17 de junho de 2019

Cristianismo em ascensão no mundo e em decadência nos Estados Unidos e na Europa





 (Por Everton Edvaldo)

Lembro-me que há alguns anos, uma das maiores preocupações das igrejas evangélicas e dos cristãos, era acerca da ascensão do Islamismo no mundo todo. Estimava-se que em poucos anos, a religião muçulmana ultrapassaria a cristã e seria a religião predominante no globo. Essa preocupação fez com que os cristãos investissem mais em missões. Isto é, acordaram para o mandamento de Jesus que disse: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16.15, ARC).

O resultado já pode ser visto hoje. De acordo com os estudos do pastor J. D. King (um instrutor no Centro de Treinamento Revival e pesquisador independente), “o cristianismo está avançando rapidamente em todo o mundo.”[1]

Até este ano (2018), estima-se que em torno de 2,2 a 3,2 bilhões de pessoas se identificam com Jesus.[2] Sem dúvida, isto é um grande avanço! Segundo King ‘’o crescimento protestante de 1960 a 2000 foi três vezes maior que a população mundial e o dobro do Islã.”[3]

Rodney Stark nos informa que: ‘’Em abril de 2015, o Pew Research Center declarou que os muçulmanos logo ultrapassariam os cristãos por meio de fertilidade superior. Eles não vão… O islamismo gera muito pouco crescimento por meio de conversões, enquanto o cristianismo desfruta de uma taxa de conversão substancial, especialmente em países localizados no “sul global” - Ásia, África Subsaariana e América Latina. E essas conversões não incluem milhares de conversões que estão sendo obtidas na China. Assim, as tendências atuais de crescimento projetam um mundo cada vez mais cristão.”  [4]
Por outro lado, a nossa preocupação dessa vez deve estar voltada para os Estados Unidos e para a Europa. O pastor King nos traz dados alarmantes quando diz: “Enquanto a glória de Deus está em exibição em todo o mundo, nem todas as nações estão experimentando o mesmo grau de impacto. O cristianismo está, sem dúvida, ultrapassando o crescimento da população internacionalmente. No entanto, está estagnado no Ocidente. Segundo Lamin Sanneh, cerca de 4.300 pessoas estão deixando por dia, a igreja na América do Norte e na Europa.”[5]
Pois bem, o que estaria por trás disso? Falta-me espaço para discorrer sobre todas as causas deste “fenômeno”. Porém, o próprio King nos dá uma pista: “Parece que esta declinação pode ser atribuída a um ceticismo permeável. Durante séculos, o cristianismo ocidental questionou a viabilidade do sobrenatural. E Embora os indivíduos apreciem os estupendos relatos bíblicos, muitos estão convencidos de que esses encontros não são replicáveis.” [6] 
Em outras palavras, o cristão norte americano e europeu se tornou cético em muitos aspectos. Para o Dr. Roger E. Olson “em geral, o cristianismo evangélico americano, incluindo a maioria dos batistas, também se acomodou ao racionalismo e ao naturalismo da modernidade.”[7] Ele discorre que “a maioria dos cristãos evangélicos americanos contemporâneos apenas fala da boca para fora sobre o sobrenatural, enquanto a Bíblia está saturada com isso. Em grande parte, os evangélicos e batistas americanos absorveram a visão de mundo da modernidade que relega o sobrenatural, os milagres e as intervenções cientificamente inexplicáveis ​​de Deus, ao passado (“tempos bíblicos”) e em outros lugares (“os campos missionários”).’’[8]
É difícil imaginar que a América do Norte, que no início do século XX foi varrida por um grande avivamento espiritual, está beirando ao ceticismo. Entretanto, infelizmente esta é a realidade.
Lamentavelmente, o ceticismo é uma porta que atrai inúmeros males para o cristianismo. Não é à toa que ao se tornar cético, o cristão tende geralmente, a abraçar dois caminhos. Ou ele se torna um cristão nominal que flerta com o ateísmo e que apesar de frequentar alguma denominação, no fundo não crê mais nas Escrituras, ou então se torna um desigrejado.
Penso que nós devemos reagir a essa condição e fortalecer nossas bases, pois, caso isso se expanda para outros países e regiões do mundo, o cristianismo estará caminhando para um grande abismo.
Isto significa que não podemos deixar que o ceticismo prejudique o evangelho de Cristo e acredito que o remédio para esta enfermidade não está muito longe dos nossos olhos. Reflita bem... Porque o evangelho tem crescido tanto na África e na Ásia? Por acaso, não é porque eles se permitem acreditar no sobrenatural tão bem documentado e encorajado pelas Escrituras? Isso é de extrema importância para nós, pois tendo em vista que o evangelho é o poder de Deus para os que creem, então crer é o primeiro passo! Precisamos ter fé no que está escrito nas Escrituras. O que vem depois é apenas o resultado dessa confiança em Deus.
Pastor King acredita que a ‘’razão pela qual os líderes ocidentais não estão acompanhando seus equivalentes no leste e no sul global é que eles estão hesitantes em relação aos charismata. Na maior parte, os cristãos no mundo industrializado se opõem ao sobrenatural.” [9] De fato, isso tem sido muito nocivo ao evangelho, pois o cristianismo na América do Norte e na Europa além de ter parado de crescer, está diminuindo. Todos os anos, milhares de igrejas são fechadas e dão lugar a bares, boates e cassinos.
No Brasil, algo muito próximo do que abordamos acima tem tentado se instalar nas igrejas evangélicas. Isto acontece da seguinte maneira: a maioria dos evangélicos brasileiros gosta do contato com aquilo que é sobrenatural, místico e metafísico. Logo, estão mais propensos a embarcar num extremo chamado “excesso”. Hoje, é claramente notável que alguns desses cristãos, lidam com o sobrenatural de forma incorreta, sem bom-senso e discernimento.
Nos últimos anos, um grupo de evangélicos tem despertado para este fato e estão tentando solucionar este problema recorrendo a outro extremo: o ceticismo. Acontece que esse ceticismo não é apresentado com esse nome, mas sim com uma linguagem mais branda e alega se fundamentar nas Escrituras e na Ortodoxia. Contudo, é o mesmo ceticismo que têm destruído os Estados Unidos e Europa, e que cada vez mais procura se distanciar do sobrenatural de Deus.
Dr Roger E. Olson pontua: “Eu suspeito que a prática evangélica contemporânea de evitar o sobrenatural no reino físico, na realidade tem pouco a ver com questões intelectuais. Suspeito que tenha mais a ver com querer que nossa religião seja respeitável; pois acima de tudo, não queremos ser vistos pelo mundo ao nosso redor como fanáticos. Os abusos do sobrenatural visto na televisão a cabo nos fazem abandoná-lo completamente. Mas, como diz o velho ditado, ‘a cura para o abuso não é o desuso, mas uso adequado.’ Nós jogamos o bebê para fora com a água do banho.[10]
O que Olson está dizendo é que o fanatismo de alguns não deve servir de pretexto para abandonarmos o sobrenatural. Não se joga “o bebê fora” com a água suja do banho. Quando se perde esse contato com o sobrenatural, a vitalidade da igreja desaparece e entra em decadência.
Eu particularmente penso que essa resistência ao sobrenatural não permite que as pessoas vivam num “degrau à mais” com Deus e o resultado disso, é um evangelho cada vez mais distante daquele apresentado pelas Escrituras. Pastor King conclui seu artigo dizendo o seguinte:
‘’Enquanto os evangelistas no mundo majoritário provocam a imaginação das massas, os pregadores ocidentais estão tentando persuadir com a política, o moralismo, e argumentos filosóficos vazios. Líderes do mundo emergente dão às pessoas algo para elas ver e ouvir, e tudo o que fazemos é aplacar e conversar. Até que a Igreja Ocidental esteja disposta a abraçar o sobrenatural, nossas igrejas não corresponderão ao crescimento na África, Ásia e América Latina. Deus está à altura de coisas inexplicáveis e, na maioria das vezes, estamos perdendo. Nesta hora única, os ocidentais não podem mais se permitir desencantar. ”[11]
Sim, não devemos nos desencantar e ainda podemos mudar esse quadro! Um cristão que deseja ver o cristianismo crescendo na América do Norte e na Europa novamente precisa ir mais além e não simplesmente dizer ao enfermo, por exemplo, que “Deus tem poder para lhe curar”. Não adianta dizer isso e não orar, e não ter fé que após sua intercessão, Deus irá manifestar Seu poder para Sua glória.
Interessante que Olson nos informa de maneira detalhada como o cristão norte-americano tem lidado com essa questão do sobrenatural e pontua um fato sobre a oração. Ele diz:
“Nós oramos pelos enfermos - para que Deus os conforte e “esteja com eles” em sua miséria. Oramos para que Deus dê aos seus médicos as habilidades deles. Mas evitamos pedir a Deus para curá-los. Evitamos qualquer menção a demônios ou possessão demoníaca e evitamos estritamente o exorcismo como algo primitivo e supersticioso - exceto quando Jesus o fez. Nós também desprezamos as igrejas que ungem os doentes com óleo e oram por sua cura física. Nós suspeitamos que eles são "cultistas" e provavelmente, encorajam as pessoas doentes a não procurarem tratamento médico. Nós (talvez com razão) ridicularizamos os evangelistas que afirmam ter orado a Deus para redirecionar os furacões, mas nunca oramos a Deus para salvar as pessoas de desastres naturais. A verdade é que adotamos gradualmente a ideia de que “a oração não muda as coisas;  muda a mim” e, consideramos a oração peticionária como algo "infantil", conforme gostava de chamar Friedrich Schleiermacher.’’[12]
Bem, enquanto continuarmos com esse tipo de postura diante das adversidades e dos problemas, seremos cristãos inseguros e propensos a abandonar a fé a qualquer momento, e infelizmente, estaremos de fora das estatísticas crescentes de um cristianismo poderoso, atuante e livre no mundo, mas que é preso e impotente em nosso coração.
Por fim, Deus pode mais uma vez incendiar a América do Norte e a Europa com Seu poder e para isso, é preciso que os cristãos deem mais ênfase à atuação do Espírito Santo, bem como sua liberdade em nossas vidas; expulsando das igrejas e dos seminários, as crenças que ensinam um evangelho morto, estagnado e engessado. Se não revertemos isso a tempo, será tarde demais.
Sobre o autor: Everton Edvaldo é editor do blog Esquina da Teologia Pentecostal e professor de Escola Bíblica Dominical da IEAD-PE. Bacharelando em Teologia pelo IALTH. Em seu blog, contribui com traduções na área de Teologia Carismática-Pentecostal e com artigos sobre os mais variados assuntos da Bíblia.
Publicado originalmente na Revista Holy Magazine. 1 Ediçaõ

[2] Ibid
[3] Ibid
[4] Rodney Stark, triunfo da fé: por que o mundo é mais religioso do que nunca (Instituto de Estudos Intercolegiais, 2015), 19.
[6] Ibid
[8] Ibid

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