27 de setembro de 2018

Entrevista Exclusiva com o Pastor Linaldo Junior.



A nossa Entrevista hoje é com o Pastor, Professor e Capelão, Linaldo Junior. Ele é Pastor, Capelão, Professor e Escritor. Pastoreia a Igreja Batista Missionária em Dois Irmãos e Peixinhos. No IALTH é Capelão, Professor e Coordenador. É casado com a Pedagoga Waldyelayne Oliveira. É da COBAM (Convenção Batista Missionária), e membro da ORPABAM (Ordem dos Pastores Batistas Missionários).


01) Com a explosão do Movimento Pentecostal, criou-se uma visão popular de que as igrejas históricas “ficaram para trás”, pois no começo, ela não viu com bons olhos as manifestações espirituais. Contudo, alguns anos depois, algumas igrejas históricas passaram por uma renovação espiritual. Como pastor batista, poderia nos explicar como é atualmente o relacionamento dos batistas com a questão dos dons espirituais?


 Em linhas diretivas gerais, os Batistas que aderiram ao conhecido “Movimento de Renovação Espiritual”, que iniciou nos anos 60 do século passado, além de ser continuístas, têm visto a própria questão do uso dos dons espirituais com mais maturidade e elaboração teológica, e buscando assim fazer uma dieta nos exageros de outrora e atuais.

O grande problema é que paralelamente a isso, o cessacionismo tem adentrado com a mesma “força”, por vezes de forma patente, e em outros nichos de forma latente e sutil. E isto pelo fato de que ao invés de se tratar os exageros e ênfases erradas quanto aos dons espirituais, como Paulo faz em I Coríntios 12, 13 e 14, muitos estão a absolutizar os equívocos e extremismos, achando assim que o falso pode tirar o valor do verdadeiro.

Sendo assim, temos Batistas equilibrados, os que apenas “tradicionalmente” acreditam nos dons, mas que na práxis negam isso, e até há aqueles que pertencem a núcleos que na teoria seria a antítese do continuísmo, mas hoje tratam os dons como deveria sempre ser: com naturalidade e, em dependência sincera do Espírito que distribui os dons como quer, como Paulo trabalha amplamente de forma direta e indireta em Efésios, por exemplo.

Isto tudo posto, entendo que nós Batistas Renovados/Carismáticos, precisamos de uma renovação espiritual urgentemente, para que coletivamente não engessemos o que foi espontâneo e sincero, fruto de um avivamento pontual de Deus em nosso contexto eclesial. Na minha denominação, a COBAM (Convenção Batista Missionária), esta tem sido uma preocupação: com bom siso, resgatar uma fé equilibrada sobre isso. Enéas Toginini, Rosivaldo de Araújo, José do Rêgo, e outros nomes expoentes deste movimento, certamente desejavam tal lucidez no início desta santa obra do Espírito.


02) O senhor leciona a disciplina de “Teologia Ministerial”, um assunto que não é tão bem trabalhado em alguns seminários do Brasil.  Muitos acreditam que a teologia ministerial é apenas para aqueles que desejam se tornar pastores. Como o senhor define “Teologia Ministerial” e qual a sua importância para um estudante de teologia?


Infelizmente de forma subjetiva, se acha vulgarmente que esta disciplina, como a do Aconselhamento Bíblico e similares, é estritamente poiêmica, e assim se cria uma romanização na prática evangelical, contrário ao próprio conceito do sacerdócio universal, tão bem trabalhado, por exemplo, por Lutero. Evidentemente que há certos exercícios que cabem apenas ao Pastor Regente. Mas isso precisa ser bem delimitado e trabalhado, como temos feito.

No IALTH, aonde sou Capelão e Docente, temos esta disciplina de forma bem definida, e inclusive aplico tal a partir de uma macro exposição bíblica holística, em uma pedagogia de vanguarda neste sentido. A partir disto, entendemos que, Teologia Ministerial é uma disciplina diretiva e imperativa, que trabalha os aspectos práticos, teológicos e vivenciais do crente em todos os âmbitos de sua vida.

O seu conceito é: para que serve na prática a teologia e as doutrinas bíblicas? Qual a forma correta do exercício pastoral e dos outros ministérios? Como demonstrarei a minha fé através das atitudes? Por isso, em tal trabalho é feito desde assuntos teológicos e até de cunho mais acadêmico, como questões relativizadas nos Seminários em geral, mas extremamente importantes como: vida familiar e social, devocional, além de aspectos como bom senso, sabedoria, ética cristã, etc.

Além de que, trazemos experiências ministeriais diversas e adversas, para compartilharmos tais com os alunos. Outrora eu desprezei esta disciplina (em minha primeira graduação), mas ao ser ordenado ao pastorado, logo discerni a sua importância e graças a Deus, isto tudo contribuiu para que hoje eu seja um fervoroso docente e defensor dela. Em minha Igreja e congregação, e por onde ministro a Palavra, tenho usado amplamente os imperativos da chamada Teologia Ministerial.


03) Há anos exercendo a atividade de Capelão, sabemos que esta é uma tarefa árdua e laboriosa.  Quais são os principais desafios de ser capelão e qual seria uma ferramenta ou característica indispensável que o capelão deve possuir?

É um privilégio ser um Capelão, e no meu caso, exercer tal também pelos diretivos da Capelania Empresarial e Eclesiástica. Agora se exercida de forma sofisticada e coerente, esta função é recheada de uma espécie de “coletiva solidão”. Ou seja, você lida com muitas pessoas, mas ao mesmo tempo você terá que ser solitário, tanto por aspectos como no que diz respeito a se guardar certos sigilos, quanto de que seu labor será não compreendido amplamente e por ser mais nos e dos bastidores, não reconhecido massivamente.

O Capelão é uma figura invisível, embora imprescindível. A Capelania faz trabalhos espetaculares, para que outros venham a ter os seus caminhos facilitados. Ser um conselheiro bíblico, é ser visto por vezes como alguém maravilhoso, mas ter que lidar com distorcidas e míopes “visões” de alguns, que o coloca ao mesmo tempo como intransigente e áspero, afinal, nossa missão e compromisso é exclusivamente com a verdade, e isso pode incomodar a alguns.

Sendo assim, enfatizo as três características iniciais que é indispensável para que o capelão tenha:

1. Ele deve ser muito bem preparado em diversos aspectos (tanto academicamente, como também nas esferas psicológicas e espirituais), para que saiba lidar com muitos desafios, como por exemplo, a tensão entre ser agradável, mas não perder a veracidade. Precisamos ser sinceros, sem cometer “sincericídios”. E é muito fácil ser amado por todos e sugestionar as pessoas nesta direção, mas isso não é ético, pois o Capelão deve cumprir o seu papel com amor, mas sem máscaras e artificialidades;

2. Deve ter muito discernimento espiritual para lidar com as mutações, hibridizações, e diversas e adversas problemáticas de nosso tempo, tendo a Palavra de Deus como a única regra de fé e prática, nesta geração relativista e que nem mesmo conhece o básico das Escrituras.

3. O papel do capelão é sempre atingir o bem maior e seu foco não está nos resultados em si, mas em ter sido o instrumento da vontade de Deus aonde ele trabalha, quer ouçam quer deixem de o ouvir. Neste sentido, o mais importante não são os resultados, mas os frutos e assim não apenas carregarmos a bíblia, mas sermos instrumentos carregados pela Palavra.

É por isso que temos poucos capelães realmente preparados, até pelo fato de que ninguém é capelão com cursos de um dia, e digo isto, visto estarmos a ver uma espécie de “simonia” moderna neste sentido. Existem diversas Capelanias: Empresarial, Hospitalar (geral e avançada), Eclesiástica, Esportiva, Escolar, Infantil, Carcerária, Infantil, Poiêmica, etc. Ou seja, não temos apenas um universo da capelania, mas um multiverso nela e dela.


04) O senhor já afirmou que teve sua Cristologia influenciada por Edgar Young Mullins, principalmente por ele defender Cristo como chave hermenêutica das Escrituras, além de Walter Kaiser Jr, em sua ênfase de entender a revelação de Deus na história como progressiva. Poderia explicar para o leitor o que é tais e porque o senhor acredita no nisso?

Jesus é o todo no tudo. Ele é o Senhor sobre tudo e todos. Ele é o caminho, a verdade, e a vida. Ninguém irá aceitar e entender o propósito das Escrituras, se não creditar que Ele é o verbo que se fez carne e o que revela a Palavra. O “mostra-nos o Pai, e isto nos basta”, ainda tem sido uma indagação do farisaísmo religioso hodierno. Regras hermenêuticas e a exegese bíblica, são fundamentais para se entender os cenários amplos da Bíblia e contextos doutrinários. Jesus, porém, é o que nos explica o propósito e a razão de tudo, inclusive da nossa fé. Edgard Young Mullins, foi uma grande Pastor Batista, que brilhantemente desenvolveu ainda no século 19, isto.

Precisamos também entender e aceitar pela fé, que a revelação de Deus na história se dá progressivamente, como bem trabalha o Walter Kayser Jr, por exemplo. No Antigo testamento, víamos a promessa do Cristo que viria. No Novo testamento, do Cristo que foi encarnado. Agora em nosso tempo, acrescido na fé do Cristo que voltará. E tudo isso pelo fato de que a obra da cruz é o ápice  máximo de tudo, inclusive da revelação bíblica.

Infelizmente, se conhece muito da crucificação (a história, cenário e pano de fundo), e pouco da obra da cruz (seu macro propósito). E por tais razões não se crê mais na justificação pela fé, no extraordinário amor de Deus, e na sua inexorável graça. Ou no máximo se aceita isso, apenas conceitualmente, e não em “espírito e em verdade”. Daí termos tantas poucas mensagens sobre a cruz, arrependimento, regeneração, céu e inferno, etc., por exemplo.


05) Falando sobre a reforma protestante, infelizmente alguns reformados dão uma atenção e espaço exacerbado ao teólogo João Calvino. Há quem diga que ele foi o “maior teólogo de todos os tempos.” Outros, o intitulam como o teólogo do Espírito Santo. Bem sabemos que Calvino contribuiu e influenciou grandemente o seu tempo, mas na sua perspectiva, é justo colocá-lo num patamar tão alto? O que há por trás disso?

Primeiro, esta minha resposta vale também aos que fazem de Armínio ou de qualquer homem de Deus um absoluto. Todo homem é relativo (mentiroso), e só Deus é absolutamente pleno (verdadeiro). Isto enfatizado, eu na verdade tenho muita vontade de rir ao saber que tem quem eleve Calvino, ou qualquer ente não canônico e que não foi assim inspirado por Deus, a um patamar tão elevado.

É uma enorme incoerência dizer que depois do cânon fechado, todos são apenas iluminados pelo Espírito Santo, mas ao mesmo tempo colocar alguém, no mesmo nível dos Apóstolos, por exemplo. Para mim, se isso fosse uma questão realmente a ser tratada, o maior nisto foi o Apóstolo Paulo (em certo sentido). E na frente de Calvino ainda tem: Tiago, Pedro, João, etc. Qualquer coisa a mais que isso, é uma espécie de “romanização do protestantismo” e paganizar os próprios conceitos da Reforma.

Ele também não foi o teólogo do Espírito Santo em hipótese alguma, se nesta afirmativa houver um desejo de colocá-lo “acima da média”, e em um status quo de maior autoridade. Até pelo fato de suas ênfases e trabalho ter sido claramente em outra direção existencial, inclusive nos seus aplicativos doutrinários; além de que quando conhecemos as questões políticas e reais por detrás da própria Reforma, vemos que as questões prioritárias eram outras.

O que está por detrás disso, do eleger homens a tais níveis, são peculiares projeções psíquicas e latentes angustias de sentimentos de culpa e neuroses não resolvidas, que produz este culto a homens. E na verdade, até mesmo os canônicos não devem receber este “amor pueril”, que faz da teologia uma espécie de HQ espiritual, ou de um conto do nível branca de neve e seus sete anões. Dizer que Calvino, Lutero, Armínio, Fulano ou Sicrano, é o “Teólogo do Espírito Santo”, é encarar a realidade como uma obra ficcional, do tipo DC Comics, Marvel, Disney, etc.

06) O senhor compactua com a ideia de que “precisamos de uma nova Reforma Protestante”?

Somente no sentido de que necessitamos de mudanças urgentes e cruciais no atual contexto evangelical. Agora, no que comumente se entende quando se faz afirmativas assim, não compactuo com este tipo de “projeção psíquica latente”. Primeiro, reformar o quê? Segundo, pense bem: será que de forma substanciosa, a reforma protestante realmente chegou no Brasil, em seu “espírito” e ímpeto? Precisamos ir além de uma “Reforma”.

Sou um defensor e proclamador dela, temos que admitir  que a Reforma Protestante foi muito importante, mas não é uma espécie de “segunda vinda do evangelho”. Ela teve suas contribuições, e houve nela a ação soberana de Deus, mas também em tal há limites, extrapolações, questões humanas e políticas nos bastidores, e como qualquer movimento, por mais sincero que seja, teve seu lugar para aquele tempo e contexto.

Hoje, precisamos de algo muito mais amplificado, acentuado, diretivo, imperativo e holístico. O que ocorreu na alta idade média, passou. O que precisamos é primeiramente retornar ao que era a ideia dos próprios reformadores: abraçar ao evangelho. Aliás, aonde ficou o conceito dos próprios reformadores: “Igreja Reformada, sempre se Reformando?”. Ao meu ver, hoje é apenas estética e cosmética as ideações nesta direção. Ser “reformado” é para muitos deixar a barba crescer, cantar só determinados tipos de músicas, ter certas liturgias e carregar as Institutas. Ou seja, é só mudanças de embalagem e alquimias religiosas.

07) Como o senhor descreveria o cenário atual da igreja brasileira? O que podemos melhorar?

Sendo bem sintético, em todos os sentidos, estamos no pior momento da sua historicidade. De coisas mínimas, como se conhecer realmente a Palavra, até sobre as questões mais complexas, como dos múltiplos discernimentos que devemos ter, se percebe o quão retrógrado tem sido a fé dos evangélicos hoje. Aliás, estamos em um momento aonde temos que evangelizar os crentes, e perceber que infelizmente, coisas medievalistas e jurássicas, como formula batismal, predestinação x livre arbítrio, etc., ainda é objeto de embates, brigas, dissensões e celeumas. 

08) Quais são as ferramentas essenciais que o estudante de teologia não pode abrir mão?

Acima de tudo, uma vida devocional sincera e ampla, e um enorme desejo e vigor de estudar e academicamente crescer (com sinceridade e conversão plena). Precisamos também de teólogos que desejem fazer teologia de fato, e ter respostas coerentes para as demandas do nosso tempo, ao invés de, por exemplo, viver com  a mente na idade média, ao invés de entender o que devemos saber e ter, na atual “idade da mídia”, e de diversas e adversas mudanças e nuances. Isto, sem falarmos de questões como as da Mecânica Quântica, ao qual ainda não temos massivamente um diálogo lúcido, e uma apologética autoral para responder como convém, aos “multiversos” de perguntas que vão crescer a cada dia mais nesta e em outras direções.

09) Essa semana, lamentavelmente mais um pastor se suicidou nos Estados Unidos. Isso tem sido constante ao longo dos anos. De que forma nós podemos identificar potenciais suicidas? Como podemos ajuda-los?


Este é um assunto muito longo, e que de fato é emergente e emergencial. Há formas diversas de fazermos trabalhos preventivos e diretivos nesta direção, mas o passo inicial é se entender a seguinte questão: o que fazer mediante a esta infeliz realidade? Como podemos teologicamente e biblicamente sermos uma luz neste assunto?

Ao se identificar um potencial suicida, e quaisquer características de ideação suicida, a ajuda de um profissional adequado tem de ser fornecido a tal. Nossas igrejas precisam trabalhar eticamente e biblicamente esta problemática. Necessitamos de ajudar os nossos jovens, indo nas causas que levam alguém a prática do suicídio (a questão da depressão, inclusive infantil, é grave).

Além de que, informações simples, como o fato de que a maioria dos suicídios ocorrem ou na fase do inicio da juventude, ou entre idosos, já nos revela que, por exemplo, este publico precisa ser tratado e trabalhado objetivamente, e assim nestas faixas etárias, é necessário um intensivo preventivo. Isto também considerando que há uma sutil diferença hoje entre Idade Biológica e Idade Funcional.


10) Quais tipos de “teologias” estão prejudicando o cristianismo aqui no Brasil?

Eu destaco duas: O neo-pentecostalismo e seu cosmético “oposto”, mas maldoso também, do qual chamamos de hiper-calvinismo e até do hiper-arminianismo. São extremos opostos, com embalagens diferentes, mas com as mesmas latências, e motivações.

Temos que entender que, é possível termos conceitos certos, mas não uma bíblica e real fé realmente naquilo que se proclama. Além de que, heresias como aquelas que fatalizam tudo, mostrando por exemplo, que se alguém pecou foi pelo fato de Deus ter ordenado isso, mostra a utilização de pressupostos teológicos, para transferir as próprias culpas e responsabilidades para o próprio Deus, o que gera mais culpa e neurose ainda mais nos indivíduos.

Me lembro, que ouvi de um professor em sala de aula que todo arminiano não é salvo! "Oxe... Como assim'', pensei eu! O pior é que o que está por detrás deste “arianismo teológico”, é gravíssimo. No final, estamos vendo o resultado: um cristianismo sem Cristo, evangélicos sem evangelho, protestantes que se calam no que realmente é sério e patente e crentes que carregam a Bíblia, mas que não conhecem de fato quem é Deus.

2 comentários:

  1. É ISSO MESMO, MEU FILHO CADA DIA SE FIRME MAIS E MAIS NA PALAVRA DE DEUS... AMEM.

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  2. LOUVADO SEJA DEUS QUE NOS DEU UM PASTOR FOCADO NA PALAVRA, E EM CRISTO E NÃO EM HOMENS E SUAS FALÁCIAS!!!! JESUS É O CENTRO DE TUDO.

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