28 de março de 2019

3 lições extraordinárias sobre o Maná no deserto





Por Everton Edvaldo.

Introdução: Em Êxodo 16.1-30, encontramos um dos episódios mais emblemáticos da Bíblia. Jesus, por exemplo, usou esse episódio para falar do verdadeiro pão que desceu do céu, isto é, ele mesmo, o pão da vida (cf. João 6.31-35). 

No entanto, nós cristãos podemos fazer várias aplicações a partir desse texto e se fizermos uma meditação acurada, aprenderemos lições espirituais que quando colocadas em prática, podem evitar alguns males. 

Contudo, antes de meditarmos nas lições espirituais, precisamos entender o texto à luz do seu contexto a fim de que possamos fazer uma releitura apropriada, aplicada e prática. 

Então vamos lá...

Estamos no século XV a. C. Mais de dois milhões de israelitas estão no deserto de Sim. Eles acabaram de sair do Egito, a nação que os escravizou por mais de quatro séculos (fazia só dois meses que haviam saído). Estão cheios de ouro, prata e bronze, todavia, sentiam falta da comida do lugar que outrora habitavam (Êxodo 16.1-3).

Então da alta e sublime morada, Deus brada à Moisés: "Eu lhes farei chover pão do céu. O povo sairá e recolherá diariamente a porção necessária para aquele dia."  (Êxodo 16.4). Interessante que essa passagem demonstra o cuidado de Deus sobre a vida dos seus. Ele nos mostra que o Deus que nos chama é o mesmo que se responsabiliza! 

Deus então enviou o Maná para Seu povo. Esse "pão", conforme chama Moisés, devia ser recolhido todos os dias, exceto no sábado. Para isso, os israelitas deveriam recolher a porção dobrada no sexto dia.

O principio era: cada um devia recolher quanto precisava (Êxodo 16.18) e ninguém devia guardar nada para a manhã seguinte. No entanto, alguns de Israel desobedeceram e guardaram um pouco até amanhã seguinte (Êxodo 16.20). Já outros saíram no sábado para recolher, violando o dia santo do SENHOR (Êxodo 16. 27).

A partir desse texto, gostaria de fazer uma releitura, aplicando os seus princípios às necessidades do nosso tempo. Meu objetivo é falar apenas sobre três:

1. Em primeiro lugar, nós precisamos viver um dia de cada vez e aprender com o hoje.

Os israelitas precisavam recolher a porção diariamente.

Na sociedade pós-moderna, as nossas preocupações não se restringem ao que vamos comer. É muito mais que isso. O homem moderno tem medo do amanhã e vive atormentado por algo que ainda não chegou. Não é à toa que várias pessoas tem desencadeado crises emocionais e de pânico, síndrome do Pensamento acelerado, transtorno de ansiedade, depressão, comportamento suicida, fobias, etc. Nós precisamos parar de querer "antecipar" o futuro!

Há uma frase de Abraão Lincoln, ex-presidente dos Estados Unidos que diz assim: "A melhor coisa do futuro é que ele chega à razão de um dia de cada vez."

Sim, a nossa luta é diária. Michael Jackson, considerado rei do pop pela indústria fonográfica, cantava:

"Todo dia crie sua história. Cada caminho que você toma você está deixando seu legado.Cada soldado morre em sua glória.Toda lenda fala sobre conquista e liberdade."

Criar nossa história todo dia não tem nada a ver com o imediatismo que assola a maioria das mentes pós-modernas. Também não evoca para si a ideia de comodismo, se contentar com pouca coisa ou não se planejar para o futuro. Também não confunda com a teologia do teísmo aberto. Não estamos falando dessas coisas. Viver um dia de cada vez é qualidade de vida. Ou vivemos um dia de cada vez ou então vamos comprometer a nossa jornada. Esse texto não é motivacional, coach, auto-ajuda, é mais que isso! É como uma luz que te direciona a relaxar, respirar, desacelerar e viver debaixo da providência de Deus. Somente dessa forma poderemos equacionar uma vida espiritualmente sadia com o estresse, rotina e preocupações do amanhã.

Veja que no sábado, os israelitas não deviam sair para recolher o Maná. E o sábado foi dado por causa do homem. Era um dia de descanso para o homem e para a terra. 

Então qual a dificuldade que nós temos para obedecer esse princípio? Porque nos matamos pelo futuro incerto? A gente esquece de viver quando colocamos o trabalho, a rotina e as responsabilidades acima da qualidade de vida. Dar prioridade a essas coisas não é viver, mas simplesmente existir. E quem se limitava a somente existir, nunca está satisfeito com nada. Se soubéssemos como isso é nocivo para nossa saúde emocional, física e espiritual, daríamos mais valor à vida, aos pequenos e bons momentos, ao aconchego da família e à lugares mais calmos.

Viver um dia de cada vez, é matar um leão por dia, é não trazer os problemas da rua para dentro de casa e não trazer os problemas de casa, para rua. É zerar os momentos de tensão no fim do dia. É se reerguer como uma fênix, em meio às cinzas e escombros. Viver um dia de cada vez exige amor próprio, vontade de viver e sabedoria. É prevenir para não ter que remediar. É matar/resolver o problema o mais rápido possível e não adiá-lo para o amanhã. 

Que esta geração aprenda a viver um dia de cada vez! 

 2. Em segundo lugar, nós precisamos aprender a ver Deus nas coisas e principalmente na nossa vida. 

Com o Maná, os israelitas agora podiam ter a convicção de que o SENHOR estava na trajetória deles, cuidando de tudo. 

Perceba que o maná foi dado para provar os israelitas. Num mundo onde o mal tem se apoderado cada dia mais das coisas, nós precisamos aprender a enxergar o SENHOR na história. Os cristãos tem costume de ver diabo em tudo, mas isso tem que acabar. Há coisas que o SENHOR permite na nossa vida para nos provar e trazer crescimento/desenvolvimento. O mesmo Deus que permite que nós caminhemos pelo deserto é o Deus que manda o Maná para nos alimentar. Até quando ficaremos com os olhos fechados para o mundo espiritual? Até quando vamos acreditar em Deus mas viver como se Ele não existisse ou como se Ele não estivesse lá, no controle de tudo? As rédeas da nossa vida e da natureza estão nas mãos dEle. Então porque a gente se desespera tão fácil se o Deus todo soberano, poderoso e majestoso está conosco no barco? 

Não podemos deixar que os ventos tempestuosos tire nossos olhos do alvo! Se isso acontecer, nós iremos afundar, assim como Pedro. Mas se nós confiarmos nEle, essa miopia espiritual irá cair por terra e somente então os nossos olhos o verão tal como aconteceu com Jó (Jó 42.5) e com o cego de Jericó (LC 18.41-43). Na Bíblia, alguns personagens desejaram ver o SENHOR em sua majestade, todavia, nem sempre Ele se manifestava de forma gloriosa. Às vezes, Ele se manifestava num furacão, na nuvem, na fumaça ou na brisa. O importante é que o SENHOR podia ser visto nas coisas mais simples da vida. Talvez o maior exemplo disso seja a vinda de Jesus ao mundo. Ele tabernaculou-se entre os homens a fim de nos trazer salvação. 

Deus não ficou preso ao passado. Ele continua agindo no presente, não somente de forma transcendente mas também de maneira imanente e surpreendente. Ele está presente na nossa vida e fora dela, de modo onipresente e age por meios naturais e sobrenaturais. Eu consigo ver Deus em toda a criação e isso não tem nada a ver com o panteísmo cujo ensino diz que tudo é Deus. 

Cremos na doutrina da revelação geral (Salmos 19, Romanos 1) que ensina que o mundo físico (a criação) descortina o mundo espiritual de maneira que torna o homem indesculpável. É como várias luzes num palco apontando e iluminando para um determinado artista, criador daquele espetáculo. Sim, Deus deixou sua impressão digital em tudo que criou e o universo reflete e expressa a glória de Deus. É impossível estudar e observar o universo e não chegar à conclusão de que Ele é o autor de tudo isso, pois, em cada coisa deixou sua marca. É por isso que vejo Deus nas coisas.

Outro ponto que gostaria de observar é que precisamos ver Deus em nossa vida também. Óbvio! Ele não somente criou, controla, governa e intervém no macro universo, mas o mesmo acontece no micro universo. 

Eu preciso ver Deus na minha casa, na minha família, na minha saúde, na minha igreja, no meu trabalho, em todo canto. Deus está lá! Se não o vê-lo, andarei por caminhos tortuosos e sombrios. 

Se Deus está comigo, andarei pelos vales, pelo fogo, por águas agitadas e profundas; enfrentarei leões, gigantes, feras espirituais. Lutarei contra meus piores medos e traumas que eventualmente tenha desenvolvido no passado. Se Deus está comigo, posso até perder batalhas, mas jamais a guerra, pois esta já foi vencida no calvário e em tudo somos mais do que vencedores. Se Ele está comigo, há uma mão em que eu possa segurar firme, sem temer o amanhã. Se Deus está comigo, toda escuridão se transforma em luz mais radiante do que o sol. Se Ele está comigo, posso até ficar triste, chorar e sentir desânimo por um momento, mas jamais desistirei da jornada, pois Ele me carregará nos braços até que eu aprenda a descansar nEle e confiar no seu amor e cuidado. 

Que possamos ver Deus nas coisas e na nossa vida! 

3. Em terceiro lugar, nós precisamos descansar em Deus e na sua providência. 

Foi Deus quem havia providenciado o Maná para os israelitas. Ele não fez somente isso. Nos capítulos anteriores ao que estamos estudando, ele também fez águas amargas se tornarem potáveis e muitas outras coisas. Paralelamente a isso, Deus também estava guiando o povo de dia e de noite. Sem falar que eles não tinham somente a provisão e a direção, mas também a proteção e o cuidado. Isso se chama providência de Deus. Deus mandou o Maná todos os dias, e no sexto, mandava o suficiente para que eles recolhecem o dobro, porém no sábado eles deviam descansar. Interessante que Deus preparou um dia de descanso para os judeus...

Embora o mandamento do sábado tenha sido dado exclusivamente para os judeus, nós não devemos fechar os olhos para o princípio do descanso. O sábado da lei foi algo extremamente revolucionário para uma época onde as "leis trabalhistas" não levavam em consideração esse princípio. Nesta época, o homem era aquilo que produzia. A matéria, o solo e o que podia se extrair dele era a medida de sua riqueza. Quanto mais trabalho, mais riquezas. Produção era o lema daquela sociedade. No entanto, o princípio do descanso evocado pelo sábado ultrapassa épocas, gerações e continentes e ecoa como algo importantíssimo para nossos dias. 

a) A importância de descansar o corpo e a mente.

Nós precisamos dar descanso à nossa mente, ao nosso corpo e à nossa família. Há pais que estão sacrificando sua família em função do trabalho. São pessoas que na ânsia de prover o pão de cada dia, estão deixando de viver. São como máquinas e se tornam infelizes profissionalmente e como pessoas, acabam ficando insatisfeitas, estressadas e impacientes. Isso tem um impacto direto na família, pois os filhos crescem num lar conturbado e tendem a reproduzir as atitudes dos pais. Descanse! Respire! Tire um dia para se "desligar" dos problemas acumulados pela rotina. Esse é um tipo de descanso fisiológico, emocional, temporal e afetivo. 

b) A importância de descansar em Deus.

Todavia, gostaria de encerrar esse texto falando sobre um descanso muito mais sublime e excelente: o descanso espiritual. 

De nada adianta ter as contas em dia, visitar uma bela casa de praia num fim de semana, longe da agitação dos centros urbanos e não ter paz na alma. A nossa alma também precisa de descanso e o descanso espiritual é vertical e significa repousar em Deus. Vale lembrar que ele anda lado com a confiança no SENHOR. Essa confiança é terapêutica e faz bem à alma. 

Por último, deixarei aqui 5 motivos do porque eu posso descansar em Deus e na Sua providência:

• Porque o SENHOR garante que está conosco (Ex 33.14).

• Porque quando descansamos em Deus, o vislumbramos como nosso refúgio, fortaleza e nosso Deus (Sl 91.1-2).

• Porque quando estivermos cansados, ele nos restaurará as forças (Is 40.29; Jr 31.25).

• Porque esse é um convite de Jesus (Mt 11.28-30).

• Porque o SENHOR tem sido bom conosco (Sl 116.7).

Conclusão: Diante do texto que estudamos, podemos notar o quanto que Deus está presente na vida e no viver do ser humano. Nós não podemos caminhar de qualquer jeito sobre este mundo, pois, somos o povo santo e propriedade exclusiva do SENHOR. As circunstâncias difíceis as quais estamos sujeitos a passar, muitas vezes são provas de Deus. E elas são dadas a nós com o objetivo de nos amadurecer. São provas que nos fazem crescer e se desenvolver. Obedecer é melhor do que sacrificar, portanto, viva um dia de cada vez, veja Deus nas coisas e na sua vida e por último, aprenda a descansar na providência de Deus. Amém!

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