness) independente que foi fundamental para os primeiros anos do Pentecostalismo. Pouco se sabe sobre sua infância, e pouco crédito lhe tem sido dado nos estudos sobre as origens do Pentecostalismo, porém alguns livros fazem menção a ela com vários detalhes. O ministério dessa mulher foi tão notável que ela é uma das pessoas mais citadas nos relatórios de Parham, considerado o pai do Movimento Pentecostal. 

       Pois bem, quem foi essa mulher? 

       Lucy Farrow ficou praticamente desconhecida até 1905, quando conheceu Charles Fox Parham, o pioneiro do Movimento Pentecostal. Nesta época, ela pastoreava uma igreja Holiness em Houston, Texas e abriu as portas do seu ministério para Parham que veio à cidade promover cruzadas que atraíram grandes multidões e o respeito do povo e da imprensa. A partir daí, ela abraçou a fé Pentecostal.

       Ela foi a primeira pessoa negra a ser registrada como tendo recebido o Batismo no Espírito Santo com evidência inicial do falar em línguas nas reuniões de Parham. Nessa época, Parham passou a ter tanta estima por ela, que a convidou para ser governanta dos seus filhos e cozinheira do seu seminário, funções estas que só pode exercer por poucos meses, devido as suas ocupações com a obra de Deus. Durante os dois meses que ficou fora do Texas, deixou William Seymour que já era seu amigo, cuidando da sua congregação.

       Quando Parham abriu o seminário, ela incentivou Seymour a matricular-se para as aulas, tendo sido ela quem apresentou o Seymour a Parham. Seymour se interessou pela doutrina que ela o havia transmitido e se matriculou no seminário para as aulas.

     Tamanha era a unção de Farrow, que em Agosto de 1906, ela foi convidada por Parham para pregar no acampamento do Movimento da Fé Apóstolica, onde muitos receberam curas e poder de Deus, sem falar nas inúmeras pessoas que se converteram. 

      Ela ficou conhecida como a "escrava ungida" e foi cotada como uma das obreiras mais intensas na companhia de Parham que vivia rodeado de obreiros e obreiras.  Certa vez em Portmouth, ela foi usada pelo SENHOR e cerca de 200 pessoas se converteram e 150 receberam o Batismo no Espírito Santo. 

      Parham a enviou para muitos lugares. Tendo ela ministrado em toda a América e dirigido cultos em Louisiana, Carolina do Norte, Virgínia (onde teve um ministério notável), Nova York e até mesmo na Inglaterra.

      Mas não parou por aí. Ela também foi enviada para a Libéria, na África. Há relatos que ali, ela recebeu a Xelolalia, pois passou a falar a língua Kru, sem nunca tê-la estudado e que inclusive chegou a pregar para o rei daquele povo. Os relatos também contam que muitos liberianos foram salvos e batizados no Espírito. Porém, Ferrow não passou muito tempo na Libéria e logo voltou para a América. 
  
     Ela também desempenhou um papel fundamental nos primeiros anos da Missão Azusa Street. Isto porque, durante os períodos de oração de Seymour, ninguém havia falado em línguas até que Lucy foi convocada por Seymour a ir lá e orar pelas pessoas, e então muitas foram batizadas no Espírito, através da sua imposição de mãos, conforme no livro de Atos, contribuindo desta forma para a centelha inicial naquele lugar. Incansável e intrépida, ela trouxe a Mensagem Pentecostal com poder a Los Angeles, onde a maioria da população era negra.

     Em uma das edições do jornal: "A Fé Apostólica", é dito o seguinte sobre ela:

''Sra. Lucy F. Farrow, serva ungida de Deus, que veio há quatro meses de Houston, Texas, para Los Angeles, trazendo o Evangelho completo, e a quem Deus usou grandemente ao impor as mãos a muitos que receberam o Pentecostes e o dom de línguas, agora retornou a Houston, a caminho de Norfolk, Va. Ela voltou para sua antiga casa que ela deixou quando era menina, sendo vendida como escrava no sul. Ela sente que o SENHOR agora a está chamando de volta. Irmã Farrow, irmão W. J Seymour e irmão J. A. Warren foram os três que o Senhor enviou de Houston como mensageiros do Evangelho completo." (Edição 1, página 01). 

     Num trecho do mesmo jornal, também é possível lermos uma fala escrita por Farrow sobre o trabalho que ela desenvolveu na Virgínia. Ela diz:

''Tivemos uma reunião gloriosa ontem à noite. Foi a sexta noite e seis pessoas falaram em línguas. É maravilhoso ver como o Senhor está trabalhando com Seus filhos crentes, mas há muito a ser feito aqui. Há um grupo de santos que não lê a Bíblia como santos. Eles dizem que a Bíblia é para incrédulos, então eles não a leem. (...) Hoje Deus está fazendo um pequeno trabalho na terra. Logo, logo, Ele estará voltando à terra novamente. Ele disse que não devemos ultrapassar as cidades até que o Filho do Homem venha, por isso não temos muito tempo a perder. Lembre-se de mim e por todos os santos. Diga-lhes que orem por mim. Eu não posso escrever para todos, então você se lembre de mim como um todo. Peça-lhes para orar pelo trabalho na Virgínia. É muito necessário. Eu não sei quanto tempo o Senhor vai me manter aqui. Há muito a ser feito. Eu não passei por Danville, mas vou para lá assim que puder sair desse lugar. Passei por Nova Orleans e mudei de carro para lá, e coloquei as mãos em duas famílias doentes no caminho de Houston aqui'' - Lucy Farrow. (Edição 2, página 03). 

       Em outra edição, o jornal também diz:

"Deus fez um trabalho maravilhoso em Portsmouth, Virgínia. É relatado que cerca de 150 receberam o Pentecostes. Todo o país a respeito é agitado pelo poder de Deus. O Senhor enviou a irmã Lucy Farrow de Los Angeles e a usou para pregar este evangelho. Ela sente um chamado de Deus para ir a Monróvia, Libéria, África, e quer que alguém venha e ajude a continuar o trabalho. Ela diz: “Dê a todos os santos amor por mim. Diga-lhes que tenho muitos filhos aqui também. Eles não querem que eu vá embora, mas todos sabem quando o Senhor diz para eu ir, eu devo ir. Eu me movo quando o Senhor diz que devo me mexer. Não há tempo para visitar apenas para o Senhor. Eu vou noite e dia na chuva e no sol. Não há tempo para parar. Jesus está chegando em breve. Ore por mim e pelo trabalho aqui." (Edição 4, página 01).  

      Sobre ela, uma testemunha de Portmouth fala:

"Agradou a Deus por Seu poder Todo-Poderoso nos enviar a Irmã Lúcia Farrow para nos trazer a luz como não a vimos. O poder de Deus caiu sobre nós. Eu O louvo por ser uma testemunha em Jerusalém, Samaria, Judéia e até os confins da terra. Eu O louvo pelo poder no sinal que Ele me deu de falar em línguas e interpretar o mesmo e cantar em línguas. Eu louvo a Deus pelo poder de cura. Ele me curou da minha cabeça aos meus pés. --- Georgetta Jeffries, Portsmouth, Va. (Edição 4, página 01). 

       Um relatório de missionários pentecostais também fala:

"Nossa querida irmã Farrow, que foi uma das primeiras a trazer Pentecostes para Los Angeles, foi para a África e passou sete meses em Johnsonville, a 40 quilômetros de Monróvia, na Libéria, naquele clima mais mortal. Ela agora voltou e tem uma história maravilhosa para contar. Vinte almas receberam seu Pentecostes, e inúmeros foram salvos, santificados e curados. O Senhor lhe dera o dom da língua Kru e ela foi autorizada a pregar dois sermões ao povo em sua própria língua. Os pagãos, alguns deles depois de receber o Pentecostes, falaram em inglês e alguns em outras línguas. Louve a Deus. O Senhor mostrou a ela quando ela foi, a hora em que ela voltaria e lhe enviou a passagem a tempo, trouxe-a para casa em segurança e a usou na Virgínia e no Sul ao longo do caminho.” (Edição 11, página 01). 

        Após voltar da África, Deus continuou usando sua serva na parte de trás da missão da Azusa Street, onde muitas pessoas que a procuraram foram curadas, batizadas no Espírito Santo e relatavam ter tido experiências maiores com Deus. Assim ela viveu os últimos anos da vida dela.

        Em 1911, ela contraiu tuberculose e morreu com a idade de 60 anos. Foi provavelmente, a mulher negra mais determinante no movimento pré Rua Azusa e possivelmente, a personalidade mais influente na formação do Pentecostalismo.

Maria Woodworth-Etter (1844-1924)

        Segundo Synan, foi uma "das primeiras pioneiras do pentecostalismo." (SYNAN, 2012, p. 171). No livro: "Maria Woodworth-Etter", publicado pela CPAD, há sermões e anotações que ela fez em seu diário, documentando muitas coisas que aconteciam em suas reuniões. Sua pregação era geralmente acompanhada por curas, milagres, profecias, visões, línguas e vários outros sinais. Ela é uma das provas históricas mais evidentes do que Deus pode fazer com uma mulher que se coloca à disposição do seu Reino. Ela é chamada pelo Roberts Liadon no livro "Os Generais de Deus" de "Avó do Movimento Pentecostal." Ele também relata que não "se tem notícia de alguém que tenha demonstrado tanto o poder do Espírito de Deus, desde o livro de Atos dos Apóstolos" do que ela.  

        Foi lendo a profecia de Joel que ela chegou à conclusão de que o profeta previa o derramamento do Espírito sobre homens e mulheres.

        Synan vai dizer que ela se tornou a evangelista de cura "mais poderosa do movimento pentecostal."  (SYNAN, 2012, p. 181). E mais:

"Naqueles dias, muitas igrejas não ordenavam mulheres, de modo que muitas pessoas criticavam Woodworth-Etter por pregar. Apesar disso, ela jamais questionou seu chamado ao ministério." (SYNAN, 2012, p. 183).

        Roberts Liardon diz que "ela tomou parte em nove avivamentos; pregou duzentos sermões e inaugurou duas igrejas com mais de cem pessoas assistindo à escola dominical." (LIARDON 2008, p. 47)

        E Susan Hyatt completa: em "1912, ela se juntou ao movimento pentecostal graças aos esforços de F.F. Bosworth. Os pentecostais acolheram-na com grande entusiasmo." (SYNAN, 2011, p. 330).

        Ou seja, quer ordenadas ou não, essas mulheres exerciam e ocupavam posições de liderança e foram usadas poderosamente por Deus. Numa época onde não havia uma preocupação excessiva por títulos, elas provaram que com título ou sem título, elas estavam lá para fazer a obra do SENHOR, onde quer que Ele as colocasse.

        Uma pesquisa feita em 1994, estimava que 8% do clero assembleiano nos EUA, era composto por mulheres. Essa mesma pesquisa, aponta que 19% do clero presbiteriano, era composto por mulheres.  Suponho que hoje, os números sejam maiores

        4. No Brasil.

        Em nosso país, a questão da liderança feminina muito cedo se tornou alvo de controvérsia. Desde os dias de Gunnar Vingren e Daniel Berg, fundadores da Assembleia de Deus no Brasil, o assunto tem trazido uma série de desconfortos. Porém, a liderança feminina, apesar de não ser unanimidade, é uma realidade nas Igrejas Pentecostais do país. Para você ter ideia, atualmente, das quatro grandes convenções nacionais (ADVEC, CONAMAD, CGADB e CADB), apenas a CGADB não ordena mulheres ao pastorado e isso foi decidido em 1930. Para o saudoso pastor e teólogo Antonio Gilberto, o pastorado feminino e a ordenação de mulheres ao diaconato, é algo anti-bíblico.  Outros teólogos pentecostais também são contra, como o pastor e escritor Ciro Sanches Zibordi.  

       Apesar disso, as mulheres na maioria das convenções ligadas à CGADB, podem ser professoras de EBD (mulheres e crianças), dirigentes de círculo de oração, etc. Algumas, apesar de não serem ordenas e não estarem necessariamente à frente da congregação, desempenham funções pastorais entre o povo de Deus, mesmo sem uma ordenação oficial da instituição.

       No entanto, até mesmo na história da CGADB (que é contra a ordenação de mulheres ao ministério), podemos encontrar pessoas que eram a favor da liderança feminina na igreja. Vejamos:

Pastor João Joaquim de Oliveira 

       Na primeira quinzena de março de 1966, o Pastor João Joaquim de Oliveira publicou um artigo polêmico no jornal oficial das Assembleias de Deus, o Mensageiro da Paz. O artigo é intitulado "A atividade das mulheres." Ele diz:

"Jesus usou uma mulher para trazer-lhe ao mundo. Usou outra mulher para levar o primeiro recado aos discípulos, após haver ressuscitado. Se uma mulher não pode trabalhar no Evangelho, como procederiam as missionárias desbravando os sertões africanos e mesmo nos nossos sertões inóspitos, aonde muitos homens de cor não têm coragem de chegar? Quantas igrejas há por esse Brasil a fora, onde as pioneiras foram as mulheres, passando todas as modalidades de privações e perigos mil? Que fariam esses homens que pregam contra uma mulher dar um testemunho no púlpito da igreja que nem mesmo desejam servir a Deus com seus dízimos, como elas fizeram? Lucas 8.2-3. Mal 3.10. Sabemos pela Palavra de Deus que o ministério é um dom de Deus: seja para pregar, evangelizar, ensinar, orar pelos enfermos e profetizar. Ora se o Senhor é quem lhes dá essa graça ministerial, quem somos nós para lhes impedir? Tomamos até as palavras de Pedro em Atos 11.17. Quem julga que Paulo era contrário o ministério das mulheres no trabalho evangélico deve ler com muita atenção Rom 16 e Fil 4.2-3. Que o ministério das mulheres tem sido impedido pelos líderes da Igreja, isso é um fato e para isso nomeando uma série de fatos e razões com textos bíblicos que na maioria de casos querem dizer outra coisa e não a mulher servir a Deus com fidelidade e dedicação. Entretanto para esses mesmos líderes a mulher continua servindo em suas igrejas como professoras de Escolas Dominicais, evangelistas e até como profetizas, etc. Por que uma mulher não pode ser consagrada ao serviço de Deus, possuindo os dons dados pelo Espírito Santo? Porque elas não podem subir no púlpito e entregar uma mensagem ungida que receberam dos céus? Não são elas, diretoras de associações e não exercem trabalhos importantes na obra do Senhor? Então por que Deus deixou de distribuir entre elas os dons Espirituais? Não são os dons dados para o que é útil? I Co 12.7. Sim como já foi citado o cap. 16 de Romanos, entre os obreiros estão citados os nomes de muitas mulheres obreiras do Senhor. Como Priscila e Áquila, esposa e esposo que viviam unidos no trabalho do Senhor. Atos 18.26. A mulher tem além do lar um importante papel na obra de Deus. Que ela seja submissa ao ministério e debaixo da orientação pastoral e sirva sem embaraço na obra do Senhor."

         Pastor João de Oliveira foi quem endossou a implantação do Instituto Bíblico das Assembleias de Deus (IBAD) em 1958. Ele era amigo do casal fundador: Kolenda Lemos e Ruth Doris Lemos.  

         A verdade é que na própria história das Assembleias de Deus, tivemos algumas mulheres que desempenham papéis de liderança e protagonismo. O livro "100 mulheres que fizeram história na Assembleia de Deus no Brasil" (CPAD) relata com bastante entusiasmo, a vida e o protagonismo de dezenas de mulheres na história da Assembleia de Deus em nosso país. Apesar da ordenação ao diaconato e pastorado não aparecer com frequência, tivermos várias mulheres "pastoras" e "diaconisas" em nosso meio, pelo menos, no que diz respeito ao trabalho que elas desempenharam. Vou falar de algumas aqui:

Frida Vingren, a "pastora" sem crachá das Assembleias de Deus. 

       Uma das figuras mais esquecidas do Pentecostalismo brasileiro, deixou um legado digno de lembrança aqui na terra: Frida Vingren. Além de ser esposa do fundador das Assembleias de Deus no Brasil, essa mulher foi enfermeira, redatora, poetisa, musicista, professora, ensinadora da Bíblia, pregadora e líder. Ela deixou 23 hinos na Harpa Cristã, hinário oficial das Assembleias de Deus no Brasil. Comentou algumas lições de Escola Dominical e escreveu dezenas de artigos para jornais como "Som Alegre", "Boa Semente" e "Mensageiro da Paz". Destacou-se por seu ministério carismático e intenso, nos lares, nas igrejas, nos presídios e praças. No entanto, mesmo com resistência de alguns pastores e líderes da Assembleia de Deus, Frida também se destacou como uma talentosa líder da igreja. Ela ministrava estudos bíblicos nas congregações, pregava e assumia a liderança da igreja  nos períodos em que seu esposo estava fora ou enfermo. Apesar de nunca ter sido ordenada, Frida pode ser devidamente chamada de "a pastora sem crachá das Assembleias de Deus." Digo isso, não apenas por reconhecer que ela exercia funções pastorais com muita eficácia e que isso é impossível sem a graça de Deus, mas também por entender que o pastorado é um dom, segundo Efésios 4.11. Ela foi um exemplo não apenas para as mulheres, mas também para os homens. Seu ministério pode até não ter sido reconhecido aqui na terra pelos homens, mas dúvida foi reconhecido na glória.

        Vou deixar alguns textos aqui do historiador assembleiano Isael de Araújo sobre algumas atividades que Frida exercia na igreja. Todos eles podem ser encontrados no livro: “Biografia de Frida Vingren” (CPAD). 

“Em 27 de Maio de 1917, Frida foi ordenada missionária na Igreja Filadélfia de Estocolmo, para trabalhar no Brasil, principalmente, como bibekvinna (antiga palavra sueca para designar uma mulher que exercia o ministério de ensinadora da Palavra de Deus nas igrejas.” (p. 32)

"Como Vingren precisava viajar bastante, Frida ficava responsável pela direção da igreja e dos cultos muitas vezes. Seu bom conhecimento bíblico foi de grande benção tanto verbalmente como por escrito nessas ocasiões e nos anos vindouros do ministério do casal, tanto no Pará como no Rio de Janeiro. Ela era enérgica, mas procurava compreender e solucionar os diferentes problemas que existiam." (p. 46)

"Em 1925, Frida continuava trabalhando na direção da Assembleia de Deus de São Cristóvão juntamente com o seu esposo, o missionário Gunnar Vingren." (p.79)

"Frida era um dos pregadores mais ativos nesses trabalhos evangelísticos ao lado do seu esposo, e de dois jovens evangelistas: Paulo Leivas Macalão e Sylvio Brito." (p. 81)

"... Frida foi bastante ativa tanto na igreja como na área da literatura e imprensa das Assembleias de Deus." (p. 87)

"Durante esse tempo de viagens de Vingren, Frida ficou à frente da igreja do Rio de Janeiro sendo auxiliada pelos seus obreiros." (p. 106)

"Para defender o trabalho da mulher nas Assembleias de Deus, Frida traduziu uma parte do artigo escrito por um missionário de nome F. Franson, sob o significativo 'Filhas Profetizando', e publicou no jornal O Som Alegre..." (p. 110).

Frase de Frida: "Nos diferentes países onde existe a obra pentecostal, as mulheres tomam grande parte no trabalho. Nos país europeus, nos Estados Unidos e até nos países pagãos, elas têm penetrado." (p. 111)

"Na ausência de Vingren, a liderança da igreja do Rio de Janeiro ficou a cargo de Frida, auxiliada pelos obreiros da época." (p. 114). 

Frida recepcionava obreiros e certa vez permitiu que uma missionária (que estava de passagem pelo Brasil a caminho da Argentina e que atuava como evangelista há 11 anos), pregasse num culto de domingo. (p. 115)

Mesmo quando foi proibido que a mulher pregasse e ensinasse nas Assembleias de Deus no Brasil em 1930, Frida escreveu um artigo chamado "Deus Mobilizando suas Tropas" (p. 3). O escritor e historiador assembleiano Isael de Araujo comenta "... parece que o texto tem um objetivo específico: incitar as assembleianas a não aceitarem passivamente a decisão da Convenção. Ela, como as demais mulheres, fora proibida de falar, mas no seu caso, não de escrever." (p. 129)

Sem falar que depois da decisão de 1930, "Frida, ao lado dos obreiros da igreja, continuava fortemente envolvida com esses trabalhos." (p.131).

O próprio Vingren continuou apoiando sua esposa: "Como Vingren resolveu empreender nova viagem a Santa Catarina, no culto de domingo do dia 17 de janeiro, ele anunciou Frida como seu substituto na direção da igreja..." (p. 147).

E mais: "Durante todo o tempo da sua última viagem ao Sul e depois, durante a sua enfermidade, Frida, junto com os obreiros da igreja, assumiu a responsabilidade da Assembleia de Deus no Rio." (p. 150)

E por fim quando voltou para Suécia, após a morte do seu esposo, desejava voltar para o Brasil para trabalhar como missionária. (p. 171) 

Zélia Brito Macalão (1907-1988)

        Batizada pelo Pastor Gunnar Vingren, um dos fundadores da Assembleia de Deus, Zélia Brito Macalão era casada com Paulo Leivas Macalão, o fundador do Ministério de Madureira da Assembleia de Deus. Ele era músico, compositor e autor de boa parte dos hinos da Harpa Cristã (cerca de 252), o hinário oficial das Assembleias de Deus. Zélia foi uma benção na vida do seu esposo que dava liberdade para que ela desse "palestras para motivar os membros da sua igreja a ajudarem os pobres e necessitados." (GIRALDI 2015, p. 372)

        Segundo Luiz Antonio Giraldi, ela promovia "campanhas de levantamento de fundos para manter a obra filantrópica da igreja. Participava da fundação de asilos e de creches e promoveu a instalação de escolas e ambulatórios. Ela liderou a campanha de criação da Fundação Paulo Leivas Macalão, presidiu durante anos a Confederação das Irmãs Beneficentes Evangélicas e participou da organização do Serviço de Assistência Social e Educacional- SASE, no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro." (GIRALDI 2015, p. 372)

        Ele conta em 1966, a Assembleia Geral da Sociedade Bíblica Brasileira elegeu a professora Zélia como diretora da SBB, cargo que ela ocupou por 20 anos. "No período de 1972 a 1976, ela exerceu o cargo de vice-presidente da Sociedade Bíblica do Brasil. Esta foi até hoje a posição mais alta ocupada por uma mulher na diretoria da SBB. (...) A professora Zélia Macalão marcou sua atuação na diretoria pela prudência, sensatez e ideia amadurecida, expressa sempre com singeleza e clarividência." (GIRALDI 2015, p. 372)

         Quando seu esposo e ela partiram para os braços de Deus, deixaram a Assembleia de Deus Madureira com "cerca de 200 pastores, 500 evangelistas, dois mil presbíteros, cinco mil diáconos, quatro mil auxiliares, sei mil músicos, 600 igrejas, mil congregações, três mil pontos de pregação e cerca de 500 mil membros e congregados." (GIRALDI 2015, p. 374).
  
         Apesar de Zélia Nunca ter sido ordenada, quem discorda que ela foi uma “diaconisa” e em muitos aspectos até mesmo uma “pastora auxiliar”? Além de ter sido uma benção para seu esposo, ela foi principalmente um instrumento de edificação, estruturação e fundamentação da igreja. A CONAMAD mais tarde reconheceria e ordenaria mulheres ao pastorado até os dias de hoje.

Emília Costa. Em 1925, contrariando os pastores das Assembleias de Deus, Gunnar Vingren, fundador da igreja, ordenou ao cargo de diaconisa, a serva de Deus: Emília Costa.  Sobre ela, Isael de Araújo comenta:

“Também separou Emília Costa como diaconisa, a única que ocupou esse cargo na igreja. Emília foi separada pelo missionário Gunnar Vingren. Ela era bastante ativa na evangelização, ganhando muitas pessoas para Cristo. Trabalhava realizando cultos nas cadeias da cidade. A separação dela e do irmão Palatino aconteceu em 6 de fevereiro de 1928, num culto de segunda-feira." (ARAÚJO, Frida Vingren- Uma biografia da mulher de Deus, esposa de Gunnar Vingren, pioneiro das Assembleias de Deus no Brasil 2014, p. 92)
Deolinda. Foi ordenada evangelista em 1929 por Gunnar Vingren , juntamente com seu esposo: João evangelista. Ela foi a primeira mulher brasileira separada para o cargo de evangelista. Ambos foram os fundadores das Assembleias de Deus nos municípios de Rio Bonito, Silva Jardim e em outras regiões do interior fluminense. (ARAÚJO 2014, p. 101,102)

Matilde Brusaca. Foi fundadora e dirigente da Assembleia de Deus de Tucuruí (PA) por 10 anos.

Adina Nelson. Esposa do Pastor Otto Nelson. Ela juntamente com Frida, era considerara uma boa pregadora e muito ativa na participação dos trabalhos e também assumia a liderança da congregação na ausência do seu esposo. A atuação dela era tanta que certa vez seu esposo escreveu uma carta para Estocolmo se queixando de que haviam missionários colegas seus que desejavam impedir a atuação da sua esposa. (ARAÚJO 2014, p. 106)

Florência da Silva Pereira (1916-1970). Foi dirigente e fundadora das Assembleias de Deus na Bahia e Sergipe. Segundo o Dicionário do Movimento Pentecostal (CPAD), em "1943, foi-lhe entregue a responsabilidade da Assembleia de Deus de Alagoinhas e construir um templo, em 1950,  chegou a Sergipe, a convite do Pastor Euclides Arlindo Silva, que logo depois a enviou para dirigir o campo da Assembleia de Deus  de Carmopólis, à frente do qual abriu igrejas nas cidades de Maroim, Rosário, Laranjeiras e Santa Rosa de Lima. Deixou dois templos, um salão e algumas casas alugadas, onde são dirigidos trabalhos de pregação do evangelho. Ely Evangelista Ferreira incluiu-a no livro Galeria dos Pastores da Assembleia de Deus, publicado em 1971." (ARAÚJO 2007, p. 632)

Maria de Jesus Nazaré Araujo, fundadora das Assembleias de Deus no Ceará.

Missionária Signe Carlson, fundadora do primeiro orfanato das Assembleias de Deus e esposa do fundador das Assembleias de Deus em Pernambuco.

Albertina Bezerra Barreto, fundadora do Círculo de Oração, maior movimento de oração das Assembleias de Deus.

Dozinha Dias da Silva Munhoz, primeira mulher solteira das ADs enviada ao campo missionário estrangeiro.

Pois bem, as mulheres das Assembleias de Deus fizeram história. Não há como negar, nem como apagar... O que falta é reconhecer esse legado ... Elas desempenharam vários papéis de liderança e mostraram que também são capazes, mediante a capacitação do Espírito, de fazer coisas extraordinárias.   

II- DESENVOLVIMENTO TEOLÓGICO 

          A Teologia Pentecostal, em sua estruturação e configuração hermenêutica, favorece mais o igualitarismo do que o complementarismo. Isso não significa dizer que não haja teólogos pentecostais no Brasil que não sejam complementaristas, pois boa parte o é, pelo menos, na tradição e confissão. Muito menos que quem não é igualitarista, não é pentecostal. No mínimo, apenas mostra que dentro do próprio movimento, há um trânsito diversificado de crenças, algo que acaba enriquecendo a nossa tradição. Nessa segunda parte do livro, veremos a posição teológica de alguns teólogos pentecostais e da Assembleia de Deus nos EUA, mostrando que a emancipação da mulher na liderança da igreja não é incompatível com a tradição teológica pentecostal.

A posição da Assembleia de Deus nos EUA

        A Assembleia de Deus (EUA), que começou em 1914, ordenou mulheres desde 1935.  Conforme os anos foram se passando, a denominação foi aprimorando sua posição e reformulando algumas coisas.

       Em 3 de Agosto de 2009, ela aprovou a declaração oficial do Presbitério Geral das Assembleias de Deus. Falando acerca do Ministério Pentecostal e Ordenação, o documento se posiciona da seguinte maneira:

"É também para ser enfatizado que, assim como o Espírito vem sobre todos os que creem no Senhor Jesus Cristo sem levar em conta a etnia, idade ou sexo, os dons espirituais, as ferramentas essenciais do ministério, são concedidos a todos. As implicações para o ministério das mulheres, especialmente, não devem ser ignoradas."  

       Em outro trecho, ela declara: "O oferecimento espiritual para o ministério também não leva em consideração raça ou sexo. Onde quer que a igreja exista, o Espírito Santo derrama seus dons "e Ele os dá a cada um, conforme Ele quer" (1 Coríntios 12:11). Os dons espirituais são concedidos tão amplamente quanto a bênção da salvação, na qual “não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem macho nem fêmea, pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).

       E sobre os dons ministeriais, afirma: "Tanto os ensinamentos quanto os exemplos históricos do Novo Testamento mostram que mulheres e homens de várias origens étnicas receberam dons espirituais para o ministério da igreja."

       Em 2010, na sessão de 9 a 11 de Agosto, o Presbitério Geral da AG (AD) ratificou  que "Desde os primeiros dias da nossa irmandade, os dons espirituais têm sido evidentes nos ministérios de muitas mulheres notáveis que foram pioneiras e dirigiram um amplo espectro de ministérios. (...) Mulheres corajosas serviam nas fronteiras da missão, no país e no exterior, como missionárias, evangelistas, plantadoras de igrejas, pastoras, educadoras e outras funções."

       De acordo com esse documento, o fato de Joel 2 apontar para filhos e filhas profetizando na era do Espírito, indica que ''as mulheres, assim como os homens, profetizando, é indicativo de sua inclusão nos ministérios da nova era da aliança."

      Após fazer uma defesa da liderança feminina tanto no A.T como N.T, a declaração afirma: "Paulo claramente era um forte defensor das mulheres no ministério. Essas instâncias de mulheres ocupando cargos de liderança na Bíblia devem ser tomadas como um padrão divinamente aprovado, não como exceções aos decretos divinos. Mesmo com um número limitado de mulheres com papéis de liderança biblicamente elogiados, isso corrobora que Deus realmente chama as mulheres para a liderança espiritual."

      Ela afirma que os "dons ministeriais... são todos dados para o serviço sem considerar a diferenciação de gênero."

      Comentando sobre 1 Timóteo 3.1-13, ela diz:

''Embora o meio cultural do primeiro século tenha produzido uma liderança primariamente masculina, essa passagem, juntamente com outras evidências bíblicas de liderança espiritual feminina (por exemplo, Atos 21: 9; Romanos 16: 1–15; Filipenses 4: 2,3), demonstra que a liderança não foi proibida, nem para o dia de Paulo nem para hoje. Passagens que insinuam que a maioria dos líderes eram do sexo masculino podem não ser levadas a dizer que todos os líderes eram homens, uma vez que o registro bíblico fala com aprovação de numerosas líderes femininas."

      Ao final, ela garante:

"O Deus da Bíblia "não mostra favoritismo" (Romanos 2:11; cf. também 2 Samuel 14:14; 2 Crônicas 19: 7; Atos 10:34; Efésios 6: 9). Ele chama quem Ele quer e dá dons e ministérios como Ele escolhe; os humanos não devem limitar as prerrogativas divinas. A relação tensa entre Adão e Eva, incluindo a afirmação de que “ele dominará sobre você” (Gênesis 3:16), vem como resultado da maldição, deixando claro que isso não fazia parte do projeto original e durável de Deus para humanidade. Em Cristo, estamos verdadeiramente libertos do pecado e da sua maldição, que nos separam de Deus e uns dos outros e nos levam a elevar ou rebaixar de acordo com raça, posição social ou gênero."

        E conclui: "As Assembleias de Deus foram abençoadas e devem continuar a ser abençoadas pelo ministério das filhas dotadas e comissionadas por Deus. A Bíblia afirma repetidamente que Deus derrama o Seu Espírito sobre homens e mulheres e, portanto, oferece ambos os sexos para o ministério em Sua Igreja. Portanto, devemos continuar a afirmar os dons das mulheres no ministério e na liderança espiritual. Certamente, o enorme desafio da Grande Comissão de “ir e fazer discípulos de todas as nações” (Mateus 28:19) requer a mobilização total de todos os ministros dotados pelo Espírito de Deus, tanto de homens como de mulheres."  

No Canadá

        Segundo o professor e pesquisador Pentecostal Andrew K. Gabriel (membro de uma igreja Pentecostal no Canadá):

"Em minha própria denominação pentecostal, as Assembleias Pentecostais do Canadá (PAOC), em 1984, depois de uma década inteira de discussão e debate, finalmente votamos para ordenar mulheres. No entanto, em 1986, apenas 25% dos ministros achavam que as mulheres deveriam ser eleitas para cargos de liderança (como presbíteras, para ser específico). Como resultado, não foi até a Conferência Geral em 1998 que o PAOC finalmente removeu todas as restrições às mulheres na liderança. Nesse evento, votamos a favor de “proporcionar inclusividade de gênero em todos os assuntos relacionados ao processo de credenciamento e qualificação de candidatos para os cargos eletivos dos Executivos de Distrito e Gerais” (Ata da Conferência de 1998, página 16)."

        De acordo com uma de suas pesquisas em 2017: ''... menos de 6% dos pastores líderes no PAOC são mulheres, embora cerca de 27% de todos os titulares de credenciais sejam mulheres. 

O que alguns pentecostais disseram sobre o assunto:

Gordon D. Fee

Professor Emérito do Novo Testamento no Regent College, ordenado nas Assembleias de Deus. Ele é considerado o primeiro erudito do Moderno Movimento Pentecostal. 

        A visão dele é clara e objetiva: "Deus oferece mulheres para o ministério"  

       "É um dado", diz ele. “A verdadeira questão é: o que vem primeiro, o gênero ou o dom? O que [os oponentes de mulheres no ministério] estão tentando me dizer é que o gênero está acima dos dons. Como pode ser? O Espírito dá o dom. Se uma mulher permanece e profetiza pelo Espírito e os homens estão presentes, o Espírito não fala com eles? Vamos! Quão idiota você consegue ser? Sua defesa, diz Fee, é em nome do Espírito Santo e não das mulheres. “O Espírito está dando dons às mulheres”, diz ele, “mas muitos evangélicos não estão preparados para se ajustar por causa da 'caixa' em que estão. "Fui colocado na lista negra sobre esta questão", acrescenta ele. “As pessoas disseram:  ' Não podemos falar com Fee porque ele é pró-mulher'. Eu sou a favor do Espírito Santo! Eu simplesmente não consigo superar o fato de algumas pessoas pensarem que o gênero vem antes do dom.”  

       Em um trecho de um dos seus livros, ele diz:

“Parece um triste comentário sobre a igreja e sobre a sua compreensão do Espírito Santo de que a liderança e o ministério “oficial” podem vir apenas da metade da comunidade de fé. A evidência do Novo Testamento é que o Espírito Santo é inclusivo no que diz respeito ao gênero, dando dons a homens e mulheres, e assim potencialmente libertando todo o corpo de todas as partes para ministrar e de várias maneiras dar liderança aos outros. Assim, minha questão no final não é uma agenda feminista - uma defesa das mulheres no ministério. Pelo contrário, é uma agenda do Espírito, um apelo pela liberação do Espírito das nossas restrições e estruturas, para que a igreja possa ministrar a si mesma e ao mundo com mais eficiência”. Fonte: “The Priority of Spirit Gifting for Church Ministry”, Discovering Biblical Equality Complementarity without Hierarchy. Ronald W. Pierce, Rebecca Merrill Groothuis, Gordon D. Fee (eds) (Leicester: IVP Academic, 2005), 254.

Craig S. Keener  

Presidente eleito do programa da Sociedade Teológica Evangélica ( ETS ), professor de Novo Testamento no Asbury Theological Seminary, ordenado na Convenção Nacional Batista.

” ... nós pentecostais e carismáticos afirmamos que a autoridade do ministro é inerente ao chamado e ministério da Palavra do ministro, não à pessoa do ministro. Neste caso, o gênero deve ser irrelevante como uma consideração para o ministério - para nós, assim como foi para Paulo ... Hoje devemos reconhecer aqueles a quem Deus chama, sejam homens ou mulheres, e encorajá-los a aprender fielmente a Palavra de Deus. Precisamos reconhecer todos os trabalhadores em potencial, tanto homens quanto mulheres, para os campos de colheita abundantes”.  

Neste artigo, o Keener vai defender basicamente o seguinte:

•  Apesar da proeminência dos homens na antiga sociedade israelita, Deus ainda chamava, às vezes, mulheres para a liderança.

• Jesus permitiu que mulheres ocupassem fileiras para ouvir seus ensinamentos, algo escandaloso e reservado para os discípulos segundo a cultura da época (vale lembrar que os discípulos eram frequentemente mestres em treinamento).

• Joel profetizou que quando Deus derramasse o Seu Espírito, tanto mulheres quanto homens profetizariam.

• Os escritos de Paulo o classificam claramente como um dos escritores mais “progressistas” quando comparado a outros do I século, no que diz respeito aos papéis das mulheres.

• A mulher ocupa um papel especial nos escritos de Paulo.

• Todas as passagens que parecem sugerir que Paulo era contra o ministério feminino, na verdade refletem situações e configurações específicas, culturais e pontuais.

         No livro-debate "Two Views on Women in Ministry", cujo um dos participantes é o Keener, ele começa mostrando que as mulheres desde cedo estavam envolvidas no ministério. Ele diz:

"Eu começo com as passagens que parecem apoiar o envolvimento das mulheres em várias formas de ministério. Profetas (Êxodo 15:20; Jz 4: 4; 2 Reis 22:14; 2 Cr 34: 22; Isaías 8: 3; Lucas 8:36 Atos 2: 17-18 21: 9 1 Coríntios 11: 4-5. Um ministério frequentemente descrito nas Escrituras como promoção do envolvimento direto das mulheres é o profético. Hoje, a maioria das pessoas pensa primeiro em pastores quando ouvem a palavra ministros, mas no A.T a forma mais comum de ministério em relação à declaração da palavra de Deus era o ministério profético."

          Ele também argumenta:

"Claro, a maioria das vozes proféticas (especialmente no A.T) eram do sexo masculino, mas isso era de se esperar em uma cultura em que a maioria das vozes públicas era masculina. Mesmo no A.T, no entanto, o ofício profético não era exclusivamente masculino, como era o ofício sacerdotal. O ofício sacerdotal fornece algumas lições para o ministério, mas não necessariamente a conclusão de que os ministros devem ser homens até porque os protestantes aplicam a analogia do sacerdócio universal de todos os crentes (cf. 1Pe 2: 5, 9; Ap. 1: 6; 5:10; 20: 6). Além disso, se restringimos o ministério aos homens porque os pais eram homens, por que não devemos restringi-lo a uma tribo em particular como a lei claramente fez? Muitas das ordenanças que Deus deu ao sacerdócio teriam se comunicado bem com Seu povo em um antigo ambiente do Oriente Próximo - pureza ritual hitita, características arquitetônicas egípcias no tabernáculo e assim por diante."

Michael L. Dusing

          Ele é catedrático e chefe do Departamento de Teologia e Filosofia na Faculdade do Sudoeste das Assembleias de Deus nos Estados Unidos. Segundo esse autor Pentecostal: 

"... a história da Igreja fornece evidências no sentido de mulheres servirem na função de diaconisas já a partir do século II. Conforme observa certo estudioso: 'O evangelho de Cristo deu às mulheres dos tempos antigos uma nova dignidade, e não somente lhes concedeu igualdade pessoal diante de Deus como também lhes ofereceu uma participação no ministério." (HORTON 2005, p. 567)

Esdras Costa Bentho

          É um teólogo, pedagogo e pesquisador na área de Exegese, Hermenêutica bíblica e filosófica. Autor de vários livros pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD).

         Em seu livro "Igreja: Símbolos e Identidade", ele lança alguns insights de como funcionavam as igrejas domésticas. Ele comenta:

"Febe, por exemplo, servia a Deus como diaconisa na comunidade cristã citadina de Cencreia (Rm 16.1), cidade portuária oriental de Corinto. Provavelmente, a igreja de Cencreia não se reunia nalgum templo, mas em casa ou casas, como atesta o versículo 5 de Romanos 16, a despeito da comunidade cristã que se reunia na casa de Priscila e Áquila (1 Co 16.19)." (BENTHO 2010, p. 68)

         Em outro ponto, ele comenta: 

"... é fato que casa-igreja de Ninfa abrigava uma 'comunidade cristã doméstica' (Cl 4.15); a casa-igreja de Filemon congregava uma comunidade de crentes em Cristo (Fm 2); a casa-igreja de Áquila e Prisca reunia um grupo de redimidos em Cristo (1 Co 16.19); e na casa-igreja de Maria, mãe de João Marcos, crentes ajuntavam-se para cultuar e orar (At 12.12). (...) As igrejas domésticas nas casas das senhoras Ninfa e Maria, ao que parece, estavam sob direção dessas servas de Cristo e de suas famílias. O mesmo pode se afirmar a respeito de Filemon e do Casal Áquila e Prisca. Todos eram responsáveis por uma comunidade cristã doméstica no contexto citadino." (BENTHO 2010, pp. 68,69)

        Falando acerca da Igreja no contexto Joanino, ele levanta a seguinte teoria sobre a identidade da ''senhora eleita":

"Assim como Filemon, é provável que muitos outros de condições sociais equivalentes tenham disponibilizado suas casas para congregar os crentes da região. Parece-nos que esse também é o caso nessa epístola (v. 10). João escreve à igreja doméstica que congrega provavelmente na habitação de uma cristã que exercia certa liderança carismática na Ekklesia local. Talvez essa eleita fosse a principal responsável pela assembleia local, assim como Ninfa, ou quem sabe desenvolvesse um dos dons de liderança na comunidade cristã." (BENTHO 2010, p. 103)

Elinaldo Renovato de Lima

O Pastor e teólogo Elinaldo Renovato acredita que o ministério ordenado das diaconisas é bíblico. Ele ensina:

“De modo incomum, Paulo insere, em 1 Timóteo 3.11, qualificações relativas às ‘mulheres’, equiparando-as aos diáconos em suas qualificações. Diz o apóstolo: ‘Da mesma sorte as mulheres sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo’ (1 Tm 3.11). Por que Paulo fez essa inserção? Quem seriam essas mulheres? Seriam as mulheres em geral? Certamente, não, pois o contexto anterior e posterior refere-se aos diáconos. São as esposas dos diáconos? Poderiam ser. Mas há uma terceira interpretação, a de que Paulo se refere a mulheres diaconisas, visto que o assunto em apreço são as qualificações para o diaconato. A expressão ‘da mesma sorte’ dá a entender que se tratam de mulheres que devem ter as mesmas qualificações para a diaconia. Seriam diaconisas. E suas qualificações teriam que ser as mesmas, exigidas para os diáconos (...) Tradicionalmente, as igrejas cristãs em geral não consagram mulheres a diaconisas. Mas, nos últimos anos, grande é o número de igrejas que o fazem, dando às mulheres a oportunidade de servirem como diaconisas. Nas epístolas, vemos exemplo bem marcante de que, na Igreja Primitiva, havia diaconisa. Um exemplo significativo é o de Febe. Escrevendo aos Romanos, Paulo faz recomendação especial acerca dela: ‘Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencreia, para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo.’ (Rm 16.1,2)” (LIMA, 2014, p. 146,147).

Severino Pedro da Silva

Comentando sobre as Diaconisas, ele diz:

"Este é um dos pontos bastante discutidos pelos comentadores de todos os tempos, se Paulo em I Timóteo 3.11, se referiu às 'mulheres dos diáconos', ou às 'mulheres diaconisas'. A frase de 3.9 diz: 'Da mesma sorte os diáconos sejam honestos..." [dando sequência às recomendações do apóstolo aos presbíteros] e em 3.11: 'Da mesma sorte, as mulheres sejam honestas..." Confrontando um texto com o contexto, podemos deduzir que a frase 'as mulheres', aqui citada, não quer dizer 'as mulheres dos diáconos', porque estás já foram mencionadas no versículo posterior, ou seja, no 12 do mesmo capítulo e no mesmo argumento. Assim entendido, a frase 'da mesma sorte as mulheres', não seriam as mulheres dos diáconos', como acabamos de expor, e sim, as 'mulheres diaconisas. Se a palavra 'serve' que vem citada por Paulo, em Romanos 16.1 em Referência a Febe, fosse tomada literalmente da Bíblia Francesa, do Dr. Louis Second, significaria mesmo 'diaconisas'." (SILVA, p. 245).

No mesmo texto, ele menciona: "Para nós [o autor se refere às Assembleias de Deus no Brasil], a consagração de mulheres como diaconisas ou a um outro posto ministerial, ainda permanece em estudo, pois alguns estudiosos acham bastante vagas as informações depreendidas das Escrituras e da História Protestante a este respeito. Em outros grupos, porém, isso é já praticado oficialmente." (SILVA, p. 246).

Conclusão: Diante do que vimos, só nos resta refletir melhor sobre o assunto. Esse livro foi direcionado a dois tipos de leitores: os que são contra o ministério feminino ordenado e os que não são. Meu desejo é que aqueles Pentecostais que são contra, reavaliem seus argumentos, e ainda que não sejam a favor, conheça pelo menos, “o outro lado da moeda” que é este que apresentei para vocês. Infelizmente, a maior parte das discussões atuais sobre o assunto, são carregadas de machismo, sexismo e misoginia e para justificar-se, apelam para a teologia e as Escrituras. É claro que há pessoas sinceras nesse debate que são contra, por razões bíblico-teológicas. O problema é que esse segundo grupo, pelo menos aqui no Brasil, nem sempre está aberto ao diálogo. 

Por fim, eu sou a favor da ordenação de mulheres ao pastorado, diaconato e presbitério   por entender que a ordenação/consagração é apenas o reconhecimento humano de uma chamada/dom divino.  E como nas Escrituras, Deus não faz discriminação na distribuição de dons, entendo que Deus concedeu dons ministeriais e espirituais a homens e mulheres. A ordenação/titulação é consequência. Mesmo sem o título, há muitas mulheres no ministério, seja no púlpito ou na vida diária das ovelhas. E isso, ninguém pode roubar delas. 

Que Deus continue nos abençoando!


APÊNDICE:

Fatores que contribuíram para o escanteamento da mulher na liderança em algumas Igrejas Pentecostais

- Profissionalização do Clero
- Institucionalização, relegando os dons como fatores cruciais.
- Mudança de modus operandis: do profético para o sacerdotal. 

       O documento oficial das ADs nos EUA explica essa "queda" da seguinte maneira:

"Os historiadores observaram que nos primeiros dias da maioria dos reavivamentos, quando o fervor espiritual é alto e o retorno do Senhor é esperado a qualquer momento, muitas vezes há pronta aceitação de ministras mulheres dinâmicas e pioneiras. Com o passar do tempo, no entanto, à medida que as igrejas jovens avançam em direção a um ministério mais estruturado, e as preocupações institucionais vêm à tona, a liderança espiritual das mulheres é menos aceita e a liderança da igreja tende a se tornar predominantemente masculina. A experiência das Assembleias de Deus não foi exceção. Notáveis mulheres ministras entre os primeiros pentecostais incluíram Maria B. Woodworth-Etter, Aimee Semple McPherson, Alice Reynolds Flower, Anna Ziese e Marie Burgess Brown. Mas, embora as mulheres tivessem grande liberdade para ministrar nos primeiros dias da Irmandade, a proporção de mulheres na liderança caiu drasticamente a partir do início da década de 1920. Mais recentemente, a tendência voltou a subir e o número de mulheres credenciadas está crescendo."  

Obras Citadas

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
—. Frida Vingren- Uma biografia da mulher de Deus, esposa de Gunnar Vingren, pioneiro das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
BENTHO, Esdras Costa. Igreja: Identidade e Símbolos. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
DANIEL, Silas. História da convenção das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
GIRALDI, Luiz Antonio. Semeadores da Palavra. Personagens que tiveram participação decisiva na divulgação da Bíblia no Brasil. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2015.
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática- Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
HORTON, Stanley, MENZIES, William W. Doutrinas Bíblicas: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
LEMOS, João Kolenda. Ética Pastoral. Conselhos de uma jornada missionária. . Pindamonhagaba: IBAD, 2011.
LIARDON, Roberts. Os Generais de Deus: porque tiveram sucesso e porque alguns falharam. São Paulo: The Hay Books, 2008.
LIMA, Elinaldo Renovato de. Dons Espirituais e Ministeriais. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
SILVA, Severino Pedro da. A Igreja e as Sete Colunas da Sabedoria. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
SYNAN, Vinson. O Século do Espírito Santo. São Paulo: Vida, 2011.
—. Vozes do Pentecoste. Relatos de vidas tocadas pelo Espírito Santo. São Paulo: Vida, 2012.
SYNAN, Vinson, e Charles Ray FOX. William Seymour- A Biografia. Natal: Carisma, 2017.

Notas de rodapé:


[1] Segundo o teólogo Pentecostal Craig Keener: "As Assembleias de Deus e outras denominações nascidas nos reavivamentos de santidade e pentecostal afirmaram as mulheres no ministério muito antes de o papel das mulheres se tornar uma agenda secular ou liberal. Da mesma forma, na expansão missionária histórica do século XIX, dois terços de todos os missionários eram mulheres. O movimento de mulheres do século XIX que lutou pelo direito de voto das mulheres originalmente cresceu a partir do mesmo movimento de revitalização liderado por Charles Finney e outros que defendiam a abolição da escravidão." http://personaret.blogspot.com/2017/05/ministerio-feminino-keener.html. Acessado dia 03/08/2019. 

[2] Hyatt é uma historiadora de pesquisa da igreja, estudiosa da Bíblia e ministra ordenada (1983). Durante quase 20 anos dedicou-se como escritora de alguns clássicos como Where Are My Susannas?, 10 Things Jesus Taught about Women, Who’s the Boss?, In the Spirit We’re Equal, The Nature of Biblical Unity, Thinking Biblically, and The Spirit, The Bible, and Women. Essas obras, assim como sua tese de doutorado da Regent University (2000): A Biblical Theology of Womanhood for Spirit-Oriented Believers estão disponíveis em vários formatos. Susan também é diretora fundadora da Sociedade Histórica Cristã do Canadá e esposa do historiador Eddie Hyatt, autor do livro: 2000 mil anos de Cristianismo Carismático (Publicado no Brasil pela Editora Carisma).

[4] Untitled article, A Fé Apostólica [Los Angeles, CA] 1.12 (janeiro de 1908), 2.4.2. 

[6]  "A primeira coisa em cada congregação é ver que Ele, o Espírito Santo, está instalado como o presidente. A razão pela qual temos muitas missões e igrejas secas hoje em dia é porque elas não têm o Espírito Santo como o presidente. Elas têm algum homem em seu lugar. O homem está bem nessa posição quando ele está cheio do poder do Espírito Santo, pois não é ele que faz a obra, mas o Espírito Santo da glória, enviado por Jesus para trabalhar através destes tabernáculos de barro. Em qualquer assembleia onde se achar o Espírito Santo como presidente, você encontrará uma congregação frutífera, você encontrará filhos nascidos para Deus." (VYNSON e FOX p. 172).

[7] Ao que parece, esse também foi o requisito para a escolha dos 07 diáconos em Atos 6.1-7.

[9] Foram elas: Agnes Ozman em Topeka, Kansas e Jennie Moore em Los Angeles. Outro detalhe curioso: aqui no Brasil a primeira pessoa  a receber o batismo no Espírito Santo também foi uma mulher: Celina Martins Albuquerque.

[12] Generais de Deus, p. 43.

[13] Confira a tabela completa aqui: http://hirr.hartsem.edu/research/quick_question3.html. Acesso: 03/08/19.

[16] Ruth Doris foi Missionária e Pastora ordenada por várias décadas no Distrito Norte do Estado da Califórnia, porém, quando veio para o Brasil, teve que abrir mão do seu Crachá por causa da insensibilidade dos líderes brasileiros. Seu marido, João Jolenda Lemos, aos 89 anos, em um livro de aconselhamento ético pastoral faz o seguinte comentário sobre sua esposa: “Se ainda existem dúvidas sobre a legitimidade do ministério feminino, ofereço como exemplo, luminoso, a vida de minha querida esposa Dóris. Quando a conheci no verão de 1948, ainda um jovem seminarista, ela já era uma pastora ordenada pela Assembleia de Deus norte-americana. Tão grande era seu zelo e sua paixão pela obra missionária que ela se dispôs a abrir mão do título de pastora para junto comigo ministrar no Brasil, num contexto eclesiástico machista que ainda tinha um forte preconceito contra o ministério feminino. Mesmo sem credenciais oficiais pela igreja brasileira, ela pastoreou e mentoriou milhares de brasileiros e brasileiras, e mesmo após sua morte continua um paradigma ministerial para todos os que a conheceram. Os que foram discipulados por ela nunca poderão negar a legitimidade do seu pastorado, mesmo sem o reconhecimento institucional. Até o final de sua vida, Dóris nutriu o sonho de um dia ver jovens brasileiras assembleianas reconhecidas por sua denominação como pastoras, e só posso esperar que a geração presente faça desse sonho uma realidade.” (LEMOS, 2011, p. 52)

[17] Alguém pode alegar que Frida assumia a liderança da congregação for falta de líderes e obreiros. Essa tese não se sustenta, pois, segundo os relatos da época, ela era auxiliada por outros obreiros, então não foi por falta de líderes, pois o casal vivia cercado de obreiros, mas pelo próprio protagonismo de Frida.

[18] SILAS, Daniel. História da Convenção das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. p. 34.

[19]É notório que o Gunnar Vingren era a favor do ministério feminino na igreja. Ele ordenou uma diaconisa em 1925 e uma evangelista em 1929 e conjecturo que se não fosse a decisão de 1930, o Gunnar teria ordenado muitas outras mulheres ao ministério. Alguns textos dele, parecem apontar para essa direção: "Ainda em setembro, no culto de sexta-feira, dia 27, destinado somente para os membros da igreja, Vingren pregou concernente aos dons espirituais e sobre o direito de a mulher falar na igreja. Um dos crentes foi usado por Deus em profecia e falou que Vingren não temesse, mas que continuasse a ensinar a sã doutrina, e predisse que muitos se levantariam contra ele." (ARAÚJO, 2014, p. 102). "Em 1 de Abril de 1930, Vingren escreveu uma carta para Samuel Nystrom tentando convencê-lo de que necessidade premente de mais obreiros para a obra no Brasil deveria levá-los a aproveitar melhor as mulheres, dando-lhes maiores responsabilidades e liberdade de atuação. Nessa missiva, Vingren defende: ... Não posso deixar de apresentar a minha convicção de que o Senhor chamou e ainda está chamando homens e mulheres para o serviço do evangelho... Eu mesmo fui salvo por uma irmã evangelista que veio visitar e realizar cultos na povoação de Bjorka, Smaland, Suécia, há quase trinta anos. Depois veio uma irmã dos Estados Unidos e me instruiu sobre o batismo com o Espírito Santo. Também quem orou por mim para que eu recebesse a promessa foram irmãs. Eu creio que Deus quer fazer uma obra maravilhosa nesse país. Porém, com o nosso modo de agir, podemos impedi-la. Para não impedi-la, devemos dar plena liberdade ao Espírito Santo para operar como Ele quiser." (ARAÚJO, 2014, p. 113). A estruturação teológica de sua esposa também é muito simples: não é o título que faz o pastor, mas o dom. Em 1931, ela publicou um texto com o título: “O Pastor”. Nele, ela diz: “Muitos pensam que é a consagração que faz o pastor. É um erro- esta é unicamente uma confirmação de Deus, e um auxílio, diante da lei social, poder exercer as funções de um ministro do evangelho. (...) É preferível, então, ter a realidade sem os títulos. O verdadeiro pastor nunca é ‘dirigente’ em absoluto. Ele tem o Espírito Santo como dirigente, e não como auxiliar.” (Mensageiro da Paz, ano I, n° 4, p. 3).

[22] Esse texto de 2010 foi ampliado de uma declaração mais antiga, feita em 14-16 de Agosto de 1990. Nesta declaração mais antiga, integraram a associação de comissão, teólogos Pentecostais como: Gordon Anderson, Robert L. Brant, Wesley W. Smith, Stanley M. Horton, Jessé Miranda e outros. O texto original pode ser lido aqui: http://www.paludavia.com/usual/4191_women_ministry.pdf. Acesso 04/08/2019. Até o fim dos seus dias, Horton foi um dos Pentecostais populares que mais apoiou as mulheres na liderança e se comprometeu com a reconciliação racial. Comentando sobre o diaconato, por exemplo, ele diz: "As mulheres parecem ter recebido um papel nesse ministério, pois são mencionadas diaconisas em Ro­manos 16.1 e Filipenses 4-3, bem como em 1 Timóteo 3.8- 11. Em 1 Timóteo 3.11, a palavra “mulher”, no grego gunaikas, “mulheres”, constitui um parêntese que reforça as qualifi­cações às diaconisas." (Doutrinas Bíblicas, p. 192 CPAD).
[23] Todas essas citações foram tiradas do site oficial das Assembleias de Deus nos EUA e você pode encontrá-las aqui: https://ag.org/Beliefs/Position-Papers/The-Role-of-Women-in-Ministry. Acessado dia: 03/08/2019.

[27] Was Paul For or Against Women in Ministry?, Enrichment Journal, Spring 2001. Acesso: 10/08/19





6 comentários:

  1. Everton, sua pesquisa e contribuição ao tema ordenação feminina é tão preciosa que copiei e colei seu texto para ler aos poucos devido à extensão do mesmo. Muito obrigado, que Deus lhe abençoe pela dedicação em brindar Seu povo com esse esclarecimento.

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  2. Impactada com esse material irmão esta sendo de uma riqueza imensa para o meu caminhar tambem copiei pra ler com mais calma.
    Que o Senhor continue ti conduzindo no crescimento de Seu Reino.

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  3. Tanto blá blá blá mas na Bíblia continua não existindo nada disso! Não existe pastoras,bispa ou apóstolas no no Novo testamento.

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  4. Tanto blá blá blá mas na Bíblia continua não existindo nada disso! Não existe pastoras,bispa ou apóstolas no no Novo testamento.

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